Há 30 anos, São Paulo protagonizava acontecimento relevante para
a dinamização do nosso sistema educacional. O Ministério da Educação,
através de decreto publicado no dia 17 de fevereiro de 1972, autorizava
a funcionar nesta cidade a primeira instituição universitária denominada
"Faculdades Integradas".
Até então, o sistema de ensino superior era constituído por três
tipos de organizações: a "universidade", a "faculdade isolada" e
a "federação de escolas". A universidade representava a vanguarda
do sistema, configurando espaços articulados de ensino, pesquisa
e extensão. As faculdades isoladas permaneciam na sua retaguarda,
dedicando-se exclusivamente ao ensino de natureza profissional.
A reunião de algumas dessas faculdades em conjuntos mais amplos
gerou a federação de escolas, uma universidade de novo tipo, que
embora possuísse diversidade intelectual, abrigando diferentes
áreas do saber, não perfilava a unidade cognitiva só realizável
através da pesquisa científica.
Ao propor ao Conselho Federal de Educação a criação da FIAM, o
educador João Guilherme de Oliveira Costa ambicionava um modelo
universitário alternativo, capaz de reunir ensino, pesquisa e extensão,
sem o compromisso de manter atividades em todas as áreas do conhecimento.
Seu projeto enfrentou naturais resistências. Ele acabou sendo acolhido
pelo respeito que o autor, funcionário graduado da USP, merecia
de vários membros do antigo CFE, cuja amizade cultivara durante
anos de convivência na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras
da rua Maria Antônia.
Influiu também para esse desfecho positivo, o empenho demonstrado
pela então deputada Ivete Vargas, amiga pessoal do fundador da FIAM.
Ivete militava na ala trabalhista do partido da oposição, o então
MDB - Movimento Democrático Brasileiro -, mas estabeleceu negociação
direta com o Ministro da Educação da época. Aberto a inovações,
o Ministro Jarbas Passarinho deu um voto de confiança a João Guilherme
de Oliveira, avalizando o ato de criação da FIAM.
Qual o projeto acalentado por João Guilherme ? Ele pretendia resgatar
a meta original da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da
USP, qual seja a de formar educadores capazes de cimentar as bases
da moderna sociedade paulista. Esse ideal uspiano foi sendo minimizado,
na opinião do fundador da FIAM. A instituição a que dedicara a maior
parte da sua vida funcional agigantava-se, correndo o perigo de
despersonalizar-se; convertera-se efetivamente numa federação de
escolas profissionais, postergando o compromisso de ser uma autêntica
universidade.
João Guilherme queria que a FIAM pudesse ser a USP dos seus sonhos.
Para torná-la exequível, pensou numa universidade de pequeno porte,
constituída por um conjunto de faculdades integradas através de
um forte núcleo de natureza humanística. Arrendou um velho edifício
situado na Avenida Jabaquara e arregaçou as mangas para concretizar
seu ideal. A elaboração do projeto pedagógico ele confiou a uma
equipe de jovens professores da USP.
Como patrono da nova faculdade, escolheu José Alcântara Machado
de Oliveira, autor do clássico ensaio histórico "Vida e Morte do
Bandeirante". Ele pretendia forjar os bandeirantes da modernidade.
Sua meta era educar os educadores dos novos tempos, em que a escola
deixara de ser a agência hegemônica de formação para a cidadania.
Por isso mesmo, elegeu um núcleo interdisciplinar constituído por
três áreas do conhecimento: Letras, Estudos Sociais e Comunicação
Social.
Sintomaticamente, a Faculdade de Comunicação Social atuou como
alavanca do novo sistema, sob a liderança de Francisco Morel, um
publicitário de sucesso e ao mesmo um contista promissor, então
pertencente à equipe fundadora da Escola de Comunicações e Artes
da USP.
Mas o sonho arrojado de João Guilherme de Oliveira Costa logo se
converteu em pesadelo. A idade avançada e as dificuldades financeiras
representavam obstáculos intransponíveis. Parecia uma quimera construir
um instituição privada que mantivesse a um só tempo o ensino de
qualidade e a iniciação científica dos jovens estudantes. Não lhe
restou, bem como aos seus parceiros, outra alternativa, senão negociar
a transferência do controle da sociedade mantenedora para instituição
congênere, que já vinha atuando no setor cultural e que passou a
denominar-se FAAM - Faculdade de Artes Alcântara Machado, uma homenagem
ao escritor que escrevera o clássico da literatura paulistana "Brás,
Bexiga e Barrafunda".
Essa solução não garantiu, entretanto, a continuidade do projeto.
Tanto assim que, poucos anos depois, o então Ministro da Educação,
Ney Braga, preocupado com a crise que ameaçava o destino da FIAM,
e correspondendo aos apelos dos seus novos dirigentes, concitava
o Professor Edevaldo Alves da Silva a assumir a liderança do projeto
idealizado por João Guilherme de Oliveira Costa.
O desafio foi aceito imediatamente pelo ilustre advogado que granjeara
credibilidade no setor educacional com o reconhecimento conquistado
pela FMU. Desta maneira, a FIAM retornava à família uspiana. Pois
Edevaldo Alves da Silva também havia se inspirado na USP quando
decidiu ingressar no segmento universitário. Filho do Professor
João Alves da Silva, integrante da equipe de cientistas fundadores
do campus da USP em Ribeirão Preto, ele balizou seu projetos de
ensino superior naqueles ideais assimilados no convívio familiar.
