EDUCAÇÃO CONTINUADA E À DISTÂNCIA PARA ÁREA TECNOLÓGICA
IAB – Instituto de Arquitetos do Brasil
e ABENGE – Associação Brasileira de Ensino de Engenharia
E-mail: ari@digi.com.br
Universidade Paulista – UNIP e Faculdades Tancredo Neves
E-mail: politeleia@aol.com.br
RESUMO
O Brasil é um país em desenvolvimento de dimensões continentais que precisa incentivar o crescimento econômico e a competitividade das empresas locais, pois, no mundo globalizado onde predominam os blocos econômicos, essa condição se torna fator de garantia da própria soberania nacional. Para que isso possa ocorrer, no entanto, torna-se indispensável apoiar a criação de programas de educação continuada na área tecnológica, usando soluções inovadoras como o ensino à distância (mídia eletrônica e Internet). Programas voltados à mudança de mentalidade que poderá promover a melhoria do ensino tecnológico, como o ‘Telecurso 2000’, o ‘Engenheiro 2001’ e ‘Projeto E’ (USP), assim como ‘Engenheiro Empreendedor’ (UFSC), que foram transmitidos ‘via satélite’ para tele-salas em todo o país, são considerados como referenciais pioneiros. A Educação Continuada e à Distância cresce rapidamente, favorecendo a qualificação e reciclagem de pessoal, permitindo que as empresas e as organizações possam estar em sintonia com essa realidade, além de criar condições para poder expandir suas ramificações em nível nacional e internacional com o uso deste tipo de instrumentos. Desse modo poderão contribuir para o crescimento da economia nacional, além de garantir a ampliação de seus ganhos.
Palavras-chave: Educação Continuada, Ensino à Distância, Educação Tecnológica.
A partir do final do século XX o mundo experimenta grandes transformações, decorrentes da mudança de paradigmas da sociedade. Na denominada “Sociedade da Informação”, onde a produção de conhecimentos é o fator mais importante, vivenciamos uma transição em que antigos símbolos de riqueza, que persistiram durante muitos séculos, como a propriedade da terra (anterior à Idade Média) ou a posse dos meios de produção (a partir da Revolução Industrial), rapidamente estão cedendo lugar ao novo referencial.
Em conseqüência, estão sendo implantadas ações visando revalorizar educação e treinamento de pessoal, principalmente como responsabilidade que, hoje, vai muito além dos estreitos limites dos bancos escolares.
De acordo com De Meis (1994), “a velocidade de produção de novos conhecimentos cria, continuamente, novas perspectivas de produção lucrativa para o setor industrial. Em conseqüência, requer-se uma força de trabalho preparada tecnicamente e com capacidade de aprender, continuamente, ao longo de toda a sua vida profissional”.
Hoje todos setores da sociedade já demonstram compreensão de sua importância, para enfrentar o ambiente altamente competitivo que se instalou em escala mundial. Não surpreende que empresários, mesmo de setores tradicionais, reafirmem as vantagens de um sistema eficiente de educação e treinamento, defendendo a promoção não de um choque econômico (ou cambial), mas a necessidade que o país tem hoje de um ‘choque de educação’.
A esse propósito, Ramos (1992) afirma que as nações desenvolvidas, ou em processo de desenvolvimento, que enfrentam problemas educacionais, como a grave situação que vem sendo identificada em nosso país em decorrência da redução dos investimentos nesse setor, sobretudo no que se refere ao ensino fundamental, podem ser consideradas “nações em risco”.
A administração pública em geral, mas em especial as universidades, vêm enfrentando dificuldades em virtude das mudanças que vêm sendo implementadas, agravados pela desmotivação, redução da produtividade, dificuldades na implantação de sistemas eficientes de gerenciamento e controle, bem como na perda de seus melhores e mais qualificados quadros.
