Entrevista Lucia Freitas
Jornalista Blogueira – 12/06/2008

Dados:

1-) Nome: Lucia Teixeira de Freitas

Endereço: Al. T., XXX/XX – Jd. X.

Fones: (11) 3082-XXXX / 8187-XXXX

2-) Profissão: jornalista

3-) Idade: 42

4-) Residência: São Paulo – SP

5-) Blog: http://www.ladybugbrazil.com

6-) Temática do Blog: tecnologia e comportamento além de outros sete blogs com temas variados e pessoais.

1-) Fale da sua carreira como jornalista, escritora e blogueira.

Lucia Freitas virou jornalista por acaso, pensava em ser médica, queria trabalhar com genética. Quis o destino que dentre uma das últimas opções de campos de estudo que prestou por ocasião do vestibular, constasse a comunicação, sendo este o curso que ingressou (pela Universidade Metodista de São Paulo), na habilitação de jornalismo. Já no segundo semestre de curso, começou a trabalhar numa pequena editora como revisora da revista Guia de Camping. Tratando-se de uma publicação anual, Lucia, sob a indicação de seus colegas de editora, passou a fazer diversos contatos e cobrir vários trabalhos como free-lancer para inúmeras outras editoras e publicações.

Em 1986, chegou à rádio Cultura. Começou como estagiária, trabalhando com atendimento ao público e na produção do Guia do Ouvinte. Foi também produtora dos programas de jazz da Cultura FM. Em 1990, foi trabalhar na acessoria de imprensa Voice, em seguida foi para o Jornal da Tarde, como jornalista free-lancer. Saiu num corte de custos e, também como free-lancer, atuou para diversas revistas: Trip, Marie Claire, Nova, Capricho e Planeta entre outras. Desenvolveu um gosto por temas ligados a comportamento e a tecnologia.

Em 1995, Lucia já cobrira campanhas políticas e escrevera bastante, além de ter  convivido com todas as mídias: rádio, TV, jornal e revista. Foi chamada para cobrir um free-lance na revista Mãe, numa época em que o mercado editorial iniciava um forte processo de segmentação e diversas novas publicações dos mais variados temas começavam a surgir. Em cinco meses tornou-se editora-chefe, sendo publisher de diversas revistas da editora (Trama/MHS Editorial). A experiência na revista Mãe foi marcante para Lucia, além de ganhar boa experiência como publisher, voltou a ter contato com antigos temas de seu interesse, a biologia e a medicina, que tornaram-se uma terceira área de sua especialidade, a saúde. Nesse percurso, publicou um livro (Esquadrilha da Fumaça Agência Estado, 1993) e um conto (in Contra Lamúria Casa Pyndahyba,1994), enquanto convivia com grandes escritores, tais como Inácio Loyola Brandão e Mario Chamie.

Saiu da revista Mãe em 1999, foi quando passou a explorar a web com maior profundidade (viveu a "bolha" e seu estouro), embora já estivesse na Internet – uma paixão de sua carreira – desde 1993. Depois da Mãe, Lúcia ainda teve passagens pelo Estadão, trabalhando no suplemento feminino do jornal, pela revista Veja São Paulo e o portal Investnews.

Em 2003, passou a trabalhar em uma acessoria para a área de moda. A experiência foi ruim e, após essa decepção, Lucia montou a sua própria empresa, utilizando-se da sua então larga agenda de contatos e longa experiência como free-lancer e publisher. Fez um coaching [1], a fim de encontrar um caminho para sua empresa e para a sua carreira.

Foi no decorrer do ano de 2005 que Lucia começou a blogar, embora já possuísse sua conta no Blogger [2] desde 2001. Iniciou publicando pensamentos e experiências pessoais. Descobriu também que poderia publicar suas matérias da forma como desejava, uma maneira de driblar seus gatekeepers. Passou a se inteirar da produção de velhos blogueiros e de tudo que perpassava pela Internet (o que ela chama de "roda digital") e assim abriu o ladybugbrazil, seu principal blog até hoje.

Na atualidade, Lucia utiliza seu blog e se ampara no fluxo informacional da web para investigar a transmissão de informação, o que foi sempre o que mais lhe instigou dentro do jornalismo. Nesse processo, Lucia participa em vários projetos em diferentes áreas, entre os quais aparecem temas como ecologia e educação, além de comportamento e tecnologia. Crê na liberdade de expressão e produção pela Internet, e afirma que o copyright não funciona no meio digital. Venda de conteúdo, como vemos em grandes portais como o UOL e o Terra nada mais seria que a replicação do copyright na web e, está fora da lógica e dos princípios que nortearam a criação da rede – liberdade é a palavra-chave que fundamenta a lógica maior da Internet, diz Lucia. Na grande rede, o princípio seria outro, o segredo está em compartilhar as informações e produções através do link, o valor está no indivíduo conectado e suas ações interativas com os seus pares.

2-) Como você explicaria para um leigo o que é Blogosfera.

Blogosfera é a roda dos blogs, a roda digital, qualquer blog faz parte da blogosfera. Não existe um caráter único de temas ou estilos, não existe uma blogosfera disso e uma blogosfera daquilo, ela é uma coisa só. É a esfera dos blogs ou o conjunto dos blogs. Já o blog nada mais é que uma ferramenta de comunicação. Hoje, no Technorati existem 180 milhões de blogs cadastrados, mas ainda existem aqueles que não se cadastraram, o número total é imapeável. No BlogBlogs são 180 mil blogs brasileiros cadastros [3] . Em língua portuguesa estimasse um total de 2,3 milhões de blogs.

