Pedroom Lanne
Escritor, Pesquisador e Jornalista
Mini-Blog
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Adução - Pedroom Lanne

Aviso ao leitor: este texto é spoiler

O autