TÓPICOS
RESUMO
País em desenvolvimento de dimensões continentais,
o Brasil precisa incentivar o crescimento econômico e a competitividade
das empresas locais. Torna-se indispensável apoiar a criação
de programas de educação continuada em engenharia e tecnologia,
usando soluções inovadoras como ensino à distância
(mídia eletrônica e Internet). Programas como o ‘Engenheiro
2001’ e ‘Projeto E’ (USP), assim como ‘Engenheiro Empreendedor’ (UFSC),
que foram transmitidos ‘via satélite’ para tele-salas em todo
o país, são considerados como referenciais pioneiros.
A Educação Continuada e à Distância cresce
rapidamente: empresas/organizações precisam estar preparadas
para expandir suas ramificações em nível nacional
e internacional, com o uso deste tipo de instrumentos, para ampliar
ganhos.
Palavras-chave:
Educação Continuada, Ensino à Distância,
Educação em Engenharia.
ABSTRACT
Brazil, a territory reaching nearly continental dimensions,
is a developing country where the need to increase economic growth and
industrial competitivity is enormous. It is indispensable to propose
and support continuous education programs on engineering and technology
and use innovative solutions to qualify and recycle personnel, as distance
learning and web education. We considered as pioneer references the
programs ‘Engenheiro 2001’ and ‘Projeto E’ (USP) and ‘Engenheiro Empreendedor’
(UFSC), that consisted in interactive video-conferences, broadcasted
live by the Brazilian communications satellite, transmitted to universities
and institutions, in ‘video-rooms’, installed throughout the country.
Continuous and Distance Education is growing up in a short time: enterprises/organizations
must be prepared to expand upon national and international networks
to increase profit.
Keywords: Continuous Education,
Distance Learning, Engineering Education.
INTRODUÇÃO
Desde o final do século XX, o mundo experimenta uma
mudança de paradigmas. Na denominada ‘Era do Conhecimento’, estamos
vivenciando uma transição em que antigos símbolos
de riqueza, de muitos séculos, como a propriedade da terra (anterior
à Idade Média) ou a posse dos meios de produção
(a partir da Revolução Industrial), rapidamente
cederam lugar a um novo referencial: o conhecimento.
Em conseqüência, assiste-se à tentativa
de implantar ações que visam a revalorização
da educação e do treinamento, principalmente como responsabilidade
que, hoje, vai muito além dos estreitos limites dos bancos escolares.
De acordo com De Meis (1994),
"a velocidade de produção de novos conhecimentos
cria, continuamente, novas perspectivas de produção lucrativa
para o setor industrial. Em conseqüência, requer-se uma força
de trabalho preparada tecnicamente e com capacidade de aprender, continuamente,
ao longo de toda a sua vida profissional".
De fato, todos setores da sociedade já demonstram
compreensão de sua importância, para enfrentar o ambiente
altamente competitivo que se instalou em escala mundial. Não surpreende
que empresários, mesmo de setores tradicionais, reafirmem as vantagens
de um sistema eficiente de educação e treinamento, defendendo
a promoção não de um choque econômico (ou cambial),
mas a necessidade que o país tem hoje de um ‘choque de educação’.
A esse propósito, Ramos (1992) afirma que as
nações desenvolvidas, ou em processo de desenvolvimento,
que enfrentam problemas educacionais, como a grave situação
que vem sendo identificada em nosso país, sobretudo no que se refere
ao ensino fundamental, podem ser consideradas "nações
em risco".
A administração pública em geral,
mas em especial as universidades, enfrentam hoje grandes dificuldades,
não só por problemas decorrentes das mudanças que
vêm sendo implementadas, mas ainda pela desmotivação,
redução da produtividade, dificuldades na implantação
de sistemas eficientes de gerenciamento e controle, bem como na perda
de seus melhores e mais qualificados quadros.