Em relação ao blogueiro, ele é um cara antenado, que está a par dos sistemas de métricas digitais, que está familiarizado com o Alexia, que está no Technorati, no BlogBlogs, no Analitics, sempre buscando um destaque, buscando atingir determinadas metas. Ele tem um domínio de software, de como usar a Internet que nenhum jornalista tradicional tem. Um garoto que joga Counter-Strike sabe usar melhor e conhece mais os recursos da Internet do que qualquer jornalista.

3-) Você já disse que a blogosfera têm peso dentro da opinião pública dentro do mass media embora não produza conteúdo, mas você acha que ela, no Brasil, têm força de uma esfera pública no sentido da discussão política? (exemplos).

A briga do Luis Nassif com a Revista Veja que a blogosfera “comprou” – e Lucia exemplifica isso através de uma busca no Google, onde o blog do Luis Nassif aparece antes do site da Veja – os blogs quando escrevem sobre a revista Veja, fazem link com o blog do Nassif. Há três meses atrás o site do Nassif aparecia em 5º lugar na busca do Google, hoje ele está em 3º, a frente da própria Veja.

Mas sim, eu acredito que a blogosfera tenha um peso dentro da opinião pública no que se refere à esfera da discussão política.

A discussão sobre a questão ambiental, do aquecimento global, é algo que tem sido amplamente debatido dentro da blogosfera, é um assunto que tem encontrado mais espaço nas novas mídias do que no jornal. Existem diversas ONGs atuando na Internet, utilizando-a como meio não só para o debate, mas no engajamento de ações e a blogosfera se mostra também atuante nesses casos. Ecologia e Internet tem tudo haver uma com a outra, a começar pelo próprio impacto ambiental dessa mídia que é muito menor do que a impressa, apesar da sucata que gera e do consumo de energia. O fluxo de informações da web também se mostra positivo para disseminar esse tipo de debate, onde as audiências se somam. A Internet, tanto para qualquer assunto ligado a mudança de comportamento, quanto para a educação, é fabulosa. O simples fato de você ter as pessoas na rede escrevendo, ainda que sejam aqueles scraps horrorosos do Orkut, já representa um imenso ganho. A Internet fez nascer o movimento das sacolas de supermercado retornáveis e que hoje tem muita gente aderindo. Foi um movimento que nasceu na web, há mais de três e que agora está ganhando relevância e, inclusive, ganhando destaque nas demais mídias. A web tem uma capacidade de mudança de comportamento gigantesca, e isso acontece em várias áreas, não só da ecologia.

Temos o exemplo da Birmânia também, o movimento global que se fez em torno da violência contra os monges que foi denunciado por blogueiros, e que gerou uma grande mobilização que efetivamente gerou ações positivas.

Você tem o exemplo do ambientalista Jill, que mora na Amazônia e faz um trabalho de educação ambiental dentro dos garimpos, e divulga isso via blog. Isso mostra o poder de conscientização da web, e como ela tem credibilidade, o Estadão não vai deslocar um jornalista para cobrir esse trabalho do Jill, isso não vira nem uma nota em qualquer grande jornal ou mesmo na TV, já no blog, isso é ouro puro.

Hoje o leitor não é mais tão passível como antigamente, ele mudou. Hoje ele tem uma nova e ampla gama de informações que não vem mais apenas do jornal, tem novas leis de defesa do consumidor, institutos etc. No novo milênio, além dos meios tradicionais de comunicação, você tem a Internet como novo meio informativo. E através da web, as pessoas que lêem inglês e têm consciência crítica, puderam começar a exercer uma influência dentro de uma instância privada, ele pode construir uma rede própria de contatos, como no próprio MSN (que hoje tem cerca de 30 milhões de usuários no Brasil [4]), e exercer uma influência sobre essas pessoas que estão na sua rede, e sobre o que for, desde qual é o chaveiro mais confiável até questões políticas/ambientais, isto é, se você tem credibilidade com as pessoas que se relaciona. Se você usa a rede só para bagunçar, aí não funciona.

4-) Você acha que a blogosfera compete com outras esferas, outras mídias ou ela ocupa um espaço novo. A blogosfera não seria uma forma de contrapoder ao que já estava instituído?

Eu não sei o que é contra-poder. Na verdade, eu acho que a Internet pulveriza o poder, o diálogo. Os blogs podem servir aos dois lados, ele pode ser uma forma de protesto e também uma forma de conversão ao estabelecido. Tem muito blogueiro que de uma postura de militância política passa a defender posturas puramente comerciais. Mas, no meu entender, o blog é o espaço da crítica, da militância, do protesto, mas isso ainda é uma opinião minha e muito em função do feedback que eu recebo dos leitores do meu blog que, na grande maioria, acredita nesse tipo de postura.

5-) Como você enxerga a atuação dos grandes jornais e portais de notícia e a dos blogs dentro da Internet?

