Uma estória de amor
Após 25 anos de encontros e desencontros, o destino acende as
chamas de uma paixão sobrevivente aos acidentes de percurso da
vida
Por Isabel Mota*
No começo da década de 60, em uma rua chamada Mucuri,
no bairro da Floresta, em Belo Horizonte - um lugar muito tranqüilo
- morava uma família tradicional mineira, cujo pai era jornalista
do Diário de Minas, a mãe costureira e suas duas filhas
desfrutavam de seus 18 e 20 anos. A mais velha, com 1,65m, sempre com
seus cabelos na altura do pescoço e um corpo invejado, se chamava
Bete e era a mais moderninha. Professora formada, trabalhava na secretaria
da prefeitura de Belo Horizonte.
A outra era Elisabete, o oposto da irmã. Nunca foi vaidosa, deixava
seu cabelo sempre comprido e tinha uma briga eterna com a balança.
Elisabete abandonou a Universidade Mineira de Artes pela metade, não
se identificou com o curso de arte da publicidade, por isso tinha mais
tempo para fazer o que mais gostava: ver a mãe costurar. Não
ligava para as paqueras como fazia Bete, mas mesmo assim, tinha que
acompanhar sua irmã e o namorado. Não agüentava mais
ser a “indesejada” do passeio, e, além disso, era
obrigada a participar das peripécias de Bete, como por exemplo,
fumar junto com a irmã, mesmo odiando.
“Tinha que fazer isso pra Bete não ser a única a
levar a bronca. Sempre fui assim, meio bobona. Fazia tudo o que Bete
mandava”.
Era um martírio para Elizabete até aparecer Getúlio
– estudante de arquitetura que acabara de se mudar para a república
da frente de sua casa – para transformar sua vida. Moreno, magro,
com seus 1.80m e dois olhos que mais pareciam duas bolas de gudes azuis,
tão transparentes e apaixonantes que foram enfeitiçados
por Elizabete, mesmo sem ela saber.
Começa aí uma estória de amor platônico.
Obstinado a namorar Elizabete, Getúlio rondou sua vida até
conseguir passar várias tardes jogando buraco na sala da casa
de Recenvindo, pai de Elisabete. O território estava marcado,
ela agora estava predestinada ao bom moço dedicado a amá-la.
Namoraram durante os três próximos anos, de 1962 a 1965.
Durante esse período, Elisabete se tornou professora primária
e lecionava no Jardim de infância de um colégio em Belo
Horizonte.
“Foi um namoro que aprendi a gostar, acabei me acostumando”,
diz Elisabete.
No inverno de 65, Elisabete, Bete e sua prima Diana Dalva foram para
São Paulo com sua mãe, Berenice. Era habitual nas férias
de julho, a viagem para Vila Galvão, zona Norte de São
Paulo, onde a irmã de Recenvindo, Conceição, morava.
A turma de férias era grande e a casa ficava sempre cheia. Em
uma tarde despretensiosa, um moço de estatura pequena, 1.50m,
com seus 25 anos, cabelo preto, meio ondulado e notoriamente educado,
surgiu na varanda usando sapatos engraxados e fragrância de Lancaster
- via-se que não era um homem rico, mas muito elegante - hipnotizou
Elisabete. Suas mãos suaram, as pernas tremeram e o coração,
ah... o coração acelerou em sinal de amor a primeira vista.
“Pude sentir pela primeira vez o que era o amor”, relembra.
Pronto, o cupido já havia feito seu trabalho e não tinha
mais volta. Era Luiz Carlos, o rapaz do bairro, amigo de Fernando, marido
de sua Tia Conceição. Ele não era estudante, trabalhava
no Banco da América em São Paulo.
E assim começaram as férias. Um novo amor... Mas e o Getúlio?
Ele estava em Belo Horizonte esperando por Elizabete. Fiel, ela recusou-se
a namorar Luiz Carlos, que havia lhe pedido romanticamente com uma flor.
Enquanto isso, Bete, mesmo sendo noiva de Paulinho, que a aguardava
em B.H. aproveitava suas férias se divertindo e namorando bastante.
Luiz Carlos e Elizabete deixaram aquele momento se encarregar de mostrar
quão prazeroso era curtir as férias sem se preocuparem
com o futuro. Eles jogavam pingue-pongue e conversavam na rua em quase
todo entardecer, iam ao clube, mas sempre em companhia dos amigos. O
mês voou. Ao retornar para casa Elisabete rompeu com Getúlio.