Cria-se uma contradição interna: o discurso
reafirma a importância da educação, mas ações
e políticas governamentais colocam em risco sua qualidade e até
a existência da escola pública, exatamente a que atende aos
mais carentes. Para a sobrevivência do país, num mundo de
economia globalizada, é urgente ampliar investimentos no setor,
pois nos países adiantados os avanços da tecnologia prosseguem
em ritmo acelerado e, se não formos capazes de produzir os conhecimentos
(e as tecnologias apropriadas) necessários ao desenvolvimento,
estaremos comprometendo, muito mais que nossa economia, a própria
soberania nacional.
Esse crescimento da competitividade obriga os países
a promoverem uma urgente modernização de todas suas antigas
estruturas, principalmente a educacional, repentinamente percebidas como
obsoletas.
Técnicas de planejamento estratégico permitem
antever alguns ‘cenários’ para melhor atender as atuais demandas,
mas em todos eles a educação, sobretudo a tecnológica,
desempenha um papel fundamental.
Áreas como engenharias, administração
e outras com forte aplicação em P&D, contribuem de maneira
decisiva, não só para a produção de bens,
mas para reduzir a dependência cultural e econômica, em relação
a países mais desenvolvidos.
De acordo com Bonsiepe (1983), "o mundo está
dividido em dois grupos: produtores e consumidores de tecnologia. Os países
centrais mantêm sua liderança, usando sistematicamente uma
estratégia muito poderosa, chamada inovação tecnológica",
associada à constante melhoria dos métodos de gestão.
Visando promover o desenvolvimento autônomo e
sustentável, as universidades, principais responsáveis pelo
ensino tecnológico, devem preparar-se para enfrentar desafios,
promover mudanças e, sempre que possível, adotar instrumentos
de intercâmbio em nível nacional e internacional. Esse tipo
de ação visa a maior interação do setor acadêmico
com as empresas e a comunidade, mas sem negligenciar as relações
e ativação de atividades conjuntas com outras instituições
similares (universidades e centros de pesquisas), do Brasil e do exterior,
de modo a ampliar sua capacitação interna, e a qualificação
da comunidade acadêmica.
Uma das formas mais eficientes para alcançar
esse tipo de objetivo tem sido estimular professores, alunos e corpo técnico,
a desenvolver atividades empreendedoras e a criatividade, adotando novas
idéias onde haja expressiva aplicação tecnológica.
EXPERIÊNCIAS BRASILEIRAS
O Brasil tem uma história relativamente rica e pouco
conhecida de experiências no campo da educação à
distância e, em particular, no seu uso para a educação
continuada. Seu marco inicial talvez se situe em 1923, quando a Rádio
Sociedade, do Rio de Janeiro, iniciou a educação pelo rádio
em nosso país. Os conhecidos Instituto Técnico Monitor e
Instituto Universal Brasileiro, que se valeram do ensino por correspondência
e mantêm larga atuação, foram criados, respectivamente,
em 1939 e 1941. Em 1943, a Igreja Adventista Brasileira lançou
cursos bíblicos por correspondência. Em 1946, surgiu a Universidade
do Ar, do SENAC. Mais recentemente, em 1969, foi criada a TV Educativa
do Maranhão, que atingiu 42.000 alunos em 32 municípios.
Essas referências dão idéia de como
muitas iniciativas isoladas proliferaram em nosso país, ao longo
de décadas. Entretanto, o uso mais intenso de novas tecnologias
para o oferecimento de educação à distância
só se verificou a partir dos anos noventa. De fato, em 1995 pode-se
citar três referências importantes: o lançamento do
Telecurso 2000, iniciativa de porte nacional em parceria da FIESP/Fundação
Roberto Marinho, a criação do Programa de Educação
Continuada à Distância da Fundação Vanzolini,
de certa forma pioneiro na USP, e a criação da ABED – Associação
Brasileira de Educação a Distância, cuja criação
comprova o crescente interesse pela questão no meio educacional.
Paralelamente, foram realizadas experiências pela Universidade Nacional
de Brasília e pela Universidade Federal de Santa Catarina, primeira
no uso da videoconferência para cursos de mestrado à distância.
