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2. Iniciativas Brasileiras |
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“Despite all his imperfections, I’m a fan of men! I’m a humanist, maybe the last humanist” – Devil’s talking[192] Os Jornais Brasileiros na Internet Antes de analisarmos os dois grandes jornais paulistanos, vale traçar um pequeno histórico da inserção das empresas brasileiras de mídia na Internet. Em sua tese de doutorado (2002), o professor Gilson Vieira Monteiro analisa o posicionamento das empresas jornalísticas de Manaus na Internet. No decorrer de sua análise, ele destaca que “a ida dos jornais brasileiros para a Internet segue a trilha dos jornais norte-americanos, como tem sido prática recorrente na imprensa brasileira” (Monteiro, 2002:83). Monteiro revela que, desde a decisão de entrar na web até o modelo de negócio das empresas nacionais, segue-se os modelos adotados nos Estados Unidos, espera-se para ver o que eles fazem para depois fazer igual. Monteiro destaca quais foram os passos adotados pela mídia brasileira em sua empreitada na nova mídia, que se iniciou em 1995 seguindo a trilha do jornal San José Mercury News[193] (2002:83-86):
O estudo de Monteiro destaca o fato de a tendência mundial de sinergia midiática ser algo que, dentro do processo de inserção das empresas brasileiras na nova mídia, ocorreu de forma avassaladora no Brasil. Ele exemplifica isso com a seguinte constatação:
Com essa constatação, vemos que a Internet é uma plataforma onde se pode observar a convergência dos meios, também como um movimento da sinergia midiática. Observamos que as fusões de grandes sites e portais são inúmeras e se sucedem rapidamente. Além dessas grandes fusões, existe também um movimento numa escala menor que, para um rápido entendimento, chamaremos de “microssinergia”, onde os grandes portais absorvem inúmeros sites com conteúdo e serviços diversos. Quem nunca observou um pequeno site qualquer que, de um momento para outro, passa a ser veiculado sob a barra de navegação de um grande portal? Se fossemos quantificar essa “microssinergia”, um estudo à parte seria necessário para mapeá-la. De qualquer modo, serve para ilustrar a necessidade incessante que os grandes grupos de mídia têm em dispor conteúdos diversos e atingir públicos cada vez mais segmentados. Esse histórico que apresentamos até aqui é referente ao primeiro estágio da inserção das empresas brasileiras de mídia na Internet. O estudo de Gilson Vieira Monteiro aponta que a entrada do conteúdo noticioso na Internet seguiu três etapas:
O segundo estágio tem seu marco com o estouro da bolha da Internet, quando, após quatro anos de crescentes investimentos (1996 a 2000), o retorno não veio da forma como se esperava[194]. Essa “quebra” no patamar de investimentos na nova mídia varreu do mercado ciberespacial uma série de empresas pure play, sobrevivendo somente as mais estruturadas, sendo a maioria delas com negócios estruturados fora da Internet. Foi o momento em que surgiu a Globo.com., portal das organizações Globo que passou a prover acesso à Internet aliado do conteúdo exclusivo gerado por todos os veículos do grupo. Nesse segundo momento, não foi só a Globo que mudara sua postura diante do novo meio, mas todas as grandes empresas de mídia nacionais. Os grandes jornais passaram a reformular sites e portais informativos na Internet, como aponta a professora e jornalista Pollyana Ferrari: “O mercado passou a preocupar-se mais seriamente com a integração entre conteúdo de qualidade, design acessível e viabilidade financeira – a ser obtida (...) com a obtenção de receita por publicidade” (Ferrari, 2003:28). O patamar agora não estava mais somente ligado ao fornecimento de conteúdo e/ou acesso, mas também no retorno do investimento em publicidade. De 2000 em diante, as empresas informativas vêm evoluindo constantemente, pulando do primeiro estágio, passando rapidamente pelo segundo e chegando ao terceiro estágio, quando aparecem diversas empresas produzindo conteúdo exclusivo para a Internet. Esse estágio também conta com o surgimento e a ampliação das conexões de banda larga e, nesse cenário, aparece a empresa espanhola Telefonica que, através da compra do ZAZ, lança o portal Terra, e passa a concorrer no provimento de acesso e conteúdo exclusivo ao lado do UOL e da Globo.com, como um dos maiores provedores de acesso nacional. Outras empresas também passam a produzir conteúdo exclusivo, destacam-se o iG Último Segundo, e os próprios sites de diversos grandes jornais brasileiros, como O Globo e o Estadão. O Grupo Folha, de propriedade da família do patrono Octávio Frias de Oliveira, é a quarta maior empresa de mídia em faturamento do Brasil[195]. Além do jornal Folha de S.Paulo, o grupo possui outros dois: Agora São Paulo e Valor Econômico (em sociedade com a Globo). Na Internet, possui três portais, o Folha Online, BOL e UOL (em sociedade com a Portugal Telecom), sendo os dois últimos também provedores de acesso. O grupo ainda possui o instituto de pesquisa Datafolha e, completando a cadeia produtiva e distributiva de seus produtos, possui editoras, gráficas e transportadoras. O principal veículo do grupo ainda é o tradicional jornal Folha, o maior do país que, em 2006, registrava uma média de 309 mil exemplares vendidos diariamente. A entrada do grupo na Internet se fez através da parceria com o grupo Abril com o portal e provedor de acesso UOL, em 1996. Beth Saad destaca em seu estudo que “a construção de uma identidade para o UOL teve, desde o seu lançamento, uma clara ênfase no aspecto mercadológico” (Saad, 2003:179). A estratégia seguiu o modelo das empresas norte-americanas Compuserve e América Online, como aponta um estudo dissertativo de Hélio Freitas (1999), que analisa a entrada do Grupo Folha na Internet. Freitas destaca o fato do UOL basear-se no provimento de conteúdo exclusivo (somente acessível a assinantes). O diferencial do UOL foi não utilizar softwares exclusivos de acesso como o caso dessas empresas (o browser exclusivo). A entrada do jornal Folha de S.Paulo na web, segundo o estudo de Righetti e Quadros (2007), “aconteceu com a criação do FolhaWeb, em 1995. Mais tarde o FolhaWeb tornou-se Folha Online, com uma redação própria, responsável por aproximadamente 60% do conteúdo – os 40% restantes são extraídos da versão impressa” (Righetti e Quadros, 2007:8-9) A Abril deixou a sociedade com o Folha e entrou a Portugal Telecom (que detém 27% do negócio). O negócio cresceu, abriu seu capital à bolsa e hoje o site beira um milhão de assinantes. É o quarto no ranking de acesso domiciliar do país (atrás do Google, Orkut e MSN). Righetti e Quadros apontam o UOL (em 2006) como “o maior provedor de conteúdo de Internet do mundo. A atual holding Folha-UOL S.A. foi criada em 2005 com a fusão do UniversoOnline” (Righetti e Quadros, 2007:8-9). O mesmo estudo esclarece que, com esse crescimento todo, “o UOL dialoga com um público muito maior do que o do jornal Folha de S.Paulo: são aproximadamente 35 milhões de pessoas que visitam o UOL diariamente, em contrapartida a menos de 2 milhões de pessoas que têm acesso ao jornal” (Righetti e Quadros, 2007:9). Hoje, o UOL, muitos poderiam dizer, é o veículo carro-chefe do grupo, pois, além de dialogar com um público maior, traz mais receita para o grupo. Como vemos, o Grupo Folha está presente na Internet através de dois portais de acesso e o site de seu principal jornal. As parcerias e sociedades ligadas ao grupo, tanto nacionais quanto internacionais, o colocam em convergência com a plataforma binária dentro da sinergia da mídia do modo como vimos no primeiro capítulo. O seu posicionamento na web, através de um grande portal, é a chave do sucesso do grupo dentro da nova mídia. Porém, em relação ao jornal, veículo que até o surgimento da Internet sempre fora o carro-chefe dos negócios do grupo, a mesma lógica não pode ser aplicada, pois, como destaca Saad, “uma outra característica definida nessa etapa para o UOL foi a sua estruturação separada da redação do jornal Folha de S.Paulo, constituindo-se numa pessoa jurídica independente e com seus espaços físicos também separados”. Em outras palavras, o sucesso, tanto do Grupo Folha quando do portal UOL, não pode ser atribuído à inserção do jornal Folha de S.Paulo na Internet. Uma das explicações para o sucesso do Grupo Folha com seu novo “produto”, o portal UOL, pode ser entendida pois este “tinha parte de sua sustentação financeira ancorada nas assinaturas de acesso à Internet” (Saad, 2003:196). Mas existem diversos serviços de assinatura de acesso à web; assim, o fato do UOL