Foi uma traição para Recenvindo, que tinha Getúlio
como um filho. Seu pai permaneceu em silêncio, aquele que causa
arrepios na espinha. A primeira coisa que ela fez foi escrever cuidadosamente
uma carta para Luiz Carlos aceitando o pedido de namoro. Aliviada e
feliz, ela estava nas nuvens.
Um mês depois surge uma estória de amor, à prova
de qualquer limite. Quase um ano de cartas amorosas até Dercílio,
amigo de Luiz, chegar a Belo Horizonte para pedir em namoro a prima
de Elizabete, Diana Dalva, com quem flertava durante as férias
de julho. Os rapazes – Luiz e Dercílio – não
preenchiam os requisitos exigidos na época. Requisitos esses
impostos por patriarcas de famílias que acreditavam em outros
valores para suas filhas serem felizes em um casamento. Um homem para
assumir uma mulher tinha que vir de uma boa família, de preferência
rica. Dercílio, que era contador de um pequeno escritório,
foi mal tratado pelo pai de Diana Dalva, assessor político de
Juscelino K. Foi então que o moço, frustrado por ter viajado
10 horas de ônibus, voltou a São Paulo e disse para o Luiz:
“Elas não são para o nosso bico”.
Sem entender nada, Elisabete deixou de receber cartas de Luiz. Seu coração
estava rasgado. Entrou em depressão pela primeira vez na vida.
Chegou até a se consultar com um psiquiatra, mas nada adiantou.
A dor do amor não correspondido permaneceu encubada em seu peito.
Sob total pressão da família, ela cedeu e reatou com Getúlio,
que nesta época já trabalhava como desenhista de arquitetura
do hoje extinto DNOS (Departamento de Obras e Saneamento de Minas Gerais).
Tamanha era sua obstinação que, mesmo afastado de Elisabete,
Getúlio comprou móveis e eletrodomésticos para
o enxoval de um casamento que nem estava previsto. Recenvindo, claro,
adorava. Agora sim, sua filha estava encaminhada.
No ano de 1967, após sete meses de reconciliação,
aconteceu o casamento. Elisabete agora estava com 22 para 23 anos. Não
estava mais lecionando no jardim de infância. Era uma nova vida.
Tornou-se uma esposa dedicada, porém pouco apaixonada. Getúlio,
realizado com o sonho alcançado posava de bom marido. Juntos
eram - aparentemente - o casal vinte. Nasceram um, dois e três
filhos. Eu sou a terceira. A tão esperada menina. O tempo passou.
As crianças cresceram e o casamento continuava. Mas, Elisabete
não estava feliz. Sua amiga Lídia, confidente fiel, era
testemunha de todos os sofrimentos. Cansava de ouvir as lamentações
da amiga relembrando a época de Vila Galvão. Na verdade,
essa fase nunca fora esquecida. O Luiz nunca fora abandonado de seus
pensamentos.
“Tinha sonhos maravilhosos com ele, sofria... e sempre procurava
saber notícias dele. A Lídia era a única que sabia
disso”
Foram momentos difíceis e de muita culpa.
“Para piorar, Getúlio nunca fora companheiro em viagens
de família. A Bete e o Paulinho sempre viajavam com os filhos,
e eu ia sozinha com as crianças em praticamente todas as férias”,
continuou ela.
“Ele sempre foi muito egoísta, juntava dinheiro e gastava
somente com o carro, a casa, enfim, só com o que queria. Se as
férias não estavam em seu plano, nós que fôssemos
sozinhos.. Nunca saímos todos juntos - pai, mãe e três
filhos. Sempre faltava um, quase sempre o Getúlio” relembra
magoada.
Por um acaso do destino, Elisabete foi parar em Alfenas, sul de Minas,
a uns 400km de Belo Horizonte. Getúlio tinha uma carreira de
sucesso como engenheiro e arquiteto da Mendes Júnior - construtora
mineira - mas resolveu mudar de profissão quando seu pai faleceu,
herdando algumas glebas de terra. De repente, Getúlio não
era mais aquele homem elegante e cheiroso que chegava do trabalho com
seus rolos de projetos debaixo do braço, contemplando seus novos
desafios arquitetônicos.
Agora, ele usava botas pesadas de barro, camisas encardidas e um rosto
mais envelhecido pelo sol, isso graças às horas que ficava
pilotando o trator para arar a terra e brincar de ser agricultor. E
não é que essa idéia deu certo? Seu projeto como
produtor de café alcançou o sucesso, chegando até
a estampar a capa do jornal Folha de São Paulo na seção
de agronomia, mas seu casamento estava cada vez mais atolando na lama.
Essa foi mais uma situação difícil para Elisabete.
