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Christmas' Time

December, 25th - 2007

When I was a kid, Christmas' time was marvelous. I would be at grandma's house and would be presented with many gifts, many toys. I would be playing with my brothers and cousins and eating a lot of sweets. All family would be together and delighting a huge banket. It was an incredible time.

After midnight, we would be spleeping and dreaming with Santa Claus, that magic fat and bearded old man who would bring us a lot of amazing gifts we never could figure out what it was going to be.

In the middle of the night, mamy would wake us up and tell she saw Santa Claus and he left a lot of toys for us. We would stand up from the bed in a blink and would run as faster as we could untill the fireplace. It was so exciting that moment.

Today we have broadened and realized that all those past dreams are just a mechanism on Capitalism's service, and the fantasy of Santa Claus is only one more tool of this complex system. I should never have grown up.


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Crítica
A Ética J.B.

São Paulo, Domingo, 23 de Dezembro de 2007

O que significa J.B? Jornal do Brasil? Whisky John Bull? Jardim Botânico? Jefferys Bay? Não, J.B. são as iniciais de três grandes agentes secretos do cinema e da TV: James Bond, Jason Bourne e Jack Bauer. O primeiro é agente inglês do MI6, o mais que famoso 007, os demais são norte-americanos, agentes da CIA e CTU (Unidade de Contra-Terrorismo), respectivamente. Até aí, eles são parecidos, todos trabalham para seus países, seus governos, seja em nome da rainha ou do presidente, e executam missões secretas nas quais sempre acabam matando outras pessoas. Mais que agentes, os três são detetives, lutadores, soldados, excelentes atiradores e têm uma sorte cinematográfica. Fazem as mais inimagináveis peripécias quando entram em ação, enfrentando e se livrando de situações de perigo sempre de forma espetacular. Nesse cenário comum em que vivem esses três agentes, existe um fator que claramente distingue os três personagens, a ética, a qual se discorrerá nos parágrafos seguintes.

Do trio de agentes JB, dois são muito parecidos, James Bond e Jack Bauer, ambos enfrentam inimigos e ameaças de conseqüências globais, que afligem nações, que ameaçam a soberania nacional e a paz mundial, ambos encaram criminosos hediondos que colocam em jogo a vida de milhões de pessoas inocentes, afinal, na fantasia do cinema ou da TV sempre tem algum vilão maligno querendo conquistar o mundo ou destruí-lo, ou, ao menos, alguém querendo começar uma nova guerra e lucrar com ela. Mas existe uma significante diferença entre os dois, enquanto Bond é herói do cinema, Bauer é da TV, talvez seja por isso mesmo que enquanto o inglês viaja o mundo em suas aventuras, o americano fica restrito a cidade de Los Angeles na Califórnia, por outro lado, enquanto cada aventura de Bond dura apenas o tempo da sessão de cinema, as aventuras de Bauer duram 24 horas, ou seja, têm mais tempo para colocar assuntos em voga e, com ares de novela, mais espaço para colocar questões éticas e étnicas em cena. De No a Goldfinger, Bond enfrenta as mais variadas ameaças, Bauer apenas uma: o terrorismo em suas múltiplas faces. A questão ética de matar coloca esses dois agentes em diferentes patamares, enquanto Bond tem licença para matar, Bauer tem o poder de revogar os direitos constitucionais do cidadão, assim, além de matar, ele pode torturar. Mas, calma lá, só se for em nome de um bem maior, ou seja, salvar milhares de vidas inocentes e, se assim for, até seu pai Bauer torturará caso seja necessário.

Mas a ética dos agentes secretos só vai ser colocada a mesa de forma mais clara pelo terceiro JB que mencionamos, Jason Bourne. A aventura de Bourne começa quando ele, ao falhar em uma missão, sofre de amnésia e perde sua memória. Bourne passa a investigar o seu passado até se deparar com a verdade: que era um agente de um programa especial da CIA cujo único objetivo é de eliminar pessoas. Bourne vai expor o lado negro do serviço secreto, por isso, acaba sendo caçado pela própria CIA, inclusive pela divisão na qual trabalha Jack Bauer, a CTU – por sorte, os dois não fazem parte da mesma história e não precisam se enfrentar. A única ameaça que Bourne enfrenta é sua crise de existência, o peso na consciência que aumenta a cada assassinato que, aos poucos, se lembra ter cometido. Por essa mesma crise de consciência é que a CIA irá caçá-lo, com medo de que o agente amnésico revele a verdade sobre seu passado assassino, assim incriminando a própria agência. Bourne revela um lado do serviço secreto que nada tem de patriótico, é apenas um grupo de extermínio internacional a serviço do governo e outros interesses, e que conta com toda retaguarda de inteligência dos serviços de espionagem. Bourne, ao contrário dos dois demais JBs, revela que de herói, esses agentes nada têm, são sim, como ele próprio acaba dolorosamente se lembrando, assassinos frios e calculistas. Qual deles é seu predileto?

Fontes/Filmes:
• James Bond – Ian Flemming’s 007;
• Jack Bauer – 24 hs;
• Jason Bourne – “A Identidade Bourne”, “Supremacia Bourne”, “Ultimato Bourne”.


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Global Warming
World Car Free Day – 2007, September 22nd

By Peter Louis of the Olive-tree Shore and Son of the Second Son

The world car free day is an extremely important date to get the world’s population attention for the major’s humanity problem we got into: the global warming.

People must know that every time they step over the car’s accelerator, they are contributing to destroy the environment, and don’t matter what with kind of fuel the car works, even it is a bio-diesel vehicle.

Unfortunately, people are not ready to live without cars, as a matter of fact, we have been building our brand new world over the last century and its great cities, not for people live in, but for the cars ride through.

The sexual appeal of the car’s propaganda also does not contribute to awakening conscientiousness inside people’s mind about this important issue. Furthermore, most people don’t even care about of this problem, they’d rather think about their own desires and accomplishments in life, which include having a powerful and speedy car.

With this institutionalized logic, the only destiny we will reach with our cars is our own extinction.


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Resenha
O Universo Digital

Resenha das obras A Galáxia da Internet de Manuel Castells e A Vida Digital de Nicholas Negroponte na relação com pensamentos de outros estudiosos da mídia

A Galáxia da Internet

A expressão “Galáxia da Internet”, título da obra do sociólogo espanhol Manuel Castells, é também uma analogia do autor ao título da famosa obra do estudioso canadense Marshall McLuhan A Galáxia de Gutenberg. Dessa forma, já é a partir do título de seu livro que o espanhol revela que A Galáxia da Internet nada mais é do que a extensão ou ampliação da Galáxia de Gutenberg, agora não mais somente através da impressão tipográfica, mas também pelos “tipos binários”, ou seja, englobando a informação digital que hoje se espalha através da grande rede. Em poucas palavras, o autor reafirma muito do que McLuhan e diversos estudiosos expõem sobre o significado da chegada e a expansão da Internet no mundo comunicacional:

A Galáxia da Internet
A Galaxia da Internet - Manuel Castells

As redes eram fundamentalmente o domínio da vida privada; as hierarquias centralizadas eram o feudo do poder e da produção. Agora, no entanto, a introdução da informação e das tecnologias de comunicação baseadas no computador, e particularmente a Internet, permite às redes exercer sua flexibilidade e adaptalidade, e afirmar assim a sua natureza revolucionária (Castells, 2001:7-8).

A passagem acima é parte da introdução de sua obra. Já nas considerações finais, o autor expõe:

A Galáxia da Internet é um novo ambiente de comunicação. Como a comunicação é a essência da atividade humana, todos os domínios da vida social estão sendo modificados pelos usos disseminados da Internet (...). Uma nova forma social, a sociedade em rede, está se constituindo em torno do planeta (...) sob uma diversidade de formas e com consideráveis diferenças em suas conseqüências para a vida das pessoas, dependendo de história, cultura e instituições (Castells, 2001:225).

Como se nota, o mundo da comunicação está se “revolucionando” pela Internet, neste mundo, as empresas comunicacionais, há séculos estão inseridas no palco comunicacional (desde a época da tipografia), hoje interagem fazendo parte dessa revolução. Exatamente por isso, enquanto alguns autores como McLuhan fazem uma análise mais filosófica sobre a Internet, Castells procura embasar suas teorias em fatos, estudos focados na grande rede, a história do meio e as novas iniciativas que surgem ou se adaptam no novo habitat.

Quando se pensa que a Internet é a criação que resulta dos “projetos de seus criadores” – estamos nos referindo às tecnoelites que participaram do desenvolvimento inicial da grande rede, que inclui hackers[1], comunidades de desenvolvedores e, inclusive, empresários – e, em meio a esses projetos estaria a característica da universalidade. Castells define essas tecnoelites como primordiais no desenvolvimento da cultura da Internet, uma cultura que define como tecnomeritocrática: “Trata-se de uma cultura da crença no bem inerente ao desenvolvimento científico e tecnológico (...) numa relação de continuidade direta com o Iluminismo e a Modernidade” (Castells, 2001:36). Foi a cultura explorada por essas elites no desenvolvimento inicial da grande rede enraizaram suas características até hoje fundamentais para o sucesso e o desenvolvimento da Internet, movimento cujas bases estariam, nas palavras do espanhol, em: “A pedra angular de todo processo é a comunicação aberta do software” (Castells, 2001:37). Se a Internet é o meio da universalidade, em parte isso segue os anseios das comunidades hackers que participaram dos primeiros estágios de criação da rede, uma “cultura de convergência entre seres humanos e suas máquinas num processo de interação liberta. É uma cultura de criatividade intelectual fundada na liberdade, na cooperação, na reciprocidade e na informalidade” (Castells, 2001:45). Assim, fica entendido que, dentro da universalidade não totalitária, os valores mencionados acima são características fundamentais da Internet: liberdade, cooperação, reciprocidade e informalidade.

Se, para McLuhan, o “meio é a mensagem”, para Castells “a rede é a mensagem” (Castells, 2001:65). É assim que o espanhol define a nova economia baseada nos negócios eletrônicos. A Internet está alterando o mundo dos negócios, seguindo a lógica, Castells expõe que o novo modelo de negócio “(...) permite escalabilidade, interatividade, administração da flexibilidade, uso de marca e customização num mundo empresarial em rede” (Castells, 2001:56). Em referência aos grandes portais, redes informativas e sociais, ou seja, as grandes empresas da Internet, o espanhol afirma que “(...) valem-se ainda mais (...) da possibilidade de organizar a administração, a produção e a distribuição na Internet (citando Anthony Vlamis e Bob Smith. Do you: Business the Yahoo! Way: 2001). Na verdade, há uma mudança na cadeia de valor da indústria do comércio eletrônico para os sistemas de distribuição de informação em detrimento do valor da própria informação” (Castells, 2001:65). Essa afirmação, paradigmática, explica em parte a inserção de grandes empresas comunicacionais, como os tradicionais meios impressos, rádios e TVs, no ambiente da grande rede em associação aos grandes portais informativos ou no comando de seus próprios, pois, como colocou o ibérico, estão atreladas ao novo modelo de negócio através da Internet. O importante é fornecer informação e quanto mais, melhor, independente da qualidade e do valor dessas informações, apenas como meio para alcançar os novos públicos que hoje buscam conteúdo, entretenimento e serviços via web. Essa última frase também pode ser entendida através da interpretação da famosa frase de McLuhan pela interpretação de Castells (“a rede é a mensagem”) em uma menção por parte do professor doutor em Ciências da Comunicação Caio Túlio Costa (ECA/USP), que diz: “Se o meio é a mensagem, então a rede também passa a ser a mensagem. Estar em rede seria mais determinante do que usar a rede para essa ou aquela causa” (Costa, 2008:282). A afirmação demonstra a importância de se estar na presente na Internet, independentemente de como. Uma maneira de estar presente é buscar estar onipresente em tudo que a web oferece, ou seja, abraçando tudo que for possível. Daí a fome de conteúdo que vários portais e sites informativos demonstram em sua inserção no novo meio – no Brasil, o case mais notório é o do portal UOL (Universo Online) do Grupo Folha.

Outra palavra-chave do novo modelo de negócios na Internet é a inovação que, segundo Castells “(...) é uma função de trabalho altamente especializado e da existência de organizações de criação de conhecimento” (Castells, 2001:85). A inovação confere vantagem competitiva a quem a implanta e a adota: “Uma vez gerada a inovação (...) sua aplicação confere uma vantagem competitiva aos que participaram no processo (...) eles são os primeiros a adotar (...) aprender (...) sabem melhor que tipos de produtos e processos podem ser desenvolvidos a partir desse caminho de inovação” (Castells, 2001:86). Essa colocação também explica o fato de os portais informativos objetivarem estar sempre sincronizados com as novidades do mercado, oferecendo produtos e serviços atrelados às novas tecnologias que vão surgindo, tanto na área de softwares como, por exemplo, um grande portal que disponibiliza servidores aos seus assinantes para que eles possam jogar em rede a última versão do mais novo e sensacional game tridimensional, quanto na área de hardwares, na qual, por exemplo, o usuário pode baixar skins, trilhas sonoras ou atualizar informações via web, de seu handheld, tablet ou smartphone, ou, então, simplesmente mandar um torpedo para um celular qualquer através de um site. Essa lógica, segundo Castells:

(...) permeia toda a indústria de serviços on-line, uma vez que os portais dão acesso a informações e serviços, como uma maneira de vender publicidade e obter informação que possa ser reutilizada para fins de marketing. Nesse lógica, os compradores são produtores, já que podem fornecer informação crítica por seu comportamento, e por suas demandas, ajudando constantemente as companhias eletrônicas a modificar seus produtos e serviços (Castells, 2001:86).

A participação do público é fundamental na nova era da informação, subentende-se a importância da afirmação que o “usuário é co-produtor da informação dentro do ciberespaço”, mencionada por Castells tão quanto por diversos outros estudiosos, em termos de valor de negócio, segundo o espanhol, é mesmo. Assim, entende-se que empresas que visem prosperar no novo ambiente devem entender e observar os gostos de seu público e, como se explicita pela citação acima, a Internet e a tecnologia computacional são ótimas ferramentas para o monitoramento dos hábitos dos usuários, dos consumidores. Quem também expõe esse fato é a comunicóloga Beth Saad (USP), que relaciona o papel do usuário com o valor da informação jornalística através da Internet. Saad afirma que “também emerge com destaque o papel do usuário, ou seja, o conhecido leitor, agora equipado com seu arsenal particular de informática e telecomunicações que tem o poder (...) de selecionar conteúdos, as informações, os serviços, as notícias que lhe interessam” (Saad, 2003:60). E complementa: “(...) quanto mais próxima dos interesses pessoais do usuário, mais valor tem essa informação” (Saad, 2003:61). Além do valor da informação estar diretamente atrelado ao usuário, o processo comunicacional outrora monopolizado pelas empresas de mídia agora sofre com a interferência desse novo ator, o que fica claro quando a estudiosa expõe que “o domínio do processo produtivo fica mais fragilizado com a interferência ativa e muito próxima do usuário” (Saad, 2003:60). Daí podermos extrair a compreensão desse novo momento comunicacional como um movimento de ruptura que leva alguns dos meios mais tradicionais à crise enquanto novos players midiáticos vão se aventurando por este mundo globalizado e interconectado. Aqui, o grande exemplo é a empresa Google, que rapidamente se tornou líder no mercado digital por meio da inovação provida por seu algoritmo de busca.


 

A Vida Digital
A Vida Digital - Nicholas
Negroponte

A Vida Digital

Uma das características da nova “Galáxia da Internet” está no crescimento da inteligência em diversos níveis, desde a eficiência dos novos sistemas interconectados, dos computadores, até a contribuição das pessoas individualmente e/ou se organizando de criativas maneiras – a própria inteligência coletiva. O norte-americano ex-comandante do MIT (Massachusetts Intitute of Technology) Nicholas Negroponte faz diversas considerações sobre a inteligência do novo mundo interconectado em sua famosa obra A Vida Digital, além de também relacioná-las com o consumo de mídia. A primeira pergunta que o estudioso se faz é se “a peculiaridade de um veículo pode ser transportada para outro” (Negroponte, 1995:25)?

Já sobre a questão das diferenças físicas e interativas dos meios, afirma:

Um jornal também é produzido tendo toda inteligência do lado do transmissor. Mas, como veículo, o papel em formato grande propicia algum alívio ante à “mesmice” da informação, uma vez que o jornal pode ser consumido em diferentes momentos e de diferentes formas. Nós folheamos, dobramos suas páginas guiados por manchetes e fotos, cada um tratando de um modo bastante diverso os bits idênticos enviados a centenas de milhares de pessoas. Os bits são os mesmos, mas a experiência da leitura é diferente (Negroponte, 1995:25) [2].

Embora a Internet não desfrute da mesma portabilidade de um jornal impresso, percebe-se que o exemplo mencionado por Negroponte sobre a experiência de leitura, se assemelha e vai além do que já nos propiciava o jornal em relação a outras mídias (o rádio e a TV), sobretudo no momento atual quando a informação, cada vez mais, se espalha por diferentes meios e modos de interação proporcionados pelas novas tecnologias que nos abraçam dia-a-dia e que vão além da Internet. Dentro do novo contexto tecnológico, as reflexões de Negroponte seguem a mesma direção das ponderações de Manuel Castells e de Marshall McLuhan, nas quais a informação se fragmenta e se personaliza:

A resposta está na criação de computadores que filtrem, classifiquem, estabeleçam prioridades e gerenciem os múltiplos veículos, a multimídia, para nós – computadores que leiam jornais, assistam à televisão e que ajam como editores quando solicitados. Esse tipo de inteligência pode alojar-se em dois lugares distintos.

A inteligência pode estar do lado do transmissor e comportar-se como se você tivesse seu próprio time de redatores – como se o New York Times publicasse um jornal único, feito sob medida para seus interesses, exclusivo para cada leitor. No bastidor desse exemplo de Negroponte, um pequeno subconjunto de bits foi selecionado especialmente para você. Esses bits são filtrados, preparados para você, talvez para serem impressos na sua casa, ou para serem vistos de modo mais interativo, com auxílio de um aparelho eletrônico.

Na outra ponta dessa dupla inteligência, ela está ao lado do receptor, que possui ou comporta-se como um editor de notícias, então, o New York Times transmite uma quantidade enorme de bits (...) dentre as quais seu aparelho seleciona umas poucas, dependendo dos seus interesses, hábitos ou planos para o dia em questão. Nesse caso, a inteligência está no receptor, e o idiota do transmissor está enviando os bits todos para todo mundo, indiscriminadamente (Negroponte, 1995:25-26), e desnecessariamente, podemos acrescentar – há de se considerar que o fornecimento de informações por parte dos publishers deve refinar-se cada vez mais.

Enfim, Negroponte conclui que ambas as fórmulas estarão presentes na vida digital – e alguns ensaios, experiências e iniciativas que ratificam essa tendência vêm surgindo e se multiplicando através da esfera digital. Mas a inteligência do transmissor/receptor e a fragmentação não são os únicos pontos que alteram o cenário da informação que concerne à mídia em geral. A sua profundidade aumenta com as redes de comunicação e as novas tecnologias, conforme evidencia a seguinte afirmação do norte-americano:

No mundo digital, o problema do volume versus profundidade desaparece, de modo que leitores e autores podem mover-se com maior liberdade entre o geral e o específico. Na verdade, a idéia de “querer saber mais sobre o assunto” é parte integrante da multimídia, e está na base da hipermídia (Negroponte, 1995:71).

Nota-se a citação às características intrínsecas do novo meio, a hipermídia, protocolar conforme o desenvolvimento de seus criadores, detalhe consoante com o que revelou Castells no sétimo parágrafo da presente resenha. A maior profundidade proporcionada pela informação em rede, além do que escreve o norte-americano, é notória na Internet, meio que permite a conectividade de diversas empresas de mídias entre si, com seus usuários e dos mesmos entre si – as redes sociais, as quais empresas fornecem espaço virtual para que os usuários ocupem e desenvolvam o ambiente em maior conformidade com seus gostos, para exemplificar, poderíamos citar GeoCities, Blog, MySpace e Orkut ou Facebook. Atualmente é fácil notar essa tendência em qualquer meio, seja na TV, no rádio, em jornais ou revistas que interagem e convidam o público para “saber mais sobre o assunto” através de informações adicionais que dispõem em seus sites na web ou acessíveis por dispositivos móveis, os handhelds. Em paralelo, o público pode encontrar outros conteúdos navegando por conta própria pela grande rede, o que nos permite afirmar que a Internet é o meio atual de maior profundidade informativa e uma via de duplo sentido ao que tange a inteligência dessa interação.

Última Consideração

Se o mundo da tipografia da prensa de Gutenberg equivale a uma complexa Galáxia no entendimento de McLuhan, mantendo-se as proporções astronômicas, a Internet corresponde ao Universo por completo segundo o entendimento proporcionado pelas obras de Manuel Castells e Nicholas Negroponte na presente análise, o Universo Digital.

Notas

[1] Se entende hacker como um membro de uma comunidade ou cultura de programadores e desenvolvedores tecnológicos, em oposição ao que é normalmente associado tal figura, que seria o cracker, estes sim quem utiliza seu conhecimento tecnológico com o objetivo de derrubar sistemas, criar vírus etc.
[2] No contexto da obra de Nicholas Negroponte, bit é uma referência a informações e conteúdos digitais.

Referências Bibliográficas

CASTELLS, Manuel. A galáxia da Internet. Rio de Janeiro: Zahar, 2003.
COSTA BISNETO, Pedro Luiz de Oliveira. Internet, Jornalismo e Weblog: a Nova Mensagem. Estudos Contemporâneos de Novas Tendências Comunicacionais Digitais. Dissertação de Mestrado. São Paulo: Faculdade Cásper Líbero, 2008.
COSTA, Caio Túlio. Moral provisória. Ética e jornalismo: da gênese à nova mídia. Tese de Doutorado. Universidade de São Paulo – Ciências da Comunicação. São Paulo, 2008.
LÉVY, Pierre. O que é virtual? São Paulo: Editora 34, 1996.
MCLUHAN, Marshall. Os meios de comunicação como extensões do homem – (Understanding mídia). São Paulo. Editora Cultrix. 1964.
NEGROPONTE, Nicholas. A vida digital. São Paulo: Companhia das Letras, 1995.
SAAD, Beth. Estratégias para a mídia digital. São Paulo: SENAC, 2003.
VLAMIS, Anthony e SMITH, Bob . Do you: Business the Yahoo! Way. Milford: CT: Capstone, 2001.

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Essay
An unique piece of land: BRAZIL

... And God created Brazil, a fertile ground covered with green leaves and colored flowers, with thousands of sweet fruits and uncountable natural richness, blessed with peaceful and warm weather, not endangered with Tsunamis, earthquakes, hurricanes or fierce animals, not too cold nor too hot, a perfect place to live in and raise children. Do you thing God have not been fair? That's because you haven't seen the corrupt and ignorant people he entitled to habit this "holy" land...

Let's talk about numbers:

Brazil is the 5th largest country in the world, in fact, without counting Alaska, it's larger than United States. The country's area is something like 2 million square kilometers, and its estimated population is 180 hundred million people, and the sea shore has more than five thousand kilometers of sunny beaches. Brazil is the 11th world's economy, and it is known as the land of samba (the national music), football (people's favorite sport) and the sexual tourism (that's true, don't criticize this poor blogger, is the country which has this kind of "economical" activity, not myself at all).

Brazil's political center, and country's federal district, is Brasilia, located in the middle of its territory, but the most famous cities are Rio de Janeiro and Sao Paulo. Sao Paulo is the largest Brazilian city, with almost 20 million citizens, and it is the center of Brazilian economical and finantial activity. Preciselly, Sao Paulo is the second greatest city of the entire world, only loosing the first place to Mexico City. Take care to not get lost when visiting this huge metropolis, you could end dead.

Rio de Janeiro and other northern cities as Salvador and Natal are some of the most visited places by tourists and, a great number of them, look for sexual activity, which can easily be found over the streets by cheap prices - but, if don't need that, be pleased with people who also loves loving foreigners freely. Rio de Janeiro is also worldwide known by the Carnival, when a fantastic Samba parade takes place on Sapucai, or at the "Avenida" (avenue) as the natives usually say. In this amazing party, foreigners almost get crazy by watching stunning and perfect girls shaking their almost completed naked bodies under a deafening drums sound. Its something that you must see for yourself to believe it is possible.

Sao Paulo, the major city, is better known by its football teams, and one in particular is the most popular and considered the best: Corinthians, which is the one that has more victories on all country's championships. But Sao Paulo is also known by its high-quality international kitchens and enormous traffic jams. Feijoada, a meal prepared with black beans, rice, grated manioc and pork's meat is the main national dish - and it's delicious! - you can not leave Brazil without trying this. The sexual tourism, like over the entire country, is either famous on Sao Paulo but, in this case, by the "shemales"[1] whose walk at night on dark avenues and, at first sight, can cheat anyone who do not believe that a man can have a built body as equal, or even better, than a woman.

That's it! Welcome to Brazil: enjoy the beaches, delight yourself with the amazing landscapes, eat feijoada, dance under the samba drums, play and/or watch a football match on live and... you know... have a lot of fun! Everyone should now how to spend the money wisely... Unfortunately, there are many who are missed of this king of wisdom, even many who comes from that as well refered "first world"...

Notes:
[1] A man with girl's body. A male with female body and personality. Kind of homossexual male prostitute dressed like a woman. Woman that has a male sexual member.


