1. Introdução
A Segurança e Saúde no Trabalho é, seguramente, um campo de interesse da Engenharia que, pela sua importância social e econômica, não tem tido a devida atenção das escolas e universidades.
Esta preocupação, em nosso país, tem sido mais concentrada em instituições ligadas aos meios empresariais, como o SESI e o SENAC, e, a nível de governo, na Fundacentro - Fundação Jorge Duprat Figueiredo de Segurança e Medicina do Trabalho, entidade criada em 1966 com a finalidade precípua de pesquisar, debater e difundir as formas e técnicas destinadas a melhorar as condições de segurança e saúde dos nossos trabalhadores.
Dentro dessa finalidade, ao par da realização de numerosos cursos oferecidos à sociedade, decidiu realizar o 1º Ciclo de Teleconferências sobre Segurança e Saúde no Trabalho, do qual fomos o coordenador. Trata-se de atividade pioneira nesse campo do conhecimento, que julgamos de grande interesse e oportunidade. Por esta razão, decidimos contribuir para sua divulgação através do presente trabalho.
2. Educação e treinamento à distância
O ensino à distância, sob variadas formas, existe no mundo há muito tempo, mas só mais recentemente passou a se valer das modernas tecnologias da informação e telecomunicação, sendo hoje amplamente praticado. No Brasil, podemos dizer que as formas modernas de promover o ensino à distância passaram a ser utilizadas a partir dos anos noventa.
Sem considerar o ensino por correspondência, já praticado há muitas décadas, e passando pela utilização do rádio, de fitas cassete, de vídeos e, mais recentemente, do CDRom, tivemos experiências notáveis, como o uso da televisão pelo projeto Telecurso 2000, o uso pioneiro da videoconferência para cursos de pós-graduação pela Universidade Federal de Santa Catarina e, de forma generalizada, da Internet, como fornecedora de um instrumento acessível e barato para a disponibilização de disciplinas on-line com as vantagens da assincronicidade e da capilaridade, quebrando, assim, simultaneamente, as barreiras de tempo e espaço.
Não é nosso escopo, neste texto, discorrer sobre as vantagens e desvantagens de cada tipo de recurso que possa ser usado para promover o ensino à distância, como também não nos ocuparemos da problemática de sua implementação. Nas referências 1 e 4 se poderá encontrar uma pertinente discussão a respeito. Limitar-nos-emos ao nosso testemunho, fruto de mais de seis anos de interesse pelo tema, realização de contatos e desenvolvimento de projetos nesse campo, de que o ensino à distância no Brasil, para educação ou treinamento, tem um campo fértil par o seu florescimento, seja pelo tamanho do país, seja pelas suas enormes carências educacionais, seja pelas grandes possibilidades que o próprio ensino à distância oferece.
Há, claro, que vencer-se a proverbial barreira de resistências que a introdução de qualquer novidade sempre fez surgir. No presente caso, tais resistências se fincam principalmente na manifestação do descrédito quanto a poder o ensino à distância ser tão ou melhor eficaz que o presencial. Os que assim argumentam por certo não percebem que o ensino à distância embute necessariamente, para ser bem sucedido, uma mudança do paradigma instrucional, passando a centrar as atenções não mais no professor e sim no aluno e em seu ambiente de aprendizagem, deslocando-se a ênfase do verbo “ensinar” para o verbo “aprender” ou, melhor que isso, “aprender a aprender”. Essas barreiras, entretanto, ruirão paulatinamente, na medida em que as experiências bem sucedidas e os resultados positivos alcançados na pratica forem sendo conhecidos.
3. A teleconferência
No âmbito da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, contando com importantes apoio na FINEP – Financiadora de Estudos e Projetos e do MTE – Ministério do Trabalho e Emprego, tivemos a oportunidade de coordenar projetos que, dentre outras ações, utilizaram a teleconferência como recurso para o debate e a difusão das idéias a nível nacional.
Chamamos teleconferência o sistema pelo qual um evento é irradiado, via satélite, para uma grande área de recepção, que é feita por antena parabólica acoplada a um receptor/decodificador de sinal. A imagem de vídeo (ao contrário da vídeo conferência, onde pode transitar nos dois sentidos) vai do estúdio gerador aos diversos pontos remotos, proporcionando-se interatividade aos participantes por fax, telefone ou Internet.
Esse sistema, já praticado no mundo há décadas, não perde, entretanto, a sua atualidade, por ser de grande abrangência, de simples utilização, relativamente barato e por proporcionar, mais que qualquer outro, grande economia de escala.
Em nossa experiência na USP, chegamos a realizar ciclos de teleconferências para uma centena de tele-salas instaladas em Escolas de Engenharia em todo o país, com amplo sucesso (ver ref. 2). Essa experiência adquirida foi de grande valia para o êxito do projeto realizado para a Fundacentro, que se descreve a seguir.
