Ocupando-se ou Preocupando-se com Educação à Distância ?

Carlos Rolim Affonso

Muitos termos ou expressões, quando usados com muita freqüência, acabam assumindo significados que os descaracterizam e os desfiguram de seus verdadeiros significados. Foi o que aconteceu com a "Administração por Objetivos", com a "Reengenharia", com a "Televisão Educativa" e tantos outros.

Todos nós, professores, educadores, psicólogos..., temos o dever impostergável de não deixar que isso venha a acontecer com a Educação a Distância. E isso só ocorrerá quando, seguindo o exemplo da ESCOLA DO FUTURO da USP, com apoio de entidades representativas, como a ABT e a ABED, outras pessoas e instituições, com acurado espírito científico, concentrem seus esforços para valorização do verdadeiro significado da EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA. Caso contrário, em pouco tempo seu desgaste ocorrerá e, por conseqüência, a deturpação do seu uso e a perda de seu enorme benefício.

De nossa parte, já tivemos oportunidade, em diversos momentos, de precisar conceitos, fixar princípios e indicar formas adequadas de sua aplicação nos diversos segmentos do processo educativo, quer no meio escolar, quer no meio empresarial. Além disso muitos experts também já escreveram e publicaram trabalhos sobre sua importância no contexto da Educação Brasileira, não apenas como seu complemento, mas como forma harmonizante, juntamente com o ensino presencial, da busca da excelência no binômio:  ensino - aprendizagem.

Basta voltar nosso olhar para o que acontece no mundo para se constatar o que vem sendo feito no campo da Educação a Distância, com muita eficiência e com excelentes resultados. Em algumas instituições, especificamente em cursos de Pós-graduação, chegou-se a resultados melhores que o ensino presencial.

Hoje as entidades envolvidas no processo de EAD têm conhecimento disso, em função dos resultados obtidos, muitas vezes mensuráveis, de que as instituições conseguiram em termos de melhora de trabalhos. Elas sabem também da necessidade de se ter equipes com pessoas bem preparadas, bem informadas e de boa capacitação profissional para enfrentar as mutações constantes e a excessiva quantidade de informações recebidas. Ela têm visão adequada sobre o que a EAD pode fornecer-lhe, em benefício da instantaneidade e da permanência de novos conhecimentos, considerados importantes para o desempenho dos diversos empreendimentos que estão sendo desenvolvidos.

Feita esta pequena introdução, apresentaremos agora, dentro de um enfoque pragmático, alguns conceitos e preconceitos que já se evidenciaram como aspectos, de um lado motivadores e inovadores, de outro lado, preocupantes e desafiantes, bem como Tendências e Desafios da Educação a Distância.

Conceitos e Preconceitos na Educação a Distância

  Conceitos Preconceitos
1 A Educação a Distância não pode prescindir da Tecnologia Educacional e da Mídia Educativa. A Educação a Distância vai resolver o problema da baixa escolaridade brasileira.
2 Educação a Distância e o Ensino Presencial são forças complementares e não antagônicas. A Educação a Distância é o próprio Ensino por Correspondência de antigo e largo uso no Brasil.
3 A Educação a Distância não é inovação recente, mas sim uma modalidade Educacional com uma história universal. A verdadeira educação não pode prescindir do ensino presencial.
4 A Educação por correspondência também é uma forma de Educação a Distância e pode ser bem conduzida. O Ensino por Correspondência é uma forma antiquada de Educação e que não tem mais lugar em nosso contexto.
5 A Educação a Distância é aplicável a qualquer nível e modalidade de ensino - do fundamental ao superior. A excelência da educação reside nas instituições educativas e não em novas formas de educação.
6 Na sua expressão mais simples, Educação a Distância significa todas as formas de Educação em que o aprendiz normalmente se encontra em um local diferente daquele em que se acha a pessoa que ensina. A única forma de garantia de eficácia da Educação a Distância é a interatividade.
7 A Educação a Distância deve pressupor interatividade ou comunicação nos dois sentidos.  Somente a EAD garante democratização do ensino e seu caráter de permanência.
8 A Educação a Distância deve prever a possibilidade de encontros ocasionais dos aprendizes para fins didáticos e/ ou de socialização. As novas tecnologias a serviço do ensino (TV a cabo ou satélite, "teipes" de vídeo ou de áudio, fax, modem de computador, videoconferência, CD-ROM...) dão caráter de essencialidade a EAD.
9 A utilização da mídia tecnológica impressa, mecânica ou eletrônica é, hoje, a principal força propulsora da EAD. A EAD tem que estar apoiada apenas em concepções tecnológicas primariamente, e em concepções filosóficas secundariamente.
10 EAD é um sistema educativo organizado para público específico, envolvendo um processo ensino/ aprendizagem com interação professor/ aluno, podendo ser mobilizados multimeios para fins de comunicação. O sistema tem de prever a avaliação dos alunos e do próprio sistema. EAD é a utilização de meios eletrônicos para fins de educação que dispensa a presença do professos porque o aluno dispõe de todas as fontes de informações disponíveis. A EAD é a utilização das tecnologias para fins de ensino.