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O Relatório Pato Donald
Uma reflexão sobre Comunicação, Tecnologia, Cultura de Rede e "quac, quac"

São Paulo, 22 de Junho de 2007

Pense antes de escrever - Uma história do Pato Donald

A história começa com o Pato Donald em sua casa, na sala de estar sentado em sua poltrona, irritado, desligando a televisão ao término de mais um episódio do seriado “Policial Caipira”.
– Quac! Eles chamam esse lixo de seriado? – questiona Donald aos seus sobrinhos que estão ao seu lado desenhando. – Um chipanzé treinado faria melhor do que isso! Ou então... Eu! Aposto que sei escrever um roteiro que detona! Não deve ser tão difícil! – diz para si mesmo o pato.
Com a idéia de escrever um roteiro para o seriado, Donald dirige-se ao seu computador pessoal e, com ele já aquecido, está pronto para escrever o seu roteiro, só lhe falta uma boa idéia. Porém, antes de iniciar seu projeto, outra idéia ocorre a Donald: comer um lanchinho. Depois do lanchinho, Donald volta ao computador, mas antes de iniciar seu trabalho, é preciso dar uma olhada nos e-mails, então Donald percebe que está passando uma reprise do seriado “Policial Caipira”...
Algumas horas depois, Donald é acordado por seus sobrinhos em sua poltrona, que o questionam a respeito do seu roteiro. O tio responde:
– Só falta melhorar um pouco o título e já vou começar o primeiro parágrafo.
Com isso em mente, Donald coloca seus sobrinhos para fora de casa a fim de ter mais sossego para escrever. Porém, após algumas horas em frente ao computador sem nada conseguir escrever, frustrado, conclui que é realmente muito difícil pensar. Apesar de ter um milhão de idéias fantásticas, Donald percebe que demoraria muito tempo para materializá-las no papel. Num rompante, outra idéia brilhante vem à mente de Donald: já que era difícil escrever, bastava procurar um escritor para escrever o roteiro para ele. E assim se pôs em ação atrás de um escritor, quando encontrou, ouviu:
– Você tem um título e quer que eu escreva alguma que combine com ele? – questiona Silva, o escritor – E quanto irá me pagar por isso?
– Eu não ofenderia uma artista como você com dinheiro – responde Donald, que é em seguida chutado para fora da casa do escritor.
Sem alternativas, Donald resolve então procurar seu amigo inventor, o Professor Pardal, e lhe pergunta se este tem alguma invenção que elimine a parte difícil do trabalho de escrever. Prontamente Pardal apresenta o PENS-O-MATIC. Pens-o-matic é um materializador de idéias: um capacete que transmite pensamentos para uma máquina que escreve e desenha tudo o que se pensa, imprimindo até cem páginas por minuto e, inclusive, encadernando as folhas, restando apenas trabalho de alimentar a máquina com papel.
Já em casa, os sobrinhos de Donald o questionam:
– Tio, você não vai desligar a TV? Você não vai escrever?
– Eu estou escrevendo – responde Donald – Graças ao pens-o-matic do Pardal eu posso fazer múltiplas tarefas! Consigo escrever livros e roteiros e ver TV... Tudo ao mesmo tempo!
Passado algum tempo, com um carrinho de mão cheio de livros, Donald se dirige às Editoras com o intuito de vender suas obras. Porém, após algumas visitas em algumas editoras, Donald as vê rejeitadas. Numa delas, uma editora de livros de receitas culinárias, diante a insistência de Donald em ver o seu livro de receitas de cachorros-quentes publicado, a editora-chefa lê para o pato um trecho de sua obra:
– “Primeiro tire uma gostosa salsicha da geladeira! Depois... Ei! Sobrou feijão, está aqui há apenas três semanas! >Chlep< Ei! Arenque! >Chlep<, >Chomp<!” – e em seguida, Donald é enxotado para fora da editora.
Donald percebe que máquina realmente escreve tudo o que ele pensa e, após mais algumas rejeições das editoras, incluindo uma acusação de plágio, revoltado, resolve destruir o pens-o-matic. Antes que o faça, porém, seus sobrinhos o impedem, mostrando-lhe um gibi de uma história em quadrinhos que criaram com o pens-o-matic. Donald, como é de costume, crítica seus sobrinhos:
– Vocês chamam isso de história em quadrinhos? Podem esquecer! Isto não vai vender nunca!
– Não queremos vender as histórias! Nossa diversão é fazer! – responde um de seus sobrinhos – Além disso, todo mundo na escola acha o seu pens-o-matic o máximo! Todo mundo quer um!
Diante do que lhe disseram seus sobrinhos, Donald tem mais uma de suas brilhantes idéias e logo está em meio a praça de Patópolis, sobre um balcão, anunciando para um público estupefato a sua máquina de escrever, o pens-o-matic. As vendas são um sucesso. Porém, Pardal tem dúvidas sobre tal empreitada.
– Tem certeza de que é uma boa idéia produzir essa máquina em massa? – diz o inventor.
– Claro! As pessoas estão felizes! – responde Donald – E eu recebo a minha comissão de venda. O que poderia dar errado?
Enquanto Donald está no Taiti em férias, gastando o dinheiro que ganhou com a venda do pens-o-matic, Patópolis inteira está produzindo os seus livros, ninguém tem mais tempo de ler livros, só de escrevê-los.
Após duas semanas de férias, Donald volta à Patópolis e encontra seu primo, Gansolino, lhe mostrando uma nota que acabara de ganhar com a venda de um roteiro para um episódio do seriado “Policial Caipira”. “Sorte de principiante”, pensa Donald. Caminhando um pouco mais, Donald fica de queixo caído ao ver que todos na cidade estão vendendo suas obras, carregando pilhas de livros de um lado para outro, editoras e livrarias exibindo anúncios de noites de autógrafos. Encontra também o Tio Patinhas, a Vovó Donalda e sua namorada, Margarida, todos vendendo seus livros. A esta última, Donald questiona:
– Glup! Como você conseguiu uma editora? Como?
– Quem precisa de editora? A máquina imprime a quantidade de livros que queremos... E as lojas vendem pra nós! Depois dividimos o dinheiro! Simples, não? – responde Margarida.
– Como não pensei nisso antes?! Com meu talento, posso vender milhões! – com esse pensamento na cabeça, Donald se apressa em buscar seus livros para levá-los para a livraria revendê-los. Porém, ao entrar na livraria, o vendedor lhe mostra as estantes todas abarrotadas de livros, e lhe diz:
– Está lotadíssimo! Todo mundo quer que eu venda seus livros! Mas ninguém compra nada! Não vendi um livro durante semanas. As estantes estão até tortas! Simplesmente não temos lugar pro seu livro, Donald!
Insistente, Donald tenta colocar os seus livros em uma das estantes que desaba derrubando todos seus livros sobre sua cabeça. Donald é expulso da livraria. Na rua, Donald encontra um grupo de cidadãos consternados com as mudanças que ocorreram em Patópolis desde que ele introduzira o pens-o-matic. O dono da Biblioteca Municipal estava revoltado, pois teve de fechá-la, ninguém mais lia seus livros, todo mundo só escrevia. Todos empreendimentos e lojas da cidade haviam mudado para o ramo de livrarias e muitos outros produtos deixaram de ser produzidos. Por fim, as árvores de toda a cidade estavam sendo derrubadas para se confeccionar mais papel para os livros.
Diante disso, Donald procura o Professor Pardal e lhe dá uma idéia: informatizar o pens-o-matic para que escreva livros eletrônicos ao invés de utilizarem papel. Logo, Pardal executa a idéia. Já em casa, Donald está em frente ao seu computador, que já exibe diversos livros eletrônicos. O tio fala aos seus sobrinhos:
– Livros eletrônicos não gastam papel nem ocupam espaço! Problema resolvido! – Será?
Momentos mais tarde, Donald está novamente sentado diante do seu computador, reclamando que todos na cidade lhe mandam os seus livros por e-mail para ele ler, e o pato já não agüenta mais. Neste mesmo momento, vários cidadãos batem na porta da casa de Donald revoltados com ele:
– Todo esse spam está entupindo nossos computadores! Dá um jeito nisso... – diz um cidadão de Patópolis com um olhar ameaçador para Donald –...Senão!
Mais uma vez Donald procura o Professor Pardal e, enfim, consegue a solução definitiva para o problema. Sabendo que todo mundo gosta de elogios, Pardal produz um novo modelo de pens-o-matic que elogia o escritor assim que ele termina a sua história, e depois o aparelho apaga automaticamente a mesma sem que esta possa causar maiores problemas. Quem quiser escrever histórias e vendê-las, terá de fazê-lo do modo tradicional.
E, assim, tudo volta à normalidade em Patópolis, a história termina com o Pato Donald mais uma vez desligando a TV, revoltado com o término de mais um episódio do seriado “Policial Caipira”. Quac!

O Relatório

Este relatório é oriundo de uma reflexão sobre o que foi abordado nos quatro encontros do 1º Seminário de Comunicação, Tecnologia e Cultura de Rede da Faculdade Cásper Líbero, com base na história em quadrinhos do Pato Donald intitulada “Pense antes de Escrever” reproduzida acima, publicada no Brasil na edição nº 2344 (ISSN: 0104-2092. Roteiro de Michel T. Gilbert, Desenhos de VICAR e Tradução e Letras de LUA AZUL).

A história do Pato Donald e o 1º Seminário de Comunicação, Tecnologia e Cultura de Rede

As semelhanças entre a história acima descrita e o mundo da comunicação, tecnologia e da cultura de rede são inúmeras. Encontramos diversos pontos comuns entre a história e os assuntos que foram abordados durante o seminário e a própria vida atual dentro do cenário do que conhecemos como “mundo digital”, onde se destacam os computadores e a Internet.
Se entendermos que o pens-o-matic é uma ferramenta que facilita a criação, podemos logo fazer um paralelo entre a máquina do Prof. Pardal com os computadores, da mesma forma podemos tomar a cidade de Patópolis como uma amostra ou referência do mundo contemporâneo.

Toda máquina criada pelo homem é atribuída a uma capacidade do próprio homem, uma extensão ou ampliação de suas habilidades. Assim, a prensa, multiplica a capacidade do homem de escrever. O carro, os aviões e outros meios de transporte multiplicam a capacidade do homem em se locomover, já o computador, assim como o pens-o-matic, multiplica a capacidade do homem de calcular e, consequentemente, de pensar e criar.

Sendo o pens-o-matic uma espécie de computador pessoal, então, dentro do contexto da história narrada, o Prof. Pardal poderia ser um dos engenheiros da IBM, da Xerox ou qualquer empresa entre as pioneiras na criação do microcomputador, ou até mesmo, Steve Jobs, o criativo engenheiro e um dos fundadores da famosa empresa Apple, que colaborou decisivamente para colocar o Macintosh no mercado. Ainda neste contexto, o próprio pato Donald, que fomentou o mercado de Patópolis com as vendas do pens-o-matic, poderia ser então o mega-empresário Bill Gates, que teve papel chave para o boom do mercado dos computadores pessoais com o sistema operacional MS-DOS de sua empresa, a Microsoft, e possibilitou a produção e venda dos microcomputadores numa escala de massa.
Durante os encontros do seminário de comunicação, tecnologia e cultura de rede, duas palavras foram postas à mesa: evolução e revolução. Duas palavras atribuídas à introdução da tecnologia digital e de rede com os impactos sociais oriundos que afeta e modificam o contexto atual da comunicação e da vida em rede.

Assim como os computadores e diversas outras tecnologias digitais têm impacto em nossa sociedade, a introdução do pens-o-matic em Patópolis causou uma evolução e, em seguida, uma revolução na cidade. Diversas pessoas perderam seus empregos, empreendimentos mudaram de ramo, e até mesmo um impacto ecológico se fez acontecer em Patópolis. Tais impactos, desde a introdução das tecnologias digitais e de rede, têm acontecido em nossa sociedade assim como em Patópolis, alguns exemplos clássicos nos mostram isso: a produção de máquinas de escrever desapareceu substituída pelos computadores com seus softwares de edição e diagramação de texto e as impressoras domésticas, a tira-colo, também as bobinas de tinta das máquinas de escrever foram substituídas pelo toner das novas impressoras. Outro exemplo clássico é a famosa Enciclopédia Britânica que, antes da “era da Internet”, se consistia em uma autêntica instituição com valor de marca avaliado em bilhões de libras esterlinas, mas, no novo cenário, hoje busca fôlego para se manter, recuperando-se da falência em uma nova versão on-line dentro de um mar de informações concorrentes que inundam o espaço cibernético. Enquanto profissões e negócios desaparecem, outros surgem ou evoluem. Do encarregado do pestape, surge o layoutman e o webdesigner, que deixa a tesoura e régua de lado e os substitui pelos comandos CTRL+C e CTRL+V. O digitador, ou escritor, evolui para o webwriter, exemplos aos quais se seguem muitos outros em todos os setores da sociedade. A questão ecológica que se abateu sobre Patópolis também aflige a sociedade no novo milênio.

Vale lembrar que no início da “Era Digital”, muitos disseram que publicações como livros, revistas e jornais estariam condenadas a extinção, sendo gradativamente substituídas por novos suportes digitais e interativos, o hipertexto digital daria um fim ao texto impresso. Porém, a enxurrada de informações que surgiu com a Internet acaba fomentando ainda mais a venda de tais produtos, aumentando cada vez as áreas desmatadas para a criação de papel. Apenas os grandes jornais de massa são ameaçados de extinção, com tiragens que diminuem a cada ano, porém novas publicações impressas mais segmentadas surgem a cada momento e o consumo de papel se mantém em progresso. Os próprios computadores pessoais dotados de impressoras domésticas, assim como o pens-o-matic do Prof. Pardal, também aumentam o consumo de papel em um ritmo nunca antes imaginado. Esse consumo desenfreado nos leva a idéia do Pato Donald para solucionar o problema de consumo de papel e o conseqüente corte de árvores que se abateu sobre Patópolis: a substituição pelo microchip, dos livros pelos e-books, do analógico pelo digital. Seria essa mesmo a solução? Muitos ambientalistas contrários aos desmatamentos e as constantes modificações no solo que a produção do papel implica poderiam dizer que sim, outros percebem que a produção de computadores aumenta o consumo de água em um mundo ameaçado de sua escassez, assim entendendo que não. Não podemos nos esquecer da questão da tinta impressa no papel mencionada anteriormente, fator que também se remete a tal questão entre muitas outras ligadas ao impacto do consumo, seja do papel ou do computador. Questões que afligem o mundo atual dentro da ameaça que paira sobre ele: o aquecimento global. Mas, para respondermos a essa hipótese levantada pelo Pato Donald, seria necessário um longo estudo que não cabe aqui encamparmos.

A confusão do pato Donald ao usar o pens-o-matic, misturando os seus pensamentos com suas criações e as múltiplas tarefas que executava – o cachorro-quente com o feijão velho – nos traz à tona outro tópico discutido durante o seminário: hoje estamos na era do remix, vivendo o “triunfo do pastiche”, segundo os estudos da pós-modernidade de Frederick Jamenson mencionados durante a jornada. Nessa confusão de Donald, ele acabou recaindo em plágio de um dos episódios do seriado “Policial Caipira”, que assistia enquanto operava o pens-o-matic – questão que esbarra em um dos tópicos amplamente debatido na pauta conduzida, a dos direitos autorais na era da Internet e o surgimento da Creative Commons, a licença universal que tem o intuito de fomentar o pensamento e a compartilhamento do conhecimento coletivo considerando as novas formas de produção em um ambiente interconectado globalmente como a Web. Na questão dos direitos autorais, a história de Donald nos mostra outro problema: enquanto o pato lutava para conseguir uma editora que publicasse suas obras, outros personagens encontraram outra solução, como bem disse a Margarida: “Quem precisa de editora, imprimimos a quantidade de livros que queremos e as lojas vendem para nós. Depois dividimos o dinheiro”. Palavras que vão ao encontro com a “pseudo-revolução” que Internet trouxe na distribuição de diversos tipos de obras, dentre as quais, a música. Sem dúvida, a Internet e as tecnologias peer-to-peer, além da evolução do som digital (como o mp3) e o surgimento de diversos aparatos eletrônicos (como o I-Pod), tiveram um grande impacto sobre a distribuição de música, por um lado levando ao pânico as grandes empresas do mundo fonográfico frente o risco de perderem suas margens de lucro ou, mesmo, de ficarem fora do negócio e, por outro lado, levando usuários da rede aos tribunais sob a acusação de pirataria. Porém, mais uma vez, o que prometia ser uma revolução, permitindo que os músicos pudessem distribuir suas obras diretamente aos seus fãs através da Internet não se verificou e, ainda pior, assistimos cenas deprimentes tais como a do baterista da banda Metallica, Lars Ulrich, que foi ao tribunal testemunhar contra um fã da banda que havia baixado músicas suas pela Internet e respondia processo por violação de direitos autorais. Ou mesmo o por star inglês Elton John, que declarou que o mercado da música era mais interessante antes da era do “mp3”. Essas brigas judiciais merecem atenção quando percebemos que dizem respeito mais a questão dos direitos autorais quando tomamos as grandes gravadoras como intermediarias entre o músico e seu fã, e o aspecto revolucionário da web capaz de colocar os dois em uma mesma página online, entretanto, o medo de perda das margens de lucro se verificam apenas como especulações, pois, da mesma forma como aconteceu no mundo dos impressos, o advento da música digital e da distribuição peer-to-peer fomentou ainda mais a venda de CDs nas lojas enquanto os tubarões da indústria fonográfica temiam o contrário. Mas, se não houve revolução nesse sentido, evolução sim, e o novo formato da música obriga a grande indústria a se adaptar para estar presente no meio, e novos players abraçam esse mercado, de modo se este meio está sendo revolucionado ou não, é cedo para afirmar, mas que está mudando, sem dúvida.

Outro problema diretamente ligado ao mundo real e que se abateu sobre Patópolis após a informatização do pens-o-matic, foi o spam. O “boom” de criação de livros eletrônicos levou a um “boom” de spams para os usuários da Internet de Patópolis. O problema do spam para os usuários da Internet que têm sua caixa postal de e-mails superlotada aflige tanto os cidadãos do mundo real como os patos de Patópolis, de forma que não faltam softwares e provedores que buscam filtrar nossa correspondência tentando nos livrar desse mal que nos aflige. Embora o spam em si não tenha sido objeto de discussão do seminário em questão, algo que chega por e-mail e que, pela voz de alguns participantes, pode ser considerado spam o foi: a comunicação viral. A comunicação viral, aquela que vai de e-mail em e-mail navegando pelas diversas caixas-postais de usuários da Internet, nos trouxe alguns exemplos de pequenas revoluções que ela pode causar: tais como no caso do vídeo da Daniela Cicarelli que levou ao bloqueio do sitio Youtube no Brasil, mobilizando a sociedade tupiniquim a se manifestar contra tal fato e esta o fez de e-mail em e-mail. Outros exemplos do uso da comunicação viral dentro do seminário em questão foi o boicote promovido por funcionários à empresa Sinclair, e o caso do sistema eleitoral da empresa Diebolt, ambos denunciados com o uso do que alguns consideram spam. No caso de Patópolis, o spam foi a gota d’água para uma revolução, a revolta contra o pens-o-matic, uma contra-revolução, pois foi uma revolta contra a revolução ocasionada pelo próprio pens-o-matic, assim liquidando aquela que era sua função inicial – criar obras literárias que perdurassem, primeiro na forma de livros, depois na de e-books – e trazendo a normalidade de volta à Patópolis.

Ainda, pensando em revolução, como já foi colocado, o pens-o-matic causou uma grande mudança em Patópolis, porém, ao final da história, diversos cidadãos da cidade clamaram por modificações, ou mesmo a introdução de limitações no pens-o-matic, para que a ordem natural das coisas voltasse a reinar em Patópolis. Enquanto as tecnologias computacionais e a Internet promovem diversas modificações na sociedade atual – uma revolução tecnológica – talvez, como parte de uma grande revolução em curso que promete abalar instituições e se coloca de forma potencial sobre nossas vidas, mas que ainda não se fez acontecer dentro de sua potencialidade total, o que podemos atribuir ao fato de tais tecnologias ainda estarem em fase de crescimento –, muitos cidadãos de Patópolis brigaram para conter a revolução que tomou conta da cidade. No mundo real esse mesmo temor se verifica, algumas iniciativas de grandes empresas tentam frear a revolução em curso que as tecnologias digitais e a Internet nos trazem, ou mesmo impedir a evolução de algumas tecnologias, questões essas que também tiveram foco durante o seminário em questão. A tentativa de submeter a Internet à regras de controle como acontece na radiotransmissão é um temor que se abate sobre esse meio comunicacional emergente, cuja liberdade e acesso igualitário as informação formam a base da revolução que invoca a todos os seus usuários e promete se estender a medida que se desenvolve. O seminário trouxe à tona um lobby americano que tenta submeter as transmissões da Internet, feitas em pequenos pacotes digitais, à regras de controle que visam privilegiar conglomerados empresariais que vêem seus negócios ameaçados com as novas tecnologias comunicacionais e com a Internet. Será que o aconteceu em Patópolis acontecerá com a Internet? Será que assim como em Patópolis, onde cidadãos clamaram pelo fim da revolução trazida pelo pens-o-matic, o interesse de algumas minorias, comprometidas somente com suas margens de lucro, colocará fim a revolução em curso que nasce com a Internet e as tecnologias digitais? Será que, da mesma forma que o pens-o-matic teve sua capacidade limitada, iremos nós criarmos regras para limitar o uso da Internet e seu potencial comunicacional? Será que, assim como a contra-revolução que ocorreu em Patópolis e restaurou a ordem natural da cidade, iremos assistir a uma contra-revolução liderada por interesses empresariais que levará a limitação e ao controle da comunicação na Internet? Infelizmente essas são questões que pairam no ar e só o tempo, e a quebra de braço entre interesse público e privado, irá nos responder. Quiçá a liberdade de informação prevaleça.

Outra questão que aparece na história de Donald e que fomentou o debate no seminário em questão é a Televisão. Logo no primeiro quadrinho da história, Donald aparece reclamando da programação da televisão: “Quac! Eles chamam esse lixo de seriado?”, disse o pato. Durante o debate no seminário não faltaram críticas à televisão e seu conteúdo: enquanto o entusiasta por tecnologia Sérgio Amadeu não poupava palavras duras ao meio comunicacional mais abrangente do mundo atual, invocando a rigidez de sua estrutura, contrapondo-o a iniciativas mais democráticas de uso da imagem, tais como o sitio Youtube e outros provedores de vídeos na Internet, o sociólogo Liraucio Girardi fazia questão de dizer que “não é bem assim, existe muita coisa boa na televisão”. Sim, de fato existem coisas boas na televisão, assim como existe muito lixo na Internet e vice-versa. Mas olhando sob o prisma da história de Donald, vemos que tudo se inicia com a revolta do pato diante do lixo veiculado na TV, e sua idéia inicial é, justamente, criar algo que seja melhor do que ele assiste, em suma, o objetivo de Donald que o levou até o pens-o-matic foi o de criar roteiros para programas televisivos. Vimos também que durante a história, o personagem Gansolino, através do uso pens-o-matic, criou um episódio para o seriado “Policial Caipira”. Assim como pens-o-matic foi capaz de fomentar novas criações para a TV, como a criação de Gansolino, a Internet hoje é palco de inúmeros sítios que fomentam ainda mais a audiência televisiva. Os reality-shows que hoje invadem a TV, em especial o Big Brother, sucesso internacional, teve a sua origem justamente na interatividade das pessoas conectadas à web por meio de suas webcams, espiando umas as outras. Vimos também que Donald assistia TV e criava suas obras ao mesmo tempo, assim como os computadores atuais que rodam em ambientes “multi-task”, muitas pessoas são telespectadores e surfistas da Web ao mesmo tempo. Não são poucos os programas televisivos, seja na TV aberta, seja na TV a cabo, via satélite ou mesmo na mais nova das TVs, a TV digital, que fazem interação Internet-TV, nas quais os telespectadores participam dos programas através dos sítios das emissoras. As próprias emissoras, pelo menos as mais “antenadas” com as tecnologias de rede, dispõem seus conteúdos na Internet para o usuário assistir on-demand. Até mesmo os meios se confundem, afinal além da Internet que se propaga pela rede telefônica, temos a Internet via rádio e via cabo também. Existem também as TVs na Web, que são feitas para serem veiculadas exclusivamente pela Internet, como a pioneira brasileira AllTV, que depois de surgir pela Web buscou seu espaço na TV a cabo. Assim como a AllTV trilhou seu caminho da Web para o cabo, talvez assistiremos no futuro, algumas emissoras que trilhem o caminho inverso, mas isso só acontecerá quando a “Estrada do Futuro”, eloquentemente idealizada pelo mega-empresário Bill Gates em sua obra clássica – uma grande rede que conectará os computadores através de fibras de altíssima velocidade, muito mais velozes que as atuais redes construídas sobre a rede telefônica – se torne de fato uma realidade, assim possibilitando a veiculação via Internet de imagens com alto padrão de qualidade, o que hoje, pelo que vemos através do Youtube, está longe de ser uma realidade. Enquanto essa estrada não for construída, teremos de nos contentar com imagens de baixa qualidade e vídeos de curta duração que nos são disponíveis em sítios provedores de imagens ou, então, dedicarmos algumas horas na busca de conteúdo on-demand, tanto no search quanto no download de conteúdo através de programas peer-to-peer (como o e-Mule). E para quem acredita que a TV não oferece conteúdo on-demand, é porque não sabe operar o timer, ou não possui videocassete (ou uma dessas novas TVs que gravam também). Em suma, enquanto a “Estrada do Futuro” não for de alcance de todos, ainda viveremos sob o Império da TV, fadados a ficarmos sentados em frente à poltrona, reclamando do “lixo” da televisão como o pato Donald no início e no término da história colocada. Uma coisa é fato, a imagem na Internet ainda está longe de ser uma revolução que abale os alicerces da televisão aberta, a cabo, a satélite, digital ou mesmo a embrionária HDTV – a televisão de alta definição.

Enfim, para terminarmos essa reflexão trazida pela história do Pato Donald, tentaremos entender se o que aconteceu em Patópolis não faz parte do que o filósofo francês Jean Baudrillard coloca sobre a Internet, a qual, para ele, significa “o fim da comunicação”. Se observarmos o que aconteceu em Patópolis com a introdução do pens-o-matic, seremos obrigados a concordar com Baudrillard. Em Patópolis, depois do advento do pens-o-matic, os cidadãos pararam de consumir livros, passando apenas a escrevê-los, ninguém mais lia, todos apenas escreviam, ou seja, a comunicação que era feita através da mídia livro, deixou de existir. Mesmo depois da informatização do pens-o-matic e a criação de e-books, a produção era tanta que ninguém conseguia ler as obras e os computadores ficavam lotados de spam. Baudrillard estava certo.

