SOBRE CONCEITOS E TECNOLOGIAS
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O presente artigo tem a finalidade de aclarar alguns pontos envolvendo conceitos e tecnologias relacionados com a nossa área de atuação - a educação à distância - que ainda causam alguma confusão entre os menos iniciados.
Vamos começar distinguindo educação continuada, educação aberta e educação a distância . Para tanto, podemos adotar as definições apresentadas no quadro abaixo. Resumindo o que nele se apresenta, podemos dizer que a educação continuada (que em inglês é referida como lifelong learning) é hoje, nesta era de rápida evolução dos conceitos e técnicas, uma necessidade ingente dos profissionais, em particular dos engenheiros e afins, sob pena de se tornarem "analfabetos tecnológicos (ou científicos)", sendo desprezados pelo mercado de trabalho. A importância da educação continuada é hoje, sem dúvida, mundialmente reconhecida e instituições como a Fundação Vanzolini, que a promovem, sob variadas formas, existem por toda parte.
Já a educação aberta, que pode ter muito a ver com a educação continuada, representa a quebra de vínculos com as estruturas educacionais formais, democratizando amplamente o acesso ao conhecimento. Seu mais notório exemplo talvez seja o da Open University inglesa, com seus mais de 300.000 alunos de extensão, pós-graduação e graduação, que a ela chegaram sem nenhuma obrigação de titulação prévia. Essa modalidade praticamente inexiste no Brasil, onde a mentalidade vigente é ainda muito apegada a formalismos e regulamentações.
A educação a distância, por sua vez, agrega-se às anteriores como um elemento de amplificação de seus efeitos, tendo como sua característica principal a quebra das barreiras de espaço e tempo. Permite-se, assim, que o educando possa estar distante do ponto de emissão do conhecimento, ampliando o enormemente o leque geográfico de abrangência do efeito educativo.
Educação Continuada |
É o reconhecimento do direito e da necessidade de que o homem estude ao longo de sua vida (aluno vitalício). Isto significa enorme demanda técnica e profissionalizante. A educação continuada atende à procura, motivada por interesse pessoal, de cursos de formação geral, humana e cultural. Mediante a educação continuada, torna-se possível atualizar e reconverter as aptidões humanas, em função das necessidades advindas das mudanças sociais e tecnológicas. |
Educação Aberta |
Viabiliza o acesso de todos a oportunidades educacionais e a uma filosofia de ensino centrada na pessoa. Possibilita o livre acesso ao conhecimento, independente dos anseios de desenvolvimento pessoal, contribuindo para elevar o nível de cultura e de informação dos indivíduos. O ensino aberto é o reconhecimento do direito pessoal de determinar o tempo, o curso, o local e os objetivos de sua educação e treinamento. |
Educação a Distância |
Pressupõe a combinação de tecnologias convencionais e modernas que possibilitem o estudo individual ou em grupo, nos locais de trabalho ou fora deles, por meio de métodos de orientação e tutoria a distância, contando com atividades presenciais específicas, como reuniões de grupo para estudo e avaliação. |
A distância a ser quebrada pode ser grande ou não. Mesmo não sendo, entretanto, são freqüentes os casos em que os outros fatores, como trânsito congestionado, ausência de transporte ou custo inviabilizam a presença física às salas de aula.
Já a quebra da barreira do tempo, permitirá aos educandos que exerçam as atividades do aprendizado nas datas e horários que lhes forem mais convenientes, tornando viável, muitas vezes, o estudo de outra forma impossível.
Há situações intermediárias, entretanto. É o caso, por exemplo, de uma tele ou videoconferência, em que os alunos ou espectadores se encontram espalhados em tele-salas geograficamente distantes do estúdio onde o programa é emitido, mas todos o recebem ao mesmo tempo. Quebrou-se a barreira do espaço - mesmo assim não completamente, pois os educandos devem se dirigir à tele-sala supostamente próxima - mas não a do tempo. Trata-se, no caso, na terminologia da área, de uma transmissão síncrona.
A assincronia ocorreria com o rompimento, também, da barreira do tempo, podendo os interessados acessar a informação em instantes distintos do da sua geração. É o caso dos cursos ou programas em vídeos, CDRoms ou disponibilizados via Internet, que podem ser acionados no instante em que se deseje.
Mídias
Vamos agora nos referir a uma questão que muita polêmica tem levantado junto aos apologistas da educação a distância. Trata-se da discussão acerca da qual a melhor mídia a ser utilizada. Esta pergunta, evidentemente, só pode ser colocada tendo como premissas básicas informações sobre o escopo do projeto, a natureza do público alvo, o grau de interatividade desejado, os recursos financeiros disponíveis para investimentos, etc.
