Não há necessidade de nos estendermos sobre o uso intensivo e crescente da educação à distância no mundo de hoje, por ser fato amplamente conhecido. Numa era em que o Pedro Luiz de Oliveira Costa Neto, Universidade Paulista – Mestrado em Engenharia de Produção, Faculdades Trancredo Neves – Mestrado em Administração, Rua Alves Guimarães, 408/104 – 05410-000 – São Paulo, SP, Brasil, tel 55-11-3064-6502, politeleia@uol.com.br mercado de trabalho exige que os profissionais se transformem em alunos vitalícios, não são só os países de ponta que se valem cada vez mais da sua utilização, como há também experiências notáveis na Espanha, Portugal, México, China, dentre outros. No Brasil, a educação à distância já tem uma certa tradição, sendo relativamente antiga se considerarmos os cursos por correspondência. Entretanto, só na última década começaram surgir experiências utilizando as modernas tecnologias da informação e da telecomunicação. Esse uso tem se concentrado, para efeito didático, na Internet e na videoconferência, pelo que entendemos o sistema em que todas as salas são dotadas de câmera de vídeo, permitindo que som e imagem transitem bidirecionalmente entre as tele-salas. A teleconferência, sistema que entendemos ser aquele em que a imagem transita apenas do ponto de geração para os plenários remotos, processando-se a interatividade por outros meios, como fax, telefone ou Internet, vem tendo utilização crescente em nosso país. Algumas dessa experiências, de que participamos, são descritas a seguir. Uma comparação entre os três meios citados pode ser vista em [1]. Entretanto, lembramos que a teleconferência tradicional, conforme estamos considerando nesse texto, é um excelente instrumento para a apresentação de idéias e debates para grandes públicos dispersos, não se prestando ao ensino. Para isso, maior interatividade seria exigida, baseada em hardware e software ,como indicado em [2]. Esse sistema, mesmo sem mais sofisticação, porém, pode fornecer um grande apoio à qualidade de processos educacionais, sem ser, necessariamente, um ferramenta destinada a substituir, mas sim complementar, as aulas presenciais tradicionais. Formas de fazê-lo serão apresentadas na seqüência deste artigo. 3. A Teleconferência Ouvimos, mais de uma vez, dizer-se que a teleconferência “não funciona”, que “pouca gente assiste”, que é “um meio de comunicação ultrapassado”, que “é caro”, etc. De fato, um projeto envolvendo teleconferências não funcionará, pouca gente assistirá e será caro, se não for adequadamente planejado,programado,organizadoe controlado. Antes de tudo, a teleconferência tanto mais se justifica como veículo quanto maior for o porte do projeto, em termos de abrangência geográfica, de número de pessoas a atingir e de quantidade de assuntos a abordar. Seria inconcebível conceitual e economicamente realizar-se uma única teleconferência para poucos plenários e para um público reduzido, possivelmente altamente especializado. Quanto maior a abrangência em termos de número de participantes, espalhados por grandes áreas e ávidos por se familiarizarem e discutirem diversos assuntos em algum campo do conhecimento, maior a aplicabilidade da teleconferência e maior a economia de escala, minimizando o custo do empreendimento por envolvido atingido. Entretanto, exatamente por sua abrangência, pelo grande número de plenários remotos que se busca incluir na rede de pontos, mais complexa fica a administração do projeto como um todo, pois necessita-se envolver e exigir comprometimento de parceiros variados, distantes e pouco conhecidos. Esta é, com quase toda certeza, a principal dificuldade para se conseguir o sucesso de um ciclo de teleconferências. Outro ponto crucial, evidentemente, está ligado ao interesse dos assuntos tratados e à qualidade com que são apresentados. Sem estes requisitos, o público, certamente, minguará. Para garantir a qualidade, é fundamental uma criteriosa escolha dos palestrantes, do moderador, das inserções de vídeo, do formato do programa, do cenário e de outros aspectos correlatos. Há também que oferecer aos participantes