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SOBRE CONCEITOS E TECNOLOGIAS
Pedro Luiz de Oliveira Costa Neto

"A desqualificação para o mercado de trabalho, seja através da obsolescência ou da má formação escolar, dá origem ao que tem sido chamado de analfabetismo tecnológico. Os analfabetos tecnológicos não retornarão ou ingressarão adequadamente no mercado de trabalho, nem que a economia cresça e expanda os empregos".
(...)
"Os postos de trabalho, em qualquer dos setores da economia, passaram a exigir, para a sua ocupação, níveis educacionais e profissionais cada vez mais elevados e extremamente intensivos em conhecimentos.
(...) O resultado disso é uma enorme pressão sobre o sistema educacional, no sentido do aumento do nível de educação e capacitação profissional de toda a população, assim como de sua permanente atualização para dar conta das contínuas mudanças no mundo do trabalho e das relações sociais".

PIRRÓ E LONGO, Waldimir (1999). "O ensino na rede virtual. Jornal do Brasil, Rio de Janeiro."

 

O presente artigo tem a finalidade de aclarar alguns pontos envolvendo conceitos e tecnologias relacionados com a nossa área de atuação - a educação à distância - que ainda causam alguma confusão entre os menos iniciados.

Vamos começar distinguindo educação continuada, educação aberta e educação a distância . Para tanto, podemos adotar as definições apresentadas no quadro abaixo. Resumindo o que nele se apresenta, podemos dizer que a educação continuada (que em inglês é referida como lifelong learning) é hoje, nesta era de rápida evolução dos conceitos e técnicas, uma necessidade ingente dos profissionais, em particular dos engenheiros e afins, sob pena de se tornarem "analfabetos tecnológicos (ou científicos)", sendo desprezados pelo mercado de trabalho. A importância da educação continuada é hoje, sem dúvida, mundialmente reconhecida e instituições como a Fundação Vanzolini, que a promovem, sob variadas formas, existem por toda parte.

Já a educação aberta, que pode ter muito a ver com a educação continuada, representa a quebra de vínculos com as estruturas educacionais formais, democratizando amplamente o acesso ao conhecimento. Seu mais notório exemplo talvez seja o da Open University inglesa, com seus mais de 300.000 alunos de extensão, pós-graduação e graduação, que a ela chegaram sem nenhuma obrigação de titulação prévia. Essa modalidade praticamente inexiste no Brasil, onde a mentalidade vigente é ainda muito apegada a formalismos e regulamentações.

A educação a distância, por sua vez, agrega-se às anteriores como um elemento de amplificação de seus efeitos, tendo como sua característica principal a quebra das barreiras de espaço e tempo. Permite-se, assim, que o educando possa estar distante do ponto de emissão do conhecimento, ampliando o enormemente o leque geográfico de abrangência do efeito educativo.

Educação Continuada

É o reconhecimento do direito e da necessidade de que o homem estude ao longo de sua vida (aluno vitalício). Isto significa enorme demanda técnica e profissionalizante. A educação continuada atende à procura, motivada por interesse pessoal, de cursos de formação geral, humana e cultural. Mediante a educação continuada, torna-se possível atualizar e reconverter as aptidões humanas, em função das necessidades advindas das mudanças sociais e tecnológicas.

Educação Aberta

Viabiliza o acesso de todos a oportunidades educacionais e a uma filosofia de ensino centrada na pessoa. Possibilita o livre acesso ao conhecimento, independente dos anseios de desenvolvimento pessoal, contribuindo para elevar o nível de cultura e de informação dos indivíduos. O ensino aberto é o reconhecimento do direito pessoal de determinar o tempo, o curso, o local e os objetivos de sua educação e treinamento.

Educação a Distância

Pressupõe a combinação de tecnologias convencionais e modernas que possibilitem o estudo individual ou em grupo, nos locais de trabalho ou fora deles, por meio de métodos de orientação e tutoria a distância, contando com atividades presenciais específicas, como reuniões de grupo para estudo e avaliação.

A distância a ser quebrada pode ser grande ou não. Mesmo não sendo, entretanto, são freqüentes os casos em que os outros fatores, como trânsito congestionado, ausência de transporte ou custo inviabilizam a presença física às salas de aula.

Já a quebra da barreira do tempo, permitirá aos educandos que exerçam as atividades do aprendizado nas datas e horários que lhes forem mais convenientes, tornando viável, muitas vezes, o estudo de outra forma impossível.

Há situações intermediárias, entretanto. É o caso, por exemplo, de uma tele ou videoconferência, em que os alunos ou espectadores se encontram espalhados em tele-salas geograficamente distantes do estúdio onde o programa é emitido, mas todos o recebem ao mesmo tempo. Quebrou-se a barreira do espaço - mesmo assim não completamente, pois os educandos devem se dirigir à tele-sala supostamente próxima - mas não a do tempo. Trata-se, no caso, na terminologia da área, de uma transmissão síncrona.

A assincronia ocorreria com o rompimento, também, da barreira do tempo, podendo os interessados acessar a informação em instantes distintos do da sua geração. É o caso dos cursos ou programas em vídeos, CDRoms ou disponibilizados via Internet, que podem ser acionados no instante em que se deseje.

Mídias

Vamos agora nos referir a uma questão que muita polêmica tem levantado junto aos apologistas da educação a distância. Trata-se da discussão acerca da qual a melhor mídia a ser utilizada. Esta pergunta, evidentemente, só pode ser colocada tendo como premissas básicas informações sobre o escopo do projeto, a natureza do público alvo, o grau de interatividade desejado, os recursos financeiros disponíveis para investimentos, etc.

Tomemos como exemplo o projeto Engenheiro 2001, em sua primeira fase, que tivemos a oportunidade de realizar em 1996/97, com apoio da FIESP. O escopo do projeto era contribuir para a melhoria do ensino de Engenharia no Brasil como um todo, através de um debate da problemática da própria Engenharia, do seu ensino e da profissão do engenheiro, tendo como público alvo básico professores, estudantes e dirigentes de todas as escolas de Engenharia do país, em número de 135. Tais premissas levaram a escolher a teleconferência como a única mídia capaz de satisfazer às exigências do projeto.

Comentemos, a propósito, a diferença entre teleconferência e videoconferência, tecnologias que ainda causam uma certa confução em alguns. Chamamos teleconferência à transmissão de som e imagem por satélite, abrangendo grandes extensões territoriais, com captação dos sinais por antena parabólica. É uma mídia relativamente antiga, mas que segue tendo bastante uso. A interatividade se faz, em geral, via fax ou telefone, como foi o caso do Engenheiro 2001, mas já existem sistemas mais modernos, acoplados a gerenciadores de cursos, visando a tele-educação. Está ocorrendo, também, a migração dos sinais de satélites do analógico para o digital, proporcionando melhor qualidade de imagem e mais economia. A teleconferência se justifica para um número grande de pontos de recepção, gerando economia de escala, pois a produção dos programas é relativamente cara.

Já a videoconferência proporciona a interatividade visual e de som em ambas as direções, através do uso de câmaras de vídeo e microfones nos vários ambientes interligados. Tem sido usado por grande empresas para a realização de tele-reuniões, evitando as cansativas e caras viagens, e, mais recentemente, na educação a distância. O custo dos equipamentos é alto, mas a transmissão é relativamente barata, sendo feita por linhas telefônicas dedicadas, fibra ótica ou satélite digital. A qualidade da imagem depende muito da bandagem do canal de comunicação. Na prática, seu uso tem-se restringido a um máximo da ordem de seis pontos, pois, para se ampliar a rede, há necessidade de um multiplexador muito caro e, além disso, a grande vantagem do sistema, que é a plena interatividade, se perderia em função da saturação.

Uma terceira via da qual tem-se valido, cada vez mais, a educação a distância é a Internet. Em artigo intitulado "For Adult Only", Eric J. Savitz mostra como tem sido enorme o crescimento das atividades de ensino e treinamento usando a rede mundial. No Brasil, diversos cursos já estão disponíveis, e a muitas instituições estão lançando seus próprios cursos de pós-graduação ou extensão universitária por essa via.

O ensino via Internet difere das formas anteriores citadas por atingir o educando individual, no seu computador pessoal. Proporciona, portanto, a máxima capilaridade, de forma assíncrona, isto é, quebrando totalmente as barreiras de tempo e espaço. O estudante acessará o conhecimento no local e instante desejado - evidentemente, dentro de limites razoáveis ditados pela cronologia para a qual o curso foi programado. A interatividade se dá assincronamente com o professor, o tutor ou os colegas de curso, por e-mail, ou sincronamente, por ferramentas de chat. Quanto ao custo, há um investimento consideravelmente grande na infra-estrutura e na preparação das disciplinas, mas o custo incremental de novos participantes é relativamente pequeno.

Uma dificuldade adicional a ser resolvida nos cursos a distância refere-se à parte pedagógica. Toda uma preparação específica é necessária, a fim de substituir o contato presencial do sistema tradicional. Isso é verdade tanto para os cursos oferecidos a grupos, via tele ou videoconferência, quando para os via Internet. No primeiro caso, toda uma nova postura do professor, acompanhada de meticulosa preparação da aula e excelente material de apoio, se faz necessária para a correta ação pedagógica. Não contando com a presença física do aluno, o professor deve cercar-se de meios para assegurar que o aprendizado ocorra satisfatoriamente, colocando desafios para o auto-aprendizado. No caso da Internet, em geral os materiais usados nos cursos presenciais devem ser totalmente refeitos, visando sua adequação à disponibilidade via rede. A criação de uma série de links de apoio faz parte, também, do trabalho de preparação.

Finalmente, um aspecto que deve ser mencionado é o do constante progresso da tecnologia. A cada dia que passa, novidades surgem e os softwares, os equipamentos eletrônicos e de telecomunicação se tornam mais baratos e disponíveis. Além disso, existe a convergência entre mídias, aumentando a potencialidade da sua utilização. Uma videoconferência, por exemplo, já pode ser recebida e/ou armazenada em um micro-computador. Assim, um aluno inscrito em um curso com transmissão síncrona que necessite faltar a uma aula poderá assisti-la a posteriori, interagindo pela Internet ao invés de por viva imagem.

Todos esses fatos, aliados à grande demanda reprimida por conhecimento e atualização, nos levam a acreditar no sucesso da educação a distância em no nosso país, a exemplo do que acontece no resto do mundo, apesar das opiniões contrárias de alguns que, por razões que não cabe discutir agora, se mostram pessimistas, contrários ou refratários à idéia.

 

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