Dissertação de Mestrado - Faculdade Cásper Líbero
INTERNET, JORNALISMO E WEBLOG: A NOVA MENSAGEM

Estudos Contemporâneos de Novas Tendências Comunicacionais Digitais

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AUTOR - CONTATO

BIBLIOGRAFIA

ANEXOS

GLOSSÁRIO


ÚLTIMAS CONSIDERAÇÕES


“You can choose a ready guide in some celestial voice
if you choose not to decide, you still have made a choice.
 You can choose from phantom fears and kindness that can kill
I will choose a path that’s clear – I will choose free will”

– Neil Elwood Peart (Rush rock band)[268]

Blogs e Webjornalismo

Os blogs são novos vasos oxigenadores que disseminam a mensagem numa amplitude maior através da ramificação do acesso à informação, podemos dizer numa associação a uma frase de Eugênio Bucci citada neste estudo. Os blogs, somados a inúmeros recursos de navegação e interação, são como novos alvéolos que pulmificam o jornalismo, responsáveis por dar um novo e maior fôlego ao mundo da informação. Esse novo fôlego do jornalismo engloba e é também resultado da atuação das grandes e tradicionais marcas da notícia/informação no âmbito das novas mídias. Continuando nessa associação com o sistema cardio-respiratório humano, poderíamos dizer que os grandes portais de notícia são como novos e mais potentes corações que bombeiam intensos fluxos de conteúdo para o complexo corpo social. Sendo assim, dizer que tal instância esteja em crise só pode ser resultado de uma observação parcial do cenário total.

A melhor descrição para o cenário atual está em uma frase de Gustavo Venturi Junior, “Como [grandes] empresas que trabalham com informação, todas estão passando por uma crise de adaptação”, diz o sociólogo. Uma crise de adaptação de um contexto midiático que também está se adaptando a este novo e imprevisivel mundo comunicativo digital interconectado. A crise possui várias facetas, muitas das quais refletimos durante este estudo. Todas possuem algum grau de ligação com a mudança do paradigma comunicacional que analisamos no primeiro capítulo desta dissertação. Algumas instâncias sofrem mais do que outras nessa fase de transição. O jornal impresso, berço das maiores marcas mundiais, é o primeiro da fila a pleitear a transição total ao novo meio. E, também, o que mais se beneficiará e já vem se beneficiando com essa transição, desde que saiba tirar o devido proveito que as novas mídias proporcionam. De modo que culpar a Internet pelas diminuídas tiragens dos jornais é um grande erro. A grande rede só tem à somar a comunicação de um modo geral, é o objetivo e o resultado da busca do Homem em se comunicar melhor, é a evolução comunicacional ainda em curso. Uma grande empresa de comunicação que porventura não consiga sobreviver dentro desse novo cenário comunicacional evoluído, só poderá ser em função da manutenção de práticas que fogem desse novo contexto. As empresas que focarem os seus objetivos em informar irão sobreviver, as que já o fazem estão sobrevivendo e crescendo.

Infotenimento

O acesso à tecnologia subitamente erigido pelo advento dos computadores e da Internet passa pela liderança daquela que é maior de todas as indústrias da mídia, os games. Da mesma forma como destacamos a importância da figura de Tim Berners-Lee dentro da história da Internet, a história da animação gráfica computadorizada, principalmente a tri-dimensional, passa pelo nome de John Carmack, programador e co-fundador da iD Software, uma das maiores empresas produtoras de [tecnologia de] games da história dos computadores. Alguns dos conceitos que mencionamos durante este trabalho, tais como open source e software livre, ganharam força através do mundo dos computadores e da Internet graças às iniciativas, oriundas do mundo dos games, deste cidadão norte-americano.

Na Campus Party, feira que exibe as últimas novidades do mundo high tech, e que também reúne centenas de aficionados por computador, Internet e tecnologia de um modo geral: nerds, hackers, tecnólogos, empresários, estudiosos etc., todos contando com uma grande lan para compartilhamento de informações e acesso à web. No meio de tudo isso, de toda essa gente, dentre as diversas áreas temáticas da feira, Blog, Robótica, Inclusão Digital, Software Livre, Games e Modding entre outras, sem dúvida, percebemos que a área de Games foi a mais ativa e que mais movimentou a feira. O que nós queremos dizer é simples: a indústria carro-chefe do mundo cibernético é representada pelos games, de forma que a vocação maior da rede está no entretenimento. O jornalismo inserido numa plataforma de entretenimento tende a seguir essa vocação, de modo que, se fora da web o infotenimento é uma lógica que vem ganhando força na atualidade, na Internet isto é lei. O conceito de infotenimento associado às mídias digitais precisa ser revisto e muito bem estudado, para que se identifiquem os seus benefícios. Não se pode mais enxergar a lógica do entretenimento apenas como algo negativo; hoje, ela se apresenta como uma fórmula não mais descartável. É preciso encontrar soluções para o jornalismo na atualidade, para que ele possa exercer o seu papel de suma importância para a sociedade, ao lado da diversão e do entretenimento. O infotenimento também tem o seu lado positivo e construtivo, é preciso entendê-lo melhor. O jeito informal e divertido pelo qual os blogs interagem com a informação é um grande exemplo de como o infotenimento pode compor um excelente caminho para o jornalismo.

