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Resenha
- Abdução, Relatório da Terceira
Órbita
Por
Walter Cavalcanti, escritor &
revisor |
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Há
muito a literatura deixou de tratar uma obra como um gênero
único, sem devidos hibridismos. Uma obra rica em
experiências mergulha fundo nas entranhas e na abordagem
mais diversificada que seu autor puder explorar — claro,
isso depende muito da extensão do trabalho realizado
e da abertura que tal história venha a permitir.
E
aqui estamos diante de um trabalho que navega pelos mais
distantes e longínquos oceanos, uma vez que sua
complexidade e criatividade permite esta viagem única.
Abdução, Relatório da Terceira
Órbita, de Pedroom Lanne, conduz o leitor
a uma saga que, obviamente, nos faz cair de cabeça
no universo da ficção científica.
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Esta talvez seja a maneira mais óbvia e simples de permear
os caminhos traçados pelo autor nesta empreitada literária,
porém, este livro carrega consigo uma bagagem que vai muito
além do gênero em questão. Somos brindados
com momentos de suspense, ação, e até certos
dramas que podem ser vivenciados ou experienciados se nos colocarmos
em uma profunda reflexão acerca dos conteúdos implícitos
na narrativa que nos é apresentada, através de personagens
que se aproximam em muito de nossos próprios “eus”, por
assim dizer.
Para entender um pouco desta abordagem, deve-se compreender de
forma básica e simplória um pouco do que o livro
traz. Abdução, Relatório da Terceira
Órbita faz parte de um universo que já havia
sido apresentado em um livro anterior, Adução,
O Dossiê Alienígena, todavia, não se
preocupem: por mais que o livro anterior tenha uma introdução
a este universo, é perfeitamente possível estabelecer
uma leitura coesa e bem explanada partindo deste livro, uma vez
que sua história permite a total compreensão a partir
deste ponto.
Neste
livro, temos um plano narrativo distribuído em duas épocas
distintas: o ano de 1978 e um plano no tempo futuro, sempre direcionado
e localizado através das nomenclaturas dos capítulos
e de seus personagens distintos. Em 1978, temos um foco mais voltado
aos protagonistas humanos. Podemos citar o xerife Hut Cut, que
tem contato direto com uma nave alienígena, o coronel Jay
Carrol, que está sempre atrás de mais informações
acerca desta nave, Danniel Mathew, que é um agente que
faz trabalhos escusos visando descobrir sempre mais e mais para
o governo, e Andreas Vegina, ufólogo, um cara inteligente,
mas que justamente por isso será um dos focos de atenção
do governo em sua busca desenfreada por informações.
As peças principais estão aí, e muita coisa
há de acontecer.
O
personagem da obra, Danniel Mathew
Por
outro lado, no plano futuro, temos o destaque para o núcleo
alienígena, que também interage com os humanos fazendo
uma espécie de comunicação com fatos de outro
plano temporal. Os hominídeos Billy e Sandy têm um
entrelaçamento com os alienígenas que foram à
Terra em 78 — sim, preparem-se para este tipo de comunicação
entre os capítulos. A leitura é recompensadora,
acreditem. Além destes personagens, conhecemos uma vasta
gama de personagens evoluídos e de distintas denominações,
como a veterinária Diana, Noll, o professor Ipsilon, os
metarrobôs Pai, Mãe, Mídia
e Grande Irmão, entre outros tantos.
Vale ressaltar a habilidade que a história tem de trazer
informações e descrições que aproximam
seu leitor a um universo único e deveras “contemplativo”
quando podemos imaginar histórias envolvendo abduções,
espaço sideral e experiências — no sentido científico
e, quiçá, além do científico, se nos
permitirmos embarcar plenamente na atmosfera da obra. Tais informações
trazem um teor palpável que podem, a princípio,
chocar pela precisão que o autor imprime em dados apresentados
e descritos em ambas as localizações temporais da
história, no entanto, mais uma vez: este é um dos
charmes da narrativa.
Pedroom
Lanne não se conforma em apenas nos conduzir a uma história
comum e com pouca imersão no que pretende relatar. Muito
pelo contrário. A cada página, a cada capítulo,
é possível notar sua intenção legítima
de levar o leitor àquele mundo novo. Em alguns pontos,
podemos nos sentir imersos dentro de um documentário sobre
ufologia, noutros pontos podemos nos ver dentro de uma pequena
“aula” de História. E não nos esqueçamos
da viagem pelo espaço; somos levados a uma verdadeira tour
pelo cosmo. A imersão não para neste aspecto, uma
vez que o livro carrega algumas abordagens com cunho político,
e, dependendo da forma como o leitor encarar a descrição
e os eventos nele relatados, é possível fazer analogias
diretas com a sociedade na qual vivemos.