se manter no topo como maior provedor nacional pode ser entendido pela estratégia adotada pelo grupo que “promoveu a introdução contínua de inovações tecnológicas em seus serviços (...) surgiram a TV UOL, a Rádio UOL, o UOL News (...) programação on-demand em vídeo, imagens ao vivo e música” (Saad, 2003:196). A relação desse sucesso com o jornal, o carro-chefe do grupo até então, pode ser entendida pela seguinte colocação de Saad: “A condução do negócio sempre teve à frente executivos do Grupo Folha, imprimindo a cultura Folha” (Saad, 2003:197). Righetti e Quadros enxergam a constante inovação do UOL que “continua seguindo sua definição de estratégias por meio de acompanhamento de mercado e por meio de tentativa-erro” (Righetti e Quadros, 2007:11), e também se referem à criação da TV UOL como um exemplo dessa estratégia. Como vemos, a partir do momento em que o Grupo Folha deixou a condução de seus negócios na mão de profissionais, seu negócio deslanchou, o que se refletiu inclusive na sua inserção na web através do portal UOL. A sua colocação frente ao capital aberto e internacional também pode ser entendida como um caminho que lhe conferiu larga vantagem em seu posicionamento na nova mídia. Tal fato fica evidente quando comparamos os dados atuais do grupo com o seu maior concorrente, o Grupo Estado que, com a manutenção de seu negócio sob o jugo familiar, hoje está muito aquém de seu concorrente. Porém, como enfatizamos, o sucesso do grupo não pode ser conferido ao seu principal veículo (ou pelo menos, o seu mais tradicional veículo), o jornal Folha de S.Paulo. Quando Saad analisa as ações do Grupo Folha que, partindo de uma parceria com a Abril na criação do UOL, passando ao domínio majoritário do mesmo, transformando-o numa nova pessoa jurídica e, inclusive, expandindo-o para outros países através da abertura de filiais e fusões com outras empresas (a PT Telecom através do portal ZipNet), ela revela que:
Essa é a grande diferença do posicionamento do Grupo Folha para o seu concorrente que, como veremos adiante, procurou focar seu posicionamento em relação à Internet no seu know-how secular de produção informativa. O site da Folha Online[196] tem no topo da janela um slogan que destaca a cobertura em tempo-real do site: “Primeiro jornal em tempo-real em língua-portuguesa”, uma pequena frase que remete às análises que fizemos sobre as características da Internet, a instantaneidade e suas fronteiras delimitadas pelas línguas faladas, neste caso, a língua portuguesa. Ao contrário da simplicidade que destacamos através da análise da página inicial do site da Google, o usuário que entra na página inicial da Folha Online é golpeado, quase nocauteado, por inúmeras informações e links que a página oferece. O ponto de fuga leva os olhos do leitor para um espaço onde algumas fotos se alternam com destaque para diferentes manchetes, sendo uma delas a capa do veículo impresso Folha de S.Paulo e a manchete maior do jornal daquele dia. Ao lado, encontram-se as principais manchetes do site que se alteram conforme os fatos de maior importância vão se desenrolando durante o dia; inclusive, a página se auto-recarrega em intervalos de poucos minutos para que as notícias “em tempo-real” possam ser atualizadas. Fora deste espaço, o usuário é obrigado a percorrer o olhar por um mar de opções, links, thumbnails etc., inclusive distinguindo o que é propaganda do que é notícia, já que alguns anúncios são inseridos em meio às notícias e chamadas diversas. Um menu de links para os principais espaços do site, encontrado tanto no topo quanto no rodapé da página, remete às seguintes editorias/serviços/opções: Notícias, Especial, Serviços, Erramos, Colunas, Fale Conosco, Atendimento ao Assinante, Grupo Folha e Assine Folha, além de um ícone () para a ferramenta RSS, onde lê-se: “O que é isso?”. Como nós já comentamos sobre essa ferramenta em mais de uma oportunidade neste estudo, vale a pena destacar qual é explicação da Folha para este recurso: Aquele botãozinho laranja que muitos sites exibem no canto das páginas pode se tornar um importante aliado na busca pelas notícias que lhe interessam. Ele é a porta de entrada para um sistema que envia alertas para o seu computador sobre as últimas novidades publicadas na rede – mas só aquelas novidades que você quer saber. O sistema é conhecido como RSS. Ele permite acompanhar simultaneamente as novidades de um grande número de sites sem precisar visitá-los um a um. Em seguida, um tutorial passo-a-passo ensina o usuário a utilizar tal recurso. A cada link que mencionamos existir no menu principal do site seguem-se incontáveis sub-opções de links, de modo que a usabilidade do site fica comprometida para o navegante que se aventura atrás de notícias e informações da Folha Online através de seus menus. O termo usabilidade aqui só pode ser entendido como uma maneira de diminuir a confusão generalizada deste pequeno mar de informações. É comum o usuário, de um clique para outro, acabar passando do site da Folha para o site do UOL, como se houvesse uma dupla identidade agora atrelada a Folha. A Folha fica, de certa forma, submissa a marca UOL dentro do seu espaço virtual e, quanto a este fato, parece claro que a marca UOL é muito mais forte que a da Folha no ciberespaço. A opção de busca interna que o site oferece pode ser uma saída para quem não tem paciência para peneirar as informações dispostas na home do site ou no seu confuso menu de links, porém, a eficácia desse sistema sequer chega perto da limitada semântica do Google, de modo que os resultados podem ser extremamente frustrantes, algumas informações que sabe-se terem sido veiculadas pela Folha muitas vezes não são encontradas através deste recurso. Lucia Freitas, inclusive, expõe sua crítica ao sistema afirmando que “o sistema de busca do site é medíocre, não oferece busca booleana. (...) eu não entendo por que essas empresas não fazem uma parceria com a Google”. Essa frase de Freitas, na verdade, foi dita cerca de três meses antes da presente análise e, ao que tudo indica, nesse ínterim, as preces da blogueira foram atendidas[197] e agora o site da Folha Online dispõe de um sistema de busca que segue os mesmos moldes do Google (inclusive apresentando links patrocinados da gigante americana), onde pode-se efetuar busca booleana (de notícias da Folha Online e do jornal Folha de S.Paulo) e filtrá-las pelas editorias do site e/ou data de publicação. A confusão aumenta na busca de notícias quando o usuário clica sobre uma manchete ou sub-manchete qualquer; o resultado de um clique pode ser diverso, uma matéria em forma de texto simples, um texto acompanhado de fotos, áudio/videocast ou, até mesmo, uma página com novas manchetes para diversas matérias e conteúdos relacionados à manchete da página inicial (links para coberturas completas), o que obriga o usuário a novos cliques para achar a informação que deseja. Nesse caso, o webdesigner Luli Radfahrer aponta um número máximo de cliques para que o usuário chegue à informação que procura: quatro, e o quanto menos, melhor, menor a possibilidade de ele desistir de encontrar a informação. Vale destacar que, apesar da confusão inerente à quantidade de informação que o site oferece, na maioria dos casos o usuário chega à informação com quatro ou menos cliques, a busca por notícias arquivadas é que, na maioria dos casos, extrapola esse limite. Entramos na sessão Colunas e encontramos catorze diferentes colunistas e seus respectivos espaços de publicação e temas. São eles: Eduardo Ohata (esportes), Eduardo Vieira da Costa (esportes), Eliane Cantanhéde (política interna e externa, geral e comportamento), Fabíola Reipert (fofocas), Fernando Canzian (política norte-americana), Gilberto Dimenstein (política e geral), Hélio Schwartsman (filosofia), Humberto Luiz Perón (futebol), João Pereira Coutinho (política e geral), Kennedy Alencar (Brasília), Luiz Caversan (cultura), Luiz Rivoiro (crônicas), Sérgio Malbergier (finanças) e Valdo Cruz (Brasília). Dentre essas colunas, algumas dispõem, além de texto, de podcast. As colunas oferecem o e-mail do colunista como única opção de interatividade para o leitor; além disso, há opções para se imprimir a notícia/coluna, enviá-la por e-mail para um destinatário qualquer e comunicar erros, opções que são padrão no site, disponíveis não somente nas colunas, mas em qualquer notícia veiculada. Mas existem algumas exceções. Na matéria de maior destaque da Folha Online, há um espaço para comentário dos internautas que podem ser avaliados pelos próprios, mas somente para usuários cadastrados no site; nem mesmo os usuários do