Cria-se uma contradição interna: o discurso reafirma a importância da educação, mas ações e políticas governamentais colocam em risco sua qualidade e até a existência da escola pública, exatamente a que atende aos mais carentes. Para a sobrevivência do país, num mundo de economia globalizada, é urgente ampliar investimentos no setor, pois nos países adiantados os avanços da tecnologia prosseguem em ritmo acelerado e, se não formos capazes de produzir os conhecimentos (e as tecnologias apropriadas) necessários ao desenvolvimento, estaremos comprometendo, muito mais que nossa economia, a própria soberania nacional.
Esse crescimento da competitividade obriga os países a promoverem uma urgente modernização de todas suas antigas estruturas, principalmente a educacional, repentinamente percebidas como obsoletas.
Técnicas de planejamento estratégico permitem antever alguns ‘cenários’ para melhor atender as atuais demandas, mas em todos eles a educação, sobretudo a tecnológica, desempenha um papel fundamental.
Áreas como engenharias, administração e outras com forte aplicação em P&D, contribuem de maneira decisiva para a produção de bens e para reduzir a dependência cultural e econômica, em relação a países mais desenvolvidos.
De acordo com Bonsiepe (1983), “o mundo está dividido em dois grupos: produtores e consumidores de tecnologia. Os países centrais mantêm sua liderança, usando sistematicamente uma estratégia muito poderosa, chamada inovação tecnológica”, associada à melhoria dos métodos de gestão.
Visando promover o desenvolvimento autônomo e sustentável, as universidades, principais responsáveis pelo ensino tecnológico, devem preparar-se para enfrentar desafios, promover mudanças e, sempre que possível, adotar instrumentos de intercâmbio em nível nacional e internacional. Esse tipo de ação visa a maior interação do setor acadêmico com as empresas e a comunidade, mas sem negligenciar as relações e ativação de atividades conjuntas com outras instituições similares (universidades e centros de pesquisas), do Brasil e do exterior, de modo a ampliar sua capacitação interna, e a qualificação da comunidade acadêmica.
Uma forma eficiente para alcançar esse objetivo é estimular professores, alunos e corpo técnico, a desenvolver atividades empreendedoras e estimular a criatividade e iniciativa, adotando novas idéias onde haja aplicação tecnológica.
2) EXPERIÊNCIAS REALIZADAS NO BRASIL
O Brasil tem uma história relativamente rica e pouco conhecida de experiências no campo da educação à distância e, em particular, no seu uso para a educação continuada. Seu marco inicial talvez se situe em 1923, quando a Rádio Sociedade, do Rio de Janeiro, iniciou a educação pelo rádio em nosso país. Os conhecidos Instituto Técnico Monitor e Instituto Universal Brasileiro, que se valeram do ensino por correspondência e mantêm larga atuação, foram criados, respectivamente, em 1939 e 1941. Em 1943, a Igreja Adventista Brasileira lançou cursos bíblicos por correspondência. Em 1946, surgiu a Universidade do Ar, do SENAC. Mais recentemente, em 1969, foi criada a TV Educativa do Maranhão, com 42.000 alunos em 32 municípios.
Essas referências dão idéia de como iniciativas isoladas proliferaram em nosso país, ao longo de décadas. Entretanto, o uso mais intenso de novas tecnologias para a oferta de educação à distância só se verificou a partir dos anos noventa. De fato, em 1995 pode-se citar três referências importantes: o lançamento do Telecurso 2000, iniciativa de porte nacional em parceria da FIESP/Fundação Roberto Marinho, a criação do Programa de Educação Continuada à Distância da Fundação Vanzolini, de certa forma pioneiro na USP, e a criação da ABED – Associação Brasileira de Educação a Distância, cuja criação comprova o crescente interesse pela questão no meio educacional. Paralelamente, foram realizadas experiências pela Universidade Nacional de Brasília e pela Universidade Federal de Santa Catarina, primeira no uso da videoconferência para cursos de mestrado à distância.
Por sua vez, Maia (2001) registra um conjunto de instituições que oferecem cursos à distância em nossos dias, baseada na manifestação espontânea dos citados. Por ela, pode-se ver que a prática, em maior ou menor grau, seja na graduação, na pós-graduação ou na extensão universitária, a educação à distância no Brasil está razoavelmente disseminada, baseada, sobretudo, em cursos desenvolvidos via Internet.