Se entendermos o que aconteceu em Patópolis como o que acontece com o advento da Internet, as tecnologias computacionais e os diversos aparatos digitais que a cercam (tais como câmeras de vídeo e fotografia digitais, scanners e diversos softwares que auxiliam a criação de obras artísticas e produtos comunicacionais entre outras tecnologias), e na medida em que essas tecnologias avançam e ficam cada vez mais acessíveis a todos, a enxurrada de criações vai, cada dia mais, invadir a grande rede e, assim, se perder dentro dela num mar de informação e conteúdo de navegação cada vez mais difícil. Baudrillard estava certo.

Porém, neste breu de informações, surge uma empresa cujo nome promete dar uma “visão noturna” em meio a essa escuridão causada pela enorme quantidade de conteúdo disponível na Internet, a Google. A Google ou o Google nada mais é do que um simples sitio de busca de conteúdo na Internet. Enquanto a maioria dos sítios de busca funcionam com bancos de dados e programas de varreduras, conhecidos como spiders, o Google criou um sistema de busca baseado em um algoritmo que aponta os sítios mais conectados. Tal algoritmo “revolucionou” a busca na web. Porém, a questão ainda permanece e foi exposta no seminário em questão: se, após uma busca, o conteúdo procurado não figurar até a décima página de resultados de busca do Google, tal conteúdo é “encontrável” (dado que pesquisas mostram que a maioria dos usuários do Google nunca chega a tal página)? A pergunta ficou sem resposta. Outra questão que inquietou os participantes do seminário foi: e se o usuário estiver procurando um sitio que não está entre os mais conectados? É possível encontrá-lo através do Google? Foi mais uma questão sem resposta e mais uma vez nos leva a crer que Baudrillard estava com a razão.

Porém, se olharmos a Internet sob a ótica da história, desde os primórdios do homem das cavernas até os dias atuais, prestando atenção na evolução da comunicação e nos meios que foram sendo desenvolvidos, perceberemos que a Internet, ou melhor, a criação de uma rede comunicacional que permite conectar cada cidadão do planeta Terra fornecendo-lhes diversos tipos de informação, concluímos que esse sempre foi o objetivo do homem. E a Internet está aí, cumprindo a profecia de homens que já não estão mais aqui, cientistas, escritores e sonhadores que já idealizavam essa rede sem mesmo saber como ela poderia funcionar, muito antes do presidente norte-americano Eisenhover criar a ARPA – Agência de Desenvolvimento de Projetos Avançados – que foi o pontapé inicial para a criação de uma rede de comunicação baseada em tecnologia digital, a ARPANET, e que posteriormente deu origem a Internet. Agora que os anseios comunicacionais do Homem se concretizam na forma da Internet, devemos nós, agirmos como os cidadãos de Patópolis e nos revoltarmos contra ela? Não, temos que caminhar à frente, a Internet e as tecnologias digitais ainda têm muito para evoluir, uma evolução que claramente leva a uma revolução comunicacional. O que temos de fazer é trabalharmos para criar uma rede que seja cada vez mais abrangente, democrática, acessível a todos e, quem sabe assim, ao final de toda essa evolução, poderemos um dia olhar para traz e dizer: a “revolução da Internet”, como a grande precursora da criação de um mundo melhor. Nesse sentido, as palavras de Baudrillard são profecias vazias.

À guisa de conclusão

Entendemos através das exposições e dos debates que tomaram parte dos quatro encontros do 1º Seminário do Grupo de Pesquisa em Comunicação, Tecnologia e Cultura de Rede da Faculdade Cásper Líbero, que as tecnologias digitais e de rede trouxeram uma incomensurável evolução tecnológica à humanidade e, da mesma forma, uma grande evolução para a comunicação. Apesar dessa evolução e as grandes mudanças que acarretam trazerem grandes implicações para a sociedade, em um cenário cuja modificação e se seus impactos ainda estão em curso, existe muita novidade por vir para que essas tecnologias possam alavancar uma revolução que realmente derrube os alicerces da sociedade ou, pelo menos, os alicerces da mídia conforme suas fundações atuais.

Referências Bibliográficas


A Rede. Direção de Irwin Winkler. Produção de Robin Cowan e Irwin Winkler. EUA, 1995. Com Sandra Bullock e Jeremy Northan.
BAUDRILLARD, Jean. Tela Total. Porto Alegre: Sulina, 2003.
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COSTELLA, Antonio F. Comunicação – Do Grito ao Satélite. Campos do Jordão-SP: Mantiqueira, 2001.
DORFMAN, Ariel e MATELLARD, Armand. Para Ler o Pato Donald. Santiago, 1971.
GATES, Bill. A Estrada do Futuro. São Paulo: Cia das Letras, 1995.
GEHRINGER, Max e LONDON, Max. Odisséia Digital. São Paulo: Abril, s. d.
JAMENSON, Frederick. Pós-Modernismo. São Paulo: Ática, 1996.
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NEGROPONTE, Nicholas. A Vida Digital. São Paulo: Companhia das Letras, 1995.
ORWELL, George. 1984. Londres, 1948.

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Cine
Rambo IV – Review

The last chapter of Silvester Stallone’s Rambo has been released and all Rambo maniacs are back in line, directly from the time tunnel to nowadays movie theaters.

Although Rambo isn’t a young warrior anymore, this is surely his most violent adventure. This time, even the crying babies haven’t escaped the usual Rambo’s bloodbath. A delight for those who love shots and explosions.

On this last movie, Rambo faces his last struggle, the ultimate warhell that completes his cycle of existence. If the first time (first blood) he did all for himself, the second time for his country and the third one for his greatest friend, now, he did for love, for a woman (and he has good taste). That is what was missing for Rambo’s final match: love. And, once completed his cycle, only making his head back to where he belongs: the America.

Don’t miss, it is for sure an entertaining time.

John Rambo
John Rambo (Sylvester Stallone)

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Resenha
Ética é ética
Resenha do livro O que é Ética de Álvaro L. M. Valls

- Never been done before don’t make it illegal.
- Yes, but is it ethical?
[1]

O livro de Álvaro L. M. Valls O Que é Ética? (SP: Brasiliense, 1996) é excelente para se começar uma profunda reflexão sobre ética de forma muito engrandecedora, uma perfeita iniciação em todos os princípios éticos básicos conhecidos e estudados desde os primórdios das sociedades humanas. O autor aponta quais são as principais correntes de estudos da ética, sua evolução histórica, iniciando na Grécia Antiga, passando pela era medieval, o Iluminismo e chegando ao cenário mais atual, da era moderna e da contemporaneidade. Nesse caminho, vários importantes pensadores e suas obras são mencionados, mostrando o parâmetro dos valores e ideais da reflexão ética. Nos apoiando nos pensamentos de outros estudiosos da ética, vamos discorrer um pouco sobre esses princípios abordados nessa esclarecedora obra de Valls.

O que é Ética?
O que é Ética - Álvaro L. M. Valls

Valores Éticos

Em princípio, Valls analisa a questão epistemológica da ética, na qual expõe: “A ética (...) é entendida como um estudo ou uma reflexão, científica ou filosófica, e eventualmente até teológica, sobre os costumes ou sobre as relações humanas”. O autor vai colocar em destaque a questão da ética, não só como um estudo ou reflexão, mas como parte da vida e das ações cotidianas do homem: “Mas também chamamos de ética a própria vida, quando conforme os costumes considerados corretos. A ética pode ser a própria realização de um tipo de comportamento (Valls, 1996:7)”. Segundo o autor, existem dois campos de estudo da Ética: “(...) num, os problemas gerais e fundamentais (...) e no segundo, os problemas específicos”. Mas, apesar de diferentes esses campos de estudo, novamente, Valls destaca a importância da ética inserida no cotidiano do homem, “pois na vida real eles não vêm assim separados” . Sendo diretamente associada à vida cotidiana, a reflexão ética logo leva o homem a diversos questionamentos em cima de suas atitudes e comportamentos, assim, no mundo atual, qualquer um, como o próprio autor, poderia colocar a seguinte questão, uma das mais importantes e pertinentes dentro do mundo neo-liberalista: “As questões da ética aparecem a cada dia (...) logo poderíamos nos perguntar se, num país capitalista, o princípio do lucro poderia ou deveria situar-se acima ou abaixo das leis da ética” (Valls, 1996:8). Acreditamos que, evidentemente, o princípio do lucro deveria situar-se abaixo das questões éticas, o que, infelizmente,não parece ser a praxe ou a regra maior das sociedades humanas, ainda mais neste mundo cada vez prostado ao capital.

Dentro dessa reflexão, Valls destaca que a ética é um conceito muito singular ao da moral:

“(...) a palavra moral é sinônimo de ética, acentuando talvez apenas o aspecto de interiorização das normas” (Valls, 1996:17). Mas é preciso tomar cuidado com essa interpretação, o estudioso da ética e Diretor pedagógico da FIAM/SP (1999) Clóvis de Barros Filho, acredita que ética e moral não são sinônimos nem antônimos, possuem diversos pontos comuns, mas respondem a diferentes questões: “A moral (...) responde (...) à questão: 'o que devo fazer?'. Já a ética (...) responde à pergunta: 'como viver (para ser feliz)?'” (Barros, 2000:9).

A obra de Valls ainda destaca que os dois grandes nomes dos estudos éticos, cujos pensamentos margeiam esse campo, pertecem às figuras do grego antigo Sócrates (470-399 a.C.), e do alemão prussiano Kant (1724-1804).

Vamos aqui, apontar os valores éticos que são levantados na obra de Álvaro Valls. Uma das obvietudes da ética é que ela está atrelada e vai além da Lei. Sendo a lei uma norma, ela “nos diz como devemos agir. E se devemos agir de tal modo, é porque (...) também podemos não agir deste modo" (Valls, 1996:48). Como veremos no próximo parágrafo, a norma como uma imposição de conduta se torna moral, e não ética, como bem coloca o santo medieval Tomás de Aquino: “Aquino (...) desse uma importância fundamental à consciência moral. (...) Aquela voz interior que nos diz que devemos fazer, em todas ocasiões, o bem e evitar o mal" (Valls, 1996:63). Dessa forma, nem a própria Lei poderia se colocar acima dos maiores ideais éticos, tais como o Bem, a liberdade, a universalidade e outros que veremos a seguir. A moral só pode surgir, então, como um firmamento das práticas éticas, e não como imposição de normas, como eram as leis de Deus na Idade Média. Essas práticas éticas estariam balizadas pela razão na linha de pensamento do iluminista Kant, “(...) a moral é a racionalidade do sujeito (...) porque é dever, eis o único motivo válido da ação moral", e se assim não o fosse, então “legalidade e moralidade se tornam extremos opostos (Valls, 1996:20). Na linha de Kant, a filósofa e analista junguiana Adriana T. Nogueira (Professora da PUC/RJ e FIAM/SP, formada em filosofia pela Università Statale di Milano), diz que: “A consciência moral caracteriza-se em sua origem como medo social e nada mais” - quadro típico da moral cristã medieval, ordenada pelas leis de Deus -, assim, “A moral do ‘dever’ que culmina no imperativo categórico de Kant: ”(Nogueira, 2000:41). A universalidade imposta seria oposta ao conceito ético do universal, como abordaremos mais adiante, dentro da própria filosofia kantiana.

O Bem

Talvez o primeiro grande ideal ético que aparece, e que tão óbvio se parece, é a idéia do Bem, que já era um patamar desde a Grécia antiga. Platão (lembrando que foi este quem escreveu os pensamentos de Sócrates), dizia: "Os homens deveriam procurar, então, durante esta vida, a contemplação das idéias, e principalmente da idéia mais importante, a idéia do Bem" (Valls, 1996:25). A idéia do Bem traz em sua oposição, a idéia do Mal, que seria então, equivalente ao não ético, ao anti-ético. O Bem, para o filósofo dinamarquês Kierkegaard (1813-1855), seria uma escolha guiada pelo livre-arbítrio do homem, pois, o “homem pode conhecer o bem e preferir o mal”. O Bem só pode ser alcançado a partir da livre escolha, jamais imposto: “(...) uma pessoa ética é aquela que age sempre a partir da alternativa bem ou mal (...) aquela que resolveu pautar seu comportamento por uma tal opção” (Valls, 1996:68), agir ético é negar o mal. O Bem é talvez o ideal ético mais aspirado desde a antiguidade, como enfatiza Valls: “Agir eticamente é agir de acordo com o bem (...) distinção levantada já há alguns milênios, parece continuar válida" (Valls, 1996:67). Segundo Adriana Nogueira, “O ‘Bem’ que a ética tradicional propõe é sempre um valor abstrato que (...) há de ser aplicado e realizado nas inúmeras e diversas situações do dia-a-dia. Mais uma vez ensina-se ex-cathedra o que é ”, assim viveríamos sempre num grande dilema: “(...) na vida real, nos encontramos todos perdidos sem ter as coordenadas para um agir ético” (Nogueira, 2000:44). É na busca de como fazer o certo, onde aparece a agir ético. Como fazer o certo, seria optar pelo Bem.

Ainda na Grécia antiga, Platão também vai trabalhar os ideais do homem baseado na sua racionalidade, apontando quais são os quatro principais valores éticos do homem:

Nas pesquisas efetuadas dialéticamente (...) Platão vai organizando um quadro geral das diferentes virtudes. As principais virtudes são as seguintes: Justiça (dike) a virtude geral, que ordena e harmoniza (...) Prudência ou Sabedoria (frônesis ou sofía) é a virtude própria da alma racional, a racionalidade (...) Fortaleza ou valor (andréia) é a que faz com que (...) o prazer se subordine ao dever; Temperança (sofrosine) é a virtude (...) equivalente ao autodomínio, à harmonia individual (Valls, 1994:27).

O livre-arbítrio (livre escolha entre o Bem e o Mal), base da liberdade individual, leva-nos a outro ideal ético geral fundamental, o ideal da Liberdade. Segundo Valls, “Falar de ética, significa falar de liberdade” (Valls, 1996:48). Segundo Karl Marx, ética e liberdade estão intrinsecamente atreladas, uma não existe sem a outra: “Quando (...) não há mais espaço para a liberdade e conseqüentemente nem para a ética” (em Valls, 1996:50).

Outro grande ideal geral fundamental da ética é a Universalidade, que ganhou grande força durante a era medieval, a era cristã, quando “a meta da vida moral foi colocada mais alto, numa santidade, sinônimo de um amor perfeito (...) a mensagem ética profunda da liberdade, do amor, da fraternidade universal” (Valls, 1996:37). Apesar de estarem submissas a ideais religiosos, os ideais da liberdade e da fraternidade universal ganham força com o cristianismo, e são base também dos pensamentos iluministas que, ao invés das leis de Deus, seguem a razão do homem, e “(...) na sua linha kantiana, procura principalmente formas de procedimento prático que possam ser universalizáveis, isto é, uma ação moralmente boa é aquela que pode ser universalizável” (Valls, 1996:40). Mas a universalidade era balizada por outro ideal no pensamento de Kant, no qual “(...) a igualdade entre os homens é fundamental para o desenvolvimento de uma ética universal” (Valls, 1996:19). O ideal ético da Fraternidade Universal, e da Igualdade de Kant, e do próprio cristianismo, também estão atrelados ao pensamento de Marx: “O marxismo é, no século XX, uma grande tradição de preocupações éticas, onde persistem elementos do cristianismo em forma secularizada” (Valls, 1996:39), o próprio socialismo é assim um ideal ético moderno, antes mesmo de ser um regime econômico ou político.

A Razão

O Renascimento trouxe de volta a razão como condutora das reflexões éticas, neste momento, só a Razão humana poderia guiar a questão ética, era o movimento iluminista. O exercício do pensamento racional para René Descartes (1596-1650), era o uso do Bom-Senso, este julgaria o que é certo e o que é errado, incluindo o que seria a conduta ética do homem. Todo o período do Renascimento à Revolução Francesa teve grande influência nas questões éticas atuais, Valls explica que “com o Renascimento e a Idade Moderna, junto com a imprensa (...) a ética agora desenvolve principalmente a preocupação com a autonomia moral do indivíduo” (Valls, 1996:63), essa autonomia individual estaria atrelada à razão, e não mais aos dogmas religiosos como na Idade Média. É quando surge e se desenvolve a burguesia e se constroem os Estados nacionais, “(...) entre os séculos XV e XVIII, a burguesia que começava a crescer (...) acentuou outros aspectos da ética: o ideal seria viver de acordo com a própria liberdade pessoal, e em termos sociais o grande lema foi o dos franceses: liberdade, igualdade, fraternidade” (Valls, 1996:45).

A criação do Estados nacionais vai trazer novas questões que concernem à ética, Hegel (1770-1831), afirma que “(...) a liberdade se daria na existência concreta, organizando-se num Estado” (Valls, 1996:65). A linha hegeliana vai colocar, então, a liberdade atrelada à um novo conceito, o de Cidadania, “A liberdade do indivíduo só se completa como liberdade do cidadão de um Estado livre e de direito. As leis, a Constituição (...) a própria prática de eleições periódicas aparecem hoje como questões éticas fundamentais” (Valls, 1996:74). Porém, a cidadania atrelada ao Estado traz uma séria reflexão, ainda pertinente à contemporaneidade, talvez a grande crítica ao pensamento hegeliano:

Os Estados que existem de fato são a instância do interesse comum universal, acima das classes e dos interesses egoístas privados e de pequenos grupos. Ou são de fato aparelhos conquistados por esses grupos, por uma classe dominante, que conquista o Estado para usar dele como seu instrumento de hegemonia, para a dominação e a exploração dos desprivilegiados? (1996: 75).

Sinteticamente, até aqui, montando uma lista de palavras-chave ligadas à ética, teríamos os seguintes valores: Bem, liberdade, igualdade, fraternidade, universalidade, o livre-arbítrio, a razão, bom-senso, justiça, prudência, fortaleza, temperança, socialismo e cidadania. Esses são os grandes valores éticos históricos da humanidade e, também, os que Álvaro Valls trabalha no decorrer de seu livro.

Ética e Comunicação

Diversas questões éticas concernem o papel da comunicação na sociedade atual. Algumas delas implicam-se aos ideais éticos mais básicos, o Bem e a Liberdade. Para o estudioso da Escola de Frankfurt Theodor Adorno (1903-1969), a opção pelo Bem está ficando subserviente a outros fatores:

A questão atual é (...) saber se (...) os homens se sentem em condições de agir individualmente, isto é, agir moralmente. A massificação, a indústria cultural, a ditadura dos meios de comunicação e mesmo as ditaduras políticas são fenômenos que têm de ser analisados também nessa perspectiva, para sabermos até que ponto o homem de hoje ainda pode escolher entre o bem e o mal (em Valls, 1996:69).

Valls ratifica Adorno, atrelando a liberdade com a questão econômica e citando-o: “'Liberdade da economia nada mais é do que a liberdade econômica', ou, mais simplesmente: só não depende do dinheiro quem o tem de sobra” (Valls, 1996:51). E, seguindo essa linha frankfurtiana, uma das questões da ética atual que põe em cheque o papel da comunicação seria:

(...) na massificação atual, a maioria hoje talvez não se comporte mais eticamente, pois não vive imoral, mas amoralmente. Os meios de comunicação de massa, as ideologias, os aparatos econômicos e do Estado, já não permitem mais a existência de sujeitos livres, de cidadãos conscientes e participantes, de consciências com capacidade julgadora. Seria o fim do indivíduo? (Valls, 1996:47).

Adorno, ainda, “(...) chama a atenção para o fato de que hoje a ética foi reduzida a algo privado. (...) E se hoje a ética ficou reduzida ao particular, ao privado, isto é um mau sinal” (Valls, 1996:70). Chegando a questionamentos éticos mais específicos dentro da comunicação e referindo-se à mídia, que é sustentada por empresas privadas na maioria dos casos e, muitas vezes, têm os seu próprios código de ética, Valls, então, questiona o próprio valor do noticiário:

(...) valeria a pena analisar a ótica e a sintaxe da comunicação que aparecem (...) nos noticiários atuais (...) a lógica simples do 'e', da adição pura e simples (...) este tipo de comunicação (...) não favorece o despertar de uma consciência eticamente mais crítica (...) reforça a indiferença e o sentimento de impotência do espectador (Valls, 1996:77).

Essa sintaxe do noticiário atual (informativa) teria mudado muito de seus primórdios da imprensa (opinativa), teria atrofiado a capacidade analítica das massas, as questões éticas assim, teriam desaparecido. Tal advento vai ao encontro com os estudos do alemão Jürgen Habermas, que questiona o desaparecimento do espaço público na sociedade atual, fato vinculado ao papel dos meios de comunicação históricamente, e que vai além da imprensa e do notiário:

Assim, o rádio e a televisão podem ser muito mais ditatoriais do que o telefone, o qual, como as antigas cartas, possui uma forma mais dialogal. Isto não significa que aqueles, como meios de comunicação, não podem ser postos a serviço da democracia (...) na medida em que a informação também é uma forma de poder e como tal, se bem distribuído, de favorecer as relações éticas entre os homens (Valls, 1996:77).

Habermas expõe muito claramente que a informação é uma peça chave para a conscientização ética, assim, o jornalismo tem papel crucial nas questões que concernem à ética na sociedade atual, e que passam pelo noticiário, a informação e cobertura dos fatos, a escolha de pautas e fontes, e pelos próprios jornalistas e a sua postura diante da profissão. Ao jornalismo, talvez uma das grandes questões éticas, seja a levantada por Valls parágrafos acima: até onde a construção de linguagem informativa e imparcial da imprensa pode ser ou não considerada ética?

Considerações Finais

Apenas dois pontos nos parecem ter ficado carentes nesta obra de Álvaro Valls, pontos ligados à questões mais atuais da ética - da ética no século XXI. O primeiro seria seguindo a linha da analista junguiana Adriana Nogueira, que afirma ser impossível se falar de ética sem se falar de Jung, Freud etc, sem ligá-la à questão da psique humana, o que faz muito sentido. Outra questão da ética atual ausente na obra de Valls está ligada à um dos problemas mais contemporâneos, o esgotamento natural do planeta, que traz junto de sua problemática, uma nova idéia: o direito das gerações futuras herdarem um mundo em que possam viver. Esse problema global coloca em cheque o sistema capitalista que vivemos e atinge toda a humanidade, mais do que nunca, ideais como a fraternidade universal, bom-senso e até mesmo o socialismo, terão de ser praticados em ordem da sobrevivência humana e da manutenção intacta do próprio mundo que habitamos. Neste caminho, os meios de comunicação terão um precioso papel a cumprir, conscientizando, informando e discutindo os rumos da sociedade, o direito fundamental ao acesso à informação - um dos valores éticos mais básicos da comunicação e das sociedades eletivas - também é outro ideal cuja prática se urge necessária. Será que estamos preparados?

Referências Bibliográficas

ADORNO, Theodor e HORKHEIMER, Max. Dialética do esclarecimento. Rio de Janeiro: Zahar, 1985.
BARROS, Clóvis Filho. Recepção Ativa e Ética do Receptor (pp. 7-16) in Ética e Comunicação nº1. São Paulo: FIAM, Jan/Jul 2000.
BUCCI, Eugênio. Sobre Ética e Imprensa. SP: Cia das Letras, 2000.
COSTA BISNETO, Pedro Luiz de Oliveira. Ética no jornalismo. Monografia. São Paulo: Faculdade Cásper Líbero, 2007.
DESCARTES, René. Discurso do método. São Paulo: LP&M Pocket, 2007.
HABERMAS, Jürgen. Mudança Estrutural da Esfera Pública. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1984.
NOGUEIRA, Adriana T. Ética e Psicologia do Profundo (pp. 39-49) in Ética e Comunicação, nº1. São Paulo: FIAM, Jan/Jul 2000.
VALLS, Álvaro L. M. O Que é Ética? São Paulo: Brasiliense, 1996.


"Assim como a curiosidade matou o gato, a ética matou o ético",
P. L. O. C. Bisneto - Comunicólogo brasileiro
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An American Tail

December, 6th - 2007

My wife got home today very upset, she was angry about her work. She started complaining about everything, how her boss was pressing her and a lot of other problems. She complained about her co-workers, how they usually disturbe her while she is doing her judges, how boring they all are. She complained about the cold coffee they use to serve there, the air-conditioner which never works, the little time she has for lunch and the awful food she needs to eat. She complained for two hours almost, including every single detail of her job and mates. When she finally stopped, after a breathing moment, she started to complain about me, about our kids, about the house matters. At this moment, before she could make a full speech, I yelled: "Stop!" I took my wallet from the pocket and gave her a thousand dollars, then I said: "Go shopping." She opened a great smile, kissed me and left home happy as a child.


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Os Espetáculos da Sociedade

São Paulo, 15 de Maio de 2007

“Abram-se as cortinas, vai começar o espetáculo” – nos dias atuais, tal expressão pode ser comparada com o simples ato de se abrir os olhos depois de uma noite de sono, ou insônia, pois os espetáculos da sociedade estão embrenhados em todos os seus setores e nos cercam por todos os lados, nas ruas, no trabalho, no lazer, no completo dia-a-dia invadindo nossos lares.

Assim que levantamos da cama e iniciamos mais um dia de vida, os espetáculos nos rodeiam, podem se iniciar na higiene dental com a mais nova escova elétrica que promete uma limpeza maior e o espetacular creme dental que garante um hálito puro, passando por um banho na ducha que derrama água em espetacular abundância e perfeita temperatura, e a toalha ultra-absorvente que garante um enxugar espetacularmente rápido – ideal para dias em que a sociedade vive na velocidade do pensamento. Na hora de tomar café, show, seleto dos mais puros grãos da genética de ponta, coado na cafeteira que garante espetacular textura no sabor. O pão, torrado na tostadeira multifuncional feita com tecnologia da NASA, e a margarina, de leve sabor delicioso e sem risco de atacar o peito, são espetaculares. É o espetáculo das tecnologias que dão vida a um espetacular desjejum matinal e permitem ao homem desempenhar as mais espetaculares tarefas em tempos espetacularmente menores.
O espetáculo continua na leitura do jornal durante o desjejum, no qual as manchetes espetaculosas da primeira página remetem ao conteúdo igualmente espetaculoso das páginas no miolo, isto sem esquecermos também das propagandas contidas no mesmo e que nos oferecem os mais espetaculares serviços e produtos em preços e promoções sensacionais, dentre as quais consta o mais novo creme dental, espetacular, que garante mais do que hálito puro, também uma efetiva proteção durante por todo dia.

Na política a briga entre deputados na discussão de um projeto-lei se torna mais espetacular do que o próprio projeto em si, o político é o espetáculo maior que a própria política. A política do espetáculo se faz pela mídia e a própria mídia se faz política, do jornal à Internet, do rádio à TV. Os políticos e seus chefes de Estado perderam a inocência do pequeno príncipe, ganharam em maquiavelismo, expandiram o glamour da antiga realeza e, na idade contemporânea, o espetáculo das antigas cortes ainda fazem brilhar. Na contemporaneidade se dividiram em três poderes, ampliados na era das válvulas e mais ainda com a chegada dos transistores, assim, de três se fazendo quatro, a extensão pela mídia – o quarto poder. Assim, dos pequenos, floresceram os príncipes eletrônicos que, no reinado da/pela eletrônica, passaram a surgir e governar pela mídia, fazendo do plenário, da sala do trono, a lente mais próxima. Expandindo o espetáculo da política e governança para as mais distantes e variadas platéias que, ávidas por mais um espetáculo, deixaram a política de lado e clamaram por seus show-men, eles não decepcionaram, atraíram os holofotes para si e deixaram a própria política na escuridão. E, se, no transcorrer, o show perde audiência, logo vem a eleição e o espetáculo se reinicia ganhando nova força, pois no circo da política o show não tem como acabar, o mandado sim, e se pintar um impeachment no meio do caminho, espetacular.

Do príncipe eletrônico se forma o casulo do príncipe digital, moldado pela mais antiga forma comunicacional, a linguagem binária, que tenta roubar o palco para si, preparando uma metamorfose cujo ser incipiente ninguém consegue saber qual e como será, mas terá para si o mais espetacular de todos os palcos, e assim se espera por mais um grande espetáculo. Neste espetáculo, a fusão entre mídia e política se faz pela comunhão entre os índices das pesquisas de intenção de voto e popularidade do governo com os índices de audiência das mídias em seus espetaculares números, e, agora, no mundo digital, ganha mais um ator – os pageviews – um misterioso intérprete de papel incógnito cuja função, algorítmica, é igualmente ininteligível, difícil de interpretar, mas que de seu mistério se faz presente buscando para si as luzes dos holofotes, chamando a atenção da audiência arrebatada, cada vez maior.
O espetáculo da política, do príncipe eletrônico e seus súditos também refletem nas notícias econômicas, as quantias não economizam em espetacularidade, são fusões entre global-players que brincam com bilhões de dólares ou libras esterlinas assim como uma criança brinca com globinhos de gude, um espetáculo de poder econômico que nos deixa espetacularmente impotentes perante sua magnitude. A economia de milhões com a demissão de centenas também ganha o seu palco no espetáculo, da crítica do sindicado ao profundo pesar do empresário. O déficit público é espetacular, assim como o volume do PIB, que baixou ou aumentou em espetaculares cifras. O déficit do ensino também é igualmente espetaculoso, assim como o superávit dos bancos, as associações de pais e mestres trazem iniciativas estonteantes, assim como são espetaculares as condições do ensino público com seus problemas abomináveis. O espetáculo dá, em crítica ou elogio, a mesma validade ao protesto dos professores e ao champanhe dos banqueiros.

As novidades do mundo afora trazem notícias espetaculares: a presidenciável francesa é espetacularmente bonita e seu opositor idem, as manifestações populares sempre terminam em espetaculares confrontos com a polícia, e se as tragédias e atentados perdem em humanidade, ganham em espetacularidade, guerras deixam de ser infernais e tornam-se fenomenais, um espetáculo à parte. Sob a lente dos destemidos correspondentes de guerra, de uma coragem espetacular ao se colocarem na linha de tiro em busca de mais uma espetacular imagem ou tomada, se transformam as mais horrendas cenas de destruição e assassínio em um dos mais chocantes e brilhantes espetáculos da sociedade moderna: a mídia da guerra, a guerra pela mídia, a guerra da mídia e, por fim, a guerra das mídias, cada qual buscando a imagem mais horrendamente espetacular. Enquanto a bomba explode em um espetáculo de fogo e destroços em mais um atentado qualquer, quase simultaneamente diversos meios jornalísticos brigam espetacularmente para serem os primeiros a veicular tais espetáculos, enquanto diversos atores clamam pela autoria do espetaculoso evento. Quando, finalmente, a poeira baixa e as chamas se apagam, uma vez findo o espetáculo das bombas, se inicia o espetáculo das vítimas de tais atrocidades, o choro da mãe que perdeu o filho, o filho que perdeu o braço, a humanidade que perdeu o passo. Drama? Tragédia? Desumanidade? Sim, tudo em nome do espetáculo que aumenta a venda do jornal, a audiência da televisão e os pageviews do site, que valorizam espetacularmente seus públicos e rendas publicitárias.

Nas páginas policiais o espetáculo da violência continua, seja pela notícia do mais recente e hediondo crime, seja pela simples exibição dos espetaculares números das estatísticas criminais. Na luta entre mocinhos e bandidos paira a fórmula do espetáculo policial, seja no motim dos presidiários, na fuga espetacular do bandido, ou na mega-operação policial que desmantelou a quadrilha criminosa. Mas o espetáculo não é exclusividade do mocinho, o bandido, mesmo algemado, dá e recebe as cartas – repudiável? Talvez, mas, sobretudo, espetacularizável. No espetáculo do crime não existe bom ou mau, o único bem é a grandeza da manchete e, o espetáculo a que convoca, acima da moral se coloca.

Mas nem tudo é tragédia, as notícias trazem espetáculos conhecidos por espetáculos, e as opções são espetacularmente variadas e abundantes, para todos os gostos, idades, cleros e classes sociais, não deixam ninguém de fora. No espetáculo da música sempre surge mais um músico espetacular e os espetáculos musicais transbordam aos montes em todos os cantos, voltados para os mais ou os menos ecléticos, do mais caro ao gratuito, todos são contemplados. O guia de restaurantes traz opções espetaculares, os mais contemporâneos fazem da comida um verdadeiro espetáculo de sabores e arranjos, passando por ambientes espetacularmente concebidos, tornando o ato de restauração do vigor humano um verdadeiro espetáculo. As casas noturnas, bares e danceterias formam um espetáculo dentro do espetáculo que começa com a música, passa pela arquitetura e a iluminação ambiente e chega à vestimenta de serventes e servidos, estes últimos complementam o show particular no espetáculo da casa de espetáculo. As opções não param por aí, dentro dos mais contemporâneos espetáculos sobrevive um dos mais antigos, o teatro também dá o seu espetáculo, e existe, também, o espetáculo literário, que a cada dia nos traz mais títulos com produções cada vez mais espetacularmente abundantes, das mais fúteis às mais criativas, ninguém pode queixar. Para quem não tem dinheiro, tem a programação da TV: a sinopse da novela prepara as emoções para mais um espetáculo e inédito capítulo, e as opções de filmes, seriados, desenhos, noticiários, entrevistas, missas e muito mais, que nos fazem sambar na escolha da opção mais espetacular, também nos tranqüilizam, pois seja qual for, é espetáculo garantido sem precisar sair de casa. A sessão de cinema é um espetáculo de opções, e cada opção um espetáculo por si só, começando pelas quantias espetaculares de capital investido e de profissionais envolvidos nas produções que, de um simples marceneiro, abrange diretores, produtores, editores, escultores, compositores, músicos, engenheiros e técnicos diversos antes de chegar aos atores, distribuidores, reprodutores e pirateadores, estes cujo espetáculo é manter o espetáculo do cinema sempre vivamente espetacular ao alcance de todos. As opções de películas, sejam em colóide, magnéticas ou digitais, são espetacularmente diversas e cada qual nos traz seu espetáculo peculiar: drama, comédia, aventura, ficção-científica, suspense, terror, faroeste, romance, documentário, guerra, filme comunitário e mais e mais gêneros que surgem, se fundem ou entram na moda. Em cada opção, o espetáculo é total, das técnicas de filmagem e montagem, a espetacular encenação dos protagonistas, aos mais espetaculares efeitos especiais, os quais, seja qual for a espetacular história ou ficção em ação, o imaginário popular da vida humana, ou alienígena, é o vetor preponderante desse espetáculo espetacular espetacularmente espetaculoso.

As noticias da cidade mostram o prefeito trazendo mais uma espetacular solução para os mais espetaculares problemas urbanos ou, na contramão, trazem a espetacular crítica ao governo que se omite perante de tais espetaculares problemas: enchentes, miséria, violência, sonegação de impostos, trânsito, tudo se dá às manchetes do espetáculo. Mas se o governo não faz nada, então as notícias mostram que a sociedade pode, por si só, tomar o centro do espetáculo: as associações de bairros debatem os problemas e movimentam suas espetaculares soluções, já a iniciativa privada dá um show de espetacularidade e solidariedade liderando iniciativas civis na solução dos problemas em seu entorno. Neste show, todos são produtores e atores, todos são platéia.

Chega a vez do caderno de esportes e aqui encontramos o espetáculo dos espetáculos, no topo da cadeia, o futebol, paixão nacional e internacional, neste contexto, cada manchete, cada linha de texto, cada simples palavra remete ao espetáculo, que transpassa o campo de jogo e avança sem limites. A espetacular quantia da transação do jogador para Europa enche os olhos do torcedor, assim como seu retorno no fim de carreira sob forte contrato e pobre espetáculo; o dirigente que roubou a renda, ou o leão que a confiscou, fazem seu espetáculo igualmente. O repórter que peitou o jogador derrotado para mostrar sua frustração traz imagens espetaculares, assim como a entrevista do técnico que sobrepujou seu adversário, enquanto a briga de torcidas é um show extra sempre presente, maior que o show da arquibancada lotada ou do eco do locutor de rádio no estádio vazio. O apupo, ou os gritos racistas da torcida, espetacularmente deprimentes, ganham igual holofote nas manchetes e se fazem espetáculo, em nome do show, vale tudo. Enquanto jogadores em campo lutam para levar o seu time à glória maior ou fugir da derrocada vergonhosa, inclusive árbitros dão o seu espetáculo e garantem que o final da festa seja espetacular com a presença dos mais espetaculares atores. Do futebol, outros esportes também mostram o seu espetáculo: a bolinha pequena que bateu na rede, garantiu a vitória e o embolso de quantia milionária se tornam o centro do espetáculo; a imagem do carro capotado ou do piloto ultrapassado são espetaculares; a vitória do maratonista garante o espetáculo pelo aplauso da multidão e a imagem do ultimo colocado cambaleando para atingir a linha limítrofe mostram que não há limites ao espetacular, mesmo quando o espetáculo é de quem usou formas escusas para atingir o objetivo máximo, qualquer fato é alvo dos flashes do espetáculo, glorificado ou repudiado, mas, sobretudo, espetacularizado.

O jornal não para, quer cobrir tudo, todos, e o espetáculo agora se volta para teenagers e o público infantil. O filme do desenho da TV é espetacular, assim como o novo desenho do filme, que já foi seriado, baseado em um best-seller que virou gibi. O espetáculo, no mundo infanto-juvenil, traz também as mais espetaculares bugigangas: o carrinho que vira robô teleguiado é um espetáculo, a nova Barbie dá um espetáculo, ganhou um namorado acompanhado de uma espetacular limusine branca. No meio das páginas não dá para deixar de notar o espetacular pacote de turismo que leva à Disney a um preço que qualquer um pode pagar e vem com o carimbo do Mickey Mouse, garantia de espetáculo. O espetáculo também é feito de teenager para teenager, assim ganha espaço a notícia da nova comunidade teen que discute a relação com os pais – o estatuto da criança garante o direito de ser criança e isso não se discute mais, e sim em como convencer os pais a comprar aquele brinquedo espetacular. Neste mundo, a banda teenager já amadureceu e faz música que nem adulto, fatura que nem adulto, mas perder a ternura, jamais, e o apelo infantil jamenos, o espetáculo dos inhos vira ão, seja na Folhateen ou no Estadão.

Da moda infanto-juvenil, que passa pela caixa de maquiagens e manicure de unhas plastificadas, o espetacular mundo fashion também chama a atenção dos holofotes no espetáculo da mídia. O desfile das modelos espetacularmente magras mostra a mais moderna e espetacular vestimenta que mantém o corpo espetacularmente vestido ou seminu, o preço do corte de cabelo é ainda mais espetacular, assim como salário da modelo. Das roupas sobre o corpo à moda do corpo sob a roupa, a arte tribal é um espetáculo que explode em tatuagens e piercings que emanam a espetacularidade da beleza, ou falta de, e da coragem de usá-los. Do sacrifício ao exuberante, o corpo sucumbe diante do espetáculo: em si, não basta mais, o que ele ostenta é o verdadeiro espetáculo, nesse mundo, nada é heresia, do corpo tudo se elege, pois no espetáculo não há pecado nem tabu. O cabelo escorrido, embaraçado, cortado, moldado, alisado, encaracolado, raspado, tosado, aparado, prendido, pendido, enfeitado, pintado, iluminado ou tudo isso misturado, e as unhas compridas, curtas, pintadas, enfeitadas, coladas, naturais ou artificiais garantem o espetáculo do corpo que vai da cabeça aos pés, estes últimos que podem ser calçados com sandália, tênis, chinelo, sapato, tamanco, bota, sem salto, com salto, plataforma, sola ortopédica, mesmo descalço ou e de havaiana, opções não faltam para compor um closet espetacular. Mas a moda não se limita às mulheres, os homens também fazem o seu espetáculo, de um Armani de espetacular preço e impecável corte ao tênis de corrida que garante melhor impulso e arranque, a moda se faz espetacular. A tinta que encobre os cabelos brancos é espetacularmente fácil de aplicar, a lâmina do corte rente garante o espetáculo da face lisa e, com tudo isso e muito mais, o espetáculo de masculinidade se faz.

O caderno de Informática traz o espetáculo de ponta. Inspirada nos filmes mais visionários de ficção-científica, a tecnologia pari seu espetáculo na vida real. Em vista, a última tecnologia dos sistemas operacionais promete operar o sistema sem que o operador precise operar o computador. Na sala do médico, a operação do paciente passa pelo diagnóstico computadorizado, a tecnologia digitaliza o corpo e mapeia suas doenças. O software de edição de vídeo rompe com a terceira alcançando a quarta e a quinta dimensão garantindo o espetáculo do cinema ao alcance de todas as gerações. Perdendo a contagem de gerações e na liderança do espetáculo que possui nome próprio – Entretenimento – reinam os videogames, a realidade abandona o virtual e invade o real com ambientes tridimensionais, texturas reais e efeitos de projeção ao cubo pelo cubo, em tempo real conectando jogadores reais em espetáculos virtuais. No mundo do hardware o espetáculo se faz na dificuldade de se romper barreiras de velocidade de processamento já espetacularmente velozes, até mais que o pensamento, e na espetacular solução que duplica a velocidade com o espetacular duplo processamento, depois triplo, quádruplo, quíntuplo, sem reconhecer o limite – incluindo o de preços: espetacularmente mais populares a cada dia. Enquanto os computadores duplicam sua capacidade a cada biênio, as redes computacionais elevam potências cada vez mais espetaculares à capacidade da computação de dados, nelas tudo cabe, dimensionando espaço maior para espetáculos cada vez maiores, do simples byte de uma letra que transita pela banda-larga do ciberespaço à cadeia completa do ácido desoxirribonucléico, tudo se partilha – nesse mundo incipiente, partilhar é o novo espetáculo. Diante de tantas e infinitas possibilidades que abrangem o espetáculo por completo, no ciberespaço o espetáculo vai de chip em chip e convoca todos para o mais espetacular espetáculo de todos os espetáculos, aqui todos assistem e fazem o espetáculo que vai de um lado ao outro do mundo rompendo fronteiras físicas e quebrando tabus culturais, o ciberespaço ganha o espaço sideral e vai até Marte projetando os confins do universo, em seguida voltando para a Terra em órbita espetacular.

Dos confins do universo vem o fim do universo, pelo menos daquele que nos cerceia, o Armageddon, o ato final do show do homem não poderia ficar de fora da manchete do espetáculo. O temor do fim do mundo é um espetáculo que atemoriza e fascina as platéias, que aparece nas telas do cinema e destrói o planeta sem a menor piedade, sempre garantindo o espetáculo até o momento derradeiro: o asteróide que bombardeia a Terra, o Tsunami supersônico, a guerra nuclear, a água que clama o nome do planeta e inunda a terra, o sol que coze a vida, a invasão alienígena. Ao contemplar o fim deste errante, ninguém erra, tudo é permitido, imaginável, especulável e espetaculável, afinal, ninguém imagina um fim para a sociedade do espetáculo que não seja um espetáculo a altura. Do imaginário espetacular do cinema surge a espetacular notícia que o fim do mundo agora é um espetáculo real: o aquecimento global, o escurecimento global, a destruição da camada de ozônio, o efeito estufa, a poluição do mar ou, mais uma vez, o holocausto da guerra são as notícias que trazem os espetaculares prognósticos do fim do mundo. As espetaculares soluções e iniciativas para evitar o Armageddon são outro destaque, assim como passividade do homem como autor de seu próprio fim, se ato ou desatino, nada importa mais que o derradeiro espetáculo final até o final. As imagens do fim do mundo são espetaculares, da rachadura no gelo antártico ao peixe que sucumbe no rio poluído, os extremos ficam espetacularmente mais extremos: onde é frio, pessoas morrem de calor, e onde é calor, pessoas morrem de frio, o espetáculo cresce para ambos os lados. O Brasil tem o seu papel nesse ato final, já comemora o primeiro ciclone que promete espetáculos ainda maiores além dos dez mortos que deixou – apenas um prelúdio de um espetáculo ainda por vir. Os surfistas esperam na praia o fim do mundo sob promessa de ondas espetaculares, e darão o seu espetáculo de manobras e coragem dentro do espetacular fim do mundo.

Na última página do jornal, quando o espetáculo da notícia parece cambalear, o próprio jornal invoca o seu papel no espetáculo, o editorial, com a liberdade que só o editor detém, mostra sua espetacular ação sobre o cidadão, do discurso à ação, e a comunidade que absorve o espetáculo de suas notícias, fazem a notícia – o espetáculo emana do jornal e depois lhe é absorvido novamente. Depois da última capa, de grau espetacular somente menor que a primeira, restam os cadernos anexos que trazem espetaculares e diversificadas opções para uma vida ainda mais espetacular: do emprego a casa-própria, passando pelas oportunidades de investimento e o carro novo, sem se esquecer das opções de turismo e lazer, indústria que cresce espetacularmente, tudo em nome de mais e mais espetáculos.

Na hora de ir para o trabalho o espetáculo continua no próprio transporte, na garagem aquele carro espetacular, rápido, econômico, veloz, um espetáculo de potência e agilidade, assim como no trânsito, com congestionamentos cada vez mais espetaculares, sempre recorde. Dentro do carro o espetáculo do conforto de dirigir, o air-bag e o freio ABS – sigla de segurança – garantem salvo conduto, uso do cinto, obrigatório. Na agilidade do auto, a agilidade da comunicação através do rádio que dá a dica para fugir ao trânsito caótico e traz a notícia que será a capa do jornal do próximo café da manhã, é o espetáculo do rádio que sempre acha o seu espaço e toma sua vez. O espetáculo premia do mais informado ao mais alienado, com um simples toque de botão o rádio dá lugar ao som mp3 ou ao vídeo mpeg, é o espetáculo in espetáculo, no carro, da propaganda ao asfalto. Fora do carro o espetáculo continua, um veículo quebrado pára o trânsito, na fila do terminal, o ônibus lotado ou queimado, o buraco do metrô ou o protesto das peruas trazem mais um transtornáculo [1].

Do trânsito parado, uma parada na farmácia para a compra de mais um remédio de cura espetacular capaz de eliminar qualquer asco, físico ou psiquíco, encontra-se variados produtos para uma vida mais saudável e espetacular, pelas prateleiras há de tudo: aquela escova de dente elétrica em modelo infantil com design do peixe-esponja, tintura na cor especial para a especialidade de cada cabelo, e um dos mais espetaculares produtos farmacêuticos dos tempos neoliberais, atrás do balcão, o Viagra, e com ele a espetacular ereção do universo masculino, com ele se levanta também um novo e espetaculoso potente mundo, renascido, fortalecido, ereto. Na sociedade da mulher libertada, masculinizada, o remédio que, à ela, o homem iguala em uma relação homosseuxualizada (MARCONDES, 1992: 102). E os espetáculos erguem-se mais, ejaculam-se a todos os lados e todas as opções, a potência patrocina todos, do protótipo de camisinha feminina ao pênis do homem, um re-empuxo espetacular varre a intimidade da sociedade, do casamento refeito ao Oscar pornô, o espetáculo da cópula humana ganha novos e potentes holofotes no palco dos espetáculos.

Finalmente, o trabalho. Na mesa da escrivaninha a mais espetacular ferramenta, o computador, tão espetacular que as tarefas em si, ele já fez, deixando sobrar um tempinho para novos espetáculos. A piadinha que vem pelo e-mail traz humor para a longa jornada de trabalho, na Intranet da empresa uma notícia promete debate quente no almoço com os colegas, já antes de ir embora, ainda dá para pesquisar o preço de algum novo espetacular produto em alguma espetacular oferta e dar um alô para o amigo que está chegando ao trabalho no outro lado do mundo via MSN.

A volta ao lar é o fim de mais uma jornada de trabalho, os espetáculos, porém, não têm expediente fixo. Depois de tantos espetáculos que nos cercam dia-a-dia, hora-a-hora, que cerceiam a vida real, é a própria vida que se torna o espetáculo – dos espetáculos na vida real aos espetáculos da vida real. Na Internet, na TV, no rádio, no jornal ou na revista, é a vez da notícia da notícia, a entrevista com o entrevistador. No script real da representação, a “pessoa comum” vira estrela, a estrela vira pessoa comum, a platéia se torna o palco. Da webcam ao Big Brother, o espetáculo do público para o público, os reality-shows. Há os que brilham por quinze minutos e os que brilham 24 horas, mas se a performance dura pouco, o espetáculo se perpetua nas fofocas, nos tablóides e nas imagens dos paparazzi. A trama da novela e o drama da tragédia humana focam a vida real, a vida real vira novela e versa-vice. Não há nada que não possa ser, que não se renda a própria espetacularidade, aos espetáculos da sociedade e/ou à sociedade do espetáculo.

Ao aprofundar da noite, os espetáculos da vida continuam, o colchão ortopédico garante uma noite de sono espetacular, e, para quem não consegue fechar as cortinas do espetáculo, espetaculares opções para tentar vencer ou se render á insônia garantem 24 horas de espetáculo: o remedinho da farmácia garante a noite longa, espetacular, o filme que vem com o jornal ajuda a trazer o sono e a TV insiste em desligar ainda com seu espectador ligado. É o espetáculo que clama por sua audiência sem pausa, sem trégua.


E depois de tantos espetáculos, talvez o espetacularizado vivente dos espetáculos da sociedade ache algum tempo para refletir sobre a sociedade e seus espetáculos. Alguns, deitados em seus espetaculares colchões personalizados podem se perguntar onde estarão os “sem colchão personalizado?”, como estão aqueles que vivem á margem da sociedade? Estarão á margem do espetáculo da sociedade? Bobagem, afinal são espetaculares os números da miséria, do desemprego, do analfabetismo, da violência, dos sem-teto ou sem-terra, da discriminação às minorias que juntas são maioria. O noticiário trouxe a tona os problemas da sociedade, os governantes já apontaram as soluções, o transtorno das obras já se faz acontecer e o filme que mostrou a realidade nua e crua bateu recorde de bilheteria. Sob a lente P/B a miséria foi espetacularmente retratada, o submundo da sociedade e seus espetáculos também já se fez espetáculo. Não, não há mais nada com o que se preocupar, o espetáculo está garantido a tudo, a todos e até ao inconsciente do homem, ao sono que finalmente vem, pois vem na balada dos espetáculos da sociedade.

Notas:

[1] Transtorno + Espetáculo = Transtornáculo.

Referências Bibliográficas:

ADORNO, T. e HORKHEIMER, M. Dialética do Esclarecimento. Rio de Janeiro: Zahar, 1985.
BAUDRILLARD, J. Tela Total. Porto Alegre: Sulina, 2003.
BENJAMIN, Walter. A Obra de Arte na Época de suas Técnicas de Reprodução in Temas Escolhidos. São Paulo: Abril, 1975.
DEBORD, Guy. A Sociedade do Espetáculo. Lisboa: Móbilis in Móbile, 2003.
LÉVY, Pierre. O Que é Virtual? São Paulo: Editora 34, 1996.
LIMA, Venício A. Mídia, Teoria e Política. São Paulo: Perseu Abramo, 2004.
MAQUIAVEL. O Príncipe. Florença, 1485.
Manifesto Cluertrain (Div. Autores) in http://www.cluetrain.com/portuguese/, 01/03/2007.
MARCONDES FILHO, Ciro. Televisão. A Vida Pelo Vídeo. São Paulo: Moderna, 1992.
SARTORI, Giovanni. Homo-Videns. Televisão e Pós-Pensamento. Bauru: EDUSC, 1997.

Filmes e Documentários:

50 Anos de Brasil – Não verás país nenhum como este. Dir. Cruz, Selma Santa, Mello e Sérgio Motta. Bank of Boston. São Paulo, 2000.
Fahrenheit 451. Dir. François Truffaut. (sic).
Jornalismo Sitiado. Curadores: Eugênio Bucci e Sidnei Basile. Ed. LogOn. São Paulo, 2007.
Mera Coincidência. Dir. Barry Levinson. Time Warner. São Paulo, 2001.
O Brasil muito além do Cidadão Kane. Simon Hartog. Londres: canal 4 – BBC, 1993.
The Corporation. Mark Achbar e Jennifer Abbott. Big Media Corporation, 2005.

Palavras-chave: espetáculo, sociedade, reality-show, jornal, notícia.

Revisado em: 26/07/ 2015 - acesse versão em PDF com as formatações completas.

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About the future

While doing my Master's, some classmates and professors said I always have been doing an exercise about "envisage the future", and that's true, and that's why I just wrote the following statement.
This writting has no supporting information, it had been written only with my own knowledge and thoughts about what I wonder how the future will be.

The Future! I can't wait to see... and live...

The future will be much better for all humankind to live than the present age. Although these days we have many people living in poverty, in the future everyone will be rich. Unlike nowadays, the future currency will not be money, gold or any king of jewells, the future currency will be the WORK. People will have to work as a passaport to have anything they wish, with a single difference from the present moment: they will have already had everything because we will be able to provide allthings and all services to everybody in anytime. The work will be only temporary and a need to keep the production which will be done by machines and controlled by computerheads. All we will have to do is to program those computers and mantain the machines working. All this will be possible after we stop all wars, stop creating nuclear or any king of weapons, and, instead of that, we trully start to create a self-sustained economy, and, the most importat, we must have the space conquered.


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Notícias da FIFME - Federação Internacional de Futmesa
Até Junho de 2006

Pedroom visita a casa de Farah

Nesta última sexta-feira, o botonista Pedroom teve a honra de visitar a casa de Jorge Farah e sua indescritível coleção de botões, a maior de São Paulo e uma das maiores do mundo.
Farah mostrou ao visitante a sua incrível coleção, com os mais variados tipos de botões, clubes e seleções do mundo inteiro. A 'seção' de botões brasileiros impressiona, organizados por estados em caixas e enormes gavetas, num grande armário repleto de times dos mais desconhecidos clubes nacionais.

Em cerca de uma hora de visita só foi possível ver parte da coleção de Farah, mas foi tempo suficiente para levar este visitante ao "êxtase botonístico", foi impossível não sentir uma ponta de inveja. Tem gente que tem cem times e já acha que é colecionador.

Além de sua coleção de botões, uma mania inserida dentro doo mundo futebolístico, Farah também mostrou outras facetas de sua paixão: livros de futebol, incluindo alguns de autoria própria, diversos e imensos troféus de suas conquistas como botonista, botões em catálogo, figurinhas, quadros, adereços e muito mais, só vendo para crer. Ainda tivemos contato com seu trabalho que envolve uma pesquisa de escudos de times de futebol que formará o catálogo de clubes mais abrangente até então já realizado, além portal de notícias sobre futebol de mesa que mantém, o www.futeboldemesanews.com, site que reúne diversas informações e prestações de serviços para os praticantes e amantes do futebol de botão.

Resta-nos apenas parabenizar Farah por sua paixão e agradecer a honra de poder estar com um mito que a história do botão certamente irá guardar para a eternidade. Agora entendemos porque Farah, no mundo do botão, é conhecido como "King".

Oliver Kahn é o herói para mais uma Copa da Alemanha

A Alemanha garantiu sua vaga para a V Copa do Mundo. A classificação veio no empate de 1x1 contra a Romênia num jogo muito disputado. A Romênia precisava de uma vitória simples sobre os alemães para garantir vaga na Copa, para a Alemanha, bastava um empate.

O time alemão entrou com uma formação mais defensiva e os romenos vieram para cima desde o início da partida, apesar disso, foi a Alemanha que abriu o placar no primeiro tempo, 1x0. No segundo tempo, o selecionado germânico entrou para garantir a vantagem e foi aí que começou aparecer a figura de Oliver Kahn, goleiro e capitão da equipe.

O goleiro – que após a partida teve atribuído o apelido de “o novo muro de Berlim” – foi garantindo o 1x0 para a Alemanha com belas defesas, mesmo assim, a pressão romena era tão forte que, enfim, uma hora a bola entrou: 1x1.

Com o empate, a Romênia partiu sobre a Alemanha com tudo atrás da vitória, resultado único que lhe valia a classificação. No final do jogo, o craque Hagi meteu uma bola de longa distância, três dedos, no canto baixo do goleiro alemão. Kahn demonstrou toda sua perícia e esticou a mão duas vezes para tirar a bola em cima da linha com a ponta dos dedos, venenosa, ela ainda bateu na trave e só parou sobre a risca do gol, abraçada pelo goleiro. Uma defesa monumental, de extrema dificuldade e de uma beleza plástica quase inigualável, que salvou a Alemanha do argouro da respescagem européia.

No final do jogo, com o empate e a classificação da equipe, todo selecionado alemão partiu para abraçar Kahn que, sem dúvida, foi o herói de mais uma Copa para Alemanha. Esta será a 5ª Copa disputada pela Alemanha, assim, ao lado do Brasil, são as únicas seleções – até agora – a garantirem participação em todas Copas do Mundo.

Pelo mesmo grupo, a Noruega, apesar da derrota na última rodada para a seleção austríaca (3x4), se garantiu na repescagem européia ao lado da Romênia. A Áustria acabou em último lugar do grupo e de fora da Copa do Mundo.

Alemanha chega ao milésimo gol - Rummenigge é o autor

A Alemanha conseguiu atingir a inédita marca do milésimo gol, o feito aconteceu na vitória de 4x2 sobre a seleção dos Estados Unidos, estréia alemã na III Copa Weffa. O terceiro gol da equipe alemã, anotado pelo craque Rummenigge (botão nº 3) - do mais antigo time Crack's germânico -, aos 7 minutos do 2º tempo, valeu pela marca histórica. O goleiro do New York Cosmos, Messing (nº 1), que defendia a seleção norte-americana, teve a "honra" de sofrer o tento histórico da Alemanha.
Zoom
Pôster do 1000º gol da Alemanha

Após a marcação do gol, o jogo foi paralizado, toda comissão técnica da Alemanha, incluindo todos os uniformes do país, invadiram o campo para comemorar. Os "invasores" foram os jogadores da Crack's (uniforme 2), do time profissional e até os jogadores da antiga Alemanha Oriental foram vistos na festa. Durante alguns minutos, o que se viu em campo foram os almães em completo êxtase, delirando de felicidade, absolutamente fora de qualquer possível e imaginário controle, até mesmo os jogadores norte-americanos entraram na onda e comemoraram o feito.

A expectativa e a euforia foram tantas para que a Alemanha chegasse ao milésimo gol, que até o narrador da televisão que cobriu o evento ficou emocionado e narrou errôneamente o feito como autoria de Brehme, sendo que o gol foi mesmo de Rummnigge, camisa nº 3 do antigo uniforme Crack's (time recuperado para participar da Copa Weffa).

Acalmados os ânimos pelo milésimo gol registrado, a partida foi retomada e a Alemanha chegou a marcar o seu gol de número 1001, também sofreu mais um, fechando a partida em 4x2. Rummenigge, autor da façanha, declarou após o jogo: "foi muito bom ter a honra de marcar o milésimo gol", e completou: "agora que fizemos o milésimo gol, podemos nos concentrar mais na busca pelo título".

30/05/2006

Tragédia acomete jogador da seleção japonesa

O jogador Sato, camisa 10 do Kashima Antlers e titular absoluto da seleção japonesa, um dos artilheiros e responsável pela classificação do Japão para a final da VI Copa Rocca (2ª Divisão), sofreu uma tragédia "a la Fantasma da Ópera".

Em férias, o jogador fazia uma excurção ao famoso Monte Fuji e, de forma inexplicável, caiu numa poça de ácido vulcânico. Acudido e operado a tempo, o jogador teve parte de sua face reconstruída, de forma que, apesar de virar um monstro, poderá retornar aos gramados e vestir a camisa do Kashima e da seleção.

Por de trás do pano, os fatos contam que o jogador do Kashima estava no lugar errado, infiltrado no meio dos jogadores do clube Maringá, como este time foi banido da federação, sendo assim impiedosamente descascado, infelizmente, durante tal processo, o player japonês acabou indo junto, ocasionando a tragédia.

Dos males o menor, o Kashima não perdeu o seu camisa 10, que retornará aos gramados com o uniforme original, mesmo que um pouco desfigurado e fantasmagóricamente assustador.

13/03/2006

Mistério: desaparece jogador da seleção alemã

As seleções da Alemanha, Brasil, Itália e Holanda embarcaram neste último fim-de-semana para uma excursão em Tremembé onde foi montada a Arena de Beach Soccer FIFME. As seleções Brasileira e Italiana embarcaram cada qual em seu motorhome particular enquanto as seleções da Alemanha e da Holanda utilizaram os ônibus da feredação.

Porém, no desembarque dos jogadores na chegada em Tremembé, notou-se a falta do jogador titular da Alemanha, Rudi Voeller, nº 9. O jogador foi procurado por toda parte porém não foi encontrado, estabeleceu-se então o mistério: onde estaria o player alemão?

O mistério só foi desfeito dois dias após, quando as seleções retornaram da apresentação em Tremembé. O jogador Voeller foi encontrado com os demais jogadores da FIFME no vestiário nº 2 da Federação. O ocorrido foi que o jogador estava de papo com outros jogadores de outras equipes no vestiário e acabou perdendo o ônibus que partia para a excursão.

Na rodada de Desafios de Beach Soccer de Tremembé, Alemanha enfrentou a Holanda e a Itália pegou o Brasil. O time alemão não se abateu com a ausência do seu artilheiro e venceu a Holanda de goleada 8x4, apesar do placar e da superioridade alemã no clássico, a vitória foi dificil, só veio na prorrogação, quando a Alemanha disparou a goleada para cima do time holandês. Já o Brasil venceu sem dificuldades o time italiano por 4x2, o destaque da partida foi o artilheiro brasileiro Ronaldinho Gaúcho, autor de um golaço antológico, e Rivaldo, que marcou dois gols.

11/06/2005

Rússia Campeã da IV Eurocopa

A Ressurreição Russa

A IV Copa Europa viu renascer a Fúria. A Espanha peitou a Itália - campeã mundial -
em duas partidas: um empate na 1ª fase e, no tira-teima na semifinal, 4x2. Viu-se mais, viu-se a Rússia re-escrever seu nome no mundo dos feitos brilhantes, das glórias inesquecíveis. Há quem não tenha querido ver a França - tri-campeã - perder seus três jogos e dar adeus ao tetra de forma vexatória, mas se viu sim. E, para inglês ver, teve a seleção da Rainha que mais uma vez perdeu em casa, de novo, onde
já se viu?

Mas, voltando ao que era bom, a Rússia fez uma campanha sensacional,
começou atropelando o estreante time pró da Holanda, 3x0; passou pela Polônia, 5x2;
e Portugal, 7x4 - só goleada.

Nas semifinais, bateu a sempre dura e obstinada Alemanha, 4x2 e, na final, mesmo após se ver atrás do placar em duas oportunidades, não teve jeito, os russos deram um olé na fúria espanhola, viraram o score pra 5x3 e ficaram com o inédito título da Eurocopa. Bradaram os bolchevickes: a glória maior pela conquista do título continental mais importante do mundo é Russa - festa absoluta em Moscow - como desde a revolução já não se via. Na glória moscovita, bela vista foram as apresentações e os gols de Sichev, centro-avante autor de 14 gols, record absoluto de artilharia dentro do Campo Monumental, que ajudou em muito a dar o
melhor ataque, 23 gols, para, haja visto, Rússia, é claro.


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Writing
The five senses

Other day I was invited to think about the human’s five senses – sight, hearing, smell, taste and touch. A lot of questions were made about these senses. Which is the most important, which is the one you would best cope without, which one triggers you most and other related issues.

After thinking deeply about this subject and being aware of many different points of view, I reached the following conclusion.

There are no five senses, there is only one, which is touch. Afterall, isn’t the sight a way to touch and feel the light? Isn’t hearing the sense of touching sonoric vibrations? Isn’t smell the capability to touch vaporized and floating elements on the air? And, finally, taste, isn’t it our ability of touching the molecular composition of the natural elements?


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Ética, Jornalismo & Política
A Questão do Jornalismo e o Agenda-Setting
A intíma e inescrupulosa relação da mídia com a classe política

O texto atual aborda reflexões sobre diversas implicações políticas relacionadas a cobertura da imprensa em relação à Câmara de Vereadores de São Paulo no período das prefeituras de Luiza Erundina, Paulo Maluf e Celso Pitta, tendo como base o estudo de Vera Chaia intitulado Jornalismo e Política, Escândalos e Relações de Poder na Câmara Municipal de São Paulo (São Paulo: Hacker, 2004).

Na obra citada acima, a estudiosa brasileira Vera Chaia (USP-SP) faz um estudo sobre a cobertura da grande mídia impressa paulistana, analisando e catalogando as notícias políticas desses jornais relativas à cobertura sobre a Câmara Municipal de São Paulo, durante as legislaturas da prefeita Luiza Erundina (1989-1992) e do prefeito Paulo Maluf (1993-1996). Ela também faz uma análise da cobertura das notícias da imprensa no escândalo da “Máfia dos Fiscais”, que estourou durante a prefeitura de Celso Pitta (1997-2000).

As análises das notícias políticas feita por Chaia é baseada em alguns conceitos, um deles de Shaw[1], intitulado agenda-setting: “Em conseqüência da ação dos jornais, da televisão e dos outros meios de informação, o público sabe ou ignora, presta atenção ou descura, realça ou negligencia elementos específicos do cenário público” (2004: 10). Tal conceito, segundo Vera, parte do “(...) pressuposto básico (...) é que, se os indivíduos não possuem um repertório próprio sobre um determinado tema, eles recebem esses conhecimentos e assimilam a realidade social por meio do prisma dos mass media” (2004: 11). A questão, então, seria: quais são esses prismas e como são construídos?

O “prisma” do jornalismo na cobertura política seria o critério de seleção e construção das notícias e informações. É o que comenta Chaia (apud Silva)[2]: “Os critérios de seleção das notícias, evidentemente, variam de acordo com um sem-número de valores”. E quais seriam esses valores? Os critérios de seleção das notícias “(...) prioriza determinadas notícias segundo critério dos gatekeepers que atuam neste meio de comunicação” (2004: 11). O processo do gatekeeper é, segundo Vera, “(...) um processo complexo de elaboração, envolvendo repórteres, editores, proprietários dos jornais, políticos, lobbies, que influenciam e condicionam a inclusão ou exclusão de determinadas matérias. As fontes que irão dar credibilidade às matérias também são selecionadas a partir de critérios estabelecidos pelo editor e, em muitos casos, pelo dono do jornal” (2004: 11). Para sintetizar então a idéia do agenda-setting, Chaia aponta os estudos de Fernando Antonio Azevedo[3], que diz:

“(...) a idéia implícita na noção do agenda-setting é a de que: (1) a mídia (...) define quais são os temas, acontecimentos e atores (objetos) relevantes para notícia; (2) (...) estabelece uma escala de proeminência entre esses objetos; (3) (...) constrói atributos (negativos ou positivos) sobre esses objetos; (4) há uma relação direta e causal entre as proeminências dos tópicos da mídia e a percepção de quais são os temas (issues) importantes num determinado momento histórico” (2004: 12).

Em outras palavras, a mídia define o que e quem vai falar sobre o que e como vai falar, determinando quais informações e de que forma o público terá acesso a elas. Com essa noção colocada, Chaia vai encontrar nos estudos de Kleinnijenhuis e Rietberg[4], alguns modelos básicos de agenda-setting, que seriam: Bottom-up: onde a mídia exerce um papel de comunicação entre políticos e público, não sendo formadora de opinião; Top-down: a elite política determina o agendamento dos temas tratados pela imprensa; e Mediacracy: a mídia influi na agenda política e pública. Entendemos que o modelo botton-up vai de encontro com o ideal de como a imprensa se apresenta para o público, como sendo apenas um canal de comunicação entre este e a classe política, como veremos a seguir.

Os Ideais da Imprensa

O grande paradigma da imprensa atual é o jornalismo informativo que se opõe ao modelo opinativo que data dos primórdios dos séculos XVII e XVIII. É justamente nessa linha de pensamento que o jornalista Eugênio Bucci[5], se referindo ao cenário da Revolução Francesa ocorrida no século XVIII, nos fala qual é o grande paradigma da imprensa, na época de quando este surgiu: “todo poder emana do povo, portanto o povo precisa ter informação para poder delegar poder, portanto a informação é um direito fundamental do cidadão”. Apesar deste paradigma ter nascido em uma época em que o jornalismo era de cunho opinativo, Bucci vai questionar essa prática, questionando que: “O jornalismo de opinião no seu início durante o século XVIII era um veículo de propaganda das idéias iluministas e o jornalismo deve ser um veículo isento de informação para que o público chegue as suas próprias conclusões”, esse é, então, o ideal do jornalismo informativo praticado hoje. Ideal que o estudioso de ética e comunicação Álvaro L. M. Valls (USP-SP) questiona com sendo alienador, impossibilitando a formação de uma consciência crítica em relação às questões éticas (veja post publicado neste blog intitulado Ética é Ética - resenha do livro O que é Ética do estudioso supracitado). Entretanto, um debate sobre a questão de qual tipo de jornalismo seria melhor, opinativo ou informativo, não cabe neste momento, mas certamente merece uma reflexão mais profunda.

Fica claro, então, que dentro do paradigma de que a informação é um direito de todos, esta deve ser isenta, e os veículos jornalísticos devem obedecer a essa isenção, é assim que a mídia se apresenta ao público, como nos diz Vera Chaia, “(...) a imprensa se apresenta como ‘independente’, ‘autônoma’ e ‘fiscalizadora’; a visão ‘apolítica’ dos meios de comunicação (...)” (2004: 15). E como se vê em seus estudos sobre o agenda-setting, a pauta das informações também pode ser um meio de se manipular os acontecimentos veiculados. Ainda dentro deste conceito, se vê que esses ideais apresentados pela imprensa nos remetem ao modelo bottom-up, no qual a imprensa se coloca como neutra na cobertura política.

A importância do agenda-setting relacionado à questão da pauta jornalística, em relação ao paradigma do acesso à informação, está no fato de a mídia ser considerada o meio de expressão da opinião pública, como expõe Chaia: “(...) os meios de comunicação de massa, principalmente a imprensa escrita, exercem papel fundamental nas sociedades democráticas (...) são (...) formadores quanto veículos de expressão da opinião pública” (2004: 15). Para que público tenha a sua opinião, ele precisa de informação, mas como a opinião pública pode ser exatamente do público se as informações que chegam à este são pautadas pela própria mídia? Se a mídia pauta a informação, como dizer que a opinião pública que ela expressa, segundo Chaia, não segue apenas os assuntos pautados por ela própria? Não seria, então, a opinião pública a opinião da própria mídia? Ainda mais quando, como veremos a seguir, a construção das notícias pautadas se dá de uma forma que, confrontando-se com os valores propostos aqui como valores éticos do jornalismo, suscita diversas dúvidas a respeito dentro quesito fundamental da democracia como clarificou Bucci, o direito fundamental à informação: exatamente que informação e de que forma ela chega ao público?

Para refletirmos sobre isso, listamos à seguir os valores até aqui mencionados que, assim, poderíamos atribuir como os valores éticos do jornalismo, que poderiam ser expressos nas seguintes palavras-chave: informação como direito fundamental do cidadão, isenção, independência, autonomia, fiscalização, visão apolítica, neutralidade. Vamos refletir sobre esses valores em relação às explanações encontradas nos estudos de Vera Chaia, de questões que abordaremos nos próximos tópicos.

Jornais e Jornalistas

Os estudos de Vera Chaia são de imensa valia para se entender como a imprensa atua (na cobertura política), e como os valores que já mencionamos se relacionam com os jornalistas e seus veículos informacionais, e também como se dá a própria construção das notícias. Além da questão da pauta, revelada através dos estudos sobre o agenda-setting, Vera demonstra que a construção da notícia é de suma importância, citando Swanson[6], mostra que:

“As formas usadas freqüentemente de fazer as notícias mais interessantes para o público incluem (...) enfatizar dramas e conflitos; concentrar-se em acontecimentos concretos (...) personalizar as notícias apresentando pessoas concretas na representação das instituições (...) reduzir assuntos à simples histórias com moral” (2004: 16).

Com essa afirmação, poderíamos questionar o fato do jornalismo criar “histórias com moral”, refletindo se esta moral jornalística não seria semelhante a moral como uma imposição, como denunciava o imperativo categórico de Kant, que seria a universalização da moral da mídia, em detrimento do que talvez devesse ser a universalização da moral através da mídia? A mídia, ao apresentar uma história com moral, não estaria interferindo no princípio da isenção apontado por Bucci? Cremos que sim.

A própria Chaia revela que a cobertura neutra do jornalismo não se verifica na prática, sendo que o noticiário político segue a linha do que aponta um estudo de Patterson[7], o chamado jornalismo interpretativo (portanto não-isento), no qual, teoricamente, o jornalista teria mais autonomia para redigir as matérias, “Neste tipo de jornalismo, o jornalista é um analista e constrói a matéria segundo suas escolhas pessoais” (2004: 18). Isso nos mostra também de forma clara que, sendo interpretativo, seria impossível a informação conter uma visão ‘apolítica’, a interpretação pode ter vários diferentes vieses mas, em nenhum caso, tem como ser apolítica.

Um desses vieses interpretativos poderia ser o denuncismo, como aponta Chaia (apud Waisborg)[8]: “(...) seria uma deformação do jornalismo investigativo, caracterizada pela pouca investigação independente (...) predomina o sensacional, a narração de uma história dramatizada, onde a denúncia não é fundamentada, o registro dos fatos não é feito com isenção” (2004: 18). Apesar do jornalismo se apresentar neutro, aqui se percebe como a atuação do jornalista deixa de ser imparcial, se afastando tanto do ideal da isenção quanto do ideal da visão ‘apolítica’. Além da visão política do jornalista, Chaia aponta que a falta de isenção também permeia o noticiário, fato que se agrava mais quando ela denuncia que: “As notícias sobre política serão construídas a partir da escolha pessoal dos jornalistas (...) mas fazendo parte de uma máquina e de uma empresa jornalística que é dirigida por diretores e editores que obedecem à linha diretriz traçada pelos proprietários dessa empresa” (2004: 19).

Essa questão coloca a pauta jornalística alinhada à diretriz dos proprietários dessas empresas, põe em xeque o ideal de independência e de autonomia desses veículos. Entendendo esses veículos como empresas que muitas vezes se constituem em grandes corporações de mídia, pensamos como fica essa independência em função do que coloca o estudioso norte-americano Noam Avra Chomsky:

“Uma corporação moderna (...) é tão próxima do ideal totalitário quanto qualquer instituição construída pelo homem. As decisões são tomadas no topo, transferidas para os burocratas (gerentes) em sucessivos níveis inferiores e, finalmente, executadas pelos funcionários que apenas seguem ordens. Essas tiranias privadas são em grande parte não-explicadas ao público” (CHOMSKY, 2007: 10-11).

Sendo as empresas jornalísticas corporações modernas, o ideal totalitário poderia ser expresso pela imposição da pauta a partir do topo dessas instituições, na base, repórteres e jornalistas (funcionários) apenas trabalham as notícias seguindo essa linha ditatorial, como aponta Chomsky, na qual a autonomia e a independência seriam, dessa forma, limitadas. Lembrando que, antes de tudo, como empresas, os veículos de mídia funcionam à partir do princípio maior do capitalismo no qual estão inseridas, o lucro, de forma que a imposição das pautas dentro da hierarquia empresarial, muitas vezes, está submissa aos interesses mercadológicos dessas empresas, do valor comercial da venda de informação, dos interesses e alianças políticas e, enfim, da questão da verba publicitária e parcerias comerciais, fatores que podem influir na cobertura da imprensa. Tudo isso, põe em dúvida a questão da independência e da autonomia, não só na atuação dos jornalistas, mas também na linha diretriz das pautas abordadas pelas empresas jornalísticas. Seguindo nessa linha de reflexão, assumindo que as empresas jornalísticas têm sim os seus alinhamentos políticos e interesses comerciais, possuem os seus próprios objetivos e são fiéis a eles, elas jamais podem ser entendidas como neutras dentro de sua atuação junto à sociedade.

Manipulação da Opinião Pública via Comissão Parlamentar de Inquérito

A relação mídia-poder, no que concerne à relação entre políticos e jornalistas, é definida por Vera da seguinte forma: “(...) é uma relação de mútua dependência, pois os políticos precisam dos meios de comunicação para serem conhecidos pelos eleitores, enquanto os jornalistas precisam dos políticos para obterem informações” (2004: 21). Vera vai exemplificar tal “casamento” entre jornalistas e políticos pelo que ela identifica como sendo o uso midiático das CPIs (Comissão Parlamentar de Inquérito): “As (...) CPIs (...) podem ser avaliadas (...) como fontes de obtenção de informações que movimentam o mercado editorial, gerando matérias e notícias que chegam cotidianamente aos leitores”. Poderíamos acrescentar também que, além de uma fonte de notícias, as CPIs são uma fonte de visibilidade para os políticos nelas envolvidos, de forma que atendem perfeitamente à relação entre jornalistas e políticos como mencionada acima.

Ainda na relação entre mídia e poder, no que tange as empresas de mídia, poderíamos citar um velho exemplo do estudioso Renato Ortiz, ainda da época da ditadura brasileira, de como os interesses empresariais da mídia se cruzam com os interesses do governo:

“(...) os interesses dos militares e dos empresários brasileiros se articulam para a derrubada de Goulart. (...) Se lembrarmos que a partir de 1966 é dado um incentivo real à fabricação de papel, e facilitada a importação de novos maquinários para edição, percebemos claramente que existe uma gama de interesses comuns entre Estado autoritário e o setor empresarial do Livro” (Ortiz, 1998:117).