Tudo havia mudado. O estilo de vida, o marido, as amigas - que foram
deixadas para trás em Belo Horizonte - o trabalho, tudo. Era
uma nova fase que durou pouco tempo.
Alguns anos depois – completando 19 de casamento - aquela mulher
frágil e vulnerável estava cansada, não aceitava
mais engolir sapos de um casamento desgastado. Somado a isso, um acidente
fatal com o seu primogênito. Pronto, uma mistura letal para uma
união fragilizada. Uma mãe que enfrenta a morte de seu
filho quando ele completava 18 anos, realmente é passível
de mudanças. Esse dia foi a última gota de água
em um copo prestes a derramar.
Eu me lembro da respiração contida de minha mãe
ao receber a notícia que meu irmão tinha morrido. É,
foi exatamente assim:
- Elisabete, seu filho Ricardo morreu!
Por alguma instante Elisabete petrificou-se, em pé como estava
permaneceu.
“Eu não acreditei. Na verdade você não quer
acreditar, mas sabe que é verdade. Foi então que entrei
em estado de choque. Comecei a ligar para toda a família e dar
a notícia da mesma forma estúpida que eu havia recebido.
Por sorte, o telefone da minha mãe estava ocupado, foi a única
que Deus poupou naquele momento. Só mais tarde que a minha irmã
deu a notícia para meus pais”.
Logo após, os adultos presentes naquela sala trataram de esconder
as crianças, mas éramos espertas demais para deixar com
que aquelas pessoas - que se julgavam sensatas, mas não eram,
porque pessoas com o mínimo de delicadeza jamais daria uma notícia
trágica de uma forma tão brutal para uma mãe como
foi feito – nos impedisse de participar de algo que o nosso inconsciente
jamais permitiria se ausentar. Enquanto não se ouvia o som da
minha mãe, seja de um suspiro, de um gemido inexprimível
ou de um berro de dor incontrolado, eu e meu outro irmão –
o do meio - ficamos debaixo de uma penteadeira antiga com os olhos amedrontados
sem saber o que viria para tirar a paz de dentro do nosso lar.
A partir daquela notícia, a nossa base familiar havia se desmoronado,
eu sabia que mais cedo ou mais tarde algo iria acontecer. Elisabete
tentou superar aquela dor que, como ela mesma havia me dito:
“Você, minha filha, só entenderá o que eu
estou sentindo, quando for mãe.”
Dito e feito. Hoje tenho um menino de sete anos, e só agora posso
entender o que minha mãe havia me dito naquele dia fatídico.
As mulheres parecem sempre dar conta de tudo, superam perdas e retomam
suas vidas dilaceradas em um piscar de olhos.
E assim foi, um turbilhão de causas e efeitos na vida de Elisabete.
Tudo ficou mais difícil de aceitar, indigesto de engolir e transparentemente
impossível de suportar. Foi então que meu rumo estava
traçado, ir embora de Alfenas – lugar que eu costumo chamar
de acidente de percurso, porque foi assim mesmo, um erro do destino
na vida de minha mãe – pois não tinha mais sentido
para Elisabete se manter refém de seu próprio casamento,
pelo menos não naquele momento.
“A Isabel vem comigo porque tem somente oito anos, não
pode escolher, agora, o Renato, com 15 anos, pode optar com quem quer
ficar no momento, com seu pai em Alfenas ou comigo em Belo Horizonte?”
Decidiu ficar.
Certas escolhas cabem somente aos pais decidirem, mas sempre somos dignos
de erros. Como se não bastasse a morte de seu filho e a separação,
uma avalanche de problemas com seu filho do meio, o Renato, estava por
vir.
Voltamos para Belo Horizonte. Tudo e todos tentavam amenizar a dor que
Elisabete estava sentindo. Nossa família sempre foi muito unida,
acredito que essa é a melhor herança que alguém
pode ter, e que perdura para sempre , de gerações a gerações.
Tudo parecia se tornar novo a cada instante. O início de uma
nova vida, a insegurança de enfrentar o obstáculo, o desconhecido
e a responsabilidade de suprir as necessidades dos filhos que ficaram.
Tarefa nada fácil pra quem está sentindo o coração
arder em chamas pela falta de um filho. Às vezes não entendemos
um suspiro de aflição que uma pessoa deixa escapar e frequentemente
julgamos sem compreender suas fraquezas, mas foi participando de momentos
como esses que amadureci e me tornei uma grande amiga de minha mãe.