Eu sinto que os grandes jornais e empresas de comunicação, alguns vêm este fenômeno de uma forma bacana de estar na Internet e dar a voz ao leitor, para incluir pessoas mas, o fato é: os blogs estão chegando para dividir receita publicitária, e as grandes empresas não gostam disso. Se você observar na grande imprensa as citações sobre a Internet, verá que todas elas são negativas, com exceção dos cadernos de informática. A Internet sempre é citada como negativa, como fonte de roubo, lugar de pedófilo, lugar de ladrão. Não acho que isso seja coordenado, mas acho que existe uma micro-campanha permanente contra a Internet. O engraçado é que, enquanto ao longo do jornal você encontra várias citações negativas da Internet – em vários cadernos, chega no caderno de informática, a Internet passa a ser bacana e existe um incentivo ao uso das novas tecnologias.

Não é de interesse das elites desse país e nem das telecom que se use a Internet. Como as pessoas vão querer usar a Internet se primeiro elas sentem medo dela? Os jornais não estão interessados no que os seus leitores estão falando, eles não têm esse interesse, nunca.

6-) Como você entende a atuação dos grandes portais e jornais que, através de seus sites, se utilizam de ferramentas típicas de blogs, é esse o caminho que essas empresas têm de percorrer?

Todos os grandes jornais, O Globo, Folha, Zero Hora, Estadão, entraram no RSS assim que ele começou a estourar na web. O problema é que o brasileiro não sabe usar RSS. Os usuários dessa ferramenta no Brasil são muito poucos, são profissionais de informática, são blogueiros, pessoas que estão numa roda de uso de tecnologia e quem fome de informática, mas o brasileiro em geral não tem fome de informática. Brasileiro gosta do Faustão, adora a Veja, gosta do Fantástico. Infelizmente, o brasileiro não tem uma capacidade intelectual para muito mais do que isso, e não é incentivado a sair disso. É um problema educacional grave, que vai até a incapacidade dos professores que, por mais que se esforcem, eles não tem ainda acesso às últimas tecnologias.

Os portais, eles usam essas novas ferramentas, eles sempre usaram, mas não é esse o foco deles. O Estadao.com, por exemplo, o foco dele não é a Internet, ele apenas está na Internet. Eles produzem conteúdo para vários fins, a Internet é só apenas um desses lugares. O Globo.com, o portal G1, é um portal bacana, usa tudo, da melhor forma possível, eles realmente estão na ponta, eles, inclusive, não estão ligados ao jornal O Globo e nem à TV Globo, esses sim estão fazendo Internet, o Estadão não está, está apenas tentando. O UOL está, apesar de ser um portal desorganizado, tem uma mega-audiência. Aliás, a sistema de portal é a única ferramenta que o brasileiro está acostumado a lidar, já o RSS não. As pessoas sabem usar certas ferramentas (como o Orkut), outras não (como o MySpace ou Facebook).

Um dos grandes problemas dos portais e dos grandes jornais na rede é que eles ainda continuam funcionando dentro de uma lógica que se baseia no copyright, eles não pagam pela produção de seus funcionários ao mesmo tempo que se apropriam dela, vendendo-a e lucrando com ela. Eles pagam um salário mísero por uma produção que vai para diversos veículos, incluindo a Internet, a mais-valia virou tri-valia, poli-valia. Até um leitor que manda uma foto pro jornal, eles pagam uma miséria e depois usam e abusam dela do jeito que quiser.

Enquanto não se modificar esse cenário relativo ao copyright, nada mudará na lógica dessas empresas, e eles não querem discutir isso, nem qualquer sindicato do setor. A ANJ sequer sabe o que é Internet, eles nem querer ouvir falar no assunto. O próprio profissional de comunicação que hoje sai de um curso de graduação não tem a mínima formação para o uso da Internet. Você tem um meio novo que não está sendo pensado, os cursos ainda trabalham para formar jornalistas dentro dos conceitos dos antigos jornais, não dentro desse novo contexto atual. O máximo que você tem são dois ou três cursos (O Link da PUC, o IDEC da USP, na UFRGS e UFSC), o Sérgio Amadeu, a Polyanna Ferrari, Ana Brandilla, a Ana Carmen e mais um ou dois profissionais da comunicação que efetivamente são ligados ao jornalismo, e mais nada.

Os grandes jornais ainda enxergam a questão do jornalista como sendo este o portador do Mtb, como se o blogueiro não checasse as suas informações, eles ainda não aprenderam a dinâmica da Internet, mesmo com seus grandes jornalistas usando os blogs, incluindo muitos que fazem blogs há mais de 10 anos. Eles ainda, por exemplo, não aprenderam a dinâmica do RSS, o que talvez leve tempo, aliás, muitos blogueiros também demoraram para absorver esse novo recurso.

O problema é que essas grandes corporações de mídia, que lidam com 10 ou 20 mil funcionários, têm dificuldades em se adaptar num cenário que muda constantemente. Quem lida com um blog não tem esse problema, você muda de um dia para o outro.

7-) Na sua visão, como fica a questão da credibilidade (influência) nos blogs e nos jornais? Os blogs exercem influência sobre os usuários? (citar estudo de Meyer).