UOL, ou assinantes da Folha de S.Paulo têm acesso aos comentários sem um cadastro prévio. Os comentários também são mediados segundo um conjunto de regras e termos de condições de uso disposto no site que diz respeito a violações de direitos autorais e do bom-senso. Não entendemos qual o critério para que algumas coberturas tenham espaços para comentários e outras não. Ao que foi possível se perceber, somente as notícias provenientes das coberturas em tempo real, disponíveis na sessão Em cima da Hora (sub-sessão de Notícias), possuem tal recurso. Outras opções de interatividade leitor/site oferecida pela Folha é o contato com o Ombudsman, os chats com entrevistados especiais, enquetes e um mecanismo para o leitor enviar suas notícias. Além de tudo isso, existe uma incontável gama de opções de serviços que tanto a Folha quanto o UOL oferecem e que extrapolam o simples mundo da notícia. Além das colunas e outras sessões noticiosas e informativas, um espaço ao lado do logotipo da Folha Online, que só encontramos quando efetuamos uma busca pela palavra “blog” através do recurso de “buscar nesta página” oferecido pelo nosso browser[198], dá destaque para os blogs da Folha e outros recursos interativos: vídeo, áudio, além dos próprios blogs e das já comentadas colunas, sendo possível se navegar pelos títulos dos mais recentes posts de cada blog/coluna da Folha através de um minúsculo controle. Basicamente a única diferença entre os blogs da Folha e as Colunas é que os primeiros oferecem um espaço para comentários dos internautas em cada post, além das opções padrões do site. Outra diferença é que, ao lado do texto dentro das colunas, há um espaço para propagandas que nos blogs é substituído por uma barra de funcionalidades e opções que comentaremos adiante. No total, a Folha possui 24 blogs[199]. São eles:
As particularidades dos blogs são os blogrolls dos colunistas/blogueiros, as sub-sessões do blog e, também, a barra de título do blog que possui um design personalizado para cada um. Enfim, as sessões comuns dos blogs são: Perfil, Sessões do Blog, Sites Relacionados (blogroll do blogueiro), Blogs da Folha (blogroll da Folha), Folha Online Em Cima da Hora (com as últimas notícias da Folha Online), Busca no Blog e Arquivo. Ao final da coluna com as opções do blog, um ícone () permite ao usuário configurar o seu receptor de feed RSS para receber atualizações do blog em seu feedburner, e apresenta a página correspondente com o código XML (nem todos os blogs ou colunas oferecem esse recurso, veja abaixo). Outro link permite ao usuário configurar a página para ser vista através de um celular, o que leva o internauta a uma página do UOL com as instruções correspondentes para o uso de tal recurso. Esses recursos, além dos blogs, são encontrados em diversas outras sessões do site, como as Colunas e as coberturas do Em Cima da Hora. Em suma, a interatividade do site da Folha Online pode ser resumida através de seis palavras-chave: RSS, podcast (vídeo e áudio), e-mail, comentários, formulário e chat. No total, o site oferece uma lista com 49 opções de feeds, além de podcast e videocast. São elas:
De um modo geral, podemos dizer que a interatividade do site da Folha Online é baixa, os recursos interativos são escassos, e o sítio tem pouca usabilidade para o usuário. Os blogs são espaços muito parecidos com as colunas tradicionais do veículo, porém acrescidos de algumas opções e recursos interativos. Apesar disso, pode-se dizer que, dentro do site da Folha, são os blogs os espaços que contam com todos os recursos interativos de que o site dispõe, de modo que pode-se afirmar que “para a Folha Online, o blog é a mensagem”, pelo menos, talvez, a mais provida de interatividade. Além do site analisado acima, a Folha possui outro, o da própria Folha de S.Paulo[201], que é a reprodução do jornal impresso que vai às bancas em uma versão digital. Neste site encontramos as notícias que foram veiculadas na versão impressa do jornal, que ficam dentro de um menu de opções que remetem e correspondem a todas as editorias e coberturas do jornal. Todas as sessões do site são de acesso restrito para assinantes UOL ou do jornal impresso. Como assinante UOL, tivemos acesso a tais sessões e comprovamos que nenhuma delas oferece a mínima interatividade, sequer um e-mail para contato. Apenas a sessão Painel do Leitor oferece espaço para contato via e-mail, fone/fax ou endereço para envio de cartas, mas pelo número pequeno de inserções do leitor que encontramos em tal sessão, não dá para saber se todas as cartas/e-mails são efetivamente publicadas neste espaço ou se são, de fato, poucas pessoas que interagem dessa maneira. De qualquer forma, nos parece que a interatividade desse espaço é, eufemisticamente, extremamente limitada. Entramos na sessão Tendências/Debates na busca de, por fim, encontrar um espaço de trocas de idéias entre jornalistas e internautas. Tal espaço refere-se a colunas de cidadãos notórios que expõem sua opinião sobre variados temas (uma coluna para cada edição do jornal) e, como o próprio site descreve, tem o intuito de “estimular o debate dos problemas brasileiros e mundiais e de refletir as diversas tendências do pensamento contemporâneo”, porém não há espaço para comentários dos internautas, um e-mail de contato ao UOL e não à Folha de S.Paulo é máximo de interatividade que tal espaço oferece. O que transparece é que a Folha de S.Paulo, através de seu site, tem mesmo o objetivo de estreitar laços com a comunidade e fomentar o debate público, porém, parece não saber como fazê-lo através deste específico espaço. Principal concorrente da Folha, embora exiba um faturamento bem inferior ao grupo dos Frias (é o 7º no G8 da mídia brasileira[202]), o Grupo Estado não se rendeu às sociedades nem à Bolsa de Valores, permanecendo como o negócio da tradicional família Mesquita. O grupo detém dois jornais, o Estadão, que é o quarto maior do país em números de exemplares/dia (cerca de 230 mil em 2006), e o Jornal da Tarde (com cerca de 55 mil exemplares/dia em 2006). O grupo ainda detém uma agência de notícias (Agência Estado), duas rádios (Eldorado AM e FM – SP), além de outras empresas de diferentes atividades, incluindo marketing direto, TV Aberta (TV Eldorado, Santa Inês – MA), gráficas e transportadoras. Na Internet detém o portal Estadao.com.br, o classificados ZAP e o site de busca (ligado à OESP Mídia pertencente ao grupo), o iLocal. O Grupo Estado se diferencia do Folha por deter todos seus negócios (com exceção de uma parceria com a Folha no setor de logística e distribuição), ausentar-se do capital estrangeiro e, mais, todos seus negócios são concentrados numa única sede na capital de São Paulo. Em compensação, a presença do grupo na Internet ainda é muito pequena em comparação ao rival, embora seja pioneiro na web através da Agência Estado, o primeiro grande site informativo nacional. Seu portal na Internet abre para os diversos sítios das empresas do grupo, é produtor de conteúdo exclusivo (assim como a Folha através da parceria com UOL), mas não provê acesso e sequer figura entre os mais visitados do país. Segundo o estudo de Righetti e Quadros, o Grupo Estado sempre foi pioneiro no uso de tecnologia ligada a dados financeiros, que começou num amplo processo ligado a sua agência de notícias, “que envia a seus clientes indicadores econômicos em tempo real. Tal atividade foi aprimorada em 1991 com a criação da BroadCast, um serviço de informações econômicas que oferece notícias de economia e cotações, além de outras ferramentas” (Righetti e Quadros, 2007:12). Isso explica por que as estratégias e a entrada do grupo na Internet foram sempre lideradas pela Agência Estado, pois tal empresa já implementava a tecnologia a seus serviços informativos bem antes da chegada da web. Beth Saad, que fez um estudo sobre o posicionamento do Grupo Estado em relação à Internet, destaca que a construção da identidade web do grupo “resultou na criação de sites individualizados para cada produto informativo do Grupo” (Saad, 2003:174). O que se mantém até hoje, como pode ser observado navegando-se no site do grupo. Saad destaca o pioneirismo do grupo que “no final de 1988, o carro-chefe era a página da Agência Estado, conhecida pelos internautas como ‘Agestado’ (...) e alcançava a marca de 13 milhões de page views mensais, posicionando-se no segundo lugar da audiência web brasileira” (Saad, 2003:175). Hoje, os sites do grupo sequer aparecem na lista dos “dez mais”. Saad mostra que a entrada do grupo na Internet se fez através da Agestado, com a criação de um comitê que guiaria essa nova empreitada: “O Comitê