Um jornalista com cabeça de escritor

ANDRÉ PONTES

"Desculpem-me pela minha voz, mas é que a cerveja estava muito gelada". Foi com essa frase que Xico Sá, 40, começou sua palestra ou entrevista, como queiram, na UniFiam para os alunos do primeiro ano de jornalismo.

Muito descontraído, não deixou de criticar e satirizar alguns colegas de profissão, bem como a própria profissão.

"Quando me tornei jornalista achava que ia ter uma vida de escritor, passar a noite no boteco e depois montar a minha matéria. Errado, entrei com uns 50 anos de atraso. Não sabia que ia ter que fazer matéria sobre o cano da Sabesp ou buracos na cidade, disse sobre o seu inicio de carreira.

Quando perguntado sobre o que ele escolheria como profissão hoje em dia, entre ser escritor ou jornalista, tendo o mesmo salário em ambos os empregos, não hesitou em dizer que seria escritor. "Ser escritor não da dinheiro, mas se desse com certeza eu seria um", completou Xico, que já escreveu pelo menos dois livros e pretende lançar mais um em novembro deste ano.

Xico Sá contou também como entrou para a área de política no jornalismo investigativo. "Não queria fazer esse tipo de matéria, pois é muito chata, mas fui obrigado a entrar nesse ramo. Dei muita sorte nas primeiras matérias e também comecei a ganhar mais. Por isso que fiquei nessa área", disse Xico, que entre outros furos na área de política descobriu onde estava PC Farias.

No jornalismo, onde há acusações de que há quem pague para o jornalista não publicar uma reportagem, Xico disse que já recebeu várias ofertas. "O ACM disse que tem dois tipos de jornalistas no Brasil. Um você compra com dinheiro e outro com notícia", contou Xico, afirmando nunca ter se vendido para nenhum político. "Já recebi muitos pedidos para comprar uma matéria minha, para eu não publicar, mas eu nunca vendi".}

O jornalista também contou sobre sua condenação à prisão. "Fui condenado a quatro meses de prisão por causa de uma matéria, onde eu falava mal dos policiais. O nome da matéria era "Os sem terra e os sem cérebro", se referindo aos policiais. "Fui condenado por ter sujado o nome da "gloriosa" policia. Esse é o lado bom de ser jornalista. Às vezes você fica de saco cheio e pode dar uma porradinha na policia por exemplo", completou Xico Sá. Quando perguntado se não tinha medo de ter que precisar da polícia um dia, Xico sorriu e disse, "tomara que eu não precise".

Por último, deu uma força para os alunos incentivando-nos a levar a sério as aulas na faculdade. "Sou a favor da faculdade, aprendi muito com ela, apesar de achar que poderíamos enxugar um pouco o tamanho do curso".

 
   
   


 
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