Para mim essa questão pode ser dividida em duas partes, na questão do jornal físico, e na questão da credibilidade. Na questão do jornal físico, eu posso de te dizer a respeito da minha felicidade ao pegar um ônibus pela manhã e ver que está todo mundo com um jornal na mão (Destak/ Metrô). Esses jornaizinhos são ótimos, são rapidinhos de ler e você chega no trabalho com um mínimo de informação. O que eu acho que vai acontecer com o jornal é isso, uma mudança de formato, chegando quase ao formato de uma revista. O jornal standart é bom de ler na mesa do café da manhã, onde você pode apoiá-lo, dobrá-lo etc. Novos formatos e tipos de diagramação são o futuro do jornal impresso, se esse formato vai ser tablóide, eu não sei, mas acho que o formato tende a mudar. A usabilidade (termo que usamos muito na Internet), do tablóide e dos formatos menores é muito maior que a do standart. Eu acho que no impresso, o grande caminho é a mudança de formato, entretanto duvido que os jornais brasileiros mudem de formato antes de qualquer outro país, porque aqui todo mundo é muito temeroso com qualquer tipo de mudança. Aqui têm-se muito medo de se bancar uma mudança dessas, que implica em investimento na mudança do parque gráfico, mesmo que no longo prazo isso signifique uma economia e um ganho para o jornal. Eles não sabem observar uma tendência, testá-la e aplicá-la. Essa é uma características típica das empresas brasileiras que são empresas de família, mesmo que elas estejam hoje profissionalizadas. Com exceção da Globo, que é mais volátil às mudanças, afinal não é a toa que eles tem esse domínio todo. A Globo é a única empresa a, por exemplo, ouvir os blogueiros, que faz estudo de usabilidade, que sabe olhar para as novas tendências e incorporá-las de alguma forma. Já a Abril, por exemplo, só vai se dirigir a nós ou qualquer outro, não para dar ouvidos, mas para dizer que vai implantar a nova técnica adotada pela empresa X ou Y lá de fora, eles não olham para o próprio mercado.

Na questão da credibilidade, vamos pensar: ela é fundamentada no que (fora da Internet)? No nome, na tradição. Se eu vejo uma matéria no Jornal Nacional ou no SPTV, RJTV, na Band, na Record, na Cultura ou onde quer que seja, é uma matéria que tem mais importância do que uma matéria que eu vejo solta na Internet – teoricamente. Mas quando eu bato uma busca no Google, que tem uma ferramenta que limpa as palavras-chave mais usadas, pois estas são todas ligadas à pornografia, esse tipo de coisa (nome, tradição), não entra, só aparecem os sites mais linkados que, na maioria dos casos não são esses das grandes instituições. Além disso, na web uma informação se replica por caminhos que são impresíveis, que não podem ser mapeados, que é por onde a credibilidade se constrói. Um post num blog pode gerar milhões de cópias e comentários, uma matéria no site de um grande jornal pode ficar lá para os poucos usuários que acessam determinadas áreas do site.

A questão da credibilidade é muito importante e tem vários níveis na Internet, que se somam e são contribuintes ao mesmo tempo, não é linear. A questão da tradição não entra aqui, um site que tem cinco anos aparece na frente do site do O Globo que tem quase cem anos. Na Internet a credibilidade se faz pelo círculo de relações, pelo conteúdo, pela apuração bem feita, por link que você vai ganhando, pelas suas ações. A credibilidade na web é construída dia a dia. Como que a Microsoft – a grande inovadora da web – passou a ser a grande vilã da Internet? Destruindo as ações positivas que tivera num primeiro momento através de suas ações negativas, quando passou a impor o seu sistema operacional, destruindo o Netscape, acusando seus usuários de pirataria. Em pequenas ações, devagarzinho, eles foram construindo uma péssima imagem. Hoje, apesar da Microsoft ter uma série de ferramentas muito legais, ela tem uma péssima imagem global. Mas dá para reverter, como eles estão fazendo através de suas efetivas campanhas de inclusão digital, aderindo ao OpenSource e outras ações.

Veja a BBC, ela tem uma imagem positiva na Internet pois investe continuamente em inovação, o mesmo acontece com o New York Times, apesar do abalo que tiveram quando resolveram cobrar pelo acesso às matérias do site. Eles perderam inúmeros usuários com essa mudança, e para reconquistar esses usuários requer um mega-investimento depois do vínculo perdido. Você pode até conquistar novos leitores, mas perdeu outros que poderiam estar ajudando a te divulgar.

O usuário que se informa através de blogs, confia mais na informação que obtém dessa rede do que em qualquer veículo tradicional. Mas, além da gama de pessoas que não tem acesso à Internet, você tem aquelas que usam a rede para outros fins, e tem muita gente que entra em sites com recursos jornalísticos e os ignoram, como acontece no próprio Orkut. O Orkut agora tem uma ferramenta de feed, mas tem muita gente que sequer se apercebeu disso, isso ainda é uma questão de costume. O diferencial da web não está, muitas vezes, nas ferramentas criadas para fins jornalísticos, mas em outras que foram criadas para outros fins e vão sendo utilizadas para disseminar informação, por exemplo, tem uma comunidade do Orkut que é utilizada para fazer entrevistas. São estas ações que interferem no jornalismo como um todo. O grande barato da Internet é esse, o uso que se fazem de ferramenta que, a princípio, foram criadas para outros fins. O Orkut é um grande exemplo, ele tem de longe mais usuários que a totalidade dos blogs, e é utilizado para os mais inimagináveis fins.

8-) Como você relaciona o conceito de peer production com os blogs e a mídia na Internet?

Para mim o que define melhor esta questão baseia-se num pensamento de Colleman. Ela relaciona-se com a própria genética e o ambiente onde o ser humano está inserido. O ser humano não é um individuo fechado em si mesmo, ele é conectado. Ele é resultado da interação de sua genética com seu ambiente. Para mim, este conceito é a própria inteligência coletiva, é a construção do ambiente, é um lugar biológico.

9-) Em relação aos grandes jornais que agora vemos também na Internet, você acha que eles estão preparados para um transição completa para a web?

Não. Somente a Globo, pelo seu portal G1, é que realmente está fazendo algo bacana na Internet. Ela tem feito muito e com toda a sua cadeia produtiva, na TV, na rádio, na editora, nos jornais e no portal. A Globo está fazendo Internet. A Folha não faz Internet, o Estadão tenta. O UOL faz Internet, mas ele é separado da Folha, ela apenas reproduz o seu conteúdo na web e de uma forma absolutamente ineficiente: não tem uma foto, o índice dos cadernos é confuso, o sistema de busca do site é medíocre, não oferece busca booleana. No Estadão também, a busca é péssima, eu não entendo porque essas empresas não fazem uma parceria com a Google.

Eu acho que os jornais estão perdendo uma excelente oportunidade de se reinventarem na Internet. Você tem hoje, cerca de 50 milhões de pessoas acessando a Internet diariamente, e essas empresas estão perdendo esse público. Você só houve lamúrias de que as vendas dos jornais estão caindo, aí eles percebem as boas iniciativas, como os blogs, que aparecem em destaque no Google. Mas os blogs aparecem em destaque no Google não porque são bons, mas sim porque fazem parte de uma rede de blogs linkados, links que vêm de diversos lugares. Então você tem alguns excelentes jornalistas, como o Roberto Cruz, que tem o seu blog alí (no Estadao.com), mas que não tem a mínima repercussão dentro da blogosfera. Outro dia ele tentou colocar um assunto em debate para os blogueiros e ninguém nem reparou, se tal assunto parte de um blogueiro bem rankeado, bomba. O problema é esse, o blog desses caras não tão inseridos na rede, de nenhum grande veículo. Os blogs da Veja, por exemplo, não tem apelo nenhum, somente o do Reinaldo Azevedo é que tem destaque, mas ele já tinha esse apelo antes de ir para a Veja. Um blogueiro que se atrela a um grande jornal, comete a pior bobagem que ele pode fazer. O Azevedo poderia ser patrocinado pela Veja, mas continuar com seu blog (fora do site da revista), aí ele ia ter liberdade para falar de política e estaria inserido dentro da blogosfera, dentro da revista ele, além de ficar de fora da roda, não pode falar nada de política devido às novas regras do TSE.

10-) A questão do diálogo dos blogs (mais opinativo), você acha que é essa a tendência pro jornalismo em geral? A linguagem mais neutra e informativa combina com os blogs? A Internet pode ser associada a um aumento do pensamento crítico dos cidadãos? Ao menos àqueles que estão “conectados”?

A linguagem dos blogs é mais opinativa, é mais pessoal. Nos blogs existe um espaço de argumentação que antes só era possível através dos livros, ou num zine. Mesmo os editoriais dos grandes jornais não são pessoalizados, sempre tem uma questão política em relevância. Mas a própria linguagem dos blogs ainda é algo que está se consolidando, esse fenômeno ainda é muito novo, os blogs só existem há dez anos.

Mas essa linguagem dos blogs já está influenciando e mudando a linguagem dos jornais, é possível se perceber isso através dos blogs mais influentes que, por exemplo, têm muito mais acesso que o próprio Estadão.com. Não que um determinado blog seja mais influente que o Estadão, mas tem mais audiência. A diferença é que o Estadão é conhecido por uma certa fatia de pessoas, já determinados blogs atingem outras pessoas que não são leitoras do Estadão. Basta você fazer uma pesquisa no Google, onde determinados blogs aparecem e o Estadão, não.

Por exemplo, se você bate uma busca no Google: “camelôs 25 de março”, onde hoje houve outra manifestação popular. Entre os primeiros resultados, todos são de blogs, só o portal G1 (portal ligado a Globo.com) parece entre os 10 primeiros resultados, mesmo assim atrás de vários blogs. A Folha e o UOL só aparecem lá embaixo.

Aliás, o peso dos blogs é tal que, falando-se em Estadão, temos lá uma variedade de blogs. Em relação aos blogs serem mais livres de coerção do que os jornalistas de grandes jornais, eu não acredito nisso. Todo jornalista que trabalha para um grande veículo tem as restrições naturais de trabalhar numa grande redação e os limites das linhas editoriais que sempre, segue a vontade dos publishers e/ou dos donos do veículo, que determina o que vai ou não ser publicado. Mas existe uma visível diferença nos blogs desses grandes veículos, para aqueles inseridos na blogosfera, muitos não tem sequer um comentário dos usuários, não tem feedback, eles não estão indexados no Technorati ou BlogBlogs, não fazem parte de roda nenhuma. Isso é uma questão jornalística, tem jornalista que vai pro blog mas mantém a mesma postura que tinha na redação, mantendo-se isolado. Hoje, o jornalista trabalha sozinho na redação, não existe mais grupo de trabalho, hoje muitos veículos sequer fazem reuniões de pauta com o seu corpo jornalístico o que, quando eu trabalhei no Jornal da Tarde e outras revistas, era algo de praxe e fundamental para o exercício do trabalho da redação. Não existe mais equipe, time. Mas existem exceções, como a revista Veja e a Época. No trabalho que exerço em consultoria e montagem de blogs para diversos clientes, agente sempre faz reunião de pauta. A reunião de pauta é um exemplo de peer production, de inteligência coletiva, que é realidade nos blogs, mas está desaparecendo das redações, um conceito básico de qualquer produção em grupo. Aliás, essa é uma característica dos blogueiros, a capacidade de compartilhar conhecimentos, todos se ajudam. Por exemplo, se você precisa de plug-in para uma determinada função que você precisa para o seu blog/site, você consegue rapidinho com os seus peers. Porém, os blogueiros têm muitas dificuldades de compartilhar conhecimentos que não sejam técnicos. Se você precisar de um blogueiro para te ajudar a pensar numa temática para o seu blog, aí você terá dificuldades em obter qualquer tipo de ajuda, nesse sentido, a produção do blog ainda é muito individualizada. O blogueiro escreve, opina e responde posts, ele é obrigado a lidar com um fluxo muito grande e permanente de informações, muito maior e mais amplo que o que qualquer jornalista está acostumado a lidar. Apesar de qualquer jornalista também estar inserido dentro de enormes fluxos de informações, eles são mais direcionados, sempre mais focados dentro de determinados assuntos e/ou editorias. Uma diferença significante do jornalista e do blogueiro neste sentido é que o primeiro não responde a seu público, o blogueiro, através dos feeds, do e-mail, sim, e o tempo todo, muitas vezes tendo que lidar com os disparates de seus leitores – existe uma conversa nos blogs –, o jornalista, na maioria dos casos, sequer sabe o que os seus leitores estão pensando.