As Redes Sociais

Dizer que a Internet é só uma grande plataforma de jogos e diversão seria ignorar uma outra característica intrínseca sua de vital importância. Seria ignorar o próprio conceito de rede. Essa característica é aquela de onde a própria rede nasceu, uma plataforma que foi sendo construída com base no compartilhamento do conhecimento. O que antes compunha uma rede que conectava estudiosos e universidades, hoje se replica através de redes sociais, como o Orkut, MySpace e Facebook, entre diversas outras. Na atualidade, o conceito de rede social abraça o jornalismo na web de uma forma totalmente inovadora. Quando olhamos para o blog como uma nova inovação ao jornalismo, nós olhamos para, não o alvo errado, mas sim, para uma parte periférica dele, o centro desse alvo, talvez, seja composto pelas redes sociais, o alvo por completo é, como não poderia deixar de ser, a web como um todo. O blog é, como vimos, uma ferramenta que replica, que repercute o jornalismo na Internet, talvez seja um dos meios mais dinâmicos para se disseminar a mensagem jornalística na rede, mas não representa uma inovação para o jornalismo dentro da web; já esta, sim, é quem representa a grande inovação, o seu caráter inclusivo, descentralizado e coletivo. O blog também se apresenta como uma plataforma na qual, tanto os cidadãos como os jornalistas, podem exercer o seu narcisismo no palco multimidiático, ele permite o exercício individual do jornalista, o que, apesar disso, o torna um meio inclusivo e democrático. Mas hoje a sociedade busca e precisa de alternativas para o individualismo, opções que nos levem além do eu-centrismo e, nesse sentido, as redes sociais é que se apresentam, da mesma forma que a web dentro de sua característica primária, como o meio de socialização cujas características são muito mais inovadoras e propensas ao diálogo e a novas formas de disseminação e interação com a notícia e a informação do que os blogs ou os portais noticiosos, ou até mesmo, qualquer outra instância de forma isolada.

Se, como ferramenta o blog é de uso do indivíduo, em conjunto com outros blogs, e/ou outros recursos, ele pode ser muito útil também como veículo de socialização, tanto a blogosfera quanto as redes de microblog também se compõem como redes sociais. A linguagem RSS e os diversos mecanismos de feedback utilizados pelas diversas plataformas de blog, pelas redes sociais, portais e sites diversos, favorecem a integração dessas ferramentas, permitindo variadas formas de sociabilização virtual. Mais uma vez, a convergência dos indivíduos sobre a mídia é que resulta na criação dessas redes. No Brasil, nos lembra Lucia Freitas, a rede que “pegou” foi o Orkut:

O diferencial da web não está, muitas vezes, nas ferramentas criadas para fins jornalísticos, mas em outras que foram criadas para outros fins e vão sendo utilizadas para disseminar informação, por exemplo, tem uma comunidade do Orkut que é utilizada para fazer entrevistas, e ao vivo. São estas ações que interferem no jornalismo como um todo. (...) O Orkut é um grande exemplo, ele tem de longe mais usuários que a totalidade dos blogs, e é utilizado para os mais inimagináveis fins. (...) O Orkut é uma inovação muito maior que os blogs. O blog é uma página na Internet como outra qualquer.

Cremos que, dentre alguns dos assuntos que discutimos ao longo deste estudo: o resgate da esfera pública e o despertar de uma consciência crítica maior estejam mais próximos das redes sociais do que do blog ou outras instâncias. Não é à toa que o jornalismo-cidadão e open source esteja mais atrelado a essas redes e ao próprio conceito de inteligência coletiva do que aos blogs; neste caso, os blogs colaboram da mesma forma que na web como um todo, onde a inovação fica por conta das novas formas de relação que permitem aos usuários criarem os seus vínculos, as suas redes, compartilharem seus conteúdos e seus conhecimentos, desenvolver a sua própria interatividade e criatividade.

Google Dominando o Brasil

Como vimos na análise sobre a Google, ela não está dominando o mundo, mas o Brasil, sim. Uma consulta ao site de métrica Alexa[269] mostra o site da Google em segundo lugar logo atrás do Yahoo! na liderança da web-audiência global. Mais dois sites pertencentes a Google também figuram entre os top 10 mundiais, o Youtube (3º) e a plataforma de blogs Blogger (9º)[270]. O Google Brasil também é líder em audiência entre os sites de língua portuguesa, seguido pelo UOL (2º), Globo.com (3º), Terra (4º) e iG (5º); o Google Portugal ainda figura entre os top 10, na sétima posição[271].