Há que citar, também, o afluxo de universidades estrangeiras: Open University, da Inglaterra; National Technological University, norte-americana; Universidad Nacional de Educación a Distancia, da Espanha, dentre várias outras, individualmente ou em parceria com instituições brasileiras, estão penetrando em nosso mercado educacional. Pode-se afirmar, inclusive, que essa ação ainda predominante, resultam do trabalho e pesquisa desenvolvidos no ambiente acadêmico.
Realmente, a Universidade foi capaz de promover as grandes transformações do mundo que conhecemos atualmente, mas reluta em realizar mudanças em sua própria estrutura. Esse tipo de resistência ao avanço faz com que ela se aproxime do modelo que predominou ao longo do Século XIX, contrariando a tendência da sociedade, que já assumiu novos paradigmas.
É indispensável que inicie um processo de renovação, para melhor se adequar aos novos tempos, modernizando sua estrutura burocrática predominante, hoje voltada à ansiosa busca de validação em tradições do passado. Somente desse modo poderá manter-se contemporânea de seu próprio tempo e seguir na trajetória de atualização que permitiu sua sobrevivência até os dias atuais.
Richard Larson (1999), diretor do Centro para Serviços Educacionais Avançados do MIT, certamente a mais conceituada instituição de ensino tecnológico na atualidade, afirma que em mais que 20 mil anos que separam a
pintura das cavernas do professor com giz e quadro negro, o mais importante avanço da humanidade nesse campo foi “a invenção do apagador”...
Podemos até especular, imaginando que se nossos antepassados tivessem a possibilidade de retornar, o único ambiente familiar que conseguiriam encontrar seria uma sala de aula.
De fato, o mundo sofreu mudanças tão profundas, que quase 90% do que hoje constitui nossa ‘cultura material’ não existia ao final da II Guerra, em 1945. De Brochard (1991) reafirma a previsão de sociólogos, de que “50% dos produtos que formarão nosso universo nos próximos 10 anos, ainda não foram inventados”, condição que segue válida e constitui-se num importante desafio que, para o avanço do país, precisa ser transformado em oportunidades de trabalho, principalmente para categorias ligadas à área tecnológica.
Bazzo (1999), que vem desenvolvendo importante trabalho sobre o referencial básico para a ‘construção do conhecimento’, entende que "nossas escolas são excelentes, estão no mesmo nível –muitas vezes acima– das escolas em todo o mundo. Precisamos apenas desenvolver a questão pedagógica. É preciso incomodar, desestabilizar, provocar e motivar o aluno, para que desenvolva a curiosidade, a iniciativa, o senso crítico e a criatividade”.
Para que esse conjunto de condições possa ocorrer, no entanto, será indispensável estarmos preparados, contando com profissionais de elevada qualificação. Caso contrário, no atual cenário de economia globalizada e nações agrupadas em blocos econômicos, os espaços que não conseguirmos preencher serão ocupados por profissionais oriundos de outros países.
Está sendo preparado um novo perfil do profissional da área tecnológica; Rocha (2000), constata que “no futuro só os mais qualificados terão oportunidade: os que forem capazes de aprender a aprender depois do diploma”. De fato, nossos engenheiros precisam se conscientizar de que a velocidade das mudanças promove rápida obsolescência do conhecimento tecnológico, gerando a necessidade de se transformarem em aprendizes vitalícios. A escola deverá, assim, transcender os limites da academia, ampliando a necessidade de educação para toda a vida profissional.
Como afirma Pirró e Longo (1999), “as complexas demandas da sociedade moderna são atendidas por tecnologias crescentemente resultantes da aplicação de conhecimentos científicos. (...) Indivíduos produtivos que não se atualizarem permanentemente poderão tornar-se, subitamente, ‘analfabetos tecnológicos’, ou seja, tornarem-se inabilitados para os postos de trabalho originalmente ocupados ou outros que tenham sido criados requerendo, normalmente, maior qualificação que os anteriores”.