Principais Tendências

1. Crescente aumento de instituições que passaram a se preocupar com a Educação.

2. Descoberta de multi-meios aplicáveis à Educação, em geral e com a EAD, em particular.

3. Aceitação generalizada da Informática como meio eficaz para o Sistema Ensino/ Aprendizagem. (TBC), incluindo a criação de ambientes instrucionais virtuais.

4. A Internet, a videoconferência e a teleconferência, estimulando as comunicações em rede na Educação.

5. As escolas acessando progressivamente a TV para fins de ensino.

6. Tecnologia Educacional disponível não só nas escolas, mas nas empresas e nas casas de família.

7. Crescimento geométrico de pessoas que receberão educação.

8. Os professores passam a interessar-se cada vez mais pela literatura da Tecnologia Educacional.

9. Novas formas de relacionamento Professor/ Aluno, para garantir a interatividade e, em conseqüência, a aprendizagem.

10. Exigência de novas reformas educacionais.

11. O surgimento de uma nova ciência, a Telemática Educacional.

Principais Desafios

1. Urgente reestruturação das entidades de ensino para atender a nova demanda educacional.

2. Uma Legislação mais educacional atualizada e mais flexível.

3. Treinamento adequado para docentes e dirigentes de escolas.

4. Desenvolvimento de softwares educacionais (recursos computacionais multimidiáticos).

5. Pesquisas para avaliação do ensino e da aprendizagem.

6. Aumento considerável do número de especialistas em Tecnologia Educacional através de treinamentos específicos.

7. Preparação acelerada de novos modelos instrucionais.

8. Sensibilização da população sobre essa forma de educação, sua oportunidade e validade. (presença na mídia).

9. Descobrir novas formas de avaliação da aprendizagem. (auto avaliação)

10. Divulgar, por todos os meios possíveis, o que é - e o que não é EAD.

Gostaríamos de expressar, através deste pequeno texto, o nosso pensamento a respeito dos caminhos que a EAD vem tomando neste fim de século XX e início deste milênio. Longe de pensarmos negativamente, vemos claramente o quanto ela vem recebendo de contribuições positivas, quer por parte das instituições públicas e privadas, quer pela iniciativa de grande parte dos profissionais da Educação.

Esperamos, contudo, que não sejamos atropelados pelas exigências de um mundo globalizado e em contínuas mudanças, que requerem, cada vez mais, profissionais competentes, éticos e com visão instantânea do futuro da educação no Brasil, que nada mais é do que saber o que nossas crianças e jovens precisam aprender hoje para aplicar em suas vidas práticas do amanhã.

* Carlos Rolim Affonso, ex-professor da PUC-SP, ex-diretor da Faculdade de Educação das FMU e , atualmente, coordenador de EAD do INFORMAR- assessoria em EAD.

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