As dificuldades surgiram e a falta de dinheiro era uma delas. Esse impacto
foi muito grande, pois Elisabete não tinha uma renda própria
que pudesse sustentar o mesmo padrão de vida de Alfenas, ao lado
de Getúlio. Assim como um trem desordenado, sua vida teve que
se encaixar nos trilhos. Seu pai, o Sr. Recenvindo, que carinhosamente
era chamado de “paizinho”, não estava gostando de
nada do que estava presenciando. A começar com o divórcio.
Sentado em sua cadeira em frente à televisão, parecia
ouvir sua filha contar uma estória qualquer. A atenção
estava voltada pra não sei o quê, mas logo mostrou sua
total indignação.
- Seu marido te bate? Ele tem outra mulher? Falta comida na sua casa?
Então você não tem motivos para querer se separar.
Certa de sua decisão, Elisabete enfrentou as críticas
familiares e não retrocedeu. Getúlio tinha plena certeza
de sua volta, mas isso nunca aconteceu, o que o transformou em um homem
frio e calculista com seus próprios filhos. Mas minha mãe
sempre deixou claro a sua posição e a nossa obrigação.
“O seu pai é seu pai. É sangue de vocês. Isso
é para o resto de suas vidas. Agora, pra mim, sem amor, ele não
é mais nada”.
Aflita com tamanha dificuldade, a terapia foi uma válvula de
escape necessária. Sessão vai, sessão vem, ela
decidiu – depois de muito incentivo – procurar sabe o paradeiro
de Luiz. Mas isso não foi fácil. Elisabete se sentia culpada
por não estar separada judicialmente de Getúlio e tinha
muito medo de alguém achar que ela poderia ser amante do Luiz
há muito tempo. Aliás, essa mania de sempre se preocupar
com o quê os outros vão achar, fez dela uma mulher insegura
e sem coragem de viver seus sonhos.
“Resolvi procurar o telefone do Lú. Liguei para a tia Conceição,
lá de Vila Galvão e ela me deu o número do hotel
que ele estava morando em Blumenau”
Alguns dias se passaram e aquele número de telefone havia deixado
Elisabete completamente atordoada, mas ela não resistiu muito.
Tomou coragem e ligou.
“Um dia, fui até a casa da Lídia e liguei para o
Hotel Rex de Blumenau onde o Luiz estava hospedado. Ele estava na missa,
foi então que deixei um recado para ele ligar para Elisabete
de Belo Horizonte. Só que eu havia me esquecido que ele tinha
uma prima que também se chamava Elisabete e morava em Belo Horizonte.
Fiquei aguardando o retorno. Estava nervosa, parecia uma adolescente.”
O telefone tocou. Lídia atendeu e passou para Elisabete.
- É ele. É ele!!!
“Meus pés saíram do chão, parecia que eu
ia ter um troço. Imagina, uma mulher de quarenta e poucos anos
se sentindo como uma adolescente.”
- Alô?
- Oi Elisabete, tudo bem? Como vai a família?
Com toda certeza Lú não estava sabendo quem era aquela
Elisabete.
- Oi Lú, é a Elisabete de Vila Galvão
Por um instante o silêncio pairou na linha do telefone. Naquele
momento ele sentiu uma enorme emoção acrescentada de uma
forte dor de barriga.
- Não acredito!
- Pois é, a tia Conceição me deu o seu telefone.
Gostaria de conversar pessoalmente, mas você está aí
em Blumenau.
- Não seja por isso, eu pego um avião agora e vou jantar
com você aí em Belo Horizonte.
A primeira reação de Elisabete foi o desespero.
- Não, por favor, não vamos nos precipitar. Não
é o caso, quando você estiver em Belo Horizonte a gente
marca.
Esse dia não tardou a chegar. Após algumas semanas, Elisabete
marcou - escondido de todos - esse tão esperado encontro. Tudo
aconteceu em uma livraria chamada Líber, no bairro Savassi. Ela
não foi sozinha. Bete Alves, sua melhor amiga, não a abandonou
nesse reencontro histórico.
“Estávamos sentadas próximas à porta. Todo
homem que entrava, a Bete Alves tirava um sarro. Foi muito divertido
e ao mesmo tempo tenso”
De repente, um homem baixinho, levemente grisalho, com bigode e um olhar
desconfiado, se aproximou.
- Preta? (Como Elisabete era chamada carinhosamente por Luiz)
- Lú? Nossa, você continua do mesmo jeito.
“Tinha o mesmo charme e elegância de 20 anos atrás”,
se emociona ao lembrar.
Foi assim que recomeçou uma estória inacabada, de um amor
verdadeiro.