remotos a possibilidade de interagirem com os palestrantes, colocando também suas idéias e enviando seus questionamentos. Nos eventos que organizamos, a forma de fazê-lo tem sido, preferencialmente, pelo fax, por mais se adeqüar ao vulto das necessidades de atendimento, sem criar problemas adicionais de organização. Uma firme e ampla divulgação é também indispensável para garantir a afluência do público, que deve ser registrado em listas de presença e deve avaliar a qualidade dos eventos mediante questionários. Uma visão mais completa dessas providências pode ser apreciada em [3]. A alegação de que a teleconferência é cara deve levar em conta, certamente, não apenas os custos de sua geração – tais como estúdio, cenário, moderador, palestrantes – e de sua transmissão – uplink, satélite - como também o da sua organização. Por essa razão, o projeto há que ter vulto, de modo a ter esse custo fixo pulverizado por um grande número de beneficiários. Os benefícios de tais projetos, evidentemente, são intangíveis, mas de grande importância: conhecimento, conscientização, capacitação, motivação, multiplicados por um contingente grande de atores, devendo resultar em vantagens para a coletividade envolvida. Entretanto - e está é uma de nossas teses - para que esse efeito seja efetivamente, de alguma forma, notado, há necessidade de que o uso eficaz do veículo seja contínuo e não esporádico, para, inclusive, disseminar o hábito de se valer do enriquecimento pessoal e profissional que pode oferecer. 4. Experiências: êxitos e dificuldades Relatamos a seguir quatro experiências importantes ligadas ao campo da Engenharia, as três primeiras realizadas quando dirigíamos a área de educação à distância da Fundação Vanzolini, da Escola Politécnica da USP, e a quarta, que coordenamos como consultor da Fundação de Apoio à Universidade de São Paulo. 4.1 Teleconferências da San Diego State University Período: junho/95 a dezembro/97 Eventos: 31 Essa universidade californiana oferecia 12 teleconferências por ano para toda a América Latina. A Fundação Vanzolini associou-se à empresa Key TV Comunicações para a constituição de uma rede de pontos em empresas, escolas e associações, para receber esses eventos contra pagamento, com sinal codificado. A rede de recepção chegou a ter centenas de pontos, em instituições como Petrobrás, Varig, Volkswagen, General Motors, USP, ESPM, FEI, Escola Técnica Tupi, Senac, etc. A principal contribuição dos parceiros brasileiros, além da comercialização e da tradução simultânea para o português, residiu na introdução de um debate nacional, de 45 minutos, que se seguia às duas horas de teleconferência. Esse debate era conduzido por especialistas brasileiros, discutindo e comentando o assunto à luz da nossa realidade. A pareceria nesse projeto encerrou-se após 31 eventos. Alguns exemplos de tópicos tratados nesse ciclo são: “A organização inteligente: a força do potencial humano”, “O novo empreendedor multicultural: desempenho e competitividade”, “Modernas tecnologias instrucionais: o estado da arte e as aplicações”, “Criando alianças internacionais de negócios: a extensão da organização”, etc. Este projeto, sendo comercial, demandou considerável esforço de convencimento e venda. Sua principal dificuldade possivelmente tenha sido a problemática aceitação, pelo público brasileiro, de palestras traduzidas envolvendo palestrantes com visão exógena dos problemas, o que foi amenizado pela feliz idéia da introdução do debate nacional. Houve ainda, nessa linha, uma outra parceria da Fundação com a Key TV, no qual foram oferecidas cinco teleconferências sobre temas de grande atualidade, conforme mostrado no Anexo I. Estes eventos foram sucessos de público, em função da nomeada dos palestrantes. 