Por sua vez, Maia (2001) registra um conjunto de instituições
que oferecem cursos à distância em nossos dias. Essa relação
não pretende ser completa, pois baseada na manifestação
espontânea dos citados. Por ela, pode-se ver que a prática,
em maior ou menor grau, seja na graduação, na pós-graduação
ou na extensão universitária, a educação à
distância no Brasil está razoavelmente disseminada, baseada,
sobretudo, em cursos desenvolvidos via Internet.
Há que citar, também, o afluxo de universidades
estrangeiras: Open University, da Inglaterra; National Telechnological
University, norte-americana; Universidad Nacional de Educación
a Distancia, da Espanha, dentre várias outras, que, individualmente
ou em parceria com instituições brasileiras, estão
penetrando em nosso mercado educacional. É, inclusive, nossa opinião
que essa ação só não ocorreu de forma mais
incisiva pelo fato de falarmos português, e não inglês
ou espanhol.
NOVOS FOCOS DA EDUCAÇÃO EM ENGENHARIA
A valorização do conhecimento como novo paradigma
da sociedade, aproximou Universidade e setor produtivo como nunca ocorreu,
desde 1086, quando foi fundada a Universidade de Bolonha e, com ela, um
conceito de instituição que evoluiu de forma contínua
até os dias presentes. Pode-se considerar que as transformações
do mundo atual, incluído o processo de rápidas mudanças
predominante, resultam do trabalho e pesquisa desenvolvidos no ambiente
acadêmico.
Realmente, a Universidade foi capaz de promover as grandes
transformações do mundo que conhecemos atualmente, mas reluta
em realizar mudanças em sua própria estrutura. Esse tipo
de resistência ao avanço faz com que ela se aproxime do modelo
que predominou ao longo do Século XIX, contrariando a tendência
da sociedade, que já assumiu novos paradigmas.
É indispensável que inicie um processo de
renovação, para melhor se adequar aos novos tempos, modernizando
sua estrutura burocrática predominante, hoje voltada à ansiosa
busca de validação em tradições do passado.
Somente desse modo poderá manter-se contemporânea de seu
próprio tempo e seguir na trajetória de atualização
que permitiu sua sobrevivência até os dias atuais.
Richard Larson (1999), diretor do CAES – Centro para
Serviços Educacionais Avançados do MIT, certamente a mais
conceituada instituição de ensino tecnológico na
atualidade, afirma que nos quase 30 mil anos que separam as pinturas das
cavernas do professor com giz e quadro negro, o mais importante
avanço da humanidade nesse campo foi "a invenção
do apagador..."
Podemos até especular, imaginando que se nossos
antepassados tivessem a possibilidade de retornar, o único ambiente
familiar que conseguiriam encontrar seria uma sala de aula.
De fato, o mundo sofreu mudanças tão profundas,
que mais que 80% do que hoje constitui nossa ‘cultura material’ não
existia ao final da II Guerra, em 1945. De Brochard (1991) reafirma a
previsão de sociólogos, de que "50% dos produtos que
formarão nosso universo nos próximos 10 anos, ainda não
foram inventados", condição que permanece válida
e constitui-se num importante desafio que, para o avanço do país,
precisa ser transformado em oportunidades de trabalho, principalmente
para categorias ligadas à área tecnológica, como
a Engenharia.
Bazzo (1999), que vem desenvolvendo importante trabalho
sobre o referencial básico para a ‘construção do
conhecimento’, entende que "nossas escolas são excelentes, estão
no mesmo nível –muitas vezes acima– das escolas em todo o mundo.
Precisamos apenas desenvolver a questão pedagógica. É
preciso incomodar, desestabilizar, provocar e motivar o aluno, para que
desenvolva a curiosidade, a iniciativa, o senso crítico e a criatividade."
Para que esse conjunto de condições possa
de fato ocorrer, no entanto, será indispensável estarmos
preparados, contando com profissionais de alta qualificação.
Caso contrário, no atual cenário de economia globalizada
e nações agrupadas em torno de blocos econômicos,
os espaços que não conseguirmos preencher serão ocupados
por profissionais oriundos de outros países.