Como comentamos anteriormente, a questão das verbas publicitárias também é algo que pode pesar na autonomia e independência dos veículos de mídia. Como pode existir total independência da mídia se ela em grande parte depende das verbas publicitárias? Essa questão se agrava ainda mais, pois o governo também participa dela, como nos conta Ortiz, “(...) um sistema de comunicações economicamente forte, dependente da publicidade, passa no caso brasileiro necessariamente pelo Estado” (Ortiz, 1998:121).

As relações entre mídia e poder destacadas nos parágrafos anteriores, nos leva a pensar até que ponto elas influem na construção das pautas jornalísticas, até onde elas interferem na autonomia, independência e neutralidade, tanto dos jornalistas quanto dos veículos de mídia? De qualquer modo, cremos que neste contexto, tais ideais sejam limitados.

Outros Modelos de Agenda-Setting

Trabalhamos no tópico anterior, o modelo de agenda-setting ‘bottom-up’ como sendo, além de um modelo de construção da pauta jornalística, um paradigma ou ideal de imprensa. Agora, então, iremos refletir um pouco sobre os outros modelos. Dos modelos apresentados, aquele que nos parece ser o mais ideal dentro das democracias, e seu nome o remete para tal, é o modelo mediacracy, seria o modelo onde a mídia é quem vai influir no agendamento dos temas relativos a política. A imprensa teria uma função estratégica na vigília sobre o poder público, buscando e trazendo informações vitais para a população, exercendo aquele que seria um de seus maiores paradigmas, como mantenedora do direito público de acesso à informação, expressando a função fiscalizadora da imprensa. Dessa forma, um outro ideal do jornalismo que estaria diretamente atrelado a este modelo, seria a função conhecida como watch dog[9], ou seja, a sua função de vigiar e investigar fatos que concernem a opinião pública e as populações em geral, como bem define o estudioso norte-americano Yochai Benkler[10]: “(...) diz respeito à função que ele chama de ‘cão de guarda’, onde sob o paradigma da liberdade de imprensa, os veículos de mass media exercem uma função de vigília sobre o que concerne ao interesse público”. Já Vera Chaia (apud Patterson)[11], ratifica a importância da função “cão de guarda” da imprensa, mas faz uma ressalva: “(...) um jornalismo ‘cão de guarda’ é uma das melhores salvaguardas contra os abusos do poder. No entanto, as democracias precisam de um cão de guarda com bom-senso” (2004: 19). Em outras palavras, a vigília da imprensa estaria órfã daquilo que, como há muito já entendia o filósofo francês René Descartes (1596-1650), seria o único parâmetro racional capaz de guiar a conduta ética do Homem, o bom-senso. Ligando esta questão à própria ética jornalística, Chaia cita Bucci[12], que afirma: “(...) falar em jornalismo é falar em vigilância do poder e, ao mesmo tempo, em prestação de informação relevantes para o público, segundo os direitos e necessidades do público (e não do governo)” (2004: 19). Bucci sempre se preocupa com o paradigma de direito ao acesso à informação pelo público, e expõe: “Numa sociedade democrática, não existe matéria que possa ser segredo de Estado”[13]. Nesse sentido, questionamos: e quanto ao jornalismo, pode este, dentro desta mesma sociedade democrática, esconder o acesso à suas fontes?

Uma das facetas dessa função watch dog da imprensa seria o jornalismo investigativo, uma modalidade específica jornalística que, segundo Chaia: “(...) pressupõe que os jornalistas tenham um papel ativo e envolve um trabalho de averiguação e de busca de fatos que comprovem determinadas denúncias” (2004: 19). Ainda assim, eventualmente, tal função não é baseada apenas na autonomia dos jornalistas, pode servir de pano de fundo para uma articulação com os políticos no intuito de defender determinados interesses, como adverte Chaia: “Certos grupos políticos podem se unir com determinados meios de comunicação, visando estabelecer intercâmbios e alianças para combaterem inimigos comuns” (2004: 21)[14]. Dessa forma, mesmo a função watch dog estaria comprometida em termos de isenção e autonomia. Assim, por mais que se perceba uma ou outra característica do jornalismo como sendo uma prática ética, a falta de ética se revela um mal capaz de permear qualquer faceta do jornalismo.

Outra questão ainda pertinente, refere-se ao terceiro modelo de agenda-setting que mencionamos, o modelo top-down, no qual a pauta seria imposta pela classe política. Modelo que podemos atribuir a diversos veículos controlados por políticos, veículos cujos donos são políticos e/ou mantém jornalistas e editores que também são políticos, enfim, um modelo diretamente atrelado à classe política, no qual esta faz o agendamento dos temas abordados conforme os seus interesses. Talvez seja o modelo mais sombrio dos mencionados, pois é difícil encontrar um veículo, especialmente na grande mídia, que vai expor ao público as suas alianças políticas, que vai se colocar em nome de algum político ou partido, ou que vá até mesmo enfatizar que a sua abordagem jornalística segue a linha dos donos, dos parceiros, e estes são políticos e/ou tem as suas alianças partidárias, algo que seria radicalmente contra as idéias de neutralidade e de visão apolítica, que é como esses meios se colocam para o público. Deixando de lado a questão do modelo, Chaia (apud Abreu Lattman-Weltman)[15] nos mostra uma maneira de como a classe política pode influenciar a pauta do noticiário, criando fatos políticos para serem divulgados:

“Esse é outro aspecto da questão: a relação entre imprensa e poder, uma relação de muita cumplicidade, de muita proximidade e de muito fascínio da imprensa, pelo poder. A imprensa é vista pelo poder político e econômico como um instrumento, como um meio de transmitir determinadas informações que podem destruir um adversário político, um concorrente. A informação é passada para o jornalista porque alguém está interessada em divulgá-la. Logo, todo vazamento de informação tem um lado de manipulação política[16]” (2004: 20).
Dessa forma, uma informação que muitas vezes chega à imprensa atribuída como um furo noticioso, pode ocultar o interesse do político que passou ou vazou a informação para a mídia, seria, também, uma forma dos políticos estarem determinando os assuntos a serem veiculados pela mídia.

Algumas Conclusões

Em uma citação de Yochai Benkler exposta acima, ele comenta de um outro paradigma que é próprio, específico e muito defendido pela imprensa, a liberdade de imprensa, liberdade de expressão. Entendemos que este é um ideal que merece um estudo à parte (e existem muitos), tão vasta são as questões a ele relacionadas. De alguma forma, porém, o que analisamos até aqui sobre o jornalismo, refere-se a um contexto de sociedades democráticas, onde a imprensa possui essa liberdade como paradigma. Assim, entendemos que os exemplos e modelos apresentados aqui, trazem em si, implicitamente, este ideal.

Compreendemos que, antes de qualquer crítica à imprensa, temos que entender o seu papel dentro daquele paradigma levantado: a informação como direito fundamental do cidadão. Vimos nos estudos de Vera Chaia sobre o agenda-setting, quais são os modelos e alguns exemplos de como a imprensa vai focar e selecionar as pautas das matérias que são divulgadas para o público seguindo diferentes diretrizes, tanto dos jornalistas quanto de seus veículos. Refletimos, também, como isso se relaciona com alguns ideais éticos da própria imprensa. Mas para compreendermos melhor se o paradigma de acesso à informação é realmente eficaz dentro das sociedades democráticas, teríamos de analisar dentro deste prisma do agenda-setting, quais são as informações que de fato chegam ao público, e a relevância que elas têm para este. Isto é o que a pesquisa de Chaia em cima da cobertura política da Câmara de Vereadores de São Paulo tenta em parte responder e, depois de uma longa análise em cima de centenas de notícias dessa cobertura, ela chega a algumas conclusões, muitas delas a respeito do que levantamos até aqui.

Mais uma vez, Vera Chaia destaca a relação entre jornalistas e políticos, na qual um necessita do outro, “Também é ressaltada a relação de complementaridade entre os jornalistas – que precisam dos assuntos fornecidos pelos políticos para que estes sejam transformados em notícias – e os políticos, que necessitam da imprensa para que sejam divulgados seus projetos e suas opiniões políticas” (2004: 91). Uma relação que, como vimos, interfere na isenção e autonomia do jornalismo, sendo ratificada pela estudiosa em suas conclusões, “(...) o trabalho jornalístico não goza da autonomia pretendida pelos jornalistas (...) na verdade, esta categoria está atendendo às exigências do próprio mercado, que opera visando o lucro e a audiência” (2004: 92). Apontando os estudos do francês Pierre Bourdieu, Chaia conclui que esta relação seja, como nas palavras dele, “de cumplicidade objetiva”, e depois argumenta: “O campo jornalístico é um ‘microcosmos’ com leis próprias, sendo que a busca da autonomia e da liberdade encontra barreiras impostas pela dinâmica deste ” (2004: 92). A questão é: pode a dinâmica própria deste ‘microcosmos’ superar a própria ética?

Enfim, umas das conclusões em cima da questão do agenda-setting proposta por Chaia, das pautas e da construção das matérias, ela diz: “A imagem construída pela mídia (...) é feita sob duas circunstâncias: o agendamento dos temas; e o fato de a veiculação das notícias passar pelo crivo pessoal dos jornalistas, que estabelecem seus critérios para consagrar o que é importante para a população (...) O princípio que norteia a seleção das notícias é o sensacionalismo, o que causa impacto” (2004: 92). E nós poderíamos acrescentar ao final dessa frase: ao que ajuda vender jornal.

Considerações Sobre os Escândalos Políticos Estudados por Vera Chaia

Depois da leitura da pesquisa sobre a cobertura da imprensa na Câmara Municipal de São Paulo, passando pelos períodos das prefeituras de Luiza Erundina, Paulo Maluf e Celso Pitta, uma pergunta vem logo à cabeça: a existência do poder legislativo em nível municipal é mesmo necessária? No compito geral, a pesquisa de Vera Chaia ressalta poucos pontos positivos sobre a atuação da câmara, a questão da política municipal está muito mais focada no poder executivo, o que se reflete também na própria cobertura jornalística midiática, sempre mais preocupada com o prefeito, isto tudo além da questão do alto encargo financeiro ao município que a manutenção da câmara acarreta. O estudo ressalta a dificuldade da prefeita Luiza Erundina durante o seu mandato, pois tinha minoria partidária na câmara, foi obrigada a governar por decreto e teve vários projetos derrubados. Foi, também, um período no qual houve uma tentativa de moralização na câmara, com grande atuação do “súdito eletrônico”[17] Eduardo Suplicy, e diversas CPIs foram realizadas, embora sem grandes efeitos.

Em seguida veio Paulo Maluf, que tinha maioria na câmara, assim conseguiu um acordo com o legislativo, abocanhando uma boa fatia do orçamento da cidade que usou para fazer obras. É justamente nessa fase que vários acordos foram feitos, diversas sub-prefeituras foram sendo colocadas nas mãos de vereadores, criando-se o que entendemos ser uma espécie de grande malha de troca de influências e favores. No mandato seguinte de Celso Pitta, descobre-se que por trás dessa malha existia uma grande rede de corrupção de fiscais da prefeitura, um escândalo que a imprensa intitulou “A Máfia dos Fiscais”. Nesse episódio, apesar de toda a cobertura da imprensa paulistana e de outros órgãos de mídia, das CPIs criadas, e das investigações do Ministério Público, o saldo foi negativo. Somente uma vereadora foi presa e dois outros vereadores e um deputado estadual cassados, além de uma tentativa frustrada de se derrubar o prefeito Celso Pitta.

Em cima dessas constatações, este blogueiro que vos escreve, como cidadão paulistano, só pode fazer côro ao que Chaia expõe nas considerações finais de seu estudo: “(...) a população paulistana não ficou satisfeita com os resultados e não acredita no desaparecimento da corrupção” (2004: 129).

Notas:

[1] Shaw apud Wolf in “Teorias da Comunicação”, (pp. 130).
[2] Em SILVA, Luiz Martins da. Imprensa e Cidadania: Possibilidade e Contradições (pp. 52) in Imprensa e Poder. Brasília: UnB, 2002.
[3] Em AZEVEDO, Fernando. Espaço Público, Mídia e Modernização das Campanhas Eleitorais no Brasil. SP (VII Compós): PUC/SP, julho 1998 (pp. 11).
[4] Ver CHAIA, 2004: 12-13.
[5] Ver “Jornalismo Sitiado”; Módulo: “O papel da mídia na sociedade digital”.
[6] Em SWANSON, David L. El Campo de la Comunicación Política (pp. 14) in Munõs Alonso A. y Rospir J. L. (orgs). Comunicación Política. Madrid: Universitas, 1995.
[7] Em PATTERSON, Tomas. Serão os Media Noticiosos Actores Políticos Eficazes? (pp. 90) in Revista de Comunicação e Linguagem. Lisboa: Relógio D’Água, 2000.
[8] Em ABREU A. A. de; LATTMAN-WELTMAN, F. E. KORNIS, M. A Mídia e Política no Brasil – Jornalismo e Ficção. RJ: FGV, 2003 (pp. 10-11).
[9] Cão de guarda.
[10] Em sua obra The Wealth of Networks: How Social Production Transforms Markets and Freedom, (pp. 236).
[11] Em PATTERSON, Tomas. Serão os Media Noticiosos Actores Políticos Eficazes? (pp. 91) in Revista de Comunicação e Linguagem. Lisboa: Relógio D’Água, 2000.
[12] Em BUCCI, Eugênio. Sobre Ética e Imprensa. SP: Cia das Letras, 2000 (pp. 18).
[13] Ver “Jornalismo Sitiado”; Módulo: “O papel da mídia na sociedade digital”.
[14] Um exemplo clássico: a aliança entre Fernando Collor de Melo e Roberto Marinho para combater Leonel Brizola em 1989. N. do A.
[15] Em ABREU A. A. de; LATTMAN-WELTMAN, F. E. KORNIS, M. A Mídia e Política no Brasil – Jornalismo e Ficção. RJ: FGV, 2003 (pp. 13).
[16] Grifo nosso.
[17] Eduardo Suplicy foi um dos vereadores que mais apareceu na mídia durante o mandato de Erundina.

Referências Bibliográficas:

BUCCI, Eugênio. Sobre Ética e Imprensa. SP: Cia das Letras, 2000.
CHAIA, Vera. Jornalismo e Política, Escândalos e Relações de Poder na Câmara Municipal de São Paulo. São Paulo: Hacker, 2004.
CHOMSKY, Noam. Entrevista: Chomsky, o Mestre do Contra (pp. 8-13). Revista Cult nº 116. SP: Bregantini, Agosto de 2007.
Jornalismo Sitiado. Curadores: Eugênio BUCCI e Sidnei BASILE. Brasil: Ed. LogOn – São Paulo, 2007.
ORTIZ, Renato. A Moderna Tradição Brasileira. São Paulo: Brasiliense, 1988.
VALLS, Álvaro L. M. O Que é Ética? São Paulo: Brasiliense, 1996.


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Humor
The positive effects of humor in our lives

By Peter Louis of the Olive-Tree Back Great-Grandson

Humor or, better, good humor is something that really can make a difference in the way people lead their lives.

It's scientific proved that people who have funny friends or/and funny partners have less stress and emotional or mental diseases. People who face day-by-day problems by telling a joke or making a joke about their problems, people who always see the positive side of the matters and also with good humor have less probality of having a heart attack or developing a cancer, points a study from Dr. Louis Laugher from Clown's University.

A Survey conduced with all American labor force has showed that people who laugh more, live more. "Each smile you give, 30 seconds of life you gain", says Dr. Peter Joker whose had closed the survey's findings.

So, now that you know the benefits of humor are scientific proved, just follow our advice: take a good laugh and live long, live well, kkkkkkkkkkkkkkkkk!


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Crônica
A Longa Jornada de Uma Noite Sem Fim

Pedroom Lanne


Crônica original da Revista "Memórias do Sono" (Editora Novo Momento),
uma antologia sobre
“O Sono”. Realização dos alunos do curso de Editoração Multimídia
do UniFIAMFAAM (São Paulo-SP), publicada em 14 de Outubro de 2005.

A Longa Jornada de uma Noite Sem Fim

Estaciono o carro na garagem depois de um longo dia de trabalho, meu cansaço é tão grande que quase colido o veículo ao manobrá-lo para sua apertada vaga, meus reflexos estão ruins, meu corpo pede uma refeição, um banho e uma boa noite de sono. Subo o elevador e sua demora quase me faz dormir em pé, o forte solavanco de sua parada me faz despertar, cheguei ao meu andar. Rapidamente me encaminho para a cozinha e preparo um prato de comida, ligo o microondas e aproveito o tempo de aquecimento da refeição para ir ao banheiro e tomar uma ducha. Não demoro nem cinco minutos e já estou de volta à cozinha, sento-me à mesa e devoro o prato, ávido para me retirar ao meu quarto onde uma agradável noite de descanso me aguarda para que eu esteja inteiro e disposto para a longa jornada de trabalho do dia seguinte.

Termino a refeição e dirijo-me ao quarto, finalmente estou pronto para dormir, porém, antes que meus olhos pudessem se fechar, o telefone toca: quem será à uma hora dessas? Seja quem for está atrapalhando meu precioso descanso.

Atendo a ligação e quem está do outro lado da linha é o meu chefe, mal balbuciei a palavra “alô” e ele começa a despejar:

- Você se lembra de todos aqueles temores que havíamos comentado durante esses últimos dias?
- Sobre uma invasão alienígena, Senhor? – questiono-o.
- Pois é, neste exato momento estamos sendo atacados por um exército alienígena de origem desconhecida, nossos homens foram dizimados por estranhas forças que vão além de nosso poder defensivo, pensamos que a única maneira de detê-los será enviar um homem só infiltrado que descubra a sua origem para que possamos destruí-la.
- E quem será este homem, Tenente?
- Este homem é você, soldado. Suas ordens são simples e claras: encontre a origem alienígena e destrua-a.
- Pode contar comigo, Senhor.
- Reporte-se imediatamente ao nosso QG para maiores detalhes da sua missão, soldado.

Antes que eu pudesse responder, ouço um forte barulho do outro lado da linha e um grito de horror que, em seguida, é calado, a linha cai.

Este pequeno fato é suficiente para me despertar completamente como se tivesse recebido uma injeção de adrenalina na veia e, de um momento para outro, todas as energias do meu corpo estão no seu ápice novamente. Levanto-me, abro meu armário secreto por detrás da cama e retiro algumas armas e um kit de remédios e primeiros-socorros, visto minha armadura e estou pronto para a batalha.

Ao sair do quarto percebo que algo estranho está acontecendo a minha volta, não estou onde deveria estar, o corredor do meu apartamento parece ter desaparecido, e ao invés dele, estou em um lugar diferente, em outro corredor, imenso e escuro, de longe ouço ecoar gritos de terror e terríveis vozes do além. Um calafrio percorre a minha espinha, que horrores estarão me esperando no fim desse beco obscuro? Sem alternativas inicio uma caminhada por este hall da morte certo de que ela estará espreitando em qualquer um de seus cantos. Meus instintos estavam certos, ao caminhar pelo corredor ele começa a se multiplicar tornando-se um infindável labirinto, diversos tipos de monstros me vêem de encontro ávidos por beber meu sangue, zumbis tentam me matar, estranhos seres jogam bolas de fogo tentando me queimar e terríveis demônios se assanham querendo devorar minhas entranhas. Sem alternativas, avanço pelo labirinto entre tiros e esquivos, ultrapasso diversas armadilhas e, apesar de alguns ferimentos, consigo sair desse tenebroso e sombrio lugar.

Finalmente consegui chegar aos subúrbios da cidade aonde deveria encontrar o meu QG, porém, a única coisa que encontro são cinzas, escombros e cadáveres. As coisas parecem estar mais calmas por aqui, afinal está tudo destruído e todos estão mortos. Eu sento num banco, começo a palitar meus dentes e, cansando, sangrando, assisto a imensas explosões que ocorrem ao longo de todo o centro urbano de onde vim. Subitamente algo começa a apitar, é o meu computador de mão que está recebendo uma mensagem, coloco-a na tela:

“Nós conseguimos localizar a origem a invasão extraterrestre, é no litoral, não muito longe do porto, se você conseguir chegar até lá, talvez consiga bloquear a sua entrada”.

Dolorosa e penosamente eu me levanto e sigo em direção a batalha. Desta vez a luta é mais difícil, monstros gigantes vêm em meu encalço com um poderoso arsenal: mísseis, armas de plasma e metralhadoras gigantescas, consigo enfrentá-los com minha espingarda e assim vou seguindo em direção ao meu objetivo. À medida que avanço, percebo que estou chegando ao centro da invasão, de lá vejo diversos monstros e seres horripilantes sendo lançados e transportados pelo ar, seguindo em diferentes direções, algumas vezes alguns deles caem na minha frente e tentam me atacar, mas, de forma persistente, mato-os e prossigo com meu agouro. Conforme prossigo em frente, a paisagem e as construções a minha volta tomam formas maiores, de uma verdadeira corte infernal, quanto mais perto do meu destino, maior o calor e minha exaustão física, todavia, a ciência de que a sobrevivência da espécie humana estava em minhas mãos me deram a energia necessária para não desistir.

Chego ao porto e ao local onde a invasão parece ter início, o mar, antes tão belo, agora é uma imensa poça de ácido fervente envolto por imensas estruturas trazidas pelos alienígenas, e eu percebo que estou bem no centro de sua cidadela. Observo uma cena surreal: um buraco gigantesco que submerge para as profundezas do oceano que ora é verde, ora é vermelho, como se constituído de sangue humano, dele emerge um fétido odor de enxofre, e vejo uma imensa escadaria que desce em direção a um gigantesco portal, ao seu lado, dois demônios de três cabeças montam vigília como verdadeiros guardiões do pior inferno que nem Dante poderia conceber, o que será que eles guardam? O que será isso? Será que a invasão está vindo direto das profundezas? Sem opções, a minha alternativa para combater a infernal invasão alienígena será atravessar o próprio inferno.

Inicio minha sina descendo pelas imensas escadarias que cada vez se aprofundam mais num abismo sem fim, o calor sobe a cada degrau que desço e, à medida que caminho, a escadaria fica cada vez mais estreita, o menor desequilíbrio resultará numa queda mortal ao mar de lava que circunda o precário caminho. Em volta, diversos demônios me atacam, seres voadores cospem fogo na minha direção, almas penadas vêm ao meu encontro tentando sugar a minha vida, me derrubar da escada, resisto e continuo a minha jornada. Finalmente chego ao fim da imensa escadaria, o final é previsível, o encontro com o Diabo em pessoa, o Barão do Inferno. Porém, esse gigantesco demônio parece ter saído de algum filme de ficção científica, pois é uma mescla de diabo com chifres e rabo com um robô cibernético apresentando partes metálicas e chips que se fundem com suas veias. Ao invés de um tridente nas mãos, pior, empunha um imenso canhão formando uma extensão de seu asqueroso braço. O Demônio, ao perceber a minha presença, soltou uma ecoante risada, mais se parecendo com um urro que, de tão ensurdecedor, quase me estoura os tímpanos. Estupefato, mal tenho tempo de desviar das bombas que ele lança incessantemente em minha direção, mas se sobrevivi até aqui, não irei morrer nas mãos dessa terrível besta. Encaro-a e, após uma longa batalha, vejo seu corpo explodir numa imensa bolha de sangue, enfim, a vitória. Da poça de sangue onde jaz o Diabo, vejo surgir uma luz branca que se destaca na penumbra antes apenas iluminada pelas imensas labaredas do inferno, por ali será minha saída. Lanço-me na luz e sou tomado por uma estranha sensação de leveza, como se meu corpo estivesse sendo transportado pelo ar por mãos invisíveis, fecho os olhos e penso – será que meu tão aliviado e merecido descanso chegou?

Quando eu pensava que finalmente estava dormindo, que estava desfrutando de meu devido descanso após o dever cumprido, percebo que existe uma pessoa ao meu lado, uma mulher. Antes que eu pudesse imaginar que ela era o meu anjo da guarda, ouvi a sua voz:

- Parabéns soldado, a sua vitória possibilitou a raça humana sobreviver – disse ela.
- Louvado seja Deus! – disse aliviado.
- Calma, soldado. Ainda não é tempo para comemorarmos, os alienígenas não estão completamente derrotados, agora temos que combatê-los diretamente em sua origem.
- Aonde? – pergunto apreensivo.
- No seu planeta natal, localizado numa galáxia remota nos confins do espaço.
- Mas como chegaremos lá?
- Usaremos o mesmo caminho que eles usaram para chegar até aqui, um teletransporte – me elucidou ela. - Não há tempo a perder, vamos embora, soldado! – percebi que o meu pesadelo ainda continuava.

Pelo teletransporte, segui a mulher junto com outros soldados para uma construção alienígena, longe, muito longe da Terra. Lá, estranhos seres, que mais pareciam máquinas concebidas para a guerra, revelaram-se monstros poderosíssimos que tinham ácido nas veias e se multiplicavam no ventre dos seres humanos. Felizmente estávamos bem armados e conseguimos derrotá-los, só então fiquei sabendo que a mulher que me levou para mais essa batalha era a única sobrevivente de uma nave espacial tomada por esse mesmo monstro alienígena que matou seus seis companheiros, somente ela sobreviveu para contar a história e liderar nossa missão ao espaço.

Combatida mais uma fonte alienígena, finalmente pude voltar para a Terra e, enfim, ter o meu tão sonhado descanso, utilizei-me da mesma tecnologia utilizada pelos próprios alienígenas para chegar o mais rápido possível para meu planeta natal, o teletransporte. Em apenas um segundo, já estava de volta a Terra. Mas, quando pensei que iria relaxar, percebi que algo havia dado errado em meu teletransporte, havia voltado para uma realidade diferente, não estava mais no mundo moderno, percebi que estava perdido no tempo em alguma época medieval, pois o mundo a minha volta era algo rudimentar, sem a tecnologia habitual ao qual estava acostumado.