A propósito, uma vez que adentramos este terreno — a sociedade
—, é impossível não falar de alguns aspectos
de seus personagens, que são muito bem construídos
e trabalhados no decorrer de sua obra. A descrição
dos personagens é feita de maneira cuidadosa e, embora
estejamos falando de localização estrangeira, é
possível sentir uma proximidade, por parte de alguns deles,
dos típicos trejeitos brasileiros. Podemos também
reconhecer tipos bem diferenciados de personalidades, o que dá
uma maior relevância e credibilidade ao trabalho. Podemos
esperar os mais variados tipos de reação no que
diz respeito à trama e ao enlace dos personagens. Por vezes,
o leitor pode ser surpreendido com determinado rumo que a história
ganha. Ninguém está, digamos, a salvo de algo ou
determinada situação.
Como se não bastasse esta imprevisibilidade dentro da história,
o autor vai mais longe — e com sucesso — ao fazer uma espécie
de análise, e por que não uma crítica, ao
comportamento humano.
Foi
dito aqui que o autor utiliza este gênero para abraçar
inúmeras temáticas dentro de sua narrativa, transitando
ora pela plena ficção científica, ora pelo
drama, ora pela ação, entre outras vertentes. Pois
bem, o autor permite transitar, inclusive, por questões
filosóficas, uma vez que ele eleva ao extremo, em algumas
cenas, certas manias que são marcantes no comportamento
humano, como o excesso de poder e a busca por mais, sempre mais...
A mania de grandiosidade e a face hedionda daqueles que maquinam
para tirar vantagem acerca de determinadas situações,
sempre agindo em prol de seus interesses — a falta de ética
do ser humano. Existe também, no decorrer da trama, uma
subversão dos pensamentos ao lidar com uma cultura totalmente
inversa ao nosso conhecimento e ao nosso padrão, entre
outras abordagens e questões.
Aliás, existem trechos no livro que exigem do seu leitor
um certo grau de maturidade, tamanha a complexidade das informações
e a forma com a qual o conteúdo deve ser compreendido.
Digamos que o leitor precisa ter a mente aberta e ter uma boa
interpretação para que o próprio não
se deixe enganar pelas palavras, e sim que tenha um entendimento
do “todo” e do contexto no qual a história está
inserida, uma vez que o livro, em uma grande fatia, aborda uma
sociedade com hábitos distintos, diferenciados, e com uma
visão totalmente oposta ao que se passa no plano “terreno”.
Arte
de Fernando Marcatti
O
livro também nos brinda com ilustrações de
alguns pontos interessantes e até mesmo algumas referências.
Pedroom Lanne recheia o livro com informações, teorias
da conspiração e referências do mundo pop.
Quanto maior a bagagem de conhecimento prévio, maior a
imersão e mais divertida será a viagem do leitor.
É uma leitura que deve ser apreciada a cada trecho, cada
descrição, e a cada abordagem diferente.
Uma característica marcante deste livro também é
o uso expressivo e interessante de expressões diferentes,
típicas do linguajar dos alienígenas. Algumas incluem
nomes de espécies, outras tratam de verbos que substituem
alguns conhecidos por nós, outras se referem a classes
e termos técnicos. Porém, o livro possui uma explicação
técnica sobre estes termos para que o leitor possa se situar
com mais afinco na sua viagem literária. Podemos citar
algo similar na literatura com a linguagem própria utilizada
por Anthony Burgess, em Laranja Mecânica. Inclusive,
há personagens com uma comunicação bem atípica,
mas não cabe elencar mais detalhes sobre isto aqui, uma
vez que esta resenha visa apenas perpassar alguns pontos marcantes.
Há quem diga, e sou totalmente partidário desta
opinião, que um livro é um universo que nos permite
fugir por um tempo de nossa realidade, das amarras da vida cotidiana.
Se podemos considerar isso como uma verdade absoluta, ou quase-absoluta,
Pedroom Lanne nos conduz com maestria nesta viagem, pois Abdução
– Relatório da Terceira Órbita nos faz navegar
por um universo vasto e criativo, com figuras diferentes e marcantes,
e ainda temos o deleite de nos deixar passear por diferentes temas
e abordagens. Pode ser uma leitura complexa a princípio,
mas conforme o leitor vai conhecendo os personagens e a ligação
entre eles, é impossível não querer absorver
mais do que tem por vir.
Permitam-se fazer esta viagem. O universo é vasto, muito
mais vasto que imaginamos. E o autor não nos deixa dúvidas.
Sinopse
do livro
Uma
trama que se passa no pretérito ano de 1978, ponto de convergência
de uma história que se inicia em um longínquo futuro.
No passado, uma dupla de alienígenas chega a Terra com
intenções desconhecidas. No futuro, um casal de
irmãos dá largada para uma nova vida em um estranho
habitat paralelo ao Sistema Solar, um mundo hiperfuturista
descrito como Universo Quântico. A vida da dupla e do casal
parece convergir por caminhos distintos, mas sua conexão
é tão forte que nem a distância que os separa
tão longe no tempo evitará a cadeia de
ações e a sequência de acontecimentos que
colocarão em risco o destino do planeta e da inteira humanidade.
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