Já entre os top 10 brasileiros, a Google possui quatro sites, com direito a dobradinha no topo do ranking com o Google Brasil (1º) e o Orkut (2º), e, os demais, Youtube (5º) e Google.com (8º)[272]. A plataforma Blogger aparece em 11º lugar do ranking. A empresa brasileira mais bem rankeada é o UOL, em 4º lugar (61ª mundial) – o Brasil, nessa disputa, não vai ao podium e fica sem medalha. Os outros sites brasileiros que figuram entre os top 10 são: Globo.com (6º) e Terra (9º), num total de apenas três entre dez sites, as demais sete posições são todas ocupadas por empresas norte-americanas. Dentre os demais sites brasileiros que analisamos, o Estadão figura na 112ª posição[273], o Limão na 622ª e o Overmundo na 896ª. Vale lembrar que a audiência do site da ESPN Brasil é contabilizada para o portal Terra[274] e a Folha Online para portal UOL. Outros sites ligados à informação e ao jornalismo que figuram entre os top 100 brasileiros são: iG (12º), a plataforma de blogs Wordpress (20º), Abril (24º), Fotolog (27º), Kboing (51º), ClickRBS (53º) e Gazeta Esportiva (78º).

A nossa análise da Google advertiu o fato de as grandes inovações para o jornalismo estarem surgindo fora do âmbito dessas empresas, sendo a própria Google, uma das que vem criando soluções para o mundo da notícia através de variados sistemas e tecnologias. Para o Brasil, o cenário é ainda mais “perigoso”, pois as novidades não só estão surgindo fora do âmbito das empresas de comunicação, mas também de fora do País. E, ao contrário de outros países que, como vimos, apresentam empresas ou mesmo iniciativas governamentais que visam fazer frente à Google, por aqui não se vislumbra nada capaz de frear o seu avanço. Inclusive, os dois portais noticiosos que analisamos, da Folha e do Estadão, são usuários de sistemas Google e, também, clientes, ou seja, utilizam tecnologia licenciada frente à líder do ciberespaço. Nesse sentido, a web expressa aquilo que o país sempre foi: submisso aos seus conquistadores, um prestativo e gentil servo – pela rede, os Estados Unidos estendem, através da tecnologia, a sua supremacia sobre o Brasil. Como se isto não bastasse, em um evento voltado para webmasters brasileiros, o evangelizador dos sistemas de busca da Google Adam Lasnik afirmou estar insatisfeito com a web brasileira, pois “encontrou muitos sites feitos em Flash e sem integração com as ferramentas Google[275]. Talvez a Google possa comprar a Adobe[276] para resolver esse problema. A fome da Google por mais audiência tupiniquim, pelo visto, parece não estar saciada.

Em relação aos blogs nacionais, o sistema de indexação, busca e rankeamento BlogBlogs[277] apresenta quais são os blogs de maior destaque do País ou, ao menos, os mais linkados entre aqueles que estão cadastrados neste sistema, que é o mais popular entre os blogueiros brasileiros. O sistema classifica os blogs através do número de ping-back, ou seja, pelos blogs que são mais linkados. Abaixo a tabela com os blogs top 10 do Brasil:


Posição

Blog

Total de Links

Links de outros blogs

Interney

7794

867

Sedentário Hiperativo

1408

725

Bobagento

1974

724

Usuário Compulsivo

1285

704

Dicas Blogger

1028

619

(( Treta ))

1022

489

Marketing de Busca

498

429

Contraditorium

892

406

BlogUtils

409

406

10º

Uhull S.A.

985

405

A posição de liderança entre os blogs brasileiros do Interney corresponde, no sistema de web-audiência Alexa, à 343ª do ranking brasileiro. Dessa forma, aquela suposta liderança que os blogs possuem frente aos grandes portais noticiosos nacionais só pode ser creditada a algumas coberturas ou repercussões específicas; na média de acessos, os portais estão muito a frente dos blogs. É claro que esses portais largam na frente, pois oferecem muito mais do que notícias, englobam variados serviços e sub-sites cujas audiências lhe garantem essa liderança frente aos blogs, dentre eles os chats que, segundo o especialista em webmarketing Paulo Kendzerski (WBI Brasil[278]), são as ferramentas que garantem a liderança desses portais. Se, no decorrer deste estudo, nós enfatizamos que os blogs levam vantagem nos sistemas de busca baseados em links, da mesma forma os portais que possuem salas de chat levam vantagem na audiência cuja métrica é embasada no tráfego de usuários[279]. De forma que este número não é absoluto para afirmarmos de forma pontual que os portais brasileiros são os líderes da audiência jornalística na web, porém demonstra a sua liderança como grandes plataformas de conteúdo para a web-audiência nacional. Nesse sentido, dentre as empresas que detém os maiores jornais brasileiros (Folha de S.Paulo, O Globo, Extra e O Estado de S. Paulo[280]), duas são líderes de audiência por aqui, o Grupo Folha através do portal UOL e a Globo através do seu portal, embora, neste caso, o alicerce da empresa seja a TV e não seus jornais impressos (O Globo e Extra). Isto demonstra a grande vantagem que esses conglomerados possuem na sua aventura de inserção no mundo da World Wide Web.