Não sei se esta época que me deparei era a famosa idade das trevas, só sei que o que vi a minha volta era um pesadelo que tomou forma de tenebrosos seres diabólicos travestidos em um visual antigo: arqueiros negros, múmias, estátuas de pedra vivas que faziam o chão tremer ao caminhar como se fossem imensos dinossauros e, como se já houvesse me habituado, pequenos demônios voadores, seres diabólicos que devoravam as pessoas e destruíam tudo que encontravam. Consegui me refugiar em um castelo subterrâneo e me vi a salvo – por hora - dessas abomináveis criaturas. Neste local encontrei um homem – um velho senhor vestido com uma estranha túnica que, assim como eu, estava terrivelmente assustado com os fatos que se desenrolavam a nossa volta, ele me explicou o que estava acontecendo:

- Homem, o que está acontecendo? Que lugar terrível é este? – indaguei-o, porém o velho parecia meio enlouquecido com a situação e sua resposta soava como as preces de um padre.
- Deus castigou o homem... – disse o velho. – Nos mandou quatro cavaleiros para dominar a Terra, quatro seres para perpetuar o mal, são os quatro cavaleiros do apocalipse.
- Que estais a dizer, pobre criatura? – disse-lhe atônito.
- A prova final do homem – continuou ele a recitar - somente um escolhido irá vencer esses quatro maléficos seres, irá libertar a raça humana da eterna perdição - em seguida começou a recitar palavras num incompreensível idioma.

Logo percebi que não era a toa que o teletransporte havia me trazido para este estranho mundo, era meu o dever de combater esses quatro operários do mal. Por sorte, o velho era na verdade um clérigo que dominava as artes da magia e da guerra, e me ensinou técnicas para combater esses seres que usavam mágica como arma, com seus feitiços obtive os meios necessários para lutar contra essas novas forças do mal.

Pronto para a batalha, segui minha sina e atravessei diferentes mundos na caça aos cavaleiros do apocalipse, passei por pirâmides, castelos, labirintos e imensas arenas em que combati os mais diferentes espécimes de monstros e seres maquiavélicos até, enfim, conseguir a derrubada dos quatro cavaleiros do apocalipse e a redenção da humanidade, mais uma vez eu era o herói.

Logo após a vitória, uma estranha luz começou a irradiar do meu corpo, e mais uma vez senti uma gentil leveza, que estava sendo transportado por algum limbo energético. Um brevíssimo intervalo de paz e, quando voltei à realidade, estava de volta ao meu quarto.

Subitamente ouvi uma sirene muito forte - Meu Deus o que será agora? Mais um alarme me convocando para alguma guerra sombria? - Girei o olhar em torno para descobrir a fonte de origem da sirene, logo percebi que vinha do rádio-relógio na cabeceira da minha cama, já passava das seis da manhã, o alarme estava despertando. Hora de desligar o videogame e ir trabalhar, sendo que nem dormi ainda – agora sim meu verdadeiro pesadelo está começando.

Sem fim.


Referências:

Alien, o Oitavo Passageiro. Ridley Scott. Filme (Longametragem). 20th Century Fox – EUA: 1979.
BISNETO, Pedro Luiz O. C. A Longa Jornada de Uma Noite Sem Fim in “Memórias do Sono” – Denis Lellis, Marina Loschiavo e Luana Lacerda (organizadores). Publicação do Curso de Editoração e Multimídia da Faculdade de Comunicação do UNIFIAMFAAM. Crônica (4p). São Paulo-SP: Novo Momento, 2005.
Doom II. John Carmack, John Romero e Dave Taylor. Videogame (PC). Id Software – EUA: 1994.
Hexen. Ben Gokey, Chris Rhinehart e Paul MacArthur. Videogame (PC). Raven Software – EUA: 1995.
L.O.R.D. – Legend of Red Dragon. Seth Robinson. RPG (Online BBS). EUA: 1992.

 

AGRADECIMENTOS

Luana Lacerda, Denis Lellis, Marina Loschiavo e Professor Waldir Gomes


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Ícarus e a tragédia do vôo JJ3054
Congonhas não pode receber vôos de grandes aeronaves

São Paulo, 11 de Agosto de 2007

Enquanto muitos lamentam a morte dos passageiros e tripulantes do vôo JJ3054 da TAM, fico a imaginar como fica, não só esse trágico vôo, mas toda a aviação mundial, frente ao mito grego de Ícarus. Ícarus, como todos sabem, é um mito que conta a aventura de um homem que quis voar, quis alcançar o sol, mas acabou morrendo ao cair do céu quando suas asas queimaram numa vã tentativa de voar como um pássaro.

Foram muitos os pioneiros da aviação, que personificaram o Mito de Ícarus e morreram ao tentar voar, todos sabiam dos riscos que tinham ao tentar tal empreitada, todos eram partidários do sonho de Ícarus, do sonho do homem voar.

Daedalus e Ícarus
Daedalus e Ícarus, pai e filho. Eles desafiaram os céus no mito grego. Ícarus foi mais além, tentou alançar o sol e teve suas asas queimadas, caiu e morreu. Na ilustração acima, Daedalus assiste seu filho Ícarus caindo à morte


Hoje, tais pioneiros e o próprio Ícarus - talvez observando lá do céu, onde chegaram não da forma como queriam - veriam estupefatos como o Homem ganhou os ares e multiplicou a capacidade de voar. Do sonho solitário de Ícarus emerge o mundo da aviação moderna, onde milhares de pessoas desafiam tal mito a cada dia sem sequer se lembrar da sua trágica e mitológica conclusão. As pessoas vão além de Ícarus, exigem a perfeição na arte de voar e não absorvem passivamente quando uma aeronave cai dos céus, ignoram que tal perfeição jamais existirá, como nos contou o mito de Ícarus.

É preciso saber, assim como aprendeu de forma trágica Ícarus, que por mais que hoje o ato de voar seja algo banal do dia-a-dia, nada mais que um meio de transporte - o mais seguro meio de transporte - toda vez que nos colocamos dentro de uma aeronave ou qualquer outro dispositivo que nos permita voar, sempre estará presente também o mito de Ícarus e assim a possibilidade do final trágico.

Em relação ao recente acidente aéreo de Congonhas, podemos dizer que ele nada mais é do que uma fatalidade prevista desde a antiguidade grega através do mito de Ícarus, o mito do homem que pode voar. O que nós temos que entender é que os aviões continuarão sempre a voar, e alguns, a cair. O máximo que podemos fazer é evitar ao máximo que isso aconteça, aprendendo com os acidentes aéreos, investigando-os, corrigindo-os e sempre buscando e investindo em inovações que gerem mais segurança, juntamente com os investimentos necessários para a contínua evolução do setor. E essas medidas de segurança, no caso do acidente de Congonhas, passam pela proibição de pouso e decolagem de aeronaves de grande porte em tal aeroporto pois, se o mito de Ícarus nos diz que não podemos sonhar, como ele sonhou, com aviões que não caiam, podemos ao menos evitar que eles caiam sobre nossas cabeças, que caiam no meio da cidade. Qualquer medida que se tome que não passe por essa proibição, nunca será uma medida que levará em conta a totalidade da segurança na aviação em São Paulo e toda região metropolitana.


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Tintim, o Repórter, e o vôo 3054 para Congonhas

São Paulo, 3 de Agosto de 2007

O título da matéria que se apresenta é uma paródia de uma estória do tradicional personagem do escritor francês Hergé, Tintim, o Repórter, na aventura intitulada "Vôo 714 para Sidnei". Nesta estória, Tintim e os seus amigos, o Capitão Haddock, o Professor Girassol e seu inseparável cãozinho Milu, estão indo à um congresso em Sidnei. Numa conexão do vôo para Sidnei no aeroporto de Jacarta, o herói encontra um velho amigo, o Comandante Szut, que é piloto do jato particular do milionário Laszlo Carreidas (que é um fabricante de aviões). Carreidas, que também estava indo para o congresso em Sidnei, acaba convidando Tintim e seus amigos para finalizarem a viagem a bordo do seu jato particular, e este é o começo da aventura de Tintim e sua turma, quando o avião do milionário é sequestrado durante o vôo por um velho inimigo do jovem repórter, o vilão Roberto Rastapopoulos, que objetivava roubar o dinheiro do milionário Carreidas. Segue-se abaixo um pequeno trecho da estória, quando o avião sequestrado de Carreidas faz um pouso de risco em uma pista improvisada numa ilha remota da Polinésia. A situação desse pouso mostra diversas semelhanças com a tragédia do vôo 3054 que sofreu fatal acidente durante o pouso no aeroporto de Congonhas em São Paulo, além de apresentar uma lógica inversa e ao mesmo tempo igual ao pouso do jato particular de Carreidas, como veremos adiante.

Tintim e o Vôo 714 para Sidnei

A primeira semelhança do pouso do jato de Carreidas com o pouso do Airbus da TAM é o fato de um jato estar pousando numa pista curta, no caso da estória em questão, uma pista proporcionalmente mais curta ainda do que a pista de Congonhas em relação ao Airbus da TAM. Em ambos os casos a semelhança fica no fato de ambos os aviões estarem pousando numa pista mais curta que o ideal.

Para pousar nesta pista curta, vimos que o piloto do jato de Carreidas utilizou todos os dispositivos que o avião possuia no intuito de parar a aeronave: utilizou os flaps, um dispositivo de freio aerodinâmico; utilizou um pára-quedas; o inverso da turbina e por fim, os freios das rodas. Assim como o jato de Carreidas, com excessão do pára-quedas, o Airbus da TAM possuia os mesmos dispositivos de frenagem, porém, até onde se sabe, somente o freio funcionou e tardiamente ainda. O piloto não possuia um dos inversos das turbinas, e os flaps não funcionaram. Segundo as últimas hipóteses dessa tragédia, tais fatos aconteceram devido a um fator que fica na berlinda entre ser uma falha do piloto e/ou uma falha da aeronave, pois isto teria acontecido devido a um manete que controla a aceleração da aeronave não estar na posição correta durante o pouso (no caso, são dois manetes, uma para cada turdina, o manete direito estaria na posição errada, de aceleração, talvez por isso o avião teria saido da pista pela esquerda), nesse caso os sistemas computadorizados da aeronave não teriam recebido os devidos comandos para freiar o avião, e este continuou acelerando após o pouso. Devido a este comando errado, o piloto não pode contar com os dispositivos de frenagem a tempo de parar o Airbus antes do fim da pista de Congonhas, ocasionando a tragédia. Porém, a dúvida que fica, e talvez permaneça para sempre, no fato do manete estar na posição errada ser fruto de erro do piloto ou fruto de um "encaixe mal feito" do próprio manete, que poderia parecer ao piloto estar na posição correta, mas que de fato não estaria, e isso constituiria uma falha da aeronave. Será dificil saber qual de fato foi o fator decisivo pois os dados da caixa-preta não poderão dizer se o manete estava na posição errada ou somente mal encaixado. E não podemos esquecer que o pouso foi feito numa pista molhada, comprovadamente propensa a apresentar aquaplanagem e ainda não possuia grooving, ranhuras que visam diminuir a lisura e evitar derrapagens na pista molhada, fatores que não podem ser deixados de lado nas hipóteses das causas deste terrível acidente.

Voltando a estória de Tintim, vimos que mesmo o piloto se valendo de todos recursos de frenagem do avião, este somente parou ao fim da pista pois esta contava com um dispositivo para segurar o avião: uma especie de rede com cabos que "laçou" e segurou o avião. Embora possa parecer absurdo tal sistema, ele não é irreal, vale colocar que os porta-aviões militares contam com um sistema parecido para frear os aviões no pouso, onde um gancho no avião é preso a um cabo no navio durante o pouso na curtíssima pista dos porta-aviões. Óbviamente seria dificil conceber um sistema parecido para uma aeronave do porte de um Airbus, porém o fato é que no caso do pouso do jato de Carreidas, existia um dispositivo no fim da pista para evitar o desastre da aeronave, ao passo que em Congonhas, ao fim da pista está a cidade de São Paulo. Como vimos, o piloto do avião de Carreidas pôde contar com todos os dispositivos de frenagem da aeronave e o piloto do Airbus da Tam não. E porque não? A resposta a esta questão é que nos mostra a verdadeira faceta dessa tragédia, e a inversa lógica do pouso do Airbus da Tam ao jato de Carreidas.

Vale dizer que em primeiro lugar vem a irresponsabilidade de se permitir que aeronaves de grande porte pousem numa pista curta como a de Congonhas, que não foi concebida para tais aviões, onde o perigo aumenta ainda mais quando ela está molhada. Para ilustrar bem isto vale a colocação de um piloto de uma grande empresa aérea que declarou: "pousar em Congonhas é como pousar num porta-aviões", e também a recusa dos pilotos a pousar em Congonhas com a pista molhada após essa tragédia. Se eles se recusam a pousar agora porque não se recusavam antes?

Em seguida temos o fato do Airbus da TAM estar em operação com um dos dispositivos de frenagem desativado (ou pinado como dizem os técnicos), o reverso da turbina. O piloto então, não teve todos os dispotivos de frenagem a sua disposição. Porém, segundo os especialistas, é perfeitamente seguro pousar uma aeronave do porte de um Airbus sem o reverso mesmo numa pista curta e molhada como a de Congonhas. Isso é um fato, porém um fato que está atrelado ao fato de tudo ocorrer como o previsto durante uma operação de pouso, mas e quando as coisas não acontecem como o previsto? É possível se prever quando será necessário se utilizar algum recurso extra de frenagem? E se o avião durante o seu curso necessitar fazer um pouso de emergência numa pista curta onde seria necessário o reverso? Enfim, é óbvio que se existem diversos dispositivos de freio em um avião é porque eles são necessários, e é óbvio que estes recursos devem estar a disposição do piloto sempre, sem excessão. É tão óbvio que após a tragédia a própria TAM proibiu seus aviões de voarem sem o reverso, e porque não o fez antes?

Outro fato que, embora não esteja ligado técnicamente com essa tragédia, é um fato que demonstra a lógica que está por detrás dessa tragédia. Alguns dias após o acidente em Congonhas, a ANAC - Associação Nacional de Aviação Civil - baixou uma portaria proibindo a venda de passagens aéreas a partir do aeroporto de Congonhas. Por que ela o teria feito? Seria pelo fato de, mesmo o aeroporto estar sofrendo interdições e vôos cancelados ou remanejados, as companhias aéreas continuariam emitindo passagens a partir de tal aeroporto? Para responder a essa questão, entrevistamos T.G. uma funcionária de uma grande empresa estatal que é emissora de passagens aéreas em São Paulo, que não quis se identificar. Perguntamos a T.G. como estava a venda de passagens aéreas em Congonhas após a tragédia do vôo da TAM, e ela nos disse que estava "normal", e colocou que as vendas só cessaram após a portaria da ANAC. Perguntamos porque as companias continuavam a emitir passagens mesmo com o aeroporto interditado e a impossibilidade dos passageiros embarcarem, ela nos disse que isso não é uma questão da empresa, e sim do governo, a empresa cabe disponiblizar seus vôos e passagens, a interdição do aeroporto é um problema "das autoridades", como colocou T.G. Perguntamos como ficam os passageiros nesse caso, quando compram uma passagem e não conseguem embarcar, T.G. nos disse que o fato do passageiro não embarcar não importa, pois ele pode remarcar o vôo para outro horário ou data, ou mesmo transferir a sua passagem para outro vôo em outro aeroporto, ou por fim, trocá-la por milhagens aéreas da compania. T.G. ainda enfatizou que uma vez vendida a passagem, a empresa não devolve o dinheiro para o passageiro mesmo que este não tenha embarcado e queira, em função disso, deixar de viajar. Sobre o acidente da TAM, T.G. ainda declarou que "a culpa é das empresas aéreas que não estão nem aí para a segurança só pensam no lucro e do governo que fecha os olhos para o problema, é cúmplice delas". T.G afirma que trabalha sobrecarregada, que isto é uma caraterística do meio, e tal lógica se repete em relação a pilotos, controladores de vôos e outros funcionários ligados à aviação. T.G. ainda afirma que um parente seu, funcionário da TAM, também partilha das mesmas opiniões e trabalha sobrecarregado, este funcionário trabalhava no prédio de cargas da TAM onde o Airbus caiu, por sorte ele não estava em seu turno de trabalho no momento da tragédia. Fica simples entender a lógica das empresas: vender passagens aéreas e lucrar com isso, os problemas de infra-estrutura são do governo e não das empresas. Estas, mesmo diante da crise, continuam a vender suas passagens normalmente, sem se importar com o fato de ser possível ou não o passageiro embarcar, afinal a passagem vendida é um dinheiro garantido na conta da empresa, diante da impossibilidade do passageiro em obter o dinheiro de volta.

A conclusão de tudo é muito simples: a lógica das empresas aéreas é o lucro, para obter lucro precisam disponibilizar vôos e vender passagens no maior número possível (assim como lucrar no transporte de cargas), para chegar a esse maior número possível deixam de lado itens dispendiosos como a manutenção de aeronaves e a utilização somente de aeroportos seguros, usurpando o uso dos espaços aéreos e de toda sua infra-estrutura, submetendo pilotos e passageiros a situações de risco, que doravante se tornam tragédias como a de Congonhas e, lógico, dentro deste cenário está o governo, que não se sabe se é ineficiente ou conivente para evitar a barbárie capitalista. Enfim, ao contrário do avião de Carreidas, onde o vilão Rastapopoulos fez de tudo para que ele parasse na pista afim de roubar o dinheiro do milionário, a busca do lucro e o descaso com a segurança da empresa aérea TAM e das autoridades do setor aéreo fez com que o Airbus não conseguisse parar antes do fim da pista de Congonhas, matando 199 pessoas. A busca do capital a qualquer preço é a semelhança que une a estória de Tintim à história das pessoas que deixaram a vida nesta tragédia que, infelizmente, não teve o final feliz como tiveram Tintim e seus companheiros.


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Opinião

São Paulo, 24 de julho de 2007

No Brasil do Pan, da TAM: queimou o filme!

Terça-feira, dia 17 de julho de 2007, um dia que poderia marcar o início da arrancada brasileira nos Jogos Pan-Americanos do Rio de Janeiro para a sua melhor participação histórica na "Olimpíada das Américas", o dia que até o momento, marcou o melhor desempenho do Brasil nos jogos com a conquista de seis medalhas de ouro - duas na natação e quatro na ginástica olímpica - levando o Brasil ao terceiro lugar no quadro geral de medalhas à frente da Colômbia e Canadá e atrás dos Estados Unidos e Cuba. Porém o dia que deveria ser de glória se transformou num dia de tragédia. Tragédia que veio na forma do maior acidente aéreo da história do país.

Enquanto os atletas das Américas buscavam a glória no Rio de Janeiro, em São Paulo, em meio a "garoa paulistana", um avião da empresa aérea TAM (Airbus A320), saído de Porto Alegre com 170 passageiros e seis tripulantes, derrapou na aterrisagem, transpassou a cabeceira da pista do aeroporto de Congonhas projetando-se oitenta metros por sobre a avenida Washington Luis, espatifando-se num galpão da própria TAM matando um número ainda incerto de funcionários da empresa que lá trabalhavam - uma ironia do destino que ainda apresenta outra faceta: o último acidente de grandes proporções em Congonhas, alguns anos atrás, fora com outro jato da TAM (Fokker 100) que caiu na decolagem, outro acidente fatal que vitimou todos a bordo.
Em meio ao resgate dos corpos que ainda se faz acontecer, as especulações das causas do acidente já ganham espaço em toda mídia, nacional e internacional. Enquanto os canais de esporte ainda insistiam no sorriso de seus apresentadores pela gloriosa jornada brasileira no Pan, canais de noticias do mundo inteiro veiculavam a tragédia aérea brasileira, um triste e vergonhoso antagonismo que mostra a cara do Brasil. A primeira hipótese que veio à tona para explicar o acidente foi a liberação prematura da pista do aeroporto de Congonhas, recém reformada. As primeiras informações dão conta de que o asfalto não teria recebido uma última camada com "ranhuras" que visam justamente, evitar derrapagens dos aviões nas aterrisagens. Uma tragédia anunciada: na véspera do acidente fatal um bimotor derrapara na aterrisagem nesta mesma pista, o acidente não ocasionou vítimas fatais, mas era um prelúdio que anunciava o que estava por vir, o aeroporto porém, continuou funcionando normalmente. Como hipótese secundária dentro deste trágico cenário está a crise aérea brasileira, que há menos de um ano assistiu outro acidente aéreo fatal onde um avião da empresa aérea Gol chocou-se no ar com um pequeno jato comercial e caiu na selva amazônica com mais de 140 vítimas fatais.

O cenário da crise aérea - que após a tragédia da Gol iniciou uma onda de problemas na aviação brasileira, recheada de greves, atrasos e cancelamentos do vôos e congestionamentos nos aeroportos - lança novas e sinistras hipóteses sobre o presente acidente e a realização dos Jogos Pan-Americanos do Rio de Janeiro. Assim, uma pergunta paira no ar: até que ponto, dentro de um cenário de uma viação aérea congestionada como era o cenário brasileiro às vésperas do Pan, e a liberação prematura de uma pista num dos aeroportos mais movimentados do país, não foi feita para que se evitassem novos congestionamentos nos aeroportos num país que estaria recebendo vôos com atletas e jornalistas de toda a América? Até que ponto a sujeira da crise aérea brasileira não foi jogada para debaixo do tapete para que o país mantivesse uma imagem de modernidade em sua infra-estrutura de transportes sob os olhos do mundo quando as atenções se voltavam para a capacidade brasileira em participar da elite mundial que banca eventos do vulto de um Pan-Americano? São perguntas que clamam por respostas num país que quer solução para o "apagão aéreo" e pretende ainda sediar uma Copa do Mundo.

Fontes: Rede Record, Rede Globo, Band, Band News, CNN, CNN Español, Google Earth, UOL Notícias

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Resenha
Internet para relações públicas e vice-versa

Resenha do livro Relações públicas na Internet, de J.B. Pinho (São Paulo: Summus, 2004. 215p.).
Disponível em formato Acrobat

J. B. PINHO É UM AUTOR DE DIVERSAS OBRAS LIGADAS À INTERNET e comunicação, principalmente na área de publicidade e relações públicas. Dentre várias, vale destacar os títulos Jornalismo na Internet, O poder das marcas e Publicidade e vendas na Internet. Em Relações públicas na Internet, Pinho busca mostrar de maneira simples e objetiva todos os recursos da grande rede que podem e devem ser utilizados pelos profissionais das relações públicas para um melhor desempenho de suas funções, ou seja, um melhor feedback do profissional dessa área com os seus públicos-alvos, internos ou externos à empresa onde trabalha ou faz algum tipo de consultoria.

O livro é dividido em três partes: na primeira, introdutória, o autor nos traz um aparato geral da profissão e do profissional de relações públicas e também faz uma introdução geral sobre a Internet e seu ferramental.

RP na Internet

Trata-se de uma parte interessante como referência e consulta a alguns fatos ligados à história das relações públicas à chegada da Internet no Brasil.

Em seguida, Pinho começa uma série de narrativas a respeito da grande rede e de seus mais variados recursos, introduzindo e explicando diversos conceitos, dos mais simples aos mais avançados, tais como correio eletrônico, FTP, Chat e Telnet, entre outros. De maneira objetiva, o texto busca desmistificar alguns recursos que são pouco utilizados pelos profissionais de RP e que podem auxiliá-los no desempenho de suas funções, multiplicando e agregando novas formas e canais de comunicação ao profissional para que ele possa ser mais produtivo e eficiente.

Neste passeio pelos recursos da grande rede, vale destacar algumas informações importantes, como, por exemplo, a definição dos profissionais e tecnologias disponíveis na web e nas redes corporativas das empresas, os recursos de Intranet e Extranet (além da própria Internet) e o valor que essas pessoas/tecnologias podem agregar ao profissional que queira ir além do simples e-mail para se comunicar com seus públicos-alvos a partir da grande rede.

Já a terceira parte do livro é voltada mais diretamente ao profissional de relações públicas, onde Pinho nos conta como desenvolver relações – via web – com os diversos públicos das empresas: mídia, imprensa, consumidores, funcionários, investidores, comunidades, governo, legisladores; discute ainda sobre como a empresa pode usar a Internet em situações de crise. Nesta parte, o autor nos traz diversos casos que demonstram de forma prática como se dá o uso da web para a comunicação e para as várias situações citadas acima, o que, além de interessante, serve de referência para qualquer profissional de RP e de comunicação de um modo geral.

Para finalizar, o livro ainda conta com um glossário bastante abrangente de termos da Internet e da computação, onde se explica os significados de cada um, situação útil para consulta e referência profissional sobre Internet e computadores de um modo geral.

Além da vivência própria do autor, seu conhecimento sobre a web e sua formação em comunicação, Pinho nos traz uma série de referências, citações e exemplos que demonstram a importância da Internet como ferramenta para qualquer profissional da área da comunicação. Com este livro, fica claro que é também essencial aos profissionais de relações públicas.

O livro é de fácil e rápida leitura, com uma linguagem coloquial para permitir o acesso do público mais leigo no assunto, mas o conjunto total de suas informações nos traz um conteúdo que vai muito além do que está escrito, pois ele abre as portas da grande rede e esta, como o próprio autor nos coloca, não tem fronteiras e nem limites.


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Artigo
A Sala de Aula do Futuro

São Paulo, 01 de abril de 2003

Resumo: O presente artigo busca traçar um panorama futuro do relacionamento professor-aluno dentro da sala de aula com o uso da tecnologia e da Internet do futuro.
Palavras-Chave: professor, aluno, sala de aula, futuro, tecnologia, Internet 2, mundo digital.

Resumen: En el presente artículo se busca trazar un panorama futuro de la relación profesor-alumno en el ambiente de una clase con el uso de la tecnología y de la Internet del futuro.
Palabras Clave: profesor, pupila, sala de clase, futuro, tecnología, Internet 2, mundo digital.

Abstract: The present article searchs to inside trace a future panorama of the relationship professor-pupil in the classroom with the use of the technology and the Internet of the future.
Keywords: teacher, pupil, classroom, future, technology, Internet 2, digital world.