O trabalho de alta qualificação é responsável por agregar alto valor. Essa condição aproxima profissionais dos referenciais preconizados pelos novos modelos de gestão, tornando cada vez mais necessário adotar uma postura de aprendizagem voltada ao conhecimento global (humanístico), que, de acordo com Nicolescu (1996), pode favorecer a formação de cidadãos mais atuantes, aptos a desenvolver novas habilidades e capacidades, tais como:
São competências indispensáveis para transformar os desafios do nosso tempo em oportunidades. Esse processo continuo de aprendizagem exigirá ainda novos referenciais de relacionamento interpessoal, onde assumem grande importância o apoio na escola, na família e no ambiente profissional, de modo a permitir, ao pessoal da área tecnológica, a assimilação da capacidade de conceituar problemas e soluções. Habert (1998) reafirma que isso deverá ocorrer, através da utilização de aptidões básicas como abstração, raciocínio sistêmico, experimentação e colaboração.
Este tipo de abordagem constituiu, inclusive, o referencial básico do discurso de Bill Clinton (1998), quando presidente dos Estados Unidos da América, ao proferir a Aula Magna no MIT. Nessa oportunidade afirmou, ao referir-se às ameaças de perder o esforço de modernização de seu país: “é preciso ter certeza de que as conexões em todo o mundo não serão desperdiçadas porque nossas crianças não tenham as habilidades que serão exigidas no Século XXI”.
Acompanhando as transformações da sociedade, será preciso mudar o sistema de gestão da educação tradicional, no sentido de uma nova cultura baseada em tecnologias interativas, que têm como foco a autonomia da aprendizagem e a atitude pró-ativa. Estudos de teoria da aprendizagem de Piaget (1996) ou Vigotsky (1997), já preconizavam um deslocamento do referencial da educação do ensino para a aprendizagem, dando suporte às teorias sobre ‘Inteligência Coletiva’ de Levy (1994). No início da década de 60, o canadense McLuhan (1964), criador da expressão ‘global village’ (aldeia global) foi incisivo ao afirmar: “acontecerá uma verdadeira ‘revolução’ no que concerne aos papéis de aluno e professor”.
Hoje já existe a consciência de que será indispensável garantir as condições para que o egresso (principalmente quando vinculado à empresa) possa dispor de seu tempo de aprendizagem, o que pode ser facilitado com a utilização de mídia eletrônica e Internet.
4) CONTRIBUIÇÃO DA EDUCAÇÃO CONTINUADA À DISTÂNCIA
No artigo “O Aluno Vitalício”, Costa Neto (1998) tece considerações sobre a atual realidade globalizada, na qual as informações e o conhecimento fluem com grande rapidez, obrigando os profissionais a submeter-se a um permanente processo de atualização, sob pena de se tornarem despreparados para as exigências do mercado de trabalho. O diploma conquistado na academia perde, cada vez mais rapidamente, a sua importância como atestado de conhecimento e competência. O bom profissional, em qualquer campo do saber, vê-se forçado a um processo de aperfeiçoamento contínuo, a um lifelong learning, como bem definido em língua inglesa.
Surge, portanto, uma extraordinária necessidade de oferta de cursos de educação continuada, para atender à atualização permanente de milhares de profissionais. Só na área de telecomunicações, por exemplo, onde os avanços tecnológicos se dão com grande rapidez, estima-se que há necessidade de treinar, de imediato, 170.000 pessoas. Universidades e instituições afins, evidentemente, se desdobram no sentido de atender a essa crescente demanda, que representa, ademais, uma extraordinária fonte de recursos.
Há, entretanto, barreiras impedindo que esses fornecedores de cursos de extensão e aperfeiçoamento possam atingir a potencialidade desse enorme e ávido mercado, tais como:
Essas dificuldades, dentre outras, tornam praticamente impossível atender à demanda existente, com a velocidade que se requer, com base apenas no ensino tradicional. Uma solução eficaz, que atenda, em curto prazo, às necessidades dos profissionais, das empresas, do governo e do país, é o que se demanda no momento presente.