Mas é preciso destacar que existem diversos blogs e plataformas de blogs dentro desses portais que lhes conferem um aumento de tráfego. Também não podemos nos esquecer que a plataforma Blogger da Google figura na 9ª posição da audiência mundial e 11ª brasileira, de modo que esses números delatam que “o weblog é a mensagem” ou, ao menos, uma das mais fortes mensagens vistas no “cyberspace”. Talvez, se um dia tais sistemas alcançarem as primeiras posições de liderança de tráfego, próximos aos sistemas de busca – líderes da audiência na atualidade –, a gente possa, sim, de forma contundente, declarar que o “weblog é a mensagem”, não somente ao jornalismo como revelamos neste estudo, mas à web como um todo.

Existe também uma outra forma de olhar para os números revelados acima que apontam para a veracidade da frase “o weblog é a mensagem”, mesmo que esta seja uma mensagem “fabricada”, manipulada pela própria dinâmica dos sistemas de métrica. Enquanto o sistema BlogBlogs se baseia no número de links que apontam para os blogs, o Alexa baseia-se no tráfego[281]. Aqui se revela a vantagem que os blogs possuem no meio de tantas formas de mensura: o site de maior tráfego no Brasil (e segundo do mundo) é aquele que busca páginas com base no número de links. Ao lado deste fato, existe outro que mostra o sucesso dos blogs atrelado a uma grande plataforma pertencente à mesma empresa, de modo que, dentro da frase citada acima, questiona-se até que ponto não poderia se dizer que “o Google é a mensagem”, tanto dos blogs como da completa atualidade ciberespacial.

As análises que fizemos nos sites da Google, Folha e Estadão também demonstram o porquê do sucesso da Google. É uma empresa totalmente centrada no usuário, entre estes, indivíduos, empresas e sites de um modo geral. De certo modo, ela dá a medida do nível, muito próximo, em que tanto indivíduos quanto empresas e instituições compartilham o cyberspace. A grande vantagem da Google sobre os webjornais citados é que ela não precisa produzir conteúdo para obter audiência/valor publicitário[282], ela simplesmente oferece uma bandeja para que seus clientes possam compartilhar e usufruir qualquer que seja o conteúdo. A Google, como dizia o slogan de um produto masculino: “não precisa fazer força para agradar”. O grande sucesso da empresa talvez seja esse, algo que vai além da tecnologia de seu algoritmo, ela sempre se posiciona de maneira a facilitar o uso da web em diversos sentidos para os seus “clientes”. A Google, por exemplo, não precisa se preocupar com questões de copyright; ao mesmo tempo em que cria mecanismos para aqueles que querem reivindicar esse direito, cria outros para que os usuários possam compartilhar conteúdo, inclusive, burlando o copyright. Na atualidade, pode-se mesmo afirmar que a Google está fazendo algo que históricamente ninguém conseguiu fazer, agradar gregos e troianos.

As Objeções de Yochai Benkler

A Google também se mostra como o perfeito exemplo para o entendimento das objeções levantadas por Yochai Benkler[283]. A empresa se apresenta na atualidade como a grande centralizadora de atenções no espaço ciberal. O seu sistema de busca e a plataforma de blogs Blogger são dois grandes exemplos dessa centralização, sem mencionar a tecnologia. Aliás, alguns dos top sites que listamos acima e, em especial aqueles que analisamos ao longo deste estudo, sobretudo o portal UOL, a Globo.com e o Terra, os maiores portais brasileiros (e que figuram entre os top 100 mundiais), são grandes concentradores de atenção. A sua disputa pela liderança da audiência no ciberespaço nada mais é que uma disputa pela concentração das atenções, e quem concentra mais, lidera mais. A Google lidera dentro dessa lógica, sendo que ela concentra em suas mãos algo que pode ser considerado como “ouro puro” na nova era digital, ela concentra a propaganda. Enquanto muitos se perguntam como ganhar dinheiro na Internet, ela responde como: ganhando dinheiro fazendo os outros ganharem dinheiro.