New Media, um grupo de orientação e estratégia composto por representantes de cada unidade de negócios da empresa e gerenciado pela Agência Estado” (Saad, 2003:176-177). Assim, com esse comitê, “toda a infraestrutura de captação e transmissão de dados, e de manutenção das páginas do Grupo Estado, ficou concentrada na Agência Estado” (Saad, 2003:178-179). Baseando-se em declarações de Rodrigo Mesquita, diretor da Agência Estado (na época), Saad destaca qual a estratégia adotada pelo grupo em seu posicionamento na web: “A criação da identidade digital do Grupo Estado sempre teve como critério, até os dias atuais, o reforço do conteúdo gerado por uma empresa de credibilidade jornalística centenária, e que na web manteria os padrões” (Saad, 2003:177). Tal estratégia pode ter sido funcional para a entrada do grupo na nova mídia, mas não foi suficiente para mantê-lo no topo. Ao que parece, somente a credibilidade e a marca centenária não são garantias de sucesso no novo ambiente. Esse aparente “fracasso” pode se dar em função de um fato destacado por Saad, que compara o posicionamento do Grupo Estado com o Grupo Folha, que possui o portal UOL. Ela diz que “o Grupo Estado era considerado lento nas inovações e pouco voltado para o usuário” (Saad, 2003:177). Righetti e Quadros também apontam na mesma direção:
O sociólogo e ex-diretor do instituto de pesquisa Datafolha, Prof. Dr. Gustavo Venturi Junior (USP), também vê na questão patronal essa letargia do Grupo Estado em sua inserção na Internet. Comparando o Estadão com o seu concorrente, ele demonstra que a ingerência familiar é típica como forma de retardo às inovações, inclusive, se torna um obstáculo ao capital:
Apesar de ser considerado lento e retrógrado em sua inserção na Internet, o grupo sempre se preocupou com a inovação e de como tirar proveito dela, buscando parcerias que lhe pudessem garantir alguma vantagem no novo meio. Saad destaca que “o Grupo Estado aproveitou parcerias já estabelecidas, como o patrocínio de pesquisas com o MediaLab, o laboratório de mídia do MIT[204]”. A criação do mencionado comitê foi responsável pelas inovações do grupo em seu posicionamento num segundo estágio. Conforme Saad explica, o Grupo Estado “lançou em meados de 2000 o portal Estadao.com, priorizando o aspecto conteúdo. O portal foi fruto do Comitê New Media implantado na etapa anterior” (Saad, 2003:193). Apesar de lançar um novo site mais moderno, o posicionamento continuou praticamente o mesmo, sendo “oferecer conteúdo de qualidade para um público interessado nisso. (...) seu diferencial (...) era o know-how de geração e distribuição de conteúdos (...) por produtos segmentados e de acesso pago” (Saad, 2003:192). Essa segunda etapa voltou-se para a integração produtiva dos conteúdos a serem todos dispostos através de um único endereço web. Porém, mesmo dentro dessa nova filosofia, Saad revela que “a idéia de convergência de redações, a criação do portal não concentrou verdadeiramente as operações web do Grupo. Os jornais O Estado de S. Paulo e Jornal da Tarde, além da Rádio Eldorado, mantiveram suas páginas, fornecendo parte de seu conteúdo para o portal” (Saad, 2003:194). Apesar da mudança e a centralização de informações e produção de conteúdos através de um portal, Saad discorda do formato adotado pelo grupo como um verdadeiro conceito de portal. Ela diz: “Se aplicarmos o conceito de portal, o Estadao.com não apresenta aquelas características diferenciadoras do formato, que privilegiam a interatividade e a permanência do usuário nas páginas em função disso” (Saad, 2003:195). Talvez esteja aqui o diferencial que hoje se reflete no pouco apelo do site do grupo que, em comparação com o portal UOL do Grupo Folha – seu concorrente histórico –, possui uma audiência ciberespacial bem inferior. Pior, segundo dados da AJN, o jornal O Estado de S. Paulo perde mil leitores por mês, leitores que não renovam as suas assinaturas do jornal. Como vemos, o famoso Estadão está atravessando uma forte crise e, para piorar ainda mais o cenário, se não consegue manter seus leitores da versão impressa, tampouco conseguiu criar uma audiência de relevância (ao menos em comparação com seus concorrentes), dentro do ciberespaço. Como mencionamos, o site do Estadão[205] é mais do que a “versão online do jornal O Estado de S. Paulo” como está anunciado no título da janela do site; trata-se de um pequeno portal que abre para os diversos “produtos” do Grupo Estado. Assim, uma barra de navegação logo abaixo dos banners publicitários dispostos no topo da página dá acesso para os sites do Jornal da Tarde, AE Investimentos, Rádio Eldorado, iLocal, ZAP e Limão. O site possui um layout mais clean, mais dinâmico do que o da Folha Online, possui diversos recursos multimídia, interatividade e um portal de serviços que oferece variados recursos interativos/informativos ao internauta. Os mesmos problemas que descrevemos em relação à quantidade de informação disposta na primeira página do site da Folha Online se repetem no site do Estadão, mas de maneira mais suave, enquanto o layout do site da Folha possui diversos elementos separados por barras e linhas, no site do Estadão o layout é definido pelos espaços entre manchetes, textos e elementos multimídia, daí o site ser mais limpo. Também há ausência de publicidade em meio aos conteúdos da página, o espaço para propaganda é muito bem delineado na página (no topo e na coluna à direita somente), de forma que o usuário não precisa filtrar o que é notícia do que é propaganda. São menos propagandas no “espaço nobre”[206] da página inicial do site do Estadão (4), do que em relação ao mesmo espaço do site da Folha (6). Há menos links no site do Estadão (68) do que em relação ao site do rival (86) dentro desse mesmo espaço. Assim como o site da Folha, o site do Estadão possui diversas editorias que remetem ao conteúdo noticioso da empresa. São elas: Primeira Página, Opinião, Nacional, Internacional, Cidades, Esportes, Arte & Lazer, Economia, Tecnologia, Vida &, Suplementos e Meu Estadão. Logo abaixo desse menu de opções, à direita, há links para alguns dos recursos interativos/multimiádicos do site:
Há também, dentro de cada editoria, em cada página, um quadro que traz as últimas notícias ao lado da opção de se navegar por meio de uma nuvem de tags – nome mais comum atribuído a tal recurso. E, vinculado às editorias, o recurso é disposto em todas as notícias do site. Os tags são palavras-chave que remetem a assuntos específicos; se, por exemplo, o usuário clicar no tag “crise no Vasco”, será redirecionado a uma página com inúmeras notícias relacionadas ao tag clicado. O mesmo quadro possui um link que apresenta a explicação do Estadão para esse recurso:
É um recurso interessante, mas que, além de facilitar, pode tornar confusa a navegação, um tag que relacione uma matéria a temas que também se conectam a outras editorias pode fazer o usuário se perder no meio deles, tanto dos tags quanto das próprias editorias, já que os tags são organizadas de acordo com estas. De qualquer modo, esse recurso possibilita uma nova forma de interação e navegação do usuário com as notícias. Ao final de cada matéria/notícia, o usuário encontra quais são as palavras-chave a ela relacionadas, são as tags individuais de cada matéria, e remetem a outras matérias/coberturas que por meio delas se relacionam. Todas as matérias e notícias do site do Estadão funcionam como um mini-blog, pois apresentam espaço para comentários dos usuários, além de outros recursos padronizados em todo espaço informativo do veículo. Além dos comentários, da nuvem de tags e dos tags relacionados, as possibilidades interativas oferecidas são: enviar a notícia por e-mail, imprimir, falar com a redação, incluir no arquivo virtual e também a opção para se avaliar a notícia entre cinco graduações (de ruim à excelente). O usuário também dispõe de uma opção para ajustar o tamanho da fonte de texto para facilitar a leitura. Além disso, há dois quadros que oferecem links para notícias relacionadas e últimas notícias da editoria em questão. Com exceção dos recursos de navegação citados, entretanto, para usufruir os demais recursos interativos do site, é necessário um cadastro prévio com CPF válido. Feito o cadastro, o usuário pode desfrutar dos vários recursos interativos do site, como o espaço Meu Estadão que funciona como um mini-Google News, porém limitado às editorias do Estadão. Nesta página, o usuário pode escolher entre sete editorias para dispor diferentes destaques hierarquizados numa página personalizável, além de uma manchete de um dos blogs do Estadão. Neste espaço o