O Afanador de Galináceos

Morreu Barbosa Lima, que há três anos
celebrara, ainda rijo, o centenário...
Foi-se patriota ilustre, legendário,
que a glória do Brasil tinha nos planos...

Oriundo dos rincões pernambucanos,
Fez do país sua causa, seu ideário...
Frustava-o, certamente, o atual cenário
de incompetência, crimes, desenganos...

De "reserva moral desta nação"
foi chamado, num preito à sua honradez
- mas a homenagem traz preocupação,

pois faz-nos perguntar se é nossa fado
reservas ora ter desse jaez
só nascidas no século passado...


Bateram a carteira de Albert Gore:
venceu essa eleição e foi tungado,
num cambalacho que há que se deplore,
em que é o Brasil também prejudicado...

No voto e no colégio derrotado,
não se impediu que o outro comemore,
apesar do perfeito resultado
de igualdade na Flórida, ontem "core"

da decisão forjada, uma cabala
de tribunais onde os conservadores
detinham maioria... E digo mais,

se fosse aqui, no Irã, na Guatemala,
tal resultado causaria horrores
a "observadores internacionais"...


Na história há muito caso de estadista
que ousou os poderosos enfrentar
com firmeza e coragem, tendo em vista
as conquistas da pátria preservar...

No entanto, neste mundo imperialista,
a esses homens de têmpera exemplar
se busca, com ardis, baixar a crista,
muitas vezes chegando-se a os matar...

Com Patrice Lumumba foi assim,
com Allende, Solano, Tiradentes,
heróis aos quais foi dado triste fim...

Quiça tenha razão nosso Fernando,
cujas ações covardes e prudentes
permitem-lhe seguir nos governando...


Lembro-me da era Collor, em que havia
corrupção vergonhosa, deslavada,
bandalheira era feita à luz do dia,
na certeza de estar acobertada...

A coisa era notória!... Se sabia,
não obstante ninguém falasse nada,
que a grandes comissões se recorria
para poder ter obra contratada...

Foi preciso que o irmão dissesse tudo,
para ruir esse esquema...Hoje, o que passa?
Muito mais corrupção, mas ciente e mudo

o país, como dantes... Até quando?
Há agora Antonio Carlos... Por pirraça,
será o baiano o Pedro de Fernando?...


Solto Pimenta Neves, o assassino
implacável da jovem jornalista!
Um rico a mais a ter o seu destino
aliviado da forma mais simplista...

Será julgado um dia?...Já imagino
o quanto istó é improvável, tendo em vista
os cenários possíveis: desatino
é crê-lo outra vez preso - não se insista...

E foi pelo Supremo libertado, 
o tribunal maior desta nação,
como a dizer a muito celerado:

"Se tem dinheiro, pode até matar,
pois a justiça estender-lhe-á uma mão
amiga, generosa, tutelar...  


É primeiro de abril, o dia da mentira...
Qual terá sido o início desse velho chiste:
uma falseta imensa, algo que não existe,
produto de uma mente estulta que delira?

E fico a matutar, em face ao que se assiste
no nosso dia-a-dia do mundo que gira,
quanta inverdade dita, a incentivar a lira
e a sátira do vate que a tal não resiste...

Se um concurso fizéssemos, cá no Brasil,
com vistas a premiar o maior mentiroso,
teríamos, por certo, candidatos mil

- nomes não citarei, para não ser tedioso,
porém meu favorito possui o perfil
de um Münchhausen moderno e atende por Cardoso...


Passa o féretro triste e segue em frente,
em seu triste trajeto ao cemitério
- e o caixão pequenino mais pungente
faz ficar o espetáculo funéreo...

Aí temos um polêmico mistério:
se Deus existe, então por que consente
que uma criança se vá?...Por qual critério
manda chamar tão cedo um inocente?...

"Ele sabe o que faz..." muitos dirão,
assim mostrando o cego conformismo
que serve de alicercer à religião...

É simples, e talvez até conforte,
porém, perante o meu agnosticismo,
parece concessão demais à morte...


Fui visitar do Estado o novo Arquivo
e vi uma exposição sobre Adhemar,
que lá se armou para comemorar
cem anos que teria se inda vivo...

Isso pôs-me a pensar no estranho crivo
que permite a um governo chanchelar
uma homenagem dessas, secular,
a quem foi um corrupto muito ativo...

Alguém há de dizer "Roubou, mas fez..",
usando um argumento duvidoso,
mas com certa razão, pois a avidez

do caixa da figura homenageada,
pelos padrões desta era de Cardoso,
era coisa pequena, quase nada...


Fico amiúde a pensar: "Terá o Brasil
condição de viver melhor momento,
não mais sofrer subdesenvolvimento,
que ainda existe, passado o ano 2000?

Seu povo irá, com ' peito varonil ',
como cantava o poeta, com alento
e inteligência, dar, como ora avento,
a esta grande nação novo perfil?"

Dirão, é claro: "Mas com esta gente?"
Ora, isto já me sabe a impertinência,
pois outros como nós foram à frente...

Outro argumento, sim, me desanima:
onde buscar excelsa referência
se o mau, o pior exemplo, vem de cima?...


Está ficando próxima a eleição
que irá nos dar um novo presidente
alguém que, ansiosamente, esta nação
espera que, outra vez, a ponha à frente...

Será quem este ungido cidadão?
Quem vencerá este pleito tão candente?
Dentre os candidatáveis que já estão
na liça, há algum que possa ter-se em mente?

Não sabemos quem vem - nem é importante
preocupar-se com isso neste instante,
mas ir-se, sim, dessa questão ao cerne:

este seja ou aquele que nos venha
liderar, tanto faz, mas que se tenha,
enfim, um presidente que governe...

 
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