A Google também pode ser considerada uma grande Torre de Babel, ela possui diversos mecanismos que ajudam a incluir o cidadão na nova mídia. Ao mesmo tempo que ela inclui diversas novas vozes na mídia, ela provê os mecanismos para a filtragem do diálogo, começando pelo seu sistema de busca e englobando diversos outros. A empresa em si apresenta e usa a seu favor essas duas características antagônicas, possíveis obstáculos a “democratização” da web: ela é uma Torre de Babel que concentra as atenções no âmbito das novas mídias.

Outras duas objeções apontadas por Benkler que podemos observar na Google referem-se à questão da espionagem, que destacamos através da “parceria” que a empresa detém com a CIA, e a questão da exclusão digital. Essas característicam remetem a outra característica antagônica da empresa. Ao passo que ela trabalha com a CIA, ela cria tecnologias e mecanismos para vencer a barreira da exclusão, como os seus mecanismos de tradução instantânea de sites e outros que visam vencer a fronteira das línguas na Internet. Se, no decorrer deste estudo, nós dissemos que a Internet é uma mídia que possui características dualísticas, o mesmo pode se dizer da Google, e ela sabe como usar muitas dessas características a seu favor. Favorecendo os usuários ela favore a si mesma.

Se Gordon Moore referenciou o Google como o que existe de mais impressionante no ciberespaço, para nós brasileiros o UOL é o que existe de mais impressionante na Internet tupiniquim e, para os mais otimistas, para a audiência global de língua portuguesa. O UOL consegue a façanha de bater a Globo no ciberespaço, prova de que o grupo de Frias aprendeu a fazer Internet – aprendeu a centralizar atenções –, se não pelo site da Folha Online, como analisamos, mas através do portal que lidera a audiência nacional, e, teoricamente, como menos dinheiro. Embora esse tipo de liderança em geral se deva à maior capacidade de investimento dessas megacorporações, neste caso, a disputa pela audiência ciberespacial, o Grupo Folha está a frente da Globo, uma empresa com faturamento bruto cerca de quatro vezes maior que o da Folha – o pioneirismo do UOL ainda se reflete nessa liderança. Mas há que se destacar o trunfo que as empresas brasileiras líderes de audiência na web possuem: são provedoras de acesso que se beneficiam de uma lei que obriga os usuários de serviços pagos de acesso à web, o que inclui a banda-larga, a assinarem um provedor de conteúdo. Não seria este um dos exemplos de Benkler de como algumas empresas podem exercer o seu monopólio sobre a rede?

A Internet e a Esfera Pública

Anos atrás, o turista que passeasse por uma região badalada da cidade do Guarujá, litoral paulista, notaria um novo bar instalado em uma esquina movimentada. O bar era grande, com amplos espaços que ocupavam dois andares, contando com um imenso terraço na parte superior. De fora seria possível observar várias mesas, um grande palco para shows, com pista de dança, um vasto balcão e um batalhão de garçons prontos para servir os clientes. No entanto, o bar estava vazio, poucas mesas estavam ocupadas. Nos dias que se seguiram, toda vez que se passava pelo bar, a cena se repetia, o bar estava, a todo o momento, praticamente vazio, a banda que tocava para poucos clientes, com o passar dos dias, sequer se apresentava mais. No verão do ano seguinte, aquele que, porventura, passou novamente pela mesma esquina, notou que o bar já não existia mais.

A Internet como resgate da esfera pública se apresenta da mesma forma que o bar descrito, tem todas as condições, como meio comunicacional, para resgatar a esfera pública e ser o palco de debates onde os cidadãos conectados poderão discutir os rumos da sociedade, assim como o bar descrito possuía perfeitas condições de atender aos seus clientes. Como vimos nos exemplos da esfera pública conectada e outros, alguns fatos já demonstram esse potencial. Mas para que essa esfera pública cresça e se torne de fato uma instituição (como, num dos mais perfeitos exemplos da história moderna, a esfera pública inglesa e a sua atuação sobre o Parlamento britânico), muita coisa ainda precisa ser feita. Não basta apenas termos o espaço se as pessoas não o utilizarem para fins diferentes do que muitos o utilizam, é preciso que as pessoas explorem o potencial comunicacional da Internet de forma que ela, de fato, se torne uma esfera pública permanente em nossa sociedade. Sobre o exemplo descrito acima, poderíamos dizer que é preciso que as pessoas entrem no bar, sentem-se à mesa e desfrutem do ambiente. Além disso, é preciso que a sociedade não permita que os abutres da mídia, as hienas das telecomunicações, os tubarões da tecnologia ou mesmo os chacais do governo exerçam monopólio sobre a rede, inclusive, alterando os protocolos comunicacionais que hoje beneficiam a comunicação desintermediada e as iniciativas de diversas pessoas que utilizam a grande rede. É preciso também que a Internet cresça mais e inclua o máximo de pessoas possível, quiçá todos os cidadãos do planeta possam ter acesso a ela, de modo que a exclusão digital seja algo que não faça mais parte das sociedades.

Feito isso, temos certeza, a Internet, que hoje já apresenta essa potencialidade, é o meio comunicacional que resgatará e trará novas dimensões, de foro global até, para a esfera pública. A Internet é um meio que, como vimos neste estudo, apresenta diferentes possibilidades além daquelas que levam ao espetáculo que tomou o grande palco da mídia na atualidade.

A Eleição de Barak Obama

Esse estudo foi desenvolvido em paralelo ao processo de sucessão presidencial ocorrido nos Estados Unidos, já havíamos feito uma menção ao sucesso da campanha do candidato Barak Obama[284] durante as primárias. Por coincidência, chegamos ao final desse estudo na mesma ocasião em que os Estados Unidos chegaram ao final do seu processo eletivo com a vitória de Obama, o primeiro presidente negro da história dos Estados Unidos. A eleição de Obama recai fortemente sobre os estudos que fizemos a respeito da esfera pública e permite-nos afirmar que existe de fato uma nova esfera publica, estrutural e de alcance global, através da Internet. Dessa forma, a frase que colocamos no final do último parágrafo se mostra verdadeira na contemporaneidade: a Internet resgata a esfera pública.

O fenômeno Obama, chamado popularmente de obamização, ganhou o mundo através da Internet, pode-se afirmar que houve uma opinião pública mundial favorável ao democrata, embora esse público globalizado não vote, portanto, não pode ser responsabilizado pelo sucesso do novo presidente. Enquanto o mundo enxerga no democrata as soluções para problemas como a guerra do Iraque, as tropas no Afeganistão e o aquecimento global, internamente nos Estados Unidos, os eleitores se preocupavam mais com a crise econômica vivida pelo país após oito anos de conservacionismo, sendo este, talvez, o factóide que tenha levado o povo americano a votar no seu opositor, ou seja, Obama. Esse é um dos fatores que pode ser atribuído ao recorde de eleitores registrado nesta eleição e na estrondosa vitória de Obama nas urnas.

Quanto à pergunta que fizemos a respeito de Obama ser um novo “príncipe binário”, a resposta mais correta seria, ele é um príncipe “eletro-binário”, ou seja, ele conseguiu construir a sua imagem através dos meios eletrônicos e digitais. Não se trata de dizer que o Obama fez melhor uso das ferramentas da web que o seu rival (John McCain), o fato é que sua imagem “pegou” na Internet, a obamização é a chave que explica este fato. O número de jovens que participaram da votação também indica a importância que a web teve nesse processo eleitoral, pois sabemos que a Internet tem um grande apelo sobre esse público, especialmente em uma série de ferramentas e sites por onde a obamização se espalhou, tais como blogs, redes sociais e o Youtube, entre outros.

Sem dúvida, a eleição de Obama indica a força da opinião pública que se formou através da Internet, mesmo que essa esfera se dissipe logo após, inclusive pelas peculiaridades do processo eletivo norte-americano (voto facultativo), como mencionamos. Entretanto, nos parece evidente que uma esfera pública “digital” temporária se formou durante esse processo. Se um dia ela irá se tornar conjuntural, só o tempo dirá. Outro fator que mencionamos durante este estudo, que parece se relacionar com essa nova esfera, foi quando mencionamos nos parecer que a Internet – que se apresenta, antes de tudo, como uma nova esfera da vida privada e cultural –, da mesma forma que a vida privada dos burgueses nos séculos XVII e XVIII acabou influenciando a esfera pública, acabou, de alguma forma, contaminando a esfera pública de modo decisivo na vitória de Obama.

Por fim, os estudos atuais que citamos de Jürgen Habermas e Mark Poster[285], assim se mostram, parecem não contemplar a nova dimensão da Internet e a mudança estrutural na esfera pública que surge inerente aos novos meios e todas suas peculiaridades que analisamos neste estudo – alguns estudiosos parecem estar subestimando o poder da opinião pública que toma as novas mídias. Quem sabe não seja esse o início da revolução da Internet que tanto se fala? A pergunta para o sucesso do fenômeno Obama talvez não seja mais aquela que fizemos anteriormente, a questão agora talvez seja: seria possível a eleição de Obama, um afro-descendente, para a Casa Branca sem o advento da Internet?

Ética

No que concerne à ética no jornalismo de um modo geral, após as diversas questões e exemplos analisados neste estudo, a melhor maneira de definir esta relação talvez esteja na seguinte frase da analista junguiana e de filosofia Adriana Nogueira (PUC-SP), quando ela nos fala da ética no mundo atual, que incluí também o jornalismo e as corporações de mídia: “Talvez sejamos ainda platônicos: contemplamos e mobiliamos o nosso mundo ideal enquanto o real não tem quem o compreenda” (Nogueira, 2000:44). Pelo que vimos na análise da crise ética do jornalismo, podemos afirmar que existe uma distância platônica entre os ideais éticos mais fundamentais e a prática real da “arte de fazer jornal”.

