NOTÍCIA

 

David de Moraes, vocação: Jornalista

Por Flávia Bacar Siqueira

Quando chego para entrevista me deparo com um senhor conservado, quase sem cabelos brancos, me aguardando de sunga debaixo de um guarda-sol em um clube no bairro do Brooklin, em São Paulo. David de Moraes, 67 anos, me recebe reclamando do calor e me oferecendo um suco gelado. David é assessor de imprensa do recém eleito deputado federal José Eduardo Cardozo, trabalhou durante vinte anos na Editora Abril, já foi presidente do Sindicato dos Jornalistas e diretor da Federação Nacional dos Jornalistas.

Quando pergunto sobre sua faculdade, vem o espanto: “Não cursei jornalismo na faculdade, o curso não era obrigatório, fiz Direito e Letras na Universidade de São Paulo (USP)” e ainda complementa: “Cursei Letras, mas nunca fui professor. Até cheguei a trabalhar como advogado, mas única coisa que consegui foi dinheiro e esse não era meu objetivo principal, não era feliz. Minha vocação é o jornalismo, é o que eu gosto de fazer.” Sempre muito alegre e descontraído durante a entrevista, assumiu uma postura mais séria quando perguntei quais eram suas funções como assessor do deputado petista e foi direto em sua resposta: “Sou o braço direito: escrevo os discursos, ponho notas em jornais e revistas, me relaciono com a imprensa pelo Zé ”, e mais descontraído fala: “Antes de tudo sou amigo do Zé, nunca houve a relação patrão-empregado. Trabalho com ele há seis anos e nos respeitamos muito”.
Respeito e admiração são as palavras que me vêm a cabeça no decorrer da entrevista. Autodidata, David aprendeu várias línguas e um de seus hobbies, além de nadar (ele nada 2 quilômetros por dia), é ler. Até aí, para um jornalista, nada mais comum, certo? Errado, seu hobbie é ler livros em latim. Quando percebe meu espanto, diz: “Ainda deviam ensinar latim nas escolas, é uma língua belíssima”.

Extremamente ativo para seus quase 70 anos, David afirma que ainda não sentiu o peso da idade, pois não se permitiu a isso. “Minha carga de trabalho é relativamente pequena no gabinete do Zé (José Eduardo Cardoso), em torno de seis horas por dia, mas trabalho muito em casa e venho nadar todos os dias no clube.” diz. Com uma disposição invejável, é simpático com todos (a entrevista é interrompida várias vezes por sócios do clube vindo cumprimentar o ‘seu David’ ou o ‘Doutor Davi’ como é conhecido nas redondezas do bairro do Brooklin) e, ao término da entrevista, um sócio do clube veio me confidenciar que qualquer dúvida que ele tem ele recorre ao ‘Doutor’, pois ele sempre sabe de tudo.

David é a prova viva que jornalismo se aprende fazendo, mas é incisivo quando pergunto sobre o obrigatoriedade da faculdade: “É uma profissão como qualquer outra. É claro que é necessário a obrigatoriedade do curso. Teoria e prática devem se unir” e ainda alfineta o jornalismo atual: “O que é feito na televisão atualmente não é jornalismo. Eu não assisto mais televisão. E agora parece que virou moda todos dizerem que são assessores de imprensa, ser assessor é um ramo sério de jornalismo. Não é dizer que é assessor para voar para a primeira página da Caras ou para o Big Brother. Antes de tudo é necessário respeitar a profissão e respeitar a inteligência das pessoas.”