Para mim, a grande “sacanagem” da grande mídia é o laço contratual, onde tudo que você produz não é seu, é deles, queiram eles publicar ou não. Eles podem fazer o que quiser com o seu material, vender para qualquer outra instância sem te dar um centavo a mais por isso além do que está expresso em seu contrato, que é um mísero salário. E aí de você se você publica um texto “deles” no seu blog, eles te matam. O problema nem é você tomar um processo nas costas, é que “eles” vão te perseguir pela web, te difamar em toda blogosfera, te atolar de e-mails, vão te amolar até você tirar o texto da rede. Mas tem os casos em que você pode mesmo acabar recebendo uma notificação judicial por determinado post.

Em relação ao fato da Internet aumentar o pensamento crítico, eu acho que sim e não. Acho que quem é crítico é crítico, não porque passou a usar a web. Eu acho que a maioria dos blogueiros não tem capacidade crítica. Essa é também uma das críticas dos empresários à blogosfera. Existem alguns pontos, alguns blogs onde aparece a crítica, mas não é essa a regra geral. O Brasil, como país, não é um país crítico. Você não pode desconsiderar essa bagagem histórica e psico-social do nosso povo. Aqui as pessoas só tem o costume de criticar pelas costas, são incapazes de sustentar uma crítica olho-no-olho. As pessoas aqui não são capazes de cobrar seus políticos, seus deputados. Inclusive, eu acho que o brasileiro tem razão de não reclamar, afinal, ele nunca é ouvido. Mesmo no serviço de telemarketing de qualquer empresa, você liga para reclamar e eles fingem que te escutam. E quem está de fora dessa lógica, acaba com os nervos a flor da pele, vendo-se incapaz de fazer qualquer coisa. Isso também gera uma aversão à política que se torna algo natural.

11-) O blog é uma inovação dentro do jornalismo? Qual sua opinião?

Eu percebo que a grande mídia está de olho nos blogs, embora existam outras ferramentas que de longe são mais acessadas que a grande maioria dos blogs, o Orkut, como mencionei, é a maior delas no Brasil. O stablishment do jornalismo não percebe isso, ele não tem uma visão focal. O blog só pode ser enxergado como uma inovação no uso que os blogueiros passaram a fazer dele, dentro dos jornais ele continua sendo utilizado de uma forma extremamente burocrática.

O blog não é uma inovação do jornalismo, até porque hoje o blog já é uma coisa velha, tem mais de 10 anos. Para mim, o Orkut é uma inovação muito maior que os blogs, vide o exemplo da garota que faz entrevista dentro do Orkut, e ao vivo. O blog é uma página na Internet como outra qualquer. Também não enxergo a nova combinação de informações dispostas nos sites noticiosos (que englobam textos, hiper-texto, fotos, vídeos, som etc) como uma inovação.

Você observa um monte de novas ferramentas que aparecem dentro dos sites, como este aqui (Estadao.com), e percebe que elas estão lá só para constarem, muitas ninguém usa aqui no Brasil, umas ninguém nunca ouviu falar, outras são ruins. E mais, não há uma explicação sequer de como utilizá-las. É uma coisa bacaninha mas que não faz nenhuma diferença dentro do contexto do jornal. Eles colocam essas ferramentas só porque está na onda.

Tem um monte de jeito e um monte de ferramentas para você inovar dentro do jornalismo, mas, a questão é: elas são utilizadas? Como elas são utilizadas? Na Internet são muitas as inovações. Para mim, a grande inovação é o que ponto central delas está na mão dos usuários. Apesar de se fazer jornal para o leitor, esse fazer é atravessado por um monte de interesses, questões ideológicas, os gatekeepers da vida, questões financeiras, a publicidade. Na Internet, um monte de coisas podem existir aquém dessas questões, pode existir uma publicação para um publico mínimo, o que seria inviável em qualquer grande veículo que só enxerga a massa.

A inovação é a convergência para o usuário e a desintermediação. Os meios de comunicação se acostumaram ao longo do tempo em ser os grandes intermediários, que dizem que é isso ou aquilo que vale. Por isso que a Internet se apresenta como uma ameaça ao status-quo, pois esses meios perderam o poder de dizer o que é que vale.

