O Poeta Amuado

Não amuem o poeta -
pode soltar
aguda seta!

E o poeta amuado
pode ser
indelicado

E ir, de repente
do ameno
ao contundente...

Não sei fazer mais...
Seguem, pois,
meus livres haicais!

Mas algo me anima:
meus haicais
têm sempre rima...

Sempre apoiei...
Vejam só
como errei...

Sociólogo de esquerda -
e, por fim,
esta grande perda...

Déspota esclarecido,
ou o Brasil
está perdido...

Chego a pensar
numa estátua
a Calabar...

Sempre ocorre de novo:
esquecer
que existe o povo...

Ao fim do desabafo em que vai seu lamento
pela oportunidade, que julga perdida,
de o Brasil se livrar do seu velho tormento,
não resta ao poeta amuado mais que a despedida...

O que vem por aí, a um simples pensamento,
ante os fatos atuais, a mente esclarecida
é capaz de prever...Portanto, este é o momento
certo para cobrar a obrigação devida:

- Fôsseis, do início, um presidente, o P maiúsculo,
um estadista que o futuro enxerga e atina,
não estaria, já, o governo em seu crepúsculo...

Fica, só, a ilusão de que, quiçá mudando
vossa forma de agir, revertais esta sina,
com vontade política hercúlea, Fernando!


Evoco o meu país, e eis que estou diante
de um quadro peculiar, onde há de tudo -
do progresso, a riqueza impressionante,
ao mendigo paupérrimo, desnudo...

Maravilhas, como há, de deixar mudo,
mas contrastes se vêem a cada instante...
A natureza é pródiga, e contudo,
sofre a agressão do homem, revoltante...

Porém o quadro visto está incompleto,
pois muito mais este país encerra
para exibir a quem olhar se ponha,

como o drama, nas urbes, dos sem-teto,
a tragédia, no campo, dos sem-terra,
e, em Brasília, o farrear dos sem-vergonha...

 
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