Tomemos como exemplo o projeto Engenheiro 2001, em sua primeira fase, que tivemos a oportunidade de realizar em 1996/97, com apoio da FIESP. O escopo do projeto era contribuir para a melhoria do ensino de Engenharia no Brasil como um todo, através de um debate da problemática da própria Engenharia, do seu ensino e da profissão do engenheiro, tendo como público alvo básico professores, estudantes e dirigentes de todas as escolas de Engenharia do país, em número de 135. Tais premissas levaram a escolher a teleconferência como a única mídia capaz de satisfazer às exigências do projeto.
Comentemos, a propósito, a diferença entre teleconferência e videoconferência, tecnologias que ainda causam uma certa confução em alguns. Chamamos teleconferência à transmissão de som e imagem por satélite, abrangendo grandes extensões territoriais, com captação dos sinais por antena parabólica. É uma mídia relativamente antiga, mas que segue tendo bastante uso. A interatividade se faz, em geral, via fax ou telefone, como foi o caso do Engenheiro 2001, mas já existem sistemas mais modernos, acoplados a gerenciadores de cursos, visando a tele-educação. Está ocorrendo, também, a migração dos sinais de satélites do analógico para o digital, proporcionando melhor qualidade de imagem e mais economia. A teleconferência se justifica para um número grande de pontos de recepção, gerando economia de escala, pois a produção dos programas é relativamente cara.
Já a videoconferência proporciona a interatividade visual e de som em ambas as direções, através do uso de câmaras de vídeo e microfones nos vários ambientes interligados. Tem sido usado por grande empresas para a realização de tele-reuniões, evitando as cansativas e caras viagens, e, mais recentemente, na educação a distância. O custo dos equipamentos é alto, mas a transmissão é relativamente barata, sendo feita por linhas telefônicas dedicadas, fibra ótica ou satélite digital. A qualidade da imagem depende muito da bandagem do canal de comunicação. Na prática, seu uso tem-se restringido a um máximo da ordem de seis pontos, pois, para se ampliar a rede, há necessidade de um multiplexador muito caro e, além disso, a grande vantagem do sistema, que é a plena interatividade, se perderia em função da saturação.
Uma terceira via da qual tem-se valido, cada vez mais, a educação a distância é a Internet. Em artigo intitulado "For Adult Only", Eric J. Savitz mostra como tem sido enorme o crescimento das atividades de ensino e treinamento usando a rede mundial. No Brasil, diversos cursos já estão disponíveis, e a muitas instituições estão lançando seus próprios cursos de pós-graduação ou extensão universitária por essa via.
O ensino via Internet difere das formas anteriores citadas por atingir o educando individual, no seu computador pessoal. Proporciona, portanto, a máxima capilaridade, de forma assíncrona, isto é, quebrando totalmente as barreiras de tempo e espaço. O estudante acessará o conhecimento no local e instante desejado - evidentemente, dentro de limites razoáveis ditados pela cronologia para a qual o curso foi programado. A interatividade se dá assincronamente com o professor, o tutor ou os colegas de curso, por e-mail, ou sincronamente, por ferramentas de chat. Quanto ao custo, há um investimento consideravelmente grande na infra-estrutura e na preparação das disciplinas, mas o custo incremental de novos participantes é relativamente pequeno.
Uma dificuldade adicional a ser resolvida nos cursos a distância refere-se à parte pedagógica. Toda uma preparação específica é necessária, a fim de substituir o contato presencial do sistema tradicional. Isso é verdade tanto para os cursos oferecidos a grupos, via tele ou videoconferência, quando para os via Internet. No primeiro caso, toda uma nova postura do professor, acompanhada de meticulosa preparação da aula e excelente material de apoio, se faz necessária para a correta ação pedagógica. Não contando com a presença física do aluno, o professor deve cercar-se de meios para assegurar que o aprendizado ocorra satisfatoriamente, colocando desafios para o auto-aprendizado. No caso da Internet, em geral os materiais usados nos cursos presenciais devem ser totalmente refeitos, visando sua adequação à disponibilidade via rede. A criação de uma série de links de apoio faz parte, também, do trabalho de preparação.
Finalmente, um aspecto que deve ser mencionado é o do constante progresso da tecnologia. A cada dia que passa, novidades surgem e os softwares, os equipamentos eletrônicos e de telecomunicação se tornam mais baratos e disponíveis. Além disso, existe a convergência entre mídias, aumentando a potencialidade da sua utilização. Uma videoconferência, por exemplo, já pode ser recebida e/ou armazenada em um micro-computador. Assim, um aluno inscrito em um curso com transmissão síncrona que necessite faltar a uma aula poderá assisti-la a posteriori, interagindo pela Internet ao invés de por viva imagem.
Todos esses fatos, aliados à grande demanda reprimida por conhecimento e atualização, nos levam a acreditar no sucesso da educação a distância em no nosso país, a exemplo do que acontece no resto do mundo, apesar das opiniões contrárias de alguns que, por razões que não cabe discutir agora, se mostram pessimistas, contrários ou refratários à idéia.