12-) E a Rede da Joaninha (40 blogs), qual é a mensagem mais forte?

A rede da Joaninha é a roda dos blogs que Lucia está mais integrada, mas não existe uma única mensagem, os temas são os mais variados possíveis. Ela foi construída aos poucos somando-se os blogs que a interessara, por onde ela navega. Alguns são blogs de parceiros, e outros de amigos.

13-) Como o Twitter tem auxiliado a comunicação na blogosfera? Ele pode ser considerado uma espécie de chat sem chatroom?

O Twitter, na verdade, é um jeito de criar conversas em rede todas as ferramentas de microblogging fazem isso em outro formato. Estamos no Twitter, no Pownce, no Plurk, no Jaiku, no Hello.txt e no que mais aparecer. O Twitter sai na frente pela facilidade de uso: a gente pode se comunicar por múltiplas ferramentas, literalmente em qualquer lugar. Tudo pode ser taggeado (com #) o que facilita as buscas e há MUITOS mecanismos de busca para a ferramenta. Mais que isso: ele permite que a gente use também como um IM (Instant Messenger) portanto, a sua noção de que é um chat sem chatroom não é de todo bobabem. Vira bobagem sim, porque o usuário constrói seu chatroom quando escolhe quem segue... O Twitter é uma mega-fonte de informação para blogs, é onde a gente compartilha links, notícias, idéias, busca ajuda para determinados problemas que podem ser expressos em 140 caracteres.

Acabei de ver alguém procurando designer/programador, por exemplo, tem de tudo.
Lá nos EUA, eles usam muito mais o FriendFeed (cujo evangelizador é o Steven Reubel, http://friendfeed.com/steverubel). Este tipo de colonização, perceba, se dá de acordo com a cultura de cada lugar. Apesar das "baleiadas" (períodos fora do ar) do Twitter desde maio, nós continuamos a ser usuários do bichinho. Entenda: a ferramenta serve ao USO que a gente faz dela. Não é a única, não é nem mesmo central. É mais um lugar onde a gente se encontra todo dia - como grupos de discussão, IM's, bares.

Outras colocações de Lucia Freitas:

A questão da distribuição

Lúcia Freitas chama a atenção para a questão da mediocridade das tiragens das publicações no Brasil: um país de mais de 180 milhões de habitantes, onde a maior revista (Veja, Época) alcança, quando muito, dois milhões de exemplares vendidos e, o maior jornal, fica na casa dos 300 mil exemplares/dia (Folha de S. Paulo). Segundo Freitas, isso se dá em função de uma questão pouco debatida e pouco estudada, a distribuição. A distribuição de todas as revistas e publicações no país ficam a cargo de uma empresa mantida pela Abril, um monopólio de tal grupo midiático. Tal monopólio afasta a entrada de novos publishers no mercado editorial, sejam nacionais ou internacionais, embora o país apresente um fortíssimo potencial para o aumento de seu mercado editorial.

Já os jornais (como a Folha e o Estadão que possuem a sua própria distribuição), possuem uma outra logística baseada na localidade, fazendo a sua própria distribuição, mas esta também vai se limitar a poucos lugares, inviabilizando uma maior escalonamento do negócio. São várias as novas publicações que surgem e desaparecem em função das limitações do setor distributivo, o que fica comprovado através do fato que, se um determinado veículo impresso não atinge uma certa base de leitores assinantes, ele não sobrevive. Essa é a lógica que afeta o mercado de livros. Estes, sem uma base de assinantes e as limitações distributivas, acabam tornando-se caros e um luxo de acesso a poucos privilegiados.

Para Freitas, aquela máxima que muitos acreditam e outros pregam como o pilar da comunicação impressa onde “o leitor o é o rei”, não passa de um jargão publicitário, este é só um ser passivo que tem acesso ao que querem que ele tenha acesso. Nesse processo, até os anunciantes – responsáveis pelo grosso da verba que banca os veículos comunicativos (todos) – também saem perdendo, pois seus produtos ficam limitados a um espectro de leitores muito inferior ao potencial do mercado que não é explorado.

Em outras palavras, com medo de ampliar o mercado, o que abriria a porta para novos publishers, os monopolizadores do mercado editorial preferem fechá-lo e assim, controlá-lo dentro de seus ínfimos limites. “É melhor reinar no inferno do que servir no céu”, poderia dizer um padre católico sobre essa absurda situação do mercado editorial brasileiro.

Ainda, segundo Freitas, a ausência de estudos acadêmicos que apontem para essa situação demonstra um forte indício de que elas, ou estejam em conluio com esta lógica, ou sejam tão submissas aos grupos midiáticos que preferem não tocar o dedo nesta ferida. O assunto distribuição é um taboo, tanto no meio jornalístico, como no meio acadêmico.