Um fator que se evidencia neste estudo é que, na Internet e, principalmente, nos blogs, e aqui falamos da totalidade destes, objeto que refletimos com profundidade durante este estudo, é que o usuário torna-se o seu próprio gatekeeper; sendo assim, pouco valem os códigos de ética, as regras de conduta, sejam elas as seguidas por profissionais e pessoas ligadas às velhas mídias, ou o usuário do ciberespaço e seus manifestos. A questão ética fica atrelada, praticamente ou quase que somente, ao indivíduo e, assim, à mercê do seu eu-centrismo (o que, aquém do trocadilho, pode mesmo até se manifestar de uma forma excêntrica, o que engloba a pluralidade de significados desta palavra). Em uma referência ao estudo de Zygmunt Bauman, poderíamos dizer que a ética está em completo processo de ebulição/liquefação no âmbito das novas mídias, inclusive em função desta ser uma esfera comunicacional que ainda está se desenvolvendo.

Outra questão ética atual está ligada a um dos problemas mais contemporâneos: o esgotamento natural do planeta, que traz junto de sua problemática, uma nova idéia: o direito das gerações futuras herdarem um mundo em que possam viver. Esse problema global coloca em cheque o sistema capitalista em que vivemos e atinge toda a humanidade. Mais do que nunca, os ideais éticos fundamentais terão de ser praticados em ordem da sobrevivência da espécie humana. Neste caminho, o jornalismo e os meios de comunicação terão um precioso papel a cumprir, conscientizando, informando, discutindo e trazendo soluções que concernem aos rumos da sociedade, ao destino do Homem. O direito fundamental ao acesso à informação também é outro ideal cuja prática se clama necessária. Será que a Comunicação e o Jornalismo estão preparados?

Independentemente de a Comunicação e o Jornalismo estarem ou não preparados, e nós acreditamos que não estão, a própria sociedade como um todo não nos parece preparada para encarar a sua sina. Não podemos afirmar, apesar das amplas discussões que concernem à ética e à própria epistemologia dessas áreas do conhecimento, que elas estejam completamente erradas. Não, pelo contrário, cremos que todas as discussões são importantes e devem engrandecer essas áreas da atividade humana, de modo que elas cumpram o papel que delas esperamos e necessitamos. Mas, com o advento das novas mídias e do “fim do mundo”, muita coisa precisa mudar, e rápido. Será que os catedráticos estão preparados e conscientes dessa urgente necessidade?

De Volta para o Futuro

Á guisa de conclusão, as reflexões a seguir partem do pressuposto de que a sociedade realmente lutará para resolver os problemas ambientais que hoje colocam em cheque o destino da humanidade, o aquecimento e o escurecimento global. Também partimos do pressuposto que as novas mídias continuem embasadas nos alicerces fundamentais sobre os quais foram criadas, ou seja, a liberdade, a reciprocidade, a cooperação e a informalidade.

Vários estudiosos apontam para o aumento incessante do consumo de informação online, de forma que, com o tempo, a Internet deve se tornar a principal plataforma de consumo de informações e notícias. A ascensão da web semântica e o aumento da mobilidade, inclusive com o surgimento de novas plataformas, dentre as quais o e-paper e, adicionando-se o custo ambiental que deverá recair sobre a produção do papel, nos faz crer que o jornal impresso desaparecerá, sendo totalmente absorvido pelas novas formas de mídia. Inclusive, as novas gerações, não habituadas a pagar para consumir informação, também ratificam o desaparecimento dos impressos de um modo geral, que tenderão a ser um objeto de luxo devido ao seu alto custo, principalmente quando aquela tida como geração nativa[286] da Internet crescer e se tornar majoritária dentre a população economicamente ativa. Outro fator que também indica o desaparecimento dos impressos está no alto custo de sua cadeia produtiva e distributiva, de modo que a convergência das empresas de mídia, tecnologia e infraestrutura comunicacional em torno do bit, as Comunicações, deverão optar pelos meios digitais como forma de valorização do negócio advinda da economia de custos que as redes informativas proporcionam. Assim, pode-se vislumbrar que o problema de hoje (aquecimento global) será o slogan de amanhã, quando as empresas transformarão a crise do ecossistema terrestre em valor de negócio no que tange à produção e distribuição de informação (algo que já pode ser observado em outras áreas da atividade humana).

