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Adolescentes ficam grávidas especialistas acusam a
mídia
Fernanda
Fernandes
Uma
menina leva no colo um bebê. Não é uma cena incomum. E já nem chega
tanto a surpreender quando se descobre que as duas crianças, na
verdade, são mãe e filha. De acordo com dados do Ministério da
Saúde, quase um terço dos partos realizados hoje no Brasil é de
adolescentes na faixa de 10 a 19 anos. E esse percentual vem
crescendo.
O
fenômeno é complexo e tem uma variedade de motivações, psicológicas,
sociais e afetivas. A valorização cada vez maior do corpo e do sexo,
como chamarizes de audiência, estaria contribuindo para a erotização
precoce, de crianças e adolescentes? Márcia Alves, voluntária de
apoio a crianças e adolescentes de uma favela, localizada na Zona
Sul de São Paulo, acha que sim.
"A
influência da mídia é a maior justificativa para esse quadro. Há
crianças que, com sete anos, estão em um estado de erotização
impressionante", alerta.
"As
meninas vêm tendo filhos cada vez mais cedo, e um fator
preponderante é a influência da mídia, que cria imagens que servem
de modelo para essas meninas. Então elas querem ser iguais às moças
da TV".
Para
exemplificar, Márcia cita um caso de uma jovem, de uma comunidade
atendida pelo projeto, que resolveu se prostituir. Na época, era
exibida uma novela em que uma das personagens, uma garota de
programa, sustentava a casa, os estudos, o filho e os pais cora o
dinheiro do michês. "A influência era nítida", diz.
"Era
uma menina que já vinha sendo trabalhada pela gente, então
conseguimos aconselhá-la e ela acabou abandonando aquela vida e até
arrumou um trabalho".
A
influência das novelas é destacada também pelo terapeuta e psicólogo
Thyrso Moreira. Ele afirma que a mídia tem grande influência sobre
essas garotas, e completa "atendo em meu consultório, meninas que
precocemente apresentam uma curiosidade imensa no que se trata de
sexo". Orientar esses pré-adolescentes para vida sexual é difícil,
tanto para os pais como para os professores, discutir sexualidade
com os jovens, muitos deles tem vergonha, outros a família é travada
para esse tipo de assunto. O ideal e desejável é a parceria da
família-escola, conclui Thyrso.
Andréia
Zimermam, terapeuta sexual, acha que “a mídia tem uma grande
responsabilidade, sim, porque privilegia todo esse aspecto de
sedução, que é próprio da sociedade de consumo. Como a gente reverte
isso, eu não sei, porque a sociedade tem a liberdade de expressão.
Mas é preciso dar outro tipo de motivação a esses jovens", analisa.
"No fundo, não há instituições que invistam em outras formas de
motivar a juventude. As escolas e os pais se preocupam pouco em
motivar os jovens, não há um interesse tão grande. Então essas
adolescentes são deixadas à própria sorte", afirma.
A falta
de visão crítica certamente é decisiva quando se fala em influência
da mídia. Se, por um lado, cabem críticas, por exemplo, aos
responsáveis pela programação das emissoras de televisão, é preciso
reconhecer que existe o interesse do público. Sair desse círculo
vicioso é uma tarefa delicada.
Cristina Mendonça, professora de escola particular, destaca
a importância do papel do educador: "O adolescente tem um potencial
muito grande, e depende do educador desenvolver esse potencial
e o senso crítico", e acrescenta: "O pior não é a gravidez,
é que com ela, a escola é deixada de lado. Sem estudo, diminuem
as oportunidades de crescimento profissional".
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