NOTÍCIA

 

Um reporter de olho na cidade

Por Renato Dalpino

André Caramante, repórter especial do jornal Agora São Paulo, nasceu em 15 de outubro de 1977, na Vila Dionizia, zona norte de São Paulo. Formado em Jornalismo pela Uniiban (Univesidade Bandeirante de São Paulo), ele já trabalhou em publicações como Caras, Veja, Quatro Rodas e no extinto Notícias Populares (que, segundo ele, foi sua maior escola), além da Folha Metropolitana, Diário Popular e Projeto Carandiru (independente). Caramante é ainda colunista de Hip Hop da revista Rock Press. Abaixo, os principais trechos de sua entrevista a respeito de seu trabalho no Agora.

Primeiro Momento: Você acha que o governo de SP está dando a devida atenção para a segurança no estado?
André Caramante: Não, o governo não dá a devida importância à segurança pública porque vejo esse assunto sempre tratado como marketing dentro do executivo estadual. Isso mesmo, as ações do Estado são sempre cercadas de muita nuvem e parecem ser feitas apenas para aparecer. O governo paulista, assim como todos os outros do país, não tem política de combate à violência. Quem sabe com a nomeação do Luiz Eduardo Soares para a Secretaria Nacional de Segurança Pública isso possa melhorar. Ele é uma das pessoas mais importantes nessa área no Brasil e merece chance de mostrar serviço.

PM: Você concorda que o desemprego é o principal motivo para o aumento da violência?
Caramante: O desemprego ajuda muito a fazer a violência crescer, mas não é só ele quem ferra com tudo. Falta de política séria na educação é tão grave quanto o desemprego. Falta de investimento na vida de quem vive nas periferias do país também. Quem está à margem de tudo vai se rebelar sempre. Vivi muito com gente presa e, assim como muitos deles (não todos, por favor), penso que não haverá melhora nos índices de violência enquanto não houver igualdade social. A polícia brasileira, assim como os poderes executivo, judiciário e legislativo, existem para manter o pobre bem longe do rico, só para isso. O dia em que o povão resolver tomar sua parte no bolo, ninguém segura. Aí a elite vai ver o que é bom para a tosse, vai ver, de fato, o que é uma guerra civil.

PM: Até que ponto a falta de investimento em educação influi no crescimento da violência?
Caramante: Essa é, sim, a maior causa da violência. Os jovens têm procurado o crime por pura falta de orientação. Filhos de gente humilde, essa rapaziada já nasce condenada a perpetuar os históricos de vida de seus pais. Para mudar, tem que ser muito forte, pois o que te oferecem quando você é da periferia é o resto. E ninguém é feliz com o resto. Enquanto não houver justiça social, muita gente não vai dormir sossegada, o crime não vai parar nunca.

PM: Você acha que as principais prefeituras como Campinas, Ribeirão Preto e S.Paulo poderiam ajudar de alguma maneira o governo do estado com o intuito de diminuir a violência?
Caramante: Lógico que sim, mas falta grana para tudo isso. Uma coisa é a teoria e outra a prática. Você conhece Campinas, por exemplo? Proporcionalmente, tem tanta gente pobre como aqui na Capital. Os bolsões de miséria estão crescendo e ninguém faz nada. No início do ano, chorei ao ver o Lula dizendo que vai se dar por satisfeito se, ao final de seu governo, todo brasileiro conseguir comer pelo menos uma vez ao dia. E é assim que eu penso. Enquanto teus colegas de faculdade vão para o Litoral todo fim de semana surfar, tem mãe que precisa vender o corpo para comprar comida para o filho. É justo?

PM: Você gosta de fazer reportagens sobre violência?
Caramante: Só faço isso. A reportagem é o meu campo. Fiquei dois anos no Carandiru fazendo um trabalho de documentação e lá aprendi o quanto dói estar longe de quem você gosta, da vida livre e de frente com a morte o tempo todo. Trabalhar no Carandiru foi minha pós-graduação.

PM: Qual a área que você mais gostaria de trabalhar, que mais te chama a atenção? Caramante: Acho que a mesma resposta anterior vale. Mas tenho uma queda por jornalismo cultural também.