Enquanto isso, novos jornalistas e editores vão se formando e inundando o mercado a cada ano, e são obrigados a se degladiar dentro do, cada vez mais, limitado espaço editorial nacional. Neste sentido, as novas mídias se oferecem como um prato cheio para as novas gerações que se formam e, com o decorrer dos anos, poderá representar uma forte concorrência para esses antigos meios. O que hoje se apresenta como um espaço alternativo, uma vez mantida essa totalitariedade, poderá se tornar o novo e mais amplo caminho editorial por onde a maioria dos novos publishers e jornalistas encontrarão espaço para dar vazão a sua produção. Outro fato que demonstra essa tendência, é que todo jornalista demitido de um grande veículo, acaba montando o seu blog, um grande exemplo nacional atual é Luis Nassif que saiu da grande mídia e está fazendo um estardalhaço através da rede, denunciando os abusos de poder dos seus antigos empregadores. E ainda, sendo a Internet uma mídia sem fronteiras, ela poderá se apresentar como um caminho para novos publishers estrangeiros que aqui queiram entrar e, observando-se bem, isto já está acontecendo. A questão é: até quando os grandes conglomerados de mídia nacionais irão suportar e bancar essa situação?

Problemas com a Justiça
(Publicado em http://pedroom.blogspot.com/2008/06/campanha-pela-liberdade-na-internet.html, 30/06/2008)

Dentre os vários problemas que os blogueiros enfrentam na Internet, um se destaca, quando um oficial de justiça bate à porta de sua casa: alguém o está processando. Esse é um fato comum hoje em dia e que acontece com diversos jornalistas e inúmeros órgãos de mídia. O blogueiro, assim como um grande jornal que possui o seu corpo jurídico, precisa de advogado. O problema maior está no fato da justiça brasileira não entender o que é Internet, haja visto o caso do bloqueio do Youtube em função do vídeo da Daniela Cicarelli que, foi a inauguração de uma série de erros que a justiça vem cometendo ao julgar causas ligadas à grande rede. O caso da Cicarelli, além de evidenciar a falta de preparo do sistema judiciário em analisar os “causos” ligados a web, também deixou os blogueiros na berlinda, pois evidenciou que ninguém pode recorrer à justiça pelo simples despreparo da mesma em lidar com causas dessa natureza.

Do caso Cicarelli em diante, a justiça comete um erro atrás do outro e, se não bastasse, aparece o senador Azeredo com seu projeto visando controlar a Internet. Essa é a grande graça para o sistema brasileiro: controlar. Eles só não perceberam uma coisa, o fato de que não dá para controlar a Internet, a grande rede não funciona com controle, com qualquer tipo de mediação centralizada. A Internet é descontrolada por natureza. A não ser que você transforme a Internet numa intranet, como é na China, não há como controlá-la. Mas vale explicar que a China se conectou a rede mundial já com suas barreiras criadas, o que não foi feito no Brasil e na maior parte do mundo. Ou se reconstrói a rede em diferentes modos (o que é inviável a essa altura), ou esse tipo de controle se torna impossível, isso ficou claro no caso da Cicarelli. Uma vez bloqueado o Youtube no Brasil, vários sites pelo mundo afora caíram, é o efeito e-borboleta, pois esse tipo de bloqueio afeta todo um fluxo de informação que vai além do que se queira bloquear.

Diante de tal despreparo e da impossibilidade de se bloquear a rede, o sistema agora tenta dar a sua resposta através desses novos projetos (do Azeredo e o PLC 89/03), tentando controlar a rede, inclusive tentando acabar com o anonimato. Mas, se o sistema tenta dar uma resposta ao “descontrole” da Internet, nos resta também dar uma réplica ao sistema: dizer NÃO a esses absurdos projetos e, ainda assim, entender que, caso o SIM vença, isso apenas servirá para refinar as técnicas daqueles que se utilizam da Internet para atividades criminosas e fazem mal uso do anonimato. Além de tudo isso, aquele blogueiro que já vivia a sombra do oficial de justiça que pode a qualquer momento bater na sua porta, ficará mais temeroso sabendo que, essa mesma justiça, além de despreparada para defendê-lo, terá novos aparatos para policiá-lo e também processá-lo.

Publicidade

A publicidade está na vanguarda junto com os movimentos que surgem na web. Ela foi a primeira a entrar na Internet. Jornalista não sabe de fazer jornal interativo, já a publicidade sabe. O Google hoje é o grande sistema de publicidade na Internet, foram eles que descobriram como fazer publicidade na web, e ela é compartilhada a todos, muito diferente de quando ela era centralizada pelo mass media.

Frases

- Em relação à postura da Globo em relação as novas mídias (e da ausência dessa postura nas demais empresas de mídia):

“Quando você se deixa contaminar pelas pessoas que estão fora do seu círculo, você as conquista, você aprende. Se você não se deixa, você perde uma oportunidade de ouro”.

- Sobre as mudanças no jornal:

“Não acredito que vai desaparecer, já anunciaram o fim do rádio, o fim do livro, o fim da revista, agora é o fim do jornal, não é assim que funciona, as mídias não se sobrepujam umas as outras, elas se somam”.
“A mudança de formato do jornal, tornando-se muito parecido com uma revista é algo que está sendo amplamente debatido mundo afora. Para mim a única característica que o jornal tem e que o caracteriza é o fato de ser publicado diariamente, o formato não importa”.
“O grande problema no Brasil é que as elites ficam cristalizadas numa posição de status, que faz só o que ela quer fazer dentro de uma democracia para a forma. Nesse contexto, as mudanças não acontecem, só quando vem de fora”.

- Globalização e Internet:

“Tenho uma colega que mora em Seattle que monta cursos de educação a distância para uma ONG na Holanda, para treinar médicos à lidar com a AIDS em Moçambique, e ela utiliza software livre”.

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Notas:

[1] Treinamento vocacional personalizado.

[2] http://blogger.com

[3] Dados de fevereiro de 2008.

[4] Dados da Microsoft.