E como era previsível, as conclusões do estudo O Que Leva a Imprensa a Ser Tendenciosa (What Drives Media Slant ) estão provocando uma grande polêmica tanto entre jornalistas como entre leitores e pesquisadores da comunicação.
A mais controvertida das conclusões da pesquisa é a de que o noticiário tendencioso é mais influenciado pelo público leitor do que pelo dono do jornal. Outra afirmação do estudo realizado por Matthew Gentzkow e seu colega de universidade Jesse M. Shapiro é a de que os jornais distorcem a notícia para obter credibilidade dos seus leitores.
Estas duas conclusões provocaram apaixonados debates tanto entre jornalistas considerados conservadores nos Estados Unidos como entre os profissionais tidos como liberais. Segundo Gentzkow isto é uma conseqüência do fato de que nem um nem outro grupo reconhece que existe tendenciosidade, ou o que os norte-americanos chamam de bias, no noticiário jornalístico quotidiano.
Os dois economistas basearam as suas conclusões em modelos matemáticos construídos a partir de uma pesquisa onde eles compararam a freqüência com que determinadas expressões usadas por parlamentares republicanos e democratas apareciam no noticiário de 400 jornais estudados.
Segundo eles, os jornais tendem a distorcer informações para adequar-se às crenças e valores do seu público. Seria uma decisão mais econômica do que ideológica porque a grande preocupação seria a vendagem de exemplares, e a reflexão para justifica-la seria a seguinte:
Quando uma notícia entra em choque com as crenças dos leitores, eles tenderiam a ignorá-la e desconfiar do material publicado. Nestas condições, segundo Gentzkow e Shapiro, a preocupação dos jornais com a manutenção da sua credibilidade os levaria a "dar um giro" na notícia para torna-la mais palatável ao público.
Evidentemente que uma afirmação como esta bate de frente com uma série de idéias bastante consolidadas e que creditam os desvios jornalísticos à ideologia dos executivos e proprietários de jornais.
O estudo afirma também que o noticiário tendencioso é mais freqüente na cobertura de temas complexos ou mais abstratos (por exemplo, a guerra no Iraque) do que em questões objetivas (como cotações da bolsa). Garante também que a freqüência de notícias distorcidas diminui muito em ambientes de alta diversidade de fontes de informação.
Neste item, os autores batem de frente também com o governo Bush que pretende usar a pressão diplomática e econômica para tentar frear, o que a Casa Branca considera, facciosismo anti-americano da imprensa árabe, na questão da guerra do Iraque. O estudo sugere que a alternativa seria diversificar as fontes de opinião para minimizar o efeito do noticiário da TV Al-Jazzira, por exemplo.
O estudo é
muito complexo e tem páginas e mais páginas com fórmulas
matemáticas e estatísticas para fundamentar as teses de Gentzkow
e Shapiro. O primeiro impulso é rejeita-las ou aceita-las a partir dos
valores de cada um. Pode-se não concordar com as propostas, mas tudo
indica que a pesquisa foi séria e aprofundada.
ELE NÃO LÊ JORNAL
Economista destrói mitos da indústria jornalística
Por Leticia
Nunes (edição), com Larriza Thurler em 27/3/2007 - Observatório
da Imprensa
Ele pode mudar a compreensão sobre a indústria jornalística
nos EUA, mas não costuma ler os jornais da região onde vive. "Quando
eu morava em Boston, nunca lia o [Boston] Globe. Vergonhosamente, eu tenho pouquíssimo
conhecimento do que acontece localmente", confessa o jovem economista Matthew
Gentzkow, da Universidade de Chicago – onde não lê nem o
Chicago Tribune nem o Chicago Sun-Times. Ainda assim, Gentzkow vem mostrando,
em estudos recentes, que conhece os jornais melhor do que eles próprios.
Aos 31 anos, ele atraiu atenção nacional nos últimos meses por pesquisas que revelam, entre outras coisas, que a parcialidade política dos jornais é guiada por motivos econômicos, e não ideológicos, e que os sítios de internet roubam, sim, leitores das publicações impressas, mas não tanto quanto a indústria alardeia.
Segundo o professor Austan Goolsbee, que recrutou o economista para a Universidade de Chicago, Gentzkow é um dos mais promissores e interessantes jovens economistas da atualidade. Goolsbee afirma que Gentzkow é formado por uma combinação de aprendizado acadêmico rigoroso com um apetite (raro para economistas) em cutucar a mídia. "A indústria de mídia é tão importante, mas ainda assim não tínhamos alguém que a tornasse seu foco principal [de estudos]", explica o professor.
Riqueza de material
Gentzkow percebeu que os jornais seriam um bom modelo de pesquisa pela quantidade de dados disponíveis sobre eles. "Há uma riqueza de informações porque os anunciantes realmente se importam com quem lê o que, quem assiste o que", explica. O economista também gosta dos impressos porque o estudo deles permite a abordagem de temas mais amplos. Foi o caso da polêmica pesquisa intitulada "Quem guia a inclinação da mídia?", em parceria com o economista Jesse Shapiro. Os dois começaram a observar as palavras usadas nos registros de 2005 do Congresso, classificando por partido os termos mais usados pelos políticos nos discursos para tratar de temas específicos.
A partir daí eles analisaram estes mesmos termos em textos jornalísticos publicados em mais de 400 diários. Foi usada uma escala para "medir" a incidência de termos considerados republicanos ou democratas nos jornais. O resultado da pesquisa revela que donos conservadores não necessariamente publicam jornais conservadores, do mesmo modo que redações liberais não necessariamente produzem jornais liberais. De fato, a inclinação política das publicações se encaixa com as preferências do público. Resumindo: os jornais apenas dão aos leitores o que eles querem ler. Informações de Mark Fitzgerald [Editor & Publisher, 25/3/07].
Economista destrói mitos da industria jornalística – 27/03/2007
Um jovem economista iniciou uma pesquisa nos EUA com foco nos jornais impressos. Ele afirma que os jornais trazem muito alem de informações, trazem também um rico conteúdo para estudos. Devemos concordar, pois se reunirmos jornais teremos um grande acervo de matérias para futuro estudo. O jovem que realizou a pesquisa trabalha na Universidade de Chicago e é um profissional promissor e muito interessante da atualidade. Gentzkow afirma que parcialidade política não é por fatores ideológicos mas sim por motivos econômicos, e disse também que sites da internet tem roubado leitores da mídia impressa.