A educação continuada e a Legislação
De acordo com a LDB (Lei 9.394/96), em seu Art. 43, a educação
superior tem por finalidade:
I - estimular a criação cultural e
desenvolvimento do espírito científico e do pensamento
reflexivo;
II - formar diplomados nas diferentes áreas
de conhecimento, aptos para a inserção em setores profissionais
e para a participação no desenvolvimento da sociedade
brasileira, e colaborar na sua formação contínua;
( ..... )
V - suscitar o desejo permanente de aperfeiçoamento
cultural e profissional e possibilitar sua concretização,
integrando os conhecimentos adquiridos numa estrutura intelectual
sistematizadora do conhecimento de cada geração;
O novo perfil do profissional de Engenharia
Rocha (2000), constata que "no futuro só
os mais qualificados terão oportunidade: os que forem capazes de
aprender a aprender depois do diploma". De fato, nossos engenheiros
precisam se conscientizar de que a velocidade das mudanças promove
rápida obsolescência do conhecimento tecnológico,
gerando a necessidade de se transformarem em aprendizes vitalícios.
A escola deverá, assim, transcender os limites da academia, ampliando
a necessidade de educação para toda a vida profissional.
Como afirma Pirró e Longo (1999), "as complexas
demandas da sociedade moderna são atendidas por tecnologias crescentemente
resultantes da aplicação de conhecimentos científicos.
(...) Indivíduos produtivos que não se atualizarem permanentemente
poderão tornar-se, subitamente, ‘analfabetos tecnológicos’,
ou seja, tornarem-se inabilitados para os postos de trabalho originalmente
ocupados ou outros que tenham sido criados requerendo, normalmente, maior
qualificação que os anteriores".
O trabalho de alta qualificação é
responsável por agregar alto valor. Essa condição
aproxima profissionais dos referenciais preconizados pelos novos modelos
de gestão.
Cada vez mais se faz necessário adotar uma postura
de aprendizagem voltada ao conhecimento global (humanístico), que,
de acordo com Nicolescu (1996), pode favorecer a formação
de cidadãos mais atuantes, aptos a desenvolver novas habilidades
e capacidades, tais como:
-
aprender a aprender
-
aprender a fazer
-
aprender a conviver
-
aprender a ser
São competências indispensáveis para
transformar os desafios do nosso tempo em oportunidades. Esse
processo continuo de aprendizagem exigirá ainda
novos referenciais de relacionamento interpessoal, onde assumem grande
importância o apoio na escola, na família e no ambiente profissional,
de modo a permitir, ao pessoal da área tecnológica, a assimilação
da capacidade de conceituar problemas e soluções. Habert
(1998) reafirma que isso deverá ocorrer, através da utilização
de aptidões básicas como abstração, raciocínio
sistêmico, experimentação e colaboração.
Este tipo de abordagem constituiu, inclusive, o referencial
básico do discurso de Bill Clinton (1998), quando presidente dos
Estados Unidos da América, ao proferir a Aula Magna no MIT, quando,
ao referir-se às ameaças de perder o esforço de modernização
do país, afirmou: "...é
preciso ter certeza de que as conexões em todo o mundo não
serão desperdiçadas porque nossas crianças não
tenham as habilidades que serão exigidas no Século XXI"*4.
Acompanhando as transformações da sociedade,
será preciso mudar o sistema de gestão da educação
tradicional, no sentido de uma nova cultura baseada em tecnologias interativas,
que têm como foco a autonomia da aprendizagem e a atitude pró-ativa.
Estudos de teoria da aprendizagem de Piaget (1996) ou Vigotsky (1997),
já preconizavam um deslocamento do referencial da educação
do ensino para a aprendizagem, dando suporte às teorias sobre ‘Inteligência
Coletiva’ de Levy (1994). No início da década de 60, o canadense
McLuhan (1964), criador da expressão ‘global village’ (aldeia global)
foi incisivo ao afirmar: "acontecerá uma verdadeira ‘revolução’
no que concerne aos papéis de aluno e professor".
Hoje já existe a consciência de que será
indispensável garantir as condições para que o egresso
(principalmente quando vinculado à empresa) possa dispor de seu
tempo de aprendizagem, o que pode ser facilitado com a utilização
de mídia eletrônica e Internet.