Com essas novas possibilidades de consumo de informação através da plataforma binária, assistiremos a um aumento dos conteúdos on demand e da possibilidade crescente do usuário se esquivar da publicidade. A própria publicidade deverá se deslocar em direção aos navegantes, de forma que o público terá uma participação cada vez maior dentro do bolo publicitário geral da mídia. A segmentação da publicidade via mala-direta, que já é fato nos dias atuais, tende a ser uma lógica que cada vez mais se institucionalizará em função das possibilidades que o mundo digital oferece em termos de personalização da informação e da propaganda, inclusive utilizando as mais revolucionárias tecnologias de ponta, quando teremos os agentes inteligentes, que serão atrelados não só ao acesso à informação, mas também à publicidade. Essa é uma lógica cujos pilares agora estão sendo construídos e cujas palavras-chave nós já mencionamos: segmentação e fragmentação. O mecanismo AdSense da Google representa, na atualidade, a primeira inovação dentro dessa lógica que tende a se tornar majoritária dentro do ciberespaço e da mídia em geral.

Ainda sobre a morte dos jornais impressos que, na verdade, não ocorrerá, pois ele apenas mudará de suporte (do impresso para o chip), nós descartamos complemente o argumento em que muitos se apóiam para justificar a sua sobrevivência. Muitos dizem que o jornal sobreviveu ao rádio e à TV, por isso sobreviverá também à Internet. Tal argumento não possui nenhuma base científica, seria o mesmo que dizer que um sujeito que não morreu após ser baleado duas vezes sobreviveria se baleado uma terceira vez – depende de onde o terceiro tiro venha a atingir – nesse sentido, a Internet é um headshot. Cremos que outros fatores, como os mencionados acima, se sobrepujarão a esta crença e o jornal impresso desaparecerá completamente, passando aos meios digitais onde, aí sim, continuará existindo. Em suma, o impresso morrerá, o jornalismo não, assim como qualquer outra forma de comunicação que se valha dos suportes impressos na atualidade. E, vamos além, a questão não é se os impressos devem ou não ser extintos, o destino do planeta Terra urge que eles desapareçam, e o quanto antes, melhor.

Enquanto os jornais impressos não morrem, verificaremos uma série de mudanças que visarão à manutenção desse negócio que foi extremamente rentável durante séculos (numa menção ao estudo de Philip Meyer, poderíamos dizer que o jornal impresso não desaparecerá sem que antes a laranja seja espremida até soltar a última gota de suco). Aqui vale apontar apenas aquelas tendências que identificamos durante este estudo. A primeira delas é que, em função do deslocamento da mídia para o usuário, os grandes veículos foquem suas energias no que eles tem de melhor; como filosofava McLuhan, eles tenderão a refletir o suprassumo da “arte de fazer jornal”. Assim, as editorias mais fortes, em especial as investigativas, deverão se tornar o filet mignon do jornal; estes tenderão a tornarem-se cada vez mais analíticos do que puramente informativos. Mas, se a tendência do jornal é buscar o seu “estado da arte”, também poderemos assistir à disseminação dos pequenos tablóides gratuitos, cujo alicerce fundamental está nas parcerias com a publicidade e as agências de notícias, já que o jornal, como vimos, está no ramo de expor o leitor aos anunciantes. Fato que já está acontecendo nas ruas de São Paulo, inclusive.

A busca de novos formatos para o jornal, inclusive o tablóide, também poderá ser uma opção das empresas jornalísticas no intuito de manter o público leitor, procurando servir-lhe com um produto melhor, inclusive se valendo da segmentação com novas publicações especializadas e diversos novos conceitos de design aplicados em reformas editorias gráficas. Para o cenário brasileiro, entretanto, não se espera nenhuma mudança pioneira, qualquer mudança que venha a acontecer aqui deverá seguir os novos modelos que surjam nos Estados Unidos e na Europa, pois este tipo de estratégia (copiar os modelos do primeiro mundo) vem sendo uma praxe das empresas jornalísticas nacionais ao longo da história.

Por fim, antes do desaparecimento completo dos impressos, algo tem que acontecer: a Internet ser acessível ao maior número de pessoas possível, o que passa pela introdução de uma gigantesca massa da população mundial dentro do ambiente cibernético. O caminho para essa introdução massiva ao novo meio poderá, em princípio, fomentar novos hábitos de leitura que venham trazer um incremento no consumo de jornais, revistas e outras plataformas tradicionais de mídia. Dessa forma, antes de seu desaparecimento, é bem possível que se veja um “boom” no consumo de materiais impressos que precederá o próprio fim das mídias impressas, num grande suspiro “pré-mortis”.

Ousando um pouco mais dentro desse exercício de futurologia, poderíamos dizer que já estamos vivendo esse “boom”, pois enquanto o jornal perde leitores, outras formas de mídia impressa vivem um momento de esplendor. Enquanto vivemos uma explosão no consumo de impressos, o mais antigo desse representante (excluindo-se o livro), já agoniza em seus estágios finais de vida, ao mesmo tempo em que se prepara para uma nova vida: a vida após a morte, a Internet.

 

 


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