usuário também tem acesso ao seu Arquivo Virtual, onde pode acessar as notícias do site armazenadas através do link “incluir no arquivo virtual” que mencionamos acima. Ao longo de todas as páginas do site, incluindo os blogs, um ícone () direciona o usuário para a página que contém os feeds RSS do Estadão. O site oferece os códigos XML para que o usuário configure os feeds em seu leitor RSS, ou, conforme um pequeno menu de ajuda explica, através de dois ícones, +Google e +Yahoo, onde pode-se configurar automaticamente os feeds do Estadão para serem lidos através dos mecanismos dessas duas empresas. Entretanto, seguimos as instruções do site e não encontramos tais ícones. Nem todas as editorias e blogs oferecem o recurso RSS; são dez editorias e dezenove blogs que dispõem desse recurso, somando um total de 29 feeds. Não é preciso ser um especialista em análise de sistemas para perceber que o site do Estadão é organizado em torno das editorias, e tais funcionam como uma espécie de chave-primária que conduz a navegação do site ao lado dos tags que mencionamos. É em torno desse princípio organizativo que funciona o sistema de busca interno do site, que também oferece o recurso de busca booleana e a possibilidade de se filtrar os resultados da busca pelas editorias; no entanto, não é possível se filtrar notícias por data de publicação, num abandono ao princípio fundamental organizativo do jornal, conforme vimos nos estudos de Marshall McLuhan. A página index dos blogs do Estadão apresenta 24 blogs[208], dentre estes, vinte são assinados pelo jornalista/blogueiro responsável, outros quatro são ligados a coberturas específicas e/ou editorias do jornal. Veja abaixo a tabela com todos os blogs do Estadão e seus respectivos donos e temas abordados:
Os blogs do Estadão são todos idênticos, seguem um único padrão gráfico (o mesmo do restante do site) e dispõem dos mesmos recursos. O site do Estadão não possui colunas, de modo que os blogs cumprem essa função para o jornal. Os recursos e informações comuns a todos os blogs são:
O conteúdo multimídia de cada blog varia conforme o uso dos responsáveis; em alguns, além de fotos, vídeos e áudio, há pequenas enquetes. Existe também um link que leva para uma página com códigos de ética e conduta que são adotados pelo Estadão em relação às publicações, tanto para os blogs como para outras áreas do site. Ao final da coluna à esquerda, que dispõe os recursos do blog, há uma seqüência com uma dúzia de pequenos ícones que remetem a diferentes funcionalidades, na verdade, são links para alguns sites da web relacionados a novas práticas jornalísticas e comunidades virtuais diversas: Deli.cio.us, Blinklist, Digg!, Reddit, Newsvine, Furl, Blogmarks, REC6, Linkk, Eu curti, Yahoo e Technorati. Não há nenhuma explicação para cada uma dessas ferramentas/sites (só clicando e investigando para descobrir) e nem o porquê de elas se encontram ali, o que é, aliás, uma crítica de Lucia Freitas quando defrontada com esse menu de ícones:
Mais do que estarem lá “apenas para constar”, ou para transparecer que o site está conectado com as novas tendências que surgem na web, não observamos o mínimo critério para a presença de tais links dentro dos blogs do Estadão, ou o porquê de aparecem somente nos blogs. Não entendemos por que, por exemplo, não há um ícone/link para o site do Limão, comunidade do próprio Grupo Estado, e há para outras comunidades no mundo afora. A única dedução possível para a presença de tais ícones da forma como eles se apresentam é tratarem-se de uma forma sutil de propaganda. O Estadão de Hoje e o Jornal Digital No período de um ano que precedeu a presente investigação no site do Estadão, o Grupo Estado retirou do ar uma antiga página que correspondia à transposição do jornal impresso O Estado de S. Paulo em uma versão digital online. Atualmente, o usuário do site do Estadão pode acessar as principais manchetes dos cadernos do veículo impresso por meio de um link intitulado O Estadão de Hoje. Com essa atualização, o usuário pode usufruir todos os recursos que mencionamos do site do Estadão, para a leitura das notícias da versão impressa do jornal. Há uma restrição para o acesso às notícias do jornal, elas só são liberadas no decorrer do dia quando ficam “velhas”, não dando oportunidade do usuário “furar” a cobertura do jornal impresso via site antes que este chegue às bancas[210]. Além da reprodução das notícias do impresso dentro do jornal online, há mais duas maneiras de se ler o jornal impresso do Estadão, via download de arquivo PDF (recurso restrito a assinantes do jornal impresso ou digital) ou através do Jornal Digital[211]. O Jornal Digital oferece o recurso de se navegar por uma reprodução digital do jornal impresso, clicando-se sobre as manchetes e matérias dentro das páginas virtuais do jornal[212]. Um controle permite ao usuário virar as páginas como se estivesse folheando o jornal em mãos; ao clicar sobre qualquer manchete ou matéria, ela é ampliada para que o usuário possa lê-la, depois, o usuário pode navegar pela página ampliada (que, evidentemente, não cabe por inteiro dentro da tela do computador), através de um recurso drag and drop[213]. O Jornal Digital não é uma simples transposição do conteúdo da versão impressa para o site, e sim a reprodução fiel do jornal através de uma simulação digital, o que proporciona uma diferente forma de se navegar pelo veículo através do computador. Como alternativa à navegação via mouse, há também um controle que oferece diferentes formas para se navegar e encontrar os conteúdos do jornal, de modo que o usuário não fica totalmente refém da simulação digital para a leitura do impresso, podendo contar com diferentes maneiras de interagir. Enfim, após essa análise e tendo como parâmetros as análises que fizemos sobre os sites da Folha Online e da Google, fica evidente que a usabilidade e os recursos do site Estadao.com.br são limitados, porém muito melhores que os do site da Folha. Neste sentido, uma colocação de Lucia Freitas se encaixa perfeitamente dentro dessas constatações: “A Folha não faz Internet, o Estadão tenta”, diz a blogueira, e nós assinamos embaixo. Embora o Grupo Folha esteja à frente de seu concorrente dentro das fronteiras ciberespaciais onde, neste novo espaço midiático, o carro-chefe do grupo é o portal UOL, o site da Folha Online está muito aquém do seu concorrente e, nesse sentido, vale a lembrança de uma frase do blogueiro Tiago Dória, onde ele afirma que, no mundo da notícia, a audiência não é o bem maior de qualquer veículo, e sim a influência. Sendo assim, no quesito qualidade, o site do Estadão está na dianteira em relação ao site da Folha. Só nós resta saber se essa qualidade se reverterá em influência do jornal sobre o público dentro do novo contexto midiático digital da atualidade. Outra constatação que se encaixa aqui está na seguinte frase de Wilson Roberto Bekesas: “A Internet flerta com um layout hierarquizado como se fosse obrigada a respeitar as limitações do papel e das tintas” (Bekesas, 2006:84). Como vimos, o site da Folha é totalmente hierarquizado dentro das estruturas informativas ali dispostas; o site do Estadão, nesse aspecto, oferece algumas possibilidades surfáveis que ao menos tentam fugir dessa lógica identificada por Bekesas. Apesar de tudo, se voltarmos mais atrás em nosso estudo, veremos que esses espaços analisados evoluíram muito, basta lembrar que, em seus primórdios, as restrições ao acesso às informações eram muitos maiores e, hoje, ambos oferecem gratuitamente praticamente todo o seu conteúdo noticioso além de uma nova gama de recursos e facilidades. Para encerrar essa pequena análise comparativa entre os sites dessas marcas historicamente rivais da notícia paulistana, longe do entendimento dos especialistas faremos uma comparação à frase que muitos técnicos de futebol de grandes times costumam dizer por ocasião de um clássico: “Em um clássico equilibrado, são os detalhes que decidem o jogo”. Com isso em mente e da mesma forma, entendemos que são uma série de pequenos detalhes que nos fazem afirmar que, ao menos esse jogo, o Estadão está vencendo. O portal Limão foi lançado no final de 2007, e marca a experiência do Estadão com a plataforma de jornalismo open source (com base em ferramentas Web 2.0), onde todos usuários do portal podem interferir no conteúdo disposto no site, que funciona como um grande wiki. André Bianchi, diretor de estratégias digitais do Grupo Estado, aponta que o lançamento do Limão vem quebrar a falta de investimentos do grupo dentro da nova plataforma, em especial no desenvolvimento de canais de comunicação