Entretanto, se, por um lado, parece claro que a solução para essa questão reside na adoção, em larga escala e de forma organizada, da educação à distância para suprir as necessidades da educação continuada, não está ainda claro como isso poderá ser feito de forma eficaz. De fato temos visto muito esforço ser despendido, muito investimento ser realizado, muitas tecnologias serem invocadas, sem que os resultados efetivamente conseguidos sejam os desejados. Isto talvez ocorra devido ao fascínio que certas soluções exerçam sobre os educadores, levando-os a se lançarem à ação sem uma devida introspecção preliminar. Nossa própria experiência envolve tentativas que, por motivos vários, não corresponderam à expectativa.
Há também a se considerar resistências e contrafacções por parte daqueles que não acreditam na eficácia da educação à distância, ou sentem que possam ser prejudicados pela sua adoção. Isto é natural e ocorre sempre que alguma novidade revolucionária esteja em cogitação.
5) PROPOSTAS
Observa-se que as principais ações visando implementar a educação à distância com o uso de novas tecnologias em nosso país estão centradas em duas vertentes principais: Internet e mediante o uso da videoconferência. Por videoconferência entendemos o sistema que remete a imagem de vídeo em todas as direções envolvidas, o que é possibilitado pela presença de câmeras para captar a imagem em todos os ambientes. É o sistema que permite, portanto, a mais plena interatividade sonora e visual entre todos os participantes. Na interface de convergência desses dois sistemas já existe uma tecnologia chamada “streamming de vídeo”, que será operacional a baixo custo em futuro próximo.
O desenvolvimento de cursos via Internet é bastante generalizado, devido à facilidade de acesso, à existência de vários softwares de apoio no mercado (Universite, Learning Space, Aulanet, WebCT, etc.), à proliferação de especialistas em programação HTML e outras, ao crescimento do número de internautas, etc.
O ensino pela Internet é o mais capilar possível, no sentido de que atinge o aluno no seu microcomputador, onde ele esteja, sendo, ademais, assíncrono, isto é, o conhecimento disponibilizado na rede pode ser acessado a qualquer momento. A interatividade se dá mediante procedimentos (síncronos) de chat, ou pelo apoio de tutoria remota. Para mais informações, ver Costa Neto (2000).
A videoconferência envolve o uso de equipamentos relativamente caros, de operação especializada, exigindo a presença dos alunos na sala de aula em horários determinados, sendo, pois, síncrona. Sua principal limitação, a nosso ver, está na inviabilidade de expansão (a mais do que 4 ou 5) da rede de pontos remotos, sob pena de perder a sua principal vantagem, a plena interatividade visual.
Sua melhor utilização cremos que seja em cursos de pós-graduação, que se valham da realização de seminários/apresentações pelos alunos, quando todos poderão apreciar as atuações dos demais participantes, nelas intervindo sempre que necessário.
Estas duas mídias são as que têm sido privilegiadas no Brasil pelas instituições que se dedicam, de uma forma ou de outra, à educação à distância.
Muitas universidades têm programas de desenvolvimento de atividades na Internet, seja para disponibilizar cursos abertos, de extensão universitária ou mesmo de graduação (Maia, 2000), seja para apoiar os seus próprios cursos tradicionais. Estão surgindo, também, grandes portais na Internet, que buscam incluir o oferecimento de cursos à distância nas suas linhas de produtos.
Já os cursos por videoconferência têm sido utilizados por universidades, destacando-se como pioneira a Universidade Federal de Santa Catarina. Há também atividades de videoconferência na Universidade de São Paulo, Universidade Federal do Paraná, Escola de Administração de Empresas da Fundação Getúlio Vargas, Instituto de Tecnologia do Paraná e, certamente, em diversos outros locais.
A videoconferência vem sendo também bastante usada em grandes empresas para a realização de tele-reuniões, com considerável economia de tempo e de despesas com deslocamento de pessoal. Fica, entretanto, uma indagação: como atender demandas de grande porte, bem como uma ainda grande quantidade de possíveis treinandos não afeitos ou não satisfeitos com o uso da Internet? Esta é, sem dúvida, uma realidade presente em nosso país, que deve ser avaliada convenientemente.