4.2 Engenheiro 2001 1º fase – Período: agosto/96 a abril/97 Eventos: 13 2º fase – Período: outubro/99 a dezembro/99 Eventos: 05 Este projeto, apoiado, em duas fases, pela FINEP – Financiadora de Estudos e Projetos, teve como público-alvo o conjunto das escolas de Engenharia de todo o país. Para a primeira e pioneira fase, a FINEP financiou também a instalação de teles-salas em 44 escolas, que formaram o núcleo inicial de recepção das teleconferências. Esse número aumentou espontaneamente durante a realização do projeto, chegando a 94 quando de seu encerramento. Esta experiência forneceu a seus organizadores um excelente aprendizado de como realizar, com sucesso, um ciclo dessa envergadura. Seu êxito deveu-se, principalmente, ao entusiasmo que se conseguiu injetar nas instituições beneficiárias, entre professores e alunos, e à qualidade dos assuntos, dos programas e dos palestrantes que participaram. A relação dos tópicos tratados nessa 1ª fase é dada no Anexo II. Uma descrição pormenorizada do projeto encontra-se em [4]. Há ainda a notar que essa iniciativa teve o condão de quebrar uma tradicional barreira de isolacionismo que existia entre as escolas de Engenharia brasileiras. Esse efeito se manteve após o término do ciclo de teleconferências, com o surgimento de coalizões regionais de escolas e outras instituições, visando a sinergética troca de experiências e informações. A segunda fase desse projeto, ocorrida após um intervalo de dois anos, valeu-se da existência das teles-salas surgidas para atender à primeira fase. Foi desenvolvido um programa de alto nível, focalizando a nova Engenharia e a reforma do ensino de Engenharia. Neste segundo ciclo, priorizou-se o convite a palestrantes internacionais, com dois debatedores brasileiros por evento. A programação executada é mostrada no Anexo III. |
4.3 Projeto E Período: novembro/99 a dezembro/99 Eventos: 04 Este projeto, em que a letra E simbolizava “Educação para o Emprego e o Empreendedorismo”, teve patrocínio do Ministério do Trabalho e do Emprego e desenvolveu-se simultaneamente com a segunda fase do Engenheiro 2001. Sua motivação foi a reconhecida necessidade de se incutir o espírito empreendedor nos nossos estudantes de Engenharia, tradicionalmente educados como para serem empregados de grandes empresas. As teleconferências, com duração de 3 horas cada, constituíram um curso de empreendedorismo, com ênfase principal em como preparar um plano de negócio, assunto que constou dos quatro eventos. A respectiva programação é apresentada no Anexo IV. A novidade introduzida neste ciclo, que se revelou de grande utilidade, constituiu em realizar os programas sob forma de entrevista. Havia também diversas tomadas externas. Isto foi introduzido visando não cansar os participantes, devido à longa duração dos programas. 4.4- 1º Ciclo de Teleconferências sobre Segurança e Saúde no Trabalho. Período: junho 2001 a novembro 2001. Eventos: 10 Este projeto foi desenvolvido para a Fundacentro – Fundação Jorge Duprat Figueiredo de Segurança e Medicina do Trabalho, tendo como público alvo pessoas ligadas a essa problemática na sua sede e nas 13 Unidades Descentralizadas da entidade, em todo o país. Posteriormente, agregaram-se espontaneamente diversos plenários, totalizando 48 teles-salas ao final do projeto. Uma descrição pormenorizada deste projeto é encontrada em [3]. Sua programação é apresentada no Anexo V. Neste projeto, contamos com boas condições para sua execução, aí incluídos prazos suficientes para uma boa organização prévia e comprometimento da direção da instituição cliente com o êxito da iniciativa, o que induziu ao comprometimento, também, as direções regionais. Além de excelentes índices de avaliação, pode-se citar como indicador de sucesso a média de 41,2 participantes por tele-sala- evento, num total de 5.762 no âmbito da Fundacentro. 