com o público jovem. A idéia segue o forte apelo dos grupos sociais de relacionamento virtual, tais como Facebook e Orkut, mas com um apelo maior ao conteúdo jornalístico. O surgimento do portal vem atender à forte demanda que esses serviços possuem entre os internautas brasileiros, cujas comunidades, formadas em redes sociais, estão entre as maiores do mundo, refletindo a personalidade tupiniquim, que é cheia de calor humano. A diferença do Limão para as outras redes sociais está no conteúdo trabalhado no portal, que procura estimular produções de internautas que tenham relevância, dentro do aspecto jornalístico, para os demais usuários. Para a garantia de que os conteúdos gerados deixem as banalidades de lado, o serviço é monitorado 24 horas, mediadores interagem com os usuários sempre em busca de um denominador comum entre o interesse coletivo e/ou individual no que tange aos conteúdos gerados[214]. Para manter o nível das publicações, o site estimula a produção de conteúdo baseado em temas – as editorias –, dentre as quais, destacam-se Meu Bairro[215], Bandas (de música), Esportes e Minha Causa. Um dos estímulos para a qualidade está em premiações oferecidas pelo portal às melhores matérias publicadas ou, até mesmo, à publicação em outros veículos, no caso de algum furo vir à tona. O Limão começou baseando-se no modelo do Orkut, no qual somente usuários convidados poderiam se cadastrar no site, mas, devido ao alto número de convites, essa exigência foi deixada de lado e agora o cadastro é livre para qualquer um. Para efetuá-lo, entretanto, é necessário fornecer um registro de CPF válido. Uma vez cadastrado, o usuário cria o seu perfil customizado e tem acesso à área das comunidades, formada por diversos wikisites. Na área do wiki, qualquer tipo de conteúdo pode ser trabalhado, fotos, vídeo, áudio, texto e blogs (que eles chamam de blorum, mistura de blog e fórum). A aceitação do público ao novo espaço foi muito boa, em cerca de três meses na rede o site já chegava a cinquenta mil usuários cadastrados, embora essa avalanche inicial possa ser entendida como o resultado da forte campanha publicitária, que incluiu todas as mídias e eventos promocionais com apelo ao público jovem, encampada pelo Grupo Estado para o lançamento desse novo produto digital. A idéia do Limão é manter a interatividade, sempre fornecendo novas ferramentas e recursos que favoreçam a conectividade e a iniciativa do usuário, inclusive trabalhando dentro do conceito de open source, ou seja, permitindo aos internautas mais assíduos por tecnologia desenvolverem ferramentas para o site. Bianchi enfatiza que o foco está na inovação constante e no objetivo em se levar ao limite os recursos da Web 2.0. A meta do site é apresentar, pelo menos, uma grande novidade a cada mês. Também são exploradas outras publicações do Grupo Estado através de áreas específicas dentro do Limão, incluindo os jornais do grupo, área de investimento e a rádio Eldorado. Segundo Bianchi, o Limão não é o resultado de uma boa idéia, mas sim de uma “usina de idéias” que demonstram as novas estratégias do Estadão em relação às mídias digitais na atualidade. Política na Folha Online e no Estadao.com.br Como vimos no primeiro capítulo deste estudo, os jornais nascidos opinativos hoje seguem a lógica da imprensa comercial ideológica, que sustenta a indústria cultural e, neste contexto, são veículos de entretenimento e vetores do espetáculo. A palavra de ordem dos jornais é a informação e tal imprensa, antes opinativa, hoje é informativa. Embora os jornais sejam veículos que priorizem a informação, ainda existem espaços opinativos dentro destes veículos, como coloca o jornalista Eugênio Bucci[216] ao enfatizar que, nos idos do jornalismo, os jornais eram exclusivamente opinativos e, hoje, tais espaços ficam relegados aos editoriais e algumas colunas de jornalistas. Entendemos que o novo contexto da comunicação com o advento da Internet, como já destacamos ao longo desse estudo, dá um novo espaço, uma nova força para as formas de expressão mais opinativas e, ainda dentro deste novo contexto, outros aspectos ainda permanecem intactos, tais como a relevância social da discussão política, o que, dentro do que estudamos nas questões ligadas à esfera pública, ganha nova dimensão no novo cenário midiático contemporâneo. Como a imprensa de opinião é feita através de editoriais e colunas (e atualmente através dos blogs também), focaremos a análise a seguir em cima dos espaços opinativos desses jornais online, dentro das editorias políticas dos mesmos, de forma a tentarmos entender se eles, de fato, podem ser associados a essa nova tendência comunicativa de cunho opinativo e, ao mesmo tempo, se são fomentadores do debate político, debate que entendemos ser o mais importante na esfera pública midiática que, neste caso, volta-se para a Internet. No portal da Folha Online[217] não encontramos nenhum editorial e nenhum link intitulado “política”, a política fica inserida em dois links, em duas editorias, intituladas Brasil e Mundo, sendo que este último engloba a política internacional. No link Brasil, não encontramos nenhum editorial, apenas um espaço para colunistas. No link dos colunistas encontramos cinco colunas; em tais colunas, além da palavra dos jornalistas, a máxima interatividade oferecida pelo site é um e-mail de contato. As demais colunas seguem todas esse mesmo padrão. Apesar das opções de colunistas políticos indicados dentro desta editoria, os espaços opinativos que abordam a política dentro do site da Folha são os dos colunistas Eliane Cantanhéde, Sérgio Malbergier, Fernando Canzian, Josias de Souza e Fred Vasconcelos, o que inclui também os blogs, já que colunas e blogs são os espaços que, além dos editoriais, cumprem a função opinativa deste veículo jornalístico. O portal do Estadão[218] na Internet, assim como o site da Folha, possui links que remetem às editorias de assuntos nacionais e internacionais, que por sua vez levam às páginas com as principais manchetes de tais editorias e um sublink que remete diretamente a uma página de política, entre opções de outros assuntos relacionados à esfera nacional. A editoria internacional é dividida em assuntos por regiões do planeta. Não encontramos colunas dentro das editorias, mas existem manchetes que destacam os blogs dos jornalistas que comentam a editoria em questão. Em todas as notícias da editoria, existem espaços para comentários, porém pouquíssimos foram encontrados, talvez pelo fato de ser necessário se cadastrar no site para fazer uso de tais recursos. Não encontramos sessões editoriais dentro do portal Estadao.com.br, portando, jornalismo opinativo parece ficar por conta apenas dos blogs que cumprem as funções das colunas dos jornalistas. De forma sucinta, o site do Estadao.com.br parece ser a transposição das editorias do jornal impresso, acrescida dos recursos interativos e multimidiáticos da Internet. Não podemos atribuir o resgate ao jargão opinativo ou à esfera pública tanto no site da Folha Online quanto no site do Estadao.com.br, porém fica claro que este último oferece mais recursos e facilita o acesso à informação. Em ambos os sites a ausência de debates ficou clara, além de colunas opinativas, apenas alguns blogs cumprem tal papel. E também temos o fato de ambos os sites estarem inseridos dentro do contexto atual da mídia, o qual já comentamos anteriormente neste estudo, de forma que, de maneira geral, o jargão desses sites ainda é majoritariamente informativo, frio, neutro, objetivo e sem vida, o que os opõe a um dos pilares das novas mídias que, como destacamos, é a informalidade. E nos Blogs da Folha e do Estadão No site da Folha Online[219], um pequeno espaço ao lado do logo dá acesso aos blogs. Em tal link encontram-se 24 opções de blogs, cada um remete a um tema específico, tais como cultura, tecnologia, vida cotidiana, cinema, esportes etc.. Apenas cinco blogs fazem referência à política, e apenas dois são exclusivos de política, que são os blogs dos jornalistas Josias de Sousa e Fred Vasconcelos. Nem mesmo o blog da jornalista e vereadora de São Paulo, Soninha Francine, pode ser atribuído à política, já que este é um assunto de menor destaque do espaço. Encontramos também aqueles blogs referentes às coberturas políticas de momento, que incluem as eleições municipais brasileiras e a sucessão presidencial norte-americana (ambas de 2008) que, por se tratarem de espaços temporários, deixamos de fora dessa análise. No blog do jornalista Josias de Sousa, Nos Bastidores do Poder, encontramos um espaço para o jornalismo opinativo de cunho político, coluna do