Há ainda o mercado empresarial, crescente e importante. De fato, cada vez mais grandes empresas criam suas “universidades corporativas”, buscando suprir a falta de oferta de cursos que atendam suas necessidades, para resolver o problema da educação continuada dos seus colaboradores.
Uma terceira possibilidade, praticamente inexplorada no país, poderá representar uma resposta eficaz a essas questões. Trata-se da teleconferência interativa, na qual se incorpora à teleconferência tradicional, com base na transmissão por satélite, uma combinação de hardware e software que permite aos alunos interagirem instantaneamente com o professor, em seu estúdio, facilitando a avaliação permanente e sistemática do aprendizado, assim como o acompanhamento ‘pari passu’ do processo de compreensão dos assuntos.
Uma das possibilidades mais promissoras que vem se revelando nesse campo, no entanto, consiste no Streamming, recentemente adotado com a Internet de alta velocidade, que permite a associação das vantagens das teleconferências com a agilidade da WEB.
Não nos deteremos em maiores detalhes sobre as mídias neste artigo. Ao invés, apresentamos a Tabela 1, na qual as características do três sistemas mencionados são cotejadas. Estamos trabalhando no sentido de que a terceira proposta mencionada possa se concretizar, oferecendo uma nova alternativa que, acreditamos, poderá superar as demais em diversas situações.
Mídia Aspectos |
Internet |
Videoconferência |
Teleconferência Interativa |
Streamming |
Investimento |
Baixo |
Médio |
Alto |
Baixo |
Rentabilidade |
Baixa |
Discutível |
Alta |
A apurar |
Economia de escala |
Média |
Baixa |
Alta |
Média |
Tempo de implementação |
Médio |
Médio/Alto |
Pequeno |
Baixo |
Agregação de conteúdo |
Trabalhosa |
Relativamente complexa |
Simples |
Simples |
Interatividade |
Mediante e-mail e chat |
Visual |
Mediante hardware e software |
Mediante e-mail e chat |
Abrangência |
Média |
Pequena |
Grande |
Média |
Aplicabilidade |
Geral |
Pós-graduação, tele-reuniões |
Extensão, cursos abertos |
Geral |
Amigabilidade |
Específica a internautas |
Média |
Grande |
Boa para internautas |
Capilaridade |
Grande |
Pequena |
Média |
Grande |
Principal veículo |
Web |
Linha telefônica de banda larga |
Satélite |
Web |
Uso no Brasil |
Generalizado |
Universidades e grandes empresas |
Incipiente |
Incipiente |
Tabela 1 – Comparação entre propostas de EaD
6) CONCLUSÕES
Este trabalho visa apresentar uma contextualização do cenário atual da educação tecnológica em nosso país, oferecendo uma visão panorâmica do estado da arte e da trajetória da educação à distância no Brasil, tendo como pano de fundo a sua importância para suprir as deficiências recentemente identificadas, sobretudo da área de educação continuada.
Esta necessidade é particularmente acentuada na área tecnológica, com especial atenção aos campos das Engenharias e do Design Industrial, por sua natureza técnica, onde o surgimento de novos conceitos e metodologias é permanente e acelerado.
Um breve referencial conceitual permite melhor entendimento desta nova modalidade de ensino, que utiliza a mídia eletrônica e a Internet como veículos para a democratização da difusão dos conhecimentos. Criam-se, assim, oportunidades inusitadas para que países/regiões menos desenvolvidos possam reduzir os desequilíbrios, transformando desafios em oportunidades.
Favorece ainda a compreensão do quadro comparativo entre as duas modalidades mais praticadas e uma terceira, de custos contidos e com elevado grau de interatividade, que poderá suprir grande parte das lacunas ainda existentes.
Esta outra modalidade, em particular, deverá assumir progressivamente um grande interesse para empresas e organizações que já tenham identificado a importância de se ramificarem por muitas partes do território nacional, pois uma de suas importantes características é o alto ganho em termos de economia de escala.
Acreditamos que a educação à distância deverá ter um desenvolvimento marcante em nosso país nos próximos anos, após o que poderemos avaliar melhor os aspectos abordados neste artigo, procedendo aos necessários ajustes, com base nas novas evidências que estarão disponíveis.
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