4. O ciclo de teleconferências
O 1º Ciclo de Teleconferências sobre Segurança e Saúde do Trabalhador foi um dos objetos de contrato firmado entre a Fundacentro e a FUSP – Fundação de Apoio à Universidade de São Paulo. Foi também objeto desse contrato a instalação de 14 tele-salas nas unidades da Fundacentro em todo o país, a saber: São Paulo, Campinas, Santos, Campo Grande, Salvador, Brasília, Recife, Vitória, Belo Horizonte, Curitiba, Rio de Janeiro, Florianópolis, Porto Alegre e Belém.
As tele-salas foram equipados com antena parabólica e receptor de sinal digital. Completavam os equipamentos necessários à realização dos eventos canhões de projeção e telões, ou televisores de 29 polegadas, além de aparelhos de fax, para o envio de perguntas ao debate.
A preparação do ciclo envolveu diversas reuniões da coordenação com técnicos da Fundacentro, visando estabelecer: conteúdo dos programa, nomes dos palestrantes, formato dos eventos, divulgação, motivação dos agentes regionais, etc.
Como fruto desse trabalho, chegou-se à programação apresentada no Anexo I, para a qual sempre se buscou contemplar indicações que representassem os diversos segmentos da sociedade. Nela, nem todos os nomes citados correspondem à programação inicial, pois alguns foram substituídos, por impedimento pessoal, e outros acrescidos. O próprio formato dos eventos variou durante a realização do ciclo, em função da experiência adquirida, visando aumentar a atratividade das teleconferências.
Para cada teleconferência, um roteiro completo era elaborado, contendo as intervenções do moderador e dos participantes, além das inserções de vídeos. Esse roteiro era enviado com antecedência a todos os envolvidos e seguido à risca durante os programas.
Para contribuir com a divulgação e motivação para os eventos, foram enviados às instituições particulares 20 circulares, contendo informações sobre o Ciclo, resultados obtidos, como freqüência, avaliação e perguntas recebidas, além de incluir material de apoio aos eventos. Esse material incluía mini-cartaz de divulgação, lista de inscrição, lista de presença, folha para pergunta e questionário de avaliação. As listas de presença e questionários de avaliação eram encaminhados à coordenação para compor as estatísticas sobre os eventos. Essas informações, que estão disponíveis à consulta, serviram também de subsídio para atestar o êxito do projeto junto à contratante.
Para efeito de divulgação, foram também confeccionados 1000 cartazes e cerca de 15.000 folhetos, distribuídos às instituições participantes ou enviados por mala direta. Além disso, foi criado na Internet um site de apoio ao projeto, contendo todas as informações sobre as teleconferências, como programação, palestrantes, curricula vitae, referências, links interessantes, além da possibilitar a inscrição aos eventos por essa via, bem como enviar consultas por e-mail. Este site deverá estar ativo pelo menos até o final de dezembro de 2001 e o seu endereço é www.fundacentro.gov.br/ecsst
A avaliação dos eventos, feita por tele-sala e para o total, oscilou em torno da média 9,0.
Foram investigados os quesitos: interesse do tema, conteúdo abordado, exposição do tema, qualidade da imagem, qualidade do som e debate.
A freqüência aos eventos, no âmbito das 14 tele-salas da Fundacentro, oscilou em torno de uma média de 650 participantes por programa. Este número aumentou consideravelmente com a agregação de outras tele-salas à rede, porém com menor retorno de informações, o que dificulta oferecê-lo com previsão. De fato, o ciclo de teleconferências iniciou-se com as 14 tele-salas instaladas pelo projeto mas, ao seu final, este número chegou a 50, devido à adesão de diversas instituições isoladas e do SESI- Serviço Social da Indústria que, a partir da 6ª teleconferência, passou a integrar a rede com 27 tele-salas, uma em cada estado do país. Acrescente-se que o SESI transmitiu à sua rede também os 5 primeiros programas, a posteriori, mediante gravações de vídeo.
A cada teleconferência, com exceção de duas cujos tópicos eram mais conceituais, foram recebidas no estúdio cerca de 100 perguntas enviadas pelo público remoto via fax, das quais entre cerca de 15 se conseguiam responder ao vivo pelos palestrantes. As demais eram a eles enviadas, para resposta posterior. Pelo menos dois técnicos da Fundacentro acompanhavam as teleconferências no estúdio de geração, nas instalações da TV Cultura de São Paulo, a fim de selecionar as melhores e mais pertinentes perguntas.
