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"O jornalismo está em uma crise profunda"
DANIELA FERNANDES
Gabriel
Priolli contou que a vontade de ser jornalista veio por acaso,
no transcorrer do curso de comunicação da ECA-USP. Primeiramente
queria ser publicitário, entrou no ano de 1972, onde já trabalhava
como redator publicitário, mas como a época era de Ditadura
Militar, foi se envolvendo com idéias de esquerda e tendo contato
com o pessoal do movimento estudantil.
Resolveu que queria ser um "poeta do capital" como se dizia
na época. "Não queria mais vender as maravilhas do mundo do
consumo, queria trabalhar pela conscientização das pessoas,
para que elas também aderissem à luta contra a ditadura".
Foi então que escolheu a carreira de jornalismo. Entre seus
pais que o apoiaram para que seguisse essa carreira, apesar
do medo que tinham que este envolvimento o pudesse levar a ser
preso, também foi incentivado por seus três mestres na ECA:
Paulo Roberto Leandro, Cremilda Medina e Sinval Mediria, que
além de o apoiar, ensinou o básico da profissão.
Em pergunta sobre as dificuldades enfrentadas em sua carreira,
ele diz que o seu maior problema foi o desemprego. Em 1980 foi
demitido quando Paulo Maluf era governador e resolveu "limpar"
a emissora, TV Cultura, dos comunistas. Lembra que uns 30 colegas
foram, junto com ele, demitidos. Passou por perseguições, onde
o grupo do Maluf na mídia pressionava as outras emissoras para
que não os contratassem. Após seis meses de luta pra conseguir
outro emprego entrou para a Folha de S. Paulo em julho de 1980.
"O que mais marcou minha carreira foi à televisão. Devo a TV
o nome profissional que tenho, e o modesto património que construí.
Creio ter dado a ela alguma contribuição, como crítico e como
produtor".
Comparando a profissão nos dias de hoje com início de sua carreira
há 28 anos, ele diz que a maior diferença que ele percebe é
a perda de substância do jornalismo, o vazio, a futilidade.
"Nos anos 70, estávamos em guerra contra a ditadura. O jornalismo
era a nossa arma de luta. Fazíamos aquilo por convicção, com
gana, e não apenas para sobreviver e muito menos para ganhar
dinheiro".
Hoje ele diz que não há mais nada disso, onde o jornalismo virou
apenas um negócio, que serve apenas com a idéia de entreter
o leitor, com a função de não os "aborrecer" com as informações.
"Não se trabalha pela missão, mas por grana e poder, simplesmente".
Na carreira de jornalista o que mais o agrada é a camaradagem,
a convivência na redação e nas coberturas, mas em contra ponto
entra o puxa-saquismo e a puxação de tapete.
A imprensa ainda sofre censura nos dias atuais, mesmo que aparentemente
não pareça, e ele diz que qualquer veículo se pauta por uma
linha editorial, onde cada empresa tem uma forma de abordar
determinados assuntos.
"Não é fácil defender o socialismo em um jornal como o Estadão,
por exemplo, assim como não dá para defender a globalização
no jornal do MST".
Não sabemos ao certo o futuro da profissão de jornalista e Gabriel
Priolli nos dá a mesma resposta e ainda nos permite pensar com
a afirmação "que o jornalismo está cada vez mais se confundindo
com o entretenimento, e que as tecnologias de comunicação permite
que qualquer pessoa seja emissora de informação. Acho que o
jornalismo está em uma crise profunda, muito pouco discutida".
Para terminar ele simplifica em uma frase o seu jornalismo "o
jornalismo é uma ferramenta de ação social. Ou ele serve à comunidade,
ao bem estar das pessoas, ou ele não presta. É por onde pauto
o meu trabalho".
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