A partir desse momento, os encontros se tornaram freqüentes e os
planos cada vez mais em comum. Luiz estava separado, tinha dois filhos,
morava em Blumenau e trabalhava como diretor de Marketing da Karsten
– fábrica têxtil de Blumenau. Suas vidas pareciam
estar preparadas para um recomeço. Elisabete conseguiu o divórcio
e não demorou muito para que eles assumissem o relacionamento.
Foi uma época mágica. Viajaram para vários lugares,
curtiram cada momento especial de forma única. O Luiz alugou
um apartamento em Belo Horizonte para poder ficar perto de Elizabete.
Ambas as famílias começaram a se conhecer. Foi então
que tudo começou a se encaixar.
“Lembro-me do primeiro almoço com o meu pai e minha mãe.
Estávamos todos muito apreensivos. Eu respirava fundo sem tirar
os olhos da porta de entrada”.
Em um movimento triunfante e de forma orgulhosa aproximou-se Luiz. “Eles
não acreditavam que o Lú era aquele moço de Vila
Galvão por quem sofri de paixão antes de casar-me com
o Getúlio. Ficaram surpresos”, completa Elisabete.
Eles se entreolharam, um pouco embaraçados, depois ficaram em
silêncio por um instante. Então se cumprimentaram. Recenvindo
e Luiz sentaram próximos um do outro a mesa e, dando voltas por
todos os assuntos, foram descobrindo o erro que ambos cometeram. Luiz
de não ousar por um amor verdadeiro e Recenvindo de insistir
no rapaz errado. O amor era forte demais para ser apagado por um erro
do destino. Via-se no ar que Elisabete expressava enorme satisfação
por aquele momento.
Agora eles percebiam , enquanto estavam juntos, que fora um intervalo
longo, mas que o amor não mudou. Na verdade é como se
eles não tivessem terminado aquele namoro de Vila Galvão.
Hoje, Luiz e Elisabete estão casados há 13 anos. Enfrentaram
diversos problemas conjugais, como todo casal, mas o amor perdurou a
todos esses momentos difíceis. Moram em um apartamento na Rua
João de Souza Dias, no Campo Belo em São Paulo, onde costumam
tomar cafezinho na padaria da esquina, desfrutar de longas caminhas
pela manhã e dividir uma boa garrafa de vinho durante as tardes
frias de São Paulo. Levam uma vida comum de um casal apaixonado,
que hoje se orgulham de dividir os mesmos sonhos.
* Isabel (bellmota@globo.com), 26 anos, filha de Elisabete. Trabalha
como modelo há 10 anos. Viajou pelo mundo em busca de sucesso
profissional mas preferiu retornar ao Brasil onde tem suas raízes.
Divide o tempo entre o trabalho, o filho, o marido, a casa, a faculdade...ufa!!!
Seu sonho era poder dar uma “esticadinha” no tempo, se isso
fosse possível, é claro. Hoje está fixada em São
Paulo onde é apresentadora de duas emissoras de televisão.
A E! Entertainment Television e a T.V.A. Como uma boa ariana, é
fiel e se dedica muito a quem ama. Acredita no casamento e no amor.
A maior prova disso é a estória de um relacionamento sincero
entre sua mãe e Luiz Carlos que ela acaba de contar.
Making OFF
Não foi difícil narrar a estória de vida de Elisabete.
Eu, como filha e muito amiga de minha mãe, tive um enorme prazer
de retratar um amor verdadeiro de duas pessoas que tiveram seus destinos
mudados por um acaso da vida e que no final conseguiram formar uma bela
família. Participei de quase todos os momentos narrados nessa
estória. Foi muito divertido relembrar juntamente a ela situações
embaraçosas e ver como crescemos através dos momentos
dolorosos. Hoje, com outra percepção e foco pude questionar
coisas que antes eram intocáveis.
Ao sentarmos em uma lanchonete para Elisabete contar todo o começo
dessa paixão, entramos em um clima de cumplicidade que só
uma filha muito confidente poderia usufruir de um momento como esse.
Gravador? Nem pensei nesse aparelho mecanizado que pudesse tirar o clima
de duas amigas íntimas e descontraídas relembrando um
passado em comum. Detalhes que nunca fora dito surgiu naturalmente em
meio às colheres de sorvete que ambas saboreavam.
Foi uma experiência magnífica poder escutar e escrever
situações, que antes com 8 ou 10 anos não passava
pela minha cabeça. Hoje posso entender melhor os erros e os acertos
de minha mãe. Além de me sentir orgulhosa de poder presenteá-la
com essa estória de vida, essa oportunidade despertou em minha
mãe a vontade de, quem sabe um dia, escrever sua própria
estória e publicá-la em um livro.
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