Tendo perdido o pai ainda muito jovem, Edevaldo Alves da Silva
tornou-se arrimo de família, precisando lutar para sobreviver e
construir seu próprio caminho. A opção pela iniciativa educacional
de qualidade constitui uma homenagem consciente à memória paterna,
que ele cultiva com veneração e vem transmitindo com tenacidade
aos filhos e netos. Assim sendo, os ideais uspianos constituem referencial
permanente na trajetória das instituições universitárias por ele
presididas.
Ao assumir a presidência da entidade mantenedora do conglomerado
FIAM-FAAM, Edevaldo Alves da Silva transferiu a faculdade do velho
edifício da Avenida Jabaquara para as modernas instalações hoje
situadas na Avenida Morumbi. Equipou os laboratórios didáticos,
dotando os cursos de jornalismo, publicidade e relações públicas
de corpo docente de alto nível. Recentemente, decidiu ampliar sua
grade curricular, incluindo duas novas habilitações: editoração
multimídia; rádio, TV e vídeo.
Durante três décadas, o complexo FIAM-FAAM amealhou prestígio,
formando profissionais competentes. No último biênio, foram realizados
investimentos na atualização da infra-estrutura laboratorial, reforma
das salas de aulas, criação de agências experimentais e na renovação
do corpo docente, transformando a instituição num autêntico centro
universitário.
A comemoração desses avanços e conquistas foi coroada, na noite
de 25 de fevereiro de 2002, com o anúncio feito pelo Ministro da
Educação durante a solenidade de instalação da Cátedra de Jornalismo
Octavio Frias de Oliveira. Paulo Renato Sousa comunicou ao auditório
reunido na Faculdade de Comunicação Social que o CNE - Conselho
Nacional de Educação aprovara o projeto de transformação daquela
instituição, conferindo-se o status de Centro Universitário.
O credenciamento do UniFIAM-FAAM foi oficializado através da Portaria
MEC 622/2002, publicada no Diário Oficial da União em 7 de março
de 2002, homologando o Parecer 058/2002 da Câmara de Ensino Superior
do Conselho Nacional de Educação.
O Centro Universitário Alcântara Machado, resultante da fusão das
faculdades integradas FIAM-FAAM, é constituído por quatro campi,
localizados em diferentes bairros da capital paulista, abrigando
6 unidades acadêmicas e duas dezenas de cursos profissionais.
No campus Morumbi está instalada a FACOM - Faculdade de Comunicação
Social, contando atualmente com 5 cursos de graduação: Jornalismo,
Publicidade e Propaganda, Relações Públicas, Editoração Multimídia,
Rádio, TV e Vídeo.
Combinando tradição e modernidade, o UniFIAM-FAAM desponta no panorama
universitário paulista como núcleo de estudos avançados que se pauta
pelo pragmatismo e pela criatividade, pela inovação e pelo engajamento
em projetos comunitários.
Trata-se de justa homenagem a um empresário da comunicação que
se notabilizou pela luta em defesa da liberdade de imprensa, viabilizando
uma organização jornalística moderna, plural e independente. Trata-se
também de um cidadão que se fez por conta própria, escolhendo a
iniciativa privada como espaço de atuação pública.
Sua conduta empresarial tem sido edificante por três opções:
- a sedimentação de um jornalismo clivado pela cidadania, assentado
principalmente nas aspirações das camadas médias da nossa população;
- a superação do capitalismo selvagem na indústria midiática,
desenvolvendo projetos cooperativos com empresas concorrentes,
sem contudo abandonar a competição mercadológica;
- o fortalecimento da internacionalização comunicacional, viabilizando
a projeção brasileira no mercado regional da mídia digitalizada.
Ao escolher Octavio Frias de Oliveira como patrono da primeira
Cátedra de Jornalismo a ser mantida pela FIAM a nossa comunidade
acadêmica pretendia justamente homenagear aquele que personificou
a figura do Bandeirante Moderno, cujo perfil histórico foi delineado
por Alcântara Machado, inspirador da nossa instituição. Identificamos
na figura do publisher da Folha de S. Paulo o perfil de um autêntico
Bandeirante Midiático.
Qual a responsabilidade da Cátedra que hoje inicia suas atividades,
com a realização de um Simpósio Acadêmico dedicado ao tema "Octavio
Frias de Oliveira: 40 anos de atuação na liderança do Grupo Folha"
?
Ela pretende ser um elo da cooperação universidade-empresa. Chegou
o momento de darmos um basta ao gueto acadêmico e às muralhas empresariais.
O diálogo, o intercâmbio e a transferência mútua de conhecimentos
tornam-se objetivos a serem alcançados de modo eficaz e persistente.
Temos a ilusão de fazer da Cátedra Octavio Frias de Oliveira um
empreendimento semelhante àquele que entusiasmou o Sr. Luiz Plinio
d´Oliveira, avô do nosso patrono, ao edificar, há um século, os
Arcos da Lapa, na cidade do Rio de Janeiro.
Da mesma maneira que aquele aqueduto canalizou água potável do
Morro de Santa Tereza para o centro da antiga capital federal esperamos
que a Cátedra de Jornalismo Octavio Frias de Oliveira possa transferir
o conhecimento jornalístico acumulado na rua Barão de Limeira, nesses
40 de inovação da Folha de S. Paulo, para a bagagem cultural dos
futuros profissionais que a FIAM está formando nesta colina do Morumbi,
na cidade de São Paulo, no início do século XXI.
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