Introdução

Imaginemos um cenário tecnológico de um futuro que cada vez se aproxima mais, onde todas as tecnologias que conhecemos hoje – no ano de 2003 – estejam completamente desenvolvidas, aprimoradas e o mais importante: totalmente integradas. Neste futuro, o mundo tecnológico será totalmente moldado por cenários digitais abrangendo a sociedade e as instituições como um todo, e dentro deste todo estão as instituições de ensino. Aumentando um pouco mais o foco, chegamos à sala de aula que, até hoje, tem sido o principal palco da troca ou repasse de conhecimentos entre as gerações. A relação docente-discente, embora cercada de diversos aparatos, ainda é a melhor e principal maneira de disseminar o conhecimento dentro de qualquer tipo de escola. Por mais que no futuro as tecnologias venham a permitir que a relação entre docente e discente seja menos prioritária, ela ainda será essencial para cursos do ensino fundamental, médio e de graduação. Porém, com certeza, o avanço dessas tecnologias existentes hoje, muitas ainda embrionárias, terão um grande impacto sobre a relação professor/aluno e vice-versa. Vamos tentar analisar um pouco do que essas novas tecnologias poderão trazer de positivo nessa relação.

O presente artigo não quer tentar “prever” quando as tecnologias que aqui serão abordadas estarão realmente à disposição dos professores e alunos dentro da sala de aula, mas há razões para se acreditar que elas estarão presentes no ensino, seja de graduação, seja o fundamental ou o ensino médio, muito antes do que podemos imaginar.

As tecnologias de hoje e o futuro

Para podermos entender como será a relação entre professor-aluno na sala de aula do futuro, precisamos antes entender o modo como lidaremos com as atuais tecnologias no futuro.
Internet: a nossa futura relação com a Internet será muito mais abrangente que hoje, ela reunirá de uma forma muito ampla e interativa praticamente todas as mídias hoje existentes, tais como a televisão, o rádio e outras. As conexões com a rede mundial serão algo muito corriqueiro, não precisaremos mais nos preocupar com modems, linhas telefônicas, drivers de instalação e protocolos de conexão. Conectar um computador e diversos aparelhos eletrônicos à Internet, será como ligar um secador de cabelos na tomada, e pronto, ele já estará acessando a rede mundial. Quando nos referimos a aparelhos eletrônicos, estamos pensando nos mais diversos eletrodomésticos, tais como geladeira, microondas, televisão, DVD e muitos outros, além dos próprios computadores. No futuro, todos os aparelhos serão equipados com poderosos chips e uma vasta memória. Serão, provavelmente, mais poderosos que os microcomputadores que usamos hoje. Esses aparelhos terão conexão com a rede mundial e diversas funções avançadas, de modo que poderemos, por exemplo, programar a geladeira para comprar leite on-delivery na padaria via-internet assim que ele estiver acabando. Poderemos programar remotamente os nossos DVDs para que gravem um programa que será exibido ao vivo, além de muitas outras funções que não cabe aqui ficarmos especulando. A Internet será toda interligada por cabos de fibra ótica, com uma largura de banda enorme, o que possibilitará trafegar informações nunca antes imaginadas, dentre elas, o vídeo de alta-resolução[1].

Poderemos assistir, via Internet, filmes com qualidade de cinema, programas transmitidos com tecnologia 100% digital em real-time[2], algo que nas conexões atuais, baseadas no padrão ADSL/ISDN[3], é totalmente inviável. Essa “nova” Internet, baseada na fibra ótica, já está em implementação em nossos dias, sendo chamada de Internet 2, e já está interligando diversos provedores nos Estados Unidos e Europa. É apenas uma questão de tempo para que ela comece a se expandir ao redor do mundo e alcance nossos lares, escolas e até às nossas casas de praia.

Cartões magnéticos, papel-moeda, celular e palms: uma outra tecnologia que ainda irá crescer muito será a dos palm-tops, ou simplesmente palms, também conhecidos como micros de bolso. Os palms hoje em dia são utilizados, basicamente, como agenda, catálogo de endereço e bloco de notas. Os modelos mais avançados possuem alguns aplicativos de texto, planilhas e conexão com a Internet. No futuro, esses pequenos aparelhos irão crescer muito no que tange à tecnologia e ao seu uso cotidiano pelas pessoas. Os palms irão englobar praticamente tudo que carregamos nos bolsos, muitos também funcionarão como telefone celular, mas a função principal que irá alavancar de vez os palms como ferramenta indispensável para as pessoas será a substituição do papel-moeda pelo bits-moeda[4]. Hoje, a maior parte do dinheiro existente no mundo só existe na forma digital – apenas números contidos em bancos de dados nos computadores das instituições financeiras. Não será de se estranhar que, num futuro bem próximo, iremos também lidar com o dinheiro na forma digital. Os palms serão, além de nossa agenda e celular, a nossa carteira, irão conter todos os nossos cartões de banco, crédito, farmácia, clubes e, também, o nosso dinheiro. Para pagarmos uma conta ou comprarmos um produto, bastará transferir o dinheiro digital de nossos palms para a conta do credor. A possibilidade de sermos “roubados virtualmente” será praticamente nula, pois os nossos palms serão protegidos por senhas e poderosos sistemas de criptografia tais que, somente seu dono terá a chave para acessar os dados nele contido. Essa chave poderá ser na forma de dígitos, de assinatura digital (utilizando uma caneta ótica), ou mesmo através das nossas impressões digitais (utilizando um monitor touch-screen[5]). Mais que tudo isso, a capacidade de armazenamento de dados dos palms será imensa: neles poderemos ter inúmeros documentos, fotografias e arquivos diversos armazenados, eles poderão se conectar à Internet e/ou à outros computadores através de um único cabo ou mesmo por uma conexão wireless[6], assim como os celulares de hoje que possuem acesso à Internet. Porém o acesso dos palms também será de banda larga, com uma capacidade de transmissão semelhante à de qualquer computador. Esses palms provavelmente também poderão transmitir imagens em alta resolução, bater fotos e fazer filmes digitais. Dependendo do modelo, os palms poderão conter praticamente tudo que encontramos nos micros convencionais atualmente.

Telefonia: à medida em que a Internet 2 for avançando e ficando acessível a grandes massas, veremos a substituição (pelo menos parcial) do telefone convencional pelo videofone. Já falamos que a Internet 2 terá capacidade de transmissão de vídeo em alta-resolução e, também, é claro, transmitirá o som (como já acontece hoje em dia) com qualidade muito boa. Será natural, então, que as linhas convencionais de telefone sejam substituídas pelas de fibra ótica e as ligações de voz sejam acompanhadas da imagem. Hoje em dia, tal tecnologia já existe, é a chamada videoconferência. Uma videoconferência possibilita a transmissão de imagem via Web utilizando-se uma pequena câmera – a webcam. Se dois micros estão conectados remotamente e equipados com webcams, podem trocar imagens e sons. A diferença entre o que temos disponível hoje e o que teremos no futuro será, além de uma melhor qualidade na transmissão de imagem, será a abrangência desse serviço, tão fácil de se usar quanto usar o telefone hoje em dia.

Enfim, os Computadores: se a Internet, os nossos micros de bolso e os telefones se tornarão muito mais avançados e dinâmicos, o que dizer dos computadores? Talvez eles nem mais existam na forma como existem hoje. Imagino que a parte principal do nosso computador de casa estará embutida atrás de alguma parede e teremos diversos terminais espalhados pela casa, com múltiplas funções. Com certeza teremos no mínimo um terminal com um teclado e monitor para trabalharmos. Nesse terminal, bastará apertar um botão e, em questão de milionésimos de segundo, o sistema já estará pronto na tela para ser operado, como na TV hoje em dia - afinal não precisamos esperar a TV “carregar”, basta ligá-la que a imagem já aparece. Mais um clique, a entrada de uma chave de segurança, outro milionésimo de segundo e já se estará na Internet. Ainda teremos diversos outros terminais pela casa: em nossa TV, no rádio, na geladeira, talvez um telão no quarto das crianças, um terminal dedicado apenas para jogos, mas que, com apenas alguns comandos, torna-se uma poderosa ferramenta de trabalho. Provavelmente todos os eletrodomésticos serão providos de chips e conexões com a CPU[7] central da casa e, por conseqüência, estarão também conectados à Internet. Talvez você tenha uma sala de TV com um telão onde assistirá filmes e programas que estarão disponíveis na rede mundial. Você poderá receber um aviso na tela que alguém está lhe chamando pelo videofone e, estando perfeitamente acomodado em sua poltrona, você não quer caminhar até seu aparelho de videofone que está na sala ao lado. Com um comando, que poderá até mesmo ser através da sua voz, você atende a chamada ali mesmo no telão de sua TV, porém nesta sala não há câmeras, então o interlocutor de sua chamada não terá como ver a sua imagem. O micro de sua casa perceberá isso e substituirá a imagem que deveria vir de seu videofone por outra imagem sua previamente armazenada. Mais do que um poderoso equipamento, o computador do futuro será cada vez mais poderoso em inteligência e processamento de dados, já que, em termos de software, não há limite para o que se pode fazer.

O que foi descrito acima é apenas um exemplo de como os computadores estarão presentes em nossa vida. Protótipos de casas e escritórios inteligentes já existem, e alguns já estão até mesmo sendo implementados, mas há ainda muita coisa por vir. Ainda precisamos de hardwares e softwares mais potentes e baratos, para chegarmos perto e depois, ir além do cenário descrito acima. Acreditamos, porém, que tudo isso, um dia, será realidade. É apenas uma questão de tempo para que esse mundo digital venha à tona e, temos certeza, isso não será algo que apenas nossos netos irão vivenciar, espero em breve poder falar no videofone, fazer compras utilizando um micro de bolso e assistir filmes em alta resolução sem ter que sair de casa para ir ao cinema ou mesmo à locadora, e como professor, dar aulas na sala de aula do futuro.

As salas de aula do futuro no presente

Nos dias de hoje, já existem muitas salas de aula que utilizam tecnologia de ponta no ensino, como por exemplo, a intitulada Sala de Aula do Futuro, da Universidade Paulista -UNIP. Nessa sala de aula, alunos e professores contam com cerca de 30 microcomputadores conectados em rede através de um servidor próprio com acesso à Internet. A sala possui um telão com projetor próprio (que pode ser conectado a qualquer microcomputador da sala, funcionando também como datashow) e está equipada para conferência interativa. O professor possui também um recurso de rede, com o qual ele pode controlar os microcomputadores dos alunos, de modo que estes só podem ver em seus monitores, o que se passa no monitor do micro do professor - uma maneira de prender a atenção dos alunos ou, no mínimo, evitar que eles se dispersem da aula navegando na Internet.

Com o servidor, os alunos podem simular o trabalho com configuração de servidores Web, conexões remotas e trabalho em rede, muito utilizado nos cursos ligados à área da Informática que são ministrados pela Universidade. Com o equipamento de conferência, os alunos podem assistir a palestras/conferências e/ou aulas transmitidas via Internet ou via satélite. Um pequeno aparelho conectado a cada microcomputador da sala permite ao aluno interagir com o professor/palestrante, chamando sua atenção e formulando perguntas. No caso de teleconferência, a interação pode ser com transmissão de voz: o aluno utiliza um fone para formular a pergunta que é transmitida, via Internet, para o local de onde está sendo gerada a teleconferência, ou mesmo por telefone, fax e e-mail. Se a conferência for via Internet, é utilizado o e-mail para interação com o palestrante ou mesmo uma sala de chat na Web[8]. Em ambos os casos, quem está na sala de aula pode assistir e interagir com um professor/palestrante, que pode estar em qualquer ponto do planeta.

Uma outra sala de aula futurística, também ligada á mesma Instituição, só que atendendo ao ensino médio – o Colégio Objetivo – traz para seus alunos e professores o recurso de imagem em três dimensões[9]. A sala de aula, montada sobre um caminhão, possui recursos semelhantes aos simuladores de vôo utilizados para treino de pilotos de avião, com pistões e válvulas hidráulicas. Dentro do caminhão, espelhos, luzes, um telão conectado a um computador e diversos óculos 3D (semelhantes àqueles utilizados no cinema). Tal tecnologia permite ao professor exibir vídeos em 3 dimensões para os alunos, aliados aos efeitos físicos que o simulador montado no caminhão permite. Desse modo, o professor pode passar um vídeo que retrate a força de atrito de um carro em uma curva e demonstrá-la fisicamente aos alunos – excelente para as aulas de física.

No Colégio Dante Alighieri, em São Paulo, salas de aula estão sendo equipadas com lousas digitais – uma tela com recurso touch-screen. O professor escreve na lousa com uma caneta ótica, como se faria com o giz no quadro negro. Esta lousa digital é comandada por um computador conectado em rede aos computadores dos alunos. Essa rede permite aos alunos salvarem as anotações do professor em seus micros e, a este, visualizar o que se passa nos micros dos alunos. A lousa digital também serve como data-show, já que permite ao professor exibir qualquer recurso de seu micro ou de seus alunos, tais como vídeos, Internet ou uma simples apresentação de slides.

Em experiência inédita no Brasil, a FUNDACENTRO – Fundação Jorge Duprat Figueiredo de Segurança, Saúde e Medicina no Trabalho, realizou, no ano de 2002, os primeiros cursos utilizando Teleconferência Interativa – via satélite – com um sistema de avaliação on-line. Tal tecnologia permitiu a FUNDACENTRO reciclar trabalhadores por diversas unidades descentralizadas em todo o país. Um aparelho parecido com um controle remoto permite ao aluno responder questões feitas pelo professor e este receber as respostas dos alunos imediatamente. O projeto, realizado de forma experimental, foi amplamente aprovado, esperando-se que em 2003, seja mantido pela Instituição.

Podemos constatar que as tecnologias que serão utilizadas nas salas de aula do futuro já estão sendo disseminadas pelas escolas e instituições de ensino, embora ainda num estado primário se comparado com o que veremos mais adiante. Porém, desde já, essas novas pedagogias baseadas em um ensino fundamentado pela tecnologia formam a base do que teremos à disposição quando as tecnologias descritas neste artigo estiverem ao alcance, se não de todos, da grande maioria dos estudantes no Brasil e no mundo.

Hoje já são comuns professores que lançam mão de computador (com seus mais diversos softwares e aplicativos), videocassete/DVD, datashow, pesquisa na Internet e diversos outros aparatos tecnológicos para fundamentarem seus cursos e formar a sua didática. Cursos e treinamentos à distância estão sendo largamente implementados para ampliar o alcance do ensino, vencendo as barreiras geográficas e também, o que é muito importante, para atualização dos professores, alunos e profissionais em suas áreas de atuação. A grande diferença que separa as inovações atuais e o futuro, além da própria evolução tecnológica, é a sua abrangência. Atualmente, no Brasil, temos em média, uma sala de aula equipada com computadores e Internet para cada 1000 salas comuns, com carteiras, giz e lousa. Se focarmos apenas o ensino de graduação e pós-graduação esse número aumenta para a relação de 1/300 em média, enquanto nos países de primeiro mundo, esses números variam entre 1/50 e 1/80. No futuro, imagina-se que a relação irá se inverter, ou seja, a maior parte das salas de aula serão equipadas com computadores e Internet, enquanto as salas comuns serão minoria, embora ainda úteis, pois por mais avançada que seja a tecnologia, sempre haverá situações em que o ensino tradicional será utilizado – como numa aula onde o professor pede aos alunos para formarem um circulo com suas carteiras a fim de debater um determinado assunto. Assim como toda tecnologia que surge em substituição a outra, diz-se que a tecnologia anterior sucumbe frente à inovação, mas na prática isso nunca acontece: as novas tecnologias sempre surgem agregando valor às suas antecessoras. Do mesmo modo, a sala de aula do futuro não acabará com as técnicas de ensino que conhecemos hoje, mas possibilitará um ensino com uma qualidade e disseminação muito maior.

A sala de aula do futuro

A sala de aula do futuro será um local onde alunos e professores poderão contar com um imenso aparato tecnológico que irá facilitar muito a comunicação e interação no seu relacionamento. A sala de aula será totalmente informatizada, alunos e professores terão um microcomputador cada, equipados com monitor touch-screen (que poderá se alternar entre as posições horizontal e vertical), caneta ótica, câmera embutida, além de mouse e teclado. A sala do futuro, como hoje em dia, terá os mais diversos periféricos imagináveis, tais como scanners, projetores 3D, impressoras etc, além de outros equipamentos inimagináveis ao nosso cenário tecnológico atual. A sala também contará com uma lousa digital, que estará ligada aos computadores do professor e dos alunos – o professor terá pleno controle sobre a lousa e os computadores dos alunos, de modo que nenhum aluno poderá interferir nas informações dispostas na lousa digital a não ser mediante a permissão do professor. Essa lousa digital, assim como todos os computadores da sala, terá conexão de banda larga com a Internet. Ela possuirá uma câmera própria, que poderá focalizar toda a classe. Essa lousa terá a capacidade de exibir imagens em alta resolução e qualquer informação que esteja disponível no micro do professor (e dos alunos também), poderá se escrever na lousa através do computador ou mesmo utilizando-se de uma caneta ótica (o giz do futuro), colocando ou acrescentando comentários diretamente sobre a tela da lousa. O que fará todos esses equipamentos serem realmente eficazes, será um conjunto de poderosos softwares, imensos bancos de dados, diversos sistemas de pesquisas com filtros inteligentes e uma excelente conexão com a Internet - o principal meio de comunicação do futuro - que fornecerá arquivos de texto, programação televisiva, filmes digitais e será o principal vetor da revolução na didática utilizada pelo professor na sala de aula e na maneira como os alunos irão aprender.

A aula na sala de aula do futuro

A primeira grande facilidade que a sala de aula do futuro trará será no transporte das informações que irão compor a aula, tanto por parte do professor, quanto dos alunos. O professor poderá preparar uma aula em sua casa e acessar o arquivo dessa aula através da Internet, que o conectará da sala de aula diretamente ao computador de sua casa mediante uma senha. Tanto o professor quanto os alunos poderão acessar seu material de aula armazenado em computadores remotos aos quais tenham acesso ou poderão carregar tais informações em seus palms, que serão facilmente conectáveis aos computadores na sala de aula. Não haverá mais necessidade de disquetes, CDs ou fitas, toda informação poderá ser acessada via Internet em um piscar de olhos, mas, se o professor precisar exibir um filme que esteja gravado em uma fita VHS, por exemplo, ele o fará facilmente, bastando conectar um videocassete a um terminal onde ele tenha acesso via Internet, seja em casa, na instituição de ensino ou mesmo na casa de um amigo.

O professor poderá usar, em sua aula, diversas informações disponíveis na Internet, tais como apresentações, esquemas virtuais, textos, sons e vídeos, que podem estar armazenados em qualquer parte da rede ou computador remoto a que tenha acesso. No caso da exibição de filmes e documentários, o professor poderá utilizar um vasto material que estará à disposição na Internet através de bancos de dados de vídeo-on-demand[10], verdadeiras locadoras virtuais que disponibilizarão desde clássicos do cinema até o último programa veiculado na Web. O uso desse tipo de material irá transpor a sua simples exibição, onde professores e alunos poderão interagir com as apresentações, acrescentando informações às imagens, sejam comentários gravados, sejam anotações feitas na lousa; os alunos também poderão dispor dos mesmos recursos em seus computadores e, se for pertinente, poderão também, através de seu computador, acrescentar informações à lousa.

Outra grande facilidade que a sala trará, será a comunicação entre diversas entidades e empresas diretamente com a sala de aula. Os equipamentos descritos no tópico anterior, somados à poderosa conexão com Internet, farão de uma conferência algo muito simples: afinal ela poderá ser feita através do videofone. Não existirão mais modalidades de conferências como temos hoje – teleconferência, teleconferência interativa, videoconferência e conferência via web – teremos sempre conferências interativas com algum controle sobre a interação entre o conferencista e seus ouvintes, em casos onde esse contingente seja muito grande. As conferências poderão conectar professores/palestrantes em diferentes salas de aula na própria instituição, ou mesmo palestrantes que estejam em um ou mais pontos do planeta. A platéia poderá contar com um número de participantes praticamente ilimitado.

Um poderoso sistema de informação permitirá ao professor e a instituição de ensino controlar com mais precisão o desempenho dos alunos – e o desempenho do professor pela instituição - com um planejamento de aula muito mais consistente com a demanda de cada curso em particular. Mais que isso, esse sistema possibilitará uma auto-avaliação do aluno para seus estudos, do professor para sua didática e da instituição para seus cursos, muito mais eficiente, permitindo um aprimoramento constante na relação ensino/aprendizado. Suas bases de dados conterão tudo que for planejado, produzido, executado e avaliado em aula, essas bases serão alimentadas por dados provenientes dos computadores de alunos e professores. Esse sistema, será semelhante as Intranets[11] atuais, ele facilitará bastante a relação entre instituição, docentes e discentes, com uma interface[12] amigável, servirá como um canal de comunicação para as pessoas que compõem a instituição como um todo. Outra característica do sistema será levar para dentro da sala de aula alguns dos recursos já disponíveis na instituição, tais como bibliotecas, videotecas, midiotecas, além de um poderoso sistema de gerenciamento de materiais didáticos digitais (uma analogia á xerox dos dias atuais), como também o acesso a bibliotecas virtuais. A comunicação entre a sala de aula e os diversos setores da escola será total, permitindo ao aluno planejar seus estudos agendando horário em estúdios, laboratórios, oficinas, reservando livros, vídeos, áudios, acessando materiais de aula, leituras, trocando arquivos com professores e colegas, tudo a partir de sua sala de aula. Com ferramentas de tecnologia de documentos, todo ensino gerado pela instituição ficará armazenado em bancos de dados, que poderão ser pesquisados por professores e alunos através de ferramentas de pesquisa extremamente precisas, com filtros que o levarão diretamente à informação desejada. Um sistema de autenticação de documentos garantirá os direitos autorais das informações e manterá intacta a sua integridade. Em muitos casos, o sistema poderá funcionar também como uma Extranet[13], permitindo aos alunos e professores acessarem seus recursos remotamente através da Internet, de forma que o aluno poderá levar, pelo menos em parte, a escola para dentro de sua casa.

À Guisa de Conclusão

A sala de aula do futuro será um local que terá todos os aparatos possíveis para facilitar a didática do professor e o aprendizado do aluno. O papel do professor, cada vez mais, deixará de ser o de detentor e disseminador do conhecimento, para ser o de transmissor e facilitador do acesso ao conhecimento, o aluno por sua vez, terá que ser mais ativo na busca do conhecimento junto a seus colegas e professores. As barreiras geográficas e a amplitude do conhecimento se estenderão da sala de aula para horizontes nunca antes imaginados, atingindo os patamares para uma efetiva educação aberta e continuada. O limiar entre ensino presencial e ensino à distância será cada vez mais tênue. Didáticas de ensino e currículos acadêmicos terão que se moldar aos novos recursos, proporcionando cursos mais compatíveis com um mundo guiado pela tecnologia da informação, de constante mutação e contínua evolução.

Referências Bibliográficas

CAMUSSO, Wilson Jr. Introdução á Informática. 1989.
RAMOS, C. Excelência na educação: a escola da qualidade total. Editora Qualitymark, Rio de Janeiro, 1992.
GATES, Bill. A Estrada do Futuro. São Paulo: Cia das Letras. 1995
BAIRON, Sérgio. Multimídia. São Paulo: Global, 1995.
NEGROPONTE, Nicholas. A Vida Digital. São Paulo: Companhia das Letras, 1995.
HABERT, A. Educação continuada a distância no desenvolvimento profissional de engenheiros, in: Dissertação de Mestrado apresentada na Escola Politécnica da USP - Universidade de São Paulo, São Paulo, 1998.
PIRRÓ E LONGO, W. O Ensino na Rede Virtual, in: Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, 04/07/99.
LARSON, R. As novas realidades e os desafios da educação tecnológica superior, in: Programa de Teleconferências Engenheiro 2001, Fundação Vanzolini - Escola Politécnica da USP, São Paulo, 28/10/99.
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ROCHA, A. A. Ensino à Distância: início de uma revolução educacional, in: Jornal Tribuna do Norte, Natal, 30/10/01.
COSTELLA, Antonio F. Comunicação: do Grito ao Satélite. São Paulo: Ed. Mantiqueira. 4a Edição. 2002.
ROCHA, A. A e COSTA NETO, Pedro Luiz O. Costa. Educação Continuada e a Distância em Engenharia, in: <www.oliveiraneto.com.br/vitae/ari_pedro_artigo.htm>
COSTA NETO, Pedro Luiz O. Sobre Conceitos e Tecnologias,. in <www.oliveiraneto.com.br/vitae/contec.htm>

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Bons tempos! Poucos sabem, mas o autor deste blog também já foi um mantenedor de BBS - o sysop - quando disponibilizávamos o nosso desktop doméstico junto da linha telefônica para muita emoção on-line, isto muito antes da Internet se tornar operacional no Brasil. Eram tempos onde a Mandic era a maior empresa de comunicação digital nacional, quando se podia conectar nesses serviços de informação ao som do chiado daquele modem US Robotics 14400, a última maravilha da tecnologia que se podia dispor.

Hoje temos a Internet que nos oferece conexões com redes muito mais amplas, rápidas e sem fronteiras, mas emoções como àquelas vividas nas BBS, não se tem mais. Apesar de toda a tecnologia digital e comunicacional atual, não temos mais o charme dessa época não muito distante, dos primórdios quando a comunicação on-line parecia uma mágica vinda de um paraíso tecnológico extra-terrestre, mas que já deixa saudade em muita gente.

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Baú
A Tragédia de Ícarus - Rio de Janeiro 1992

Vídeo trata uma filmagem em VHS de uma peça de teatro por parte dos alunos do 1º ano da turma de Comunicação da faculdade UAM-SP, Campus Morumbi (1993). Uma adaptação do mito grego de Ícarus para a realidade brasileira da época, mas, que, dentro do escopo da estória, ainda é válido dentro da atualidade. Os atores são Skol e Grisa.


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