próprio jornalista com diferenciados temas relativos à política, principalmente da esfera federal nacional. O blog apresenta, além de texto, imagens, vídeos, charges e qualquer tipo de multimídia como é peculiar da Internet. Cada inserção do blog é acompanhada de diversos comentários dos internautas, porém a liberdade de expressão é limitada, pois ao enviar um comentário, este só é publicado após a aprovação do proprietário do blog. Há, também, uma limitação no número de caracteres dentro dos comentários a serem publicados. Ao publicar um comentário, o internauta tem a opção de colocar seu e-mail e endereço de seu site/blog, ou até mesmo qualquer link que queira, de modo que o blog favorece a interatividade entre seus usuários. Assim como os demais blogs vinculados à Folha Online, o blog do Josias não restringe o acesso às publicações mais antigas do site. A restrição fica no fato do jornalista não responder aos comentários dos internautas, o debate jornalista/internauta é então, inexistente. Os recursos interativos e típicos dos blogs encontrados neste espaço são RSS e o blogroll de Josias de Souza, que dispõe apenas de um link para um site externo à Folha/UOL. O Blog do Fred Vasconcelos é um espaço que segue o mesmo padrão descrito do blog do Josias, nem há o que acrescentar. A única diferença é que o blogroll do Fred não apresenta nenhum link para qualquer outro site externo. O espaço também é carente de conteúdo multimídia; além do texto, a única opção oferecida que o blog oferece são fotos. No Blog da Soninha, apesar desta ser vereadora de São Paulo e recente candidata a prefeitura municipal (na sucessão municipal de 2008), raros são os posts que se referem à política, o maior enfoque do blog é o esporte, em especial o futebol; isso se deve pelo fato óbvio da vereadora ser uma jornalista esportiva e apresentadora televisiva do canal ESPN Brasil. O formato do blog, da publicação dos comentários e tudo mais, segue o padrão que descrevemos acima no blog do Josias, portanto a liberdade de expressão é também limitada. A única diferença que encontramos foi o fato da vereadora comentar algumas respostas dos usuários dentro do espaço dedicado à publicação de posts, que se transforma, assim, num espaço de réplicas e tréplicas. Apesar dos recursos da Internet, o Blog da Soninha se ressente de conteúdo multimídia. Embora seja um blog de uma vereadora, teríamos de ser muito otimistas para atribuir tal espaço a um resgate da esfera pública, pois a vereadora utiliza seu blog mais para comentários sobre futebol do que para a política. O que poderia ser um espaço de contato e troca de idéias entre a vereadora e suas bases é apenas um espaço de escassos comentários políticos, muito mais voltado para o “mundo da bola” e outros assuntos sem a menor relevância, dado o cargo público que a jornalista ocupa. No blogroll da Soninha, além dos links internos para sites da Folha/UOL, há apenas o adicional de um link: para o site da Soninha. Nos links para os colunistas relacionados à editoria Mundo encontramos três colunas: Lucas Mendes, Laura Smith-Spark e Paul Reynolds, todos ligados ao blog da sucessão presidencial norte-americana que, como já dissemos, ficam de fora dessa análise. O portal do Estado de S. Paulo[220] na Internet possui uma barra de menu no topo de onde se pode acessar os blogs. O site oferece 24 blogs, onde se destacam diversos temas. Dentre esses blogs, três deles falam sobre política, os dos jornalistas Daniel Piza, José Marcio Mendonça e Marcos Guterman. No blog do jornalista Daniel Piza, o destaque principal não é a política, e sim cultura e futebol (o subject do blog diz: “cultura, futebol e, vá lá, política”), de modo que podemos descartar tal espaço como um espaço de debate político, inclusive pelo fato de não encontrarmos nenhuma notícia política em destaque nas primeiras páginas do blog na ocasião desta análise. Usaremos tal blog apenas para analisar a estrutura dos blogs do Estadao.com.br. Os blogs do Estadão não apresentam restrições de publicações de mensagens e nem de números de caracteres, o blog apenas avisa que mensagens que infringirem a lei ou tiverem conteúdos obscenos, ofensivos ou fora do escopo do blog serão apagadas, mas isto depois de já terem sido publicadas, de forma que a liberdade de expressão não é limitada como na Folha. A própria disposição dos comentários favorece a leitura, é possível também se publicar o e-mail e uma URL junto ao comentário, facilitando a interatividade. Também não há restrições de acesso às notícias mais antigas do blog. Um adicional que os blogs do Estadão têm em relação aos blogs da Folha Online é que estes oferecem um sistema de busca dentro do blog, outro fator que facilita a navegação interna. O blog do jornalista Marcos Guterman aborda política internacional. Se pensarmos no contexto do mercado da sociedade burguesa dos séculos XVII e XVIII, e o contexto do mercado atual globalizado, este é o blog que mais se aproxima de uma esfera pública de debates nos moldes de Habermas, dentre os blogs que analisamos até aqui, pois aborda a política internacional. A restrição fica no fato de que, assim como no blog anterior, o jornalista não responder aos comentários dos internautas. Através dessa análise dos blogs até aqui, podemos concluir que os blogs no Estadão têm, potencialmente, mais possibilidades fomentadoras de debate, além de possuir mais blogs voltados à política do que os blogs da Folha Online. Existem outros blogs no Estadão que concernem aos rumos da sociedade, que abordam assuntos de maior relevância, tais como educação, desenvolvimento sustentável, política social e globalização. Aos blogs, porém, tanto no Estadao.com.br como na Folha Online, falta o debate, desconfia-se que as tais ferramentas são utilizadas apenas a título de manter o site em consonância com as novas tecnologias, de maneira que não são utilizados da forma como poderiam ser: fomentadores do debate e da criação de uma consciência crítica dentro dos assuntos a que estão vinculados, estimulando um debate maior. Como vimos através dos blogs que analisamos, eles possuem a tecnologia que permite o debate jornalista/internauta, porém isso raramente acontece. Nesse sentido, tais espaços são espaços de colocação de opiniões e de exposição à mídia, não espaços de debates. Portanto, concluímos que muito se precisa evoluir em termos de uso em tais espaços para que eles ganhem relevância e se transformem de fato numa esfera de discussão pública, pois, até onde pudemos analisar, eles não se dão ao debate como poderiam se dar e alguns oferecem uma liberdade de expressão limitada. Veremos ainda neste estudo se o mesmo ocorre em outros blogs notórios nacionais. Da mesma forma, a questão do diálogo nos blogs será alvo de novas reflexões e questionamentos até o término deste estudo. A mesma análise que fizemos nos sites e nos blogs da Folha e do Estadão, estendemos a outros blogs que encontramos na web, blogs que são independentes, ou seja, não possuem nenhum vínculo com grandes veículos de mídia. Para chegarmos aos blogs independentes, utilizamos o site de busca Google[221] e, através da busca avançada que o site oferece, colocamos as palavras: blogs, blog e política[222]. O resultado nos levou aos seguintes blogs e respectivas descrições:
Uma navegação prévia em tal lista nos fez escolher os seguintes blogs para análise: O Barnabé, Política Pura e o Blog do José Dirceu. O critério de tal escolha foi o cunho político de tais blogs. Os blogs que abordam assuntos genéricos, onde a política não é o único destaque, foram descartados. Descartamos nesta busca também os blogs que estavam vinculados a qualquer veículo de mídia, sendo alguns deles, aqueles que analisamos nos tópicos anteriores. O blog O Barnabé apresenta um cunho de crítica política, possui espaços para comentários e feedbacks, porém não encontramos sequer um único comentário em qualquer uma das notícias do blog, o que já o descarta como um blog onde o debate político estaria acontecendo. O blog Política Pura também apresenta um cunho de crítica política, mantido por um português, as críticas do site giram em torno de questões relativas ao cenário europeu e à política de Portugal. Assim como no blog anterior, não encontramos comentários sobre as notícias publicadas, demonstrando ausência de debate no site. O blog do petista José Dirceu, na verdade, é apenas mais uma área específica dentro do website do político. O blog apresenta várias matérias colocadas pelo político e diversos comentários dos internautas. Com a opção de se publicar e-mails e enviar as notícias a outros internautas, o blog facilita