5. Novas idéias Conforme anteriormente mencionado, não nos ateremos, neste trabalho, às possibilidades que oferece a teleconferência interativa, até por que se trata de um meio de comunicação que exige investimentos elevados. Vamos, pois, nos limitar a propor formas viáveis e inteligentes de uso da teleconferência tradicional. Uma delas pode ser dentro do espírito que norteou o projeto Engenheiro 2001, porém eliminando um dos obstáculos que impediram uma maior abrangência do projeto: a coincidência dos eventos com os calendários de cursos das escolas. Propomos, e nos colocamos à disposição para coordenar, que todas as escolas de Engenharia (ou de outras especializações) do país, bem como outras instituições interessadas, se unam para co-patrocinar um projeto que oferecerá 10 teleconferências por ano, versando sobre os temas mais marcantes e atuais relacionados com suas atividades. Esses eventos fariam parte dos calendários das instituições, não coincidindo com outra atividades. Acreditamos que, com facilidade, se conseguiria financiamento governamental para um tal projeto, mas, caso contrário, devido à dimensão do país, havendo real adesão à idéia, o custo anual por instituição não superaria uma ordem de grandeza de dois mil dólares, ou menos. Outra possibilidade seria que os principais congressos nacionais da categoria tivessem suas principais sessões transmitidas por teleconferência para todas as tele-salas interessadas. Como, em geral, esses eventos recebem apoio externo para sua organização, o custo dessas transmissões seria embutido no do congresso, ampliando-se muito o alcance das suas discussões. A terceira idéia, que transcende o campo da Engenharia, se aproxima de um sonho, porém perfeitamente exeqüível. O governo federal dotou a quase totalidade das escolas básicas do país de antenas parabólicas e televisores para a recepção de teleconferências. Sabemos que a maioria desses equipamentos estão inutilizáveis por várias razões, o que teria que ser sanado. Isto posto, a proposta é que, para cada disciplina do curso básico, houvesse, em horário único para todo o país, uma teleconferência por semana sobre os assuntos dessa disciplina, com 50 minutos de duração, a ser assistida por todos os alunos do país, organizada com esmero, dada pelo melhor comunicador daquele assunto existente. O restante do tempo da disciplina seria usado pelos professores locais, que desenvolveriam trabalhos e exercícios sobre os temas tratados. O custo disso? Não tenho idéia, mas seria, certamente, baratíssimo se comparado com os benefícios à nação, a médio e longo prazo. Um projeto que necessita um único ingrediente básico para ser concretizado: vontade política. 6. Conclusão Quando se fala de educação à distância, deve-se cogitar quanto a Qual o meio de comunicação a ser utilizado. Isso vai depender, fundamentalmente, do escopo do projeto, do público-alvo a ser atingido, das condições tecnológicas existentes, da distribuição geográfica do público, das formas de interatividade possíveis, dos custos envolvidos e ainda de diversos outros fatores. Cada meio de comunicação tem, portanto, a sua aplicabilidade e a teleconferência tradicional não foge a esta regra, embora tenha andado um pouco esquecida, seja pela maior visibilidade e charme dos meios mais modernos, seja pela complexidade que envolve a organização de ciclos de teleconferências. Neste artigo mostramos que há campo para a aplicabilidade da teleconferência em um país do porte do Brasil e algumas idéias foram colocadas, com certa ousadia, visando a sua utilização. Esperamos que possam, de alguma forma, ter acolhida. Lembramos, por fim, que esses eventos sempre deixam memória, sob a forma de gravação em vídeo. Assim, quem possa estar interessado em conhecer o conteúdo dos ciclos de teleconferências citados, poderá se dirigir ao Laboratório de Tecnologias de Educação da Fundação Vanzolini (11-3814 – 7366 r. 311, www.vanzolini.org.br) ou à Fundacentro (11- 3066-6349/6299, www.fundacentro.gov.br), onde os vídeos dos eventos citados poderão ser encontrados. (continua) |
ANEXO I |
ANEXO 2 |
ANEXO 3 |
ANEXO 4 |
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ANEXO 5
REFERÊNCIAS
[1] P.L.O. Costa Neto, “Sobre conceitos e tecnologias”, www.fundacentro.gov.br/ecsst.
[2] A.A.Rocha e P.L.O. Costa Neto, “Educação continuada e à distância em Engenharia”, Revista ABENGE, vol. 20, n.º 1, agosto, 2001.
[3] P.L.O. Costa Neto, “1º Ciclo de Teleconferências sobre Segurança e Saúde no Trabalho”, ASSIBEI 2001 – III Encontro Ibero-Americano de Dirigentes de Escolas de Engenharia, Instituto Militar de Engenharia, Rio de Janeiro, 2001.
[4] Fundação Vanzolini, Revista “Engenheiro 2001”, São Paulo, 1997.