CONTRIBUIÇÃO DA ECAD
No artigo "O Aluno Vitalício", Costa Neto
(1998) tece considerações sobre a atual realidade globalizada,
na qual as informações e o conhecimento fluem com grande
rapidez, obrigando os profissionais a submeter-se a um permanente processo
de atualização, sob pena de se tornarem despreparados para
as exigências do mercado de trabalho. O diploma conquistado na academia
perde, cada vez mais rapidamente, a sua importância como atestado
de conhecimento e competência. O bom profissional, em qualquer campo
do saber, vê-se forçado a um processo de aperfeiçoamento
contínuo, a um lifelong learning, como bem definido em língua
inglesa.
Surge, portanto, uma extraordinária necessidade de
oferta de cursos de educação continuada, para atender à
atualização permanente de milhares de profissionais. Só
na área de telecomunicações, por exemplo, onde os
avanços tecnológicos se dão com grande rapidez, estima-se
que há necessidade de treinar, de imediato, 170.000 pessoas. Universidades
e instituições afins, evidentemente, se desdobram no sentido
de atender a essa crescente demanda, que representa, ademais, uma extraordinária
fonte de recursos.
Há, entretanto, barreiras impedindo que esses fornecedores
de cursos de extensão e aperfeiçoamento possam atingir a
potencialidade desse enorme e ávido mercado, tais como:
-
limitação da capacidade de expansão
física dos cursos dados presencialmente;
-
limitações geográficas, impossibilitando
o deslocamento de potenciais alunos localizados em regiões
distantes;
-
limitações de ordem temporal, ditadas
por horários de trabalho e dificuldades de deslocamento nas
grandes metrópoles;
-
dificuldade de expansão dos corpos docentes
sem perda de qualidade didática.
Essas dificuldades, dentre outras, tornam praticamente impossível
atender à demanda existente, com a velocidade que se requer, com
base apenas no ensino tradicional. Uma solução eficaz, que
atenda, em curto prazo, às necessidades dos profissionais, das
empresas, do governo e do país, é o que se demanda no momento
presente.
Entretanto, se, por um lado, parece claro que a solução
para essa questão reside na adoção, em larga escala
e de forma organizada, forma da educação
à distância para suprir as necessidades da educação
continuada, não está ainda claro como isso poderá
ser feito de eficaz. De fato, sem citar nomes, temos visto muito esforço
ser despendido, muito investimento ser realizado, muitas tecnologias serem
invocadas, sem que os resultados efetivamente conseguidos sejam os desejados.
Isto talvez ocorra devido ao fascínio que certas soluções
exerçam sobre os educadores, levando-os a se lançarem à
ação sem uma devida introspecção preliminar.
Nossa própria experiência envolve
tentativas que, por motivos
vários, não corresponderam à expectativa.
Há também a se considerar resistências
e contrafacções por parte daqueles que não acreditam
na eficácia da educação à distância,
ou sentem que possam ser prejudicados pela sua adoção. Isto
é natural e ocorre sempre que alguma novidade revolucionária
esteja em cogitação.
PROPOSTAS
Observa-se que as principais ações visando
implementar a educação à distância com o uso
de novas tecnologias em nosso país está centrado em duas
vertentes principais: Internet e mediante o uso da videoconferência.
Por videoconferência entendemos o sistema que remete a imagem de
vídeo em todas as direções envolvidas, o que é
possibilitado pela presença de câmeras para captar a imagem
em todos os ambientes. É o sistema que permite, portanto, a mais
plena interatividade sonora e visual entre todos os participantes.
(Na interface de convergência desses dois sistemas
já existe uma tecnologia chamada "streamming de vídeo",
que possivelmente esteja operacional em futuro próximo.)
O desenvolvimento de cursos via Internet é bastante
generalizado, devido à facilidade de acesso, à existência
de vários softwares de apoio no mercado (Universite, Learning
Space, Aulanet, WebCT, etc.), à proliferação de especialistas
em programação HTML e outras, ao crescimento do número
de internautas, etc.
O ensino pela Internet é o mais capilar possível,
no sentido de que atinge o aluno no seu microcomputador, onde ele esteja,
sendo, ademais, assíncrono, isto é, o conhecimento disponibilizado
na rede pode ser acessado a qualquer momento. A interatividade se dá
mediante procedimentos (síncronos) de chat, ou pelo apoio
de tutoria remota. Para mais informações, ver Costa Neto
(2000).
A videoconferência envolve o uso de equipamentos relativamente
caros, de operação especializada, exigindo a presença
dos alunos na sala de aula em horários determinados, sendo, pois,
síncrona. Sua principal limitação, a nosso ver, está
na inviabilidade de expansão (a mais do que 4 ou 5) da rede de
pontos remotos, sob pena de perder a sua principal vantagem, a plena interatividade
visual.
Sua melhor utilização cremos que seja em cursos de pós-graduação,
que se valham da realização de seminários/apresentações pelos alunos,
quando todos poderão apreciar as atuações dos demais participantes, nelas
intervindo sempre que necessário.
Estas duas mídias são as que têm sido privilegiadas no Brasil
pelas instituições que se dedicam, de uma forma ou de outra, à educação
à distância.
Muitas universidades têm programas de desenvolvimento de
atividades na Internet, seja para disponibilizar cursos abertos, de extensão
universitária ou mesmo de graduação (Maia, 2000), seja para apoiar os
seus próprios cursos tradicionais. Estão surgindo, também, grandes portais
na Internet, que buscam incluir o oferecimento de cursos à distância nas
suas linhas de produtos.
Já os cursos por videoconferência têm sido utilizados por
universidades, destacando-se como pioneira a Universidade Federal de Santa
Catarina. Há também atividades de videoconferência na Universidade de
São Paulo, Universidade Federal do Paraná, Escola de Administração de
Empresas da Fundação Getúlio Vargas, Instituto de Tecnologia do Paraná
e, certamente, em diversos outros locais.
A videoconferência vem sendo também bastante usada em grandes
empresas para a realização de tele-reuniões, com considerável economia
de tempo e de despesas com deslocamento de pessoal.
Fica, entretanto, uma indagação: como atender demandas de
grande porte, bem como uma ainda grande quantidade de possíveis treinandos
não afeitos ou não satisfeitos com o uso da Internet? Esta é, sem dúvida,
uma realidade presente em nosso país, que deve ser avaliada convenientemente.
Há também o mercado empresarial, crescente e importante.
De fato, cada vez mais grandes empresas criam suas "universidades corporativas",
buscando resolver o problema da educação continuada dos seus colaboradores.
Uma terceira possibilidade, praticamente inexplorada no
país, poderá representar uma resposta eficaz a essas questões. Trata-se
da teleconferência interativa, na qual se incorpora à teleconferência
tradicional, com base na transmissão por satélite, uma combinação de hardware
e software que permite aos alunos interagirem instantaneamente com o professor,
em seu estúdio, facilitando a avaliação permanente e sistemática do aprendizado,
assim como o acompanhamento 'pari passu' do processo de compreensão dos
assuntos.
Não nos deteremos em maiores detalhes sobre as mídias neste
artigo. Ao invés, apresentamos a Tabela 1, na qual as características
do três sistemas mencionados são cotejadas. Estamos trabalhando no sentido
de que a terceira proposta mencionada possa se concretizar, oferecendo
uma nova alternativa que, acreditamos, poderá superar as demais em diversas
situações.
Mídia Aspectos
|
Internet
|
Videoconferência
|
Teleconferência Interativa
|
Investimento
|
Baixo
|
Médio
|
Alto
|
Rentabilidade
|
Baixa
|
Discutível
|
Alta
|
Economia de escala
|
Média
|
Baixa
|
Alta
|
Tempo de implementação
|
Médio
|
Médio/Alto
|
Pequeno
|
Agregação de conteúdo
|
Trabalhosa
|
Relativamente complexa
|
Simples
|
Interatividade
|
Mediante e-mail e chat
|
Visual
|
Mediante hardware e software
|
Abrangência
|
Média
|
Pequena
|
Grande
|
Aplicabilidade
|
Geral
|
Pós-graduação, tele-reuniões
|
Extensão, cursos abertos
|
Amigabilidade
|
Específica a internautas
|
Média
|
Grande
|
Capilaridade
|
Grande
|
Pequena
|
Média
|
Principal veículo
|
Web
|
Linha telefônica de banda larga
|
Satélite
|
Uso no Brasil
|
Generalizado
|
Universidades e grandes empresas
|
Incipiente
|
Tabela 1 - Comparação entre propostas
de EAD
No presente artigo, apresentamos uma contextualização do
cenário atual da educação tecnológica em nosso país, oferecendo uma visão
panorâmica do estado da arte e da trajetória da educação à distância no
Brasil, tendo como pano de fundo a sua importância para suprir as deficiências
recentemente identificadas, no atendimento de diversas necessidades, sobretudo
da área de educação continuada.
Esta necessidade é particularmente acentuada no campo das
Engenharias, por sua natureza técnica, onde o surgimento de novos conceitos
e metodologias é permanente e acelerado.
Um breve referencial conceitual permite melhor entendimento
desta nova modalidade de ensino, que utiliza a mídia eletrônica e a Internet
como veículos para a democratização da difusão dos conhecimentos. Criam-se,
assim, oportunidades inusitadas para que países/regiões menos desenvolvidos
possam reduzir os desequilíbrios, transformando desafios em oportunidades.
Favorece ainda a compreensão do quadro comparativo entre
as duas modalidades mais praticadas e uma terceira, de custos contidos
e com elevado grau de interatividade, que poderá suprir grande parte das
lacunas ainda existentes.
Esta outra modalidade, em particular, deverá assumir progressivamente
um grande interesse para empresas e organizações que já tenham identificado
a importância de se ramificarem por muitas partes do território nacional,
pois uma de suas importantes características é o alto ganho em termos
de economia de escala.
Acreditamos que a educação à distância deverá ter um desenvolvimento
marcante em nosso país nos próximos anos, após o que poderemos avaliar
melhor os aspectos abordados neste artigo, procedendo aos necessários
ajustes, com base nas novas evidências que estarão disponíveis.
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Dados Biográficos dos Autores
Ari Antonio da Rocha
Arquiteto (USP, 1964), Designer (1968), Mestre (Itália,
1966), Doutor (USP, 1973) e Pós-Doutorados na Espanha e Brasil.
Foi professor de Graduação e Pós-graduação
(USP, PUCCamp, FAAP, Brás Cubas e UFRN). Trabalha como Consultor
nas áreas de Educação à Distância, Arquitetura
e Design. Foi Vice-Presidente da Academia de Ciências – RN (1991-1999),
Secretário Regional da SBPC – RN (1992 -1996) e membro do Conselho
Estadual de Ciência e Tecnologia – RN (1995-1999). É Assessor
Técnico da Presidência da ABENGE, Coordena a Comissão
Nacional de Educação do IAB – Instituto de Arquitetos do
Brasil e Representa a Cátedra Gaudí / UPC – Universidade
Politécnica da Catalunha, Barcelona, para o Brasil.
Pedro Luiz de Oliveira Costa Neto
Engenheiro Aeronáutico (ITA, 1962), Mestre (Stanford,
1975) e Doutor em Engenharia (USP, 1980). Professor de Pós-graduação
da Universidade Paulista – UNIP e das Faculdades Tancredo Neves. Trabalha
como Consultor na área de Educação à Distância.
Foi professor de Graduação (Escola Politécnica da
USP, UNICAMP, FGV-SP e Escola de Engenharia Mauá), Diretor Adjunto
da fundação SEADE – Sistema Estadual de Análise de
Dados (1983-1987), Presidente da ABEPRO – Associação Brasileira
de Engenharia de Produção (1987-1991) e Presidente da Fundação
Vanzolini–USP (1992-1997). Juiz do Prêmio Nacional da Qualidade
(desde 1992), recebeu o Prêmio Acadêmico da Qualidade Banas
(1999).
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