Deve-se notar que o debate aberto ao público, proporcionando-lhe, dessa forma, interatividade com os palestrantes, é de fundamental importância para o sucesso de um empreendimento dessa natureza. Seria extremamente frustrante para um participante querer levantar uma questão ou esclarecer uma dúvida sobre os assuntos tratados sem ter como fazê-lo. Por esta mesma razão, julgamos necessário que os palestrantes respondessem, mesmo que posteriormente, as perguntas enviadas que não tivessem a oportunidade de serem respondidas ao vivo.
A teleconferência de encerramento do Ciclo, versando sobre Segurança e Saúde no Trabalho e a Qualidade de Vida, incluiu uma gravação de 15 minutos do Prof. James McGlothlin, da Purdue University, enviada dos Estados Unidos para o evento. Essa gravação foi traduzida e legendada, sendo enviadas cópias aos palestrantes antes do evento, para que pudessem tecer os comentários pertinentes durante a teleconferência.
Aos participantes que compareceram a pelo menos quatro teleconferências foi conferido certificado de participação emitido pela Fundacentro. Para tanto, um rígido controle dessas freqüências foi mantido, com vistas à adequada certificação.
Paralelamente ao Ciclo, levou-se a cabo um processo de transferência de tecnologia para a realização de teleconferências, no qual um grupo de técnicos da Fundacentro interagiu com este coordenador, além de participar de eventos no estúdio, com o intuito de dotar a instituição de capacitação para planejar, organizar e realizar futuros eventos desse tipo.
5. Avaliação, dificuldades e desafios
Conforme informado no item anterior, o Ciclo de Teleconferências foi bem avaliado e teve freqüência significativa. Isto, porém, jamais teria sido conseguido se todo o trabalho descrito de planejamento, programação, organização e controle não tivesse sido realizado. Esta afirmação é embasada na nossa experiência acumulada com esse tipo de evento e vale, certamente, para outras atividades.
No caso da teleconferência, entretanto, como se está em geral lidando com pessoas, problemas, situações e imprevistos localizados em inúmeros pontos distantes, sendo praticamente impossível um contato direto, uma forte organização é requisito indiscutível para o êxito do projeto.
No presente caso, muito contribuiu também o fato de havermos separado a parte de programação de conteúdo, escolha de palestrantes e gestão geral dos eventos, que ficou a cargo deste coordenador, em relação à parte eminente técnica de instalação e manutenção dos equipamentos, incluindo testes de sinal e resolução de dificuldades afins, que ficou a cargo de outra coordenação.
Como desafio para o próximo ano, estamos contemplando o uso da teleconferência para a disponibilização de cursos á distância. Isto implicará a utilização de dispositivos interativos muito mais eficazes que simplesmente aparelhos de fax para o envio de perguntas. Tecnologias para tanto existem ou podem ser desenvolvidas, aumentando em muito o potencial para o uso da educação à distância já existente em nosso país. Veja-se, a respeito, a Ref. 5.
6. Conclusões
A teleconferência segue sendo o recurso ideal para a disseminação e o debate de idéias quando se tem um público remoto espalhado por muitos plenários. Esse processo não deve excluir, sob nenhuma hipótese, a interatividade – palavra chave em qualquer sistema de educação à distância – de modo a proporcionar aos participantes a possibilidade de enviar suas perguntas e dúvidas aos palestrantes.
Não se deve, entretanto a menos que acompanhada de um sistema interativo mais poderoso, permitindo a avaliação do conhecimento adquirido, considerar a teleconferência como um meio que pretenda ir além do fornecimento de informações e do debate das idéias. Esse foi o escopo do 1º Ciclo de Teleconferências sobre Segurança e Saúde no Trabalho, descrito neste texto.
Como sempre se recomenda, os programas realizados foram gravados e encontram-se disponíveis aos interessados na Fundacentro em São Paulo(*). Consideramos esse acervo de conhecimento, que totalizou 20 horas de gravação, de considerável importância aos que queiram se aprofundar nas questões da Segurança e Saúde no Trabalho, nas escolas de Engenharia, empresas, associações da classe ou mesmo individualmente.
7. Referências
1. Costa Neto, P. L. O. – “Sobre conceitos e tecnologias”, www.fundacentro.gov.br/ecsst, São Paulo, 2001
2. Fundação Vanzolini – Revista “Engenheiro 2001”, nº 2 – São Paulo, 1997
3. Habert, A. – “Educação continuada à distância no desenvolvimento profissional dos engenheiros” – Dissertação de Mestrado – Escola Politécnica da USP, 1998
4. Maia, C. – “Guia brasileiro de educação à distância 2000/2001” – Editora Esfera, São Paulo, 2001
5. Rocha, A. A. e Costa Neto, P. L. O. “Educação continuada e à distância em Engenharia” – Revista ABENGE, Vol. 20, nº 1, Agosto de 2001.
* Telefone para contato: (11) 3066-6137.