o contato entre os seus usuários. Não encontramos réplicas do político em relação aos comentários, mas, se o blog não se dá ao debate, pelo menos serve de contato entre o político e suas bases. Não podemos colocar esse blog como um exemplo do diálogo que existe nesta esfera, mas fica claro que esse tipo de iniciativa – um canal de comunicação entre um político e o público – é muito importante dentro de um país democrático. Ao analisar todos esses blogs, incluindo os da Folha e do Estadão, em nenhum dos casos pudemos bater o martelo na mesa e afirmar com todas as letras que qualquer um deles seja um exemplo claro do debate que estaria acontecendo na esfera dos blogs. Mesmo que encontrássemos um blog com notícias opinativas e fervorosos debates políticos, não poderíamos atribuir a apenas um, ou mesmo a uma dúzia deles, o surgimento de uma grande e nova esfera dialogal e de debate, ou até mesmo ao resgate da esfera pública vinculado à Internet em que viemos refletindo ao longo desse estudo. Embora os blogs que acessamos não demonstrem essa “força” política, o conjunto da totalidade dos blogs pode ter – tal conjunto, hoje, possui nome próprio: blogosfera – como mencionamos inúmeras vezes. Com essa análise, observa-se que os blogs independentes mostram ausência de debates e os blogs vinculados a grandes veículos de mídia impressos, que são de suma relevância como meios informativos e que poderiam concentrar mais as atenções dos internautas focando-a em direção ao debate político, não o fazem, mais se parecem com uma coluna jornalística inserida dentro de um jornal que, mesmo com os recursos interativos da Internet, mais se assemelham com seus irmãos impressos. Exceto pelos comentários dos usuários, nada de especial a que poderíamos atribuir o resgate da esfera pública foi encontrado. Apesar de serem espaços basicamente de opinião, também não nos foi possível perceber que eles estejam formando uma nova esfera de jornalismo de cunho opinativo. Em relação a esses blogs mencionados, eles não se assemelham, numa primeira vista, aos espaços de debates típicos das esferas públicas européias nos idos do jornalismo da Idade Moderna. Vale dizer que esse tipo de leitura que fizemos nos blogs acima foram realizadas em todos os blogs que são citados no decorrer deste trabalho. Podemos dizer que, com exceção de alguns pontos que ainda serão discutidos, não há nenhum blog que fuja muito das características descritas aqui. Por mais notório e navegado que seja qualquer um dos blogs que acessamos durante este trabalho, em nenhum deles pudemos atribuir aquilo que corresponderia a um possível “resgate da esfera pública”. Nos parece que tal resgate só pode ser atribuído, caso ele esteja de fato acontecendo, à Internet como um todo, não a uma única de suas “instâncias”, um de seus virtual settlements[226], como o blog e muito menos em um blog individualmente analisado. Globo.com Uma notícia que impacta no cenário brasileiro das mídias digitais e que ganhou destaque em 12/04/2007[227], foi o prêmio recebido pelo Globo Online por sua aposta na Web 2.0 – o título de “case do ano” ofertado ao portal InfoGlobo. O destaque do portal, e que lhe valeu tal premiação, é o fato de permitir ao usuário interagir com todas as matérias publicadas, enviando comentários, vídeos e fotos através de uma ferramenta chamada Eu-Repórter. O site também utiliza funcionalidades tais como alerta de notícias, RSS e podcast. Vale citar que tal portal coincide com a teoria do “I-centric” que vimos nos estudos de Rosental Calmon, inclusive pela similaridade do nome da ferramenta (Eu-Repórter[228]), e por suas funcionalidades que vêm ao encontro das idéias do mesmo, idéias essas que vieram a público em agosto de 2005, exatamente um ano antes do lançamento do portal InfoGlobo (agosto de 2006), que registrou um crescimento de 60%, da sua abertura até abril de 2007, nove meses após seu lançamento. Esta notícia mostra como a Globo, maior empresa comunicacional do Brasil, está alinhada com as novas tendências dos meios digitais, sobretudo a Internet. As ferramentas utilizadas pelo site (alerta de notícias, RSS e podcast) também esbarram nas teorias de Nicholas Negroponte em sua obra A vida digital. Essas ferramentas são, até aqui, as únicas tecnologias disponíveis em massa na atualidade que poderíamos comparar com o conceito de agentes inteligentes de Negroponte. Neste caso, entretanto, a inteligência, ou melhor, o agente inteligente é o usuário, e o seu próprio grau de inteligência no uso desses e diversos recursos e que avalizará os benefícios, ou as dores de cabeça, que obterá delas. Além do Infoglobo, a Globo possui o portal G1 que, segundo Lucia Freitas, é o grande exemplo de como fazer Internet por parte das grandes e tradicionais corporações de mídia. Quando perguntada se os jornais brasileiros, na forma dessas grandes marcas nacionais, estão preparados para uma completa e total transição para o mundo digital, ela expõe: “Somente a Globo, pelo seu portal G1, é que realmente está fazendo algo bacana na Internet. Ela tem feito muito e com toda a sua cadeia produtiva, na TV, na rádio, na editora, nos jornais e no portal. A Globo está fazendo Internet”. Ela também expõe qual é a grande chave para o sucesso da Globo dentro de sua empreitada pela grande rede: “A Globo.com, o portal G1, é um portal bacana, usa tudo, da melhor forma possível, eles realmente estão na ponta, eles, inclusive, não estão ligados ao jornal O Globo e nem à TV Globo, esses sim estão fazendo Internet”. E mais, segundo Freitas, um dos sucessos do Globo.com está no fato da empresa ser a mais antenada com as novas tendências digitais: “A Globo é a única empresa a, por exemplo, ouvir os blogueiros, que faz estudo de usabilidade, que sabe olhar para as novas tendências e incorporá-las de alguma forma”, expõe a blogueira. Para Freitas, dentre as grandes empresas comunicativas brasileiras, a Globo é a mais “volátil” às mudanças, ou melhor, não tem medo de mudar, de ousar, e isso resulta na liderança que se estende das velhas mídias para as novas. Quem achava que a “revolução da Internet” iria pôr fim ao império da Globo no Brasil terá de encontrar outra saída para esta situação. A inserção da Globo na web demonstra o porquê da empresa ser a número um do Brasil. É o novo “default Globo de qualidade”. Durante a elaboração deste trabalho, sentado ao microcomputador e com a televisão ligada ao fundo no canal a cabo ESPN Brasil, em meio a devaneios dissertativos, ouvíamos os apresentadores e comentaristas desta rede televisiva bradando incessantemente: “Entre no novo site da ESPN Brasil, confira o novo sistema de navegação que traz uma revolucionária maneira de se interagir com o site. Entre nos blogs de nossos jornalistas, dê sua opinião, participe dos blogs de nossos programas, escreva para nós, participe também do nosso mural”. De tanto ouvir chamadas iguais a estas, nos rendemos a tal publicização e entramos no site da emissora[229]. Quando falávamos da questão da usabilidade relacionada ao sistema de busca da Google, ou mesmo à nuvem de tags do site do Estadão, a ESPN adotou uma solução que incorpora esses dois mecanismos. No topo da página do site, com destaque maior que o próprio logotipo da empresa, encontra-se um largo campo de busca onde lê-se em letras garrafais: /digite aqui o que procura. É um sistema de busca que incorpora o conceito de palavras-chave (como a nuvem de tags), busca e navegação. Quando o usuário digita algo nesse campo como, por exemplo, “futebol”, uma cortina se abre abaixo dele com links para as áreas relacionadas. Se o usuário não selecionar nenhuma das opções dispostas e clicar no botão para efetuar a busca, o site retorna com resultados e tags relacionadas (de uma forma muito semelhante ao sistema de busca Quintura). Os tags que o sistema retorna são as sessões do site, de modo que o usuário, à medida que se familiariza com esse sistema e seus tags, pode navegar pelo site somente através desse recurso. Mais do que facilitar o acesso às informações, o sistema facilita a navegação, pois, além dos resultados típicos de uma busca na web, dispõe a estrutura do site. Com certeza, esse é um grande exemplo de como a busca, aliada a outros elementos, compõe um fator-chave na criação de uma interface informativa baseada no conceito de usabilidade. Sem dúvida, o site da ESPN Brasil é um grande exemplo de usabilidade para o acesso à notícia e à informação. Sendo o slogan do canal “informação é o nosso esporte”, em relação ao próprio site, ele poderia ser: “usabilidade é o nosso esporte”.
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