A Fernando

Recordo Potosi, bela e pacata
cidade há muito erguida a grande altura,
e a montanha de prata, pura prata
que foi a sua riqueza e a sua tortura...
 
Por ela, gente vil, que rouba e mata,
profanou a Bolívia... E a clava dura
dos saqueadores uma história ingrata
lavrou, cheia de sangue e de amargura...
 
Há tempo estive lá, mas a impontente
montanha, com suas minas, faz lembrar,
ainda hoje, que fiquei ao longe, ausente...
 
E nesse pensamento algo me assanha:
o anseio de voltar a esse lugar
e desvendar o ventre da montanha!

Elegemos Fernando, mas - que pena! -
pelo visto, iludiu-nos a aparência:
a suposta estatura era pequena
para o enorme tamanho da exigência...
 
Bem cedo seus princípios de decência
se revelaram com crueza plena.
que teve a primogênita evidência
no grotesco episódio do Lucena...*(1)
 
Aquilo disse tudo! Estava dado
o recado de como iriam ser
 seu governo, seus atos, sua imagem...
 
Esquecêssemos todos seu passado:
no início do mandato fez saber
que aderira à vulgar politicagem...
 
(*) Humberto Lucena, presidente do senado

"Com vontade política hercúlea, Fernando!"
Foi com estas palavras, compostas então,
que opúsculo anterior encerrei, denotando
um laivo de esperança em vossa redenção.  
Passado um tempo a mais, seguistes demonstrando
que a esperança era vã -  e adicional razão
destes ao vate, além da que ele tinha quando
alí tecia críticas à vossa ação.
 
Do governo a política neoliberal,
a forma como foi a reeleição tramada,
a despriorização do que seja social,
 
tudo nos mostra agora, por motivos mil,
que ao projeto Fernando não importa nada
que tenha ver com algo chamado Brasil...

"Ora - direis - por que espezinhas tanto
este Fernado, que afinal é honesto?"
E eu vos direi, com muito desencanto,
que, pelo que já vi, isso contesto.  
Dele onde a honestidade? Causa espanto
que não vejais a burla... E se me presto
a analisar melhor seus atos, quanto
mais o faço, maior é o meu protesto!
 
Direis agora: "Mas por que em teus versos
não atacas os outros? Ladravaz
tem muito no Brasil e esses perversos
 
ladrões conheces bem..."E eu vos direi
que a razão pela qual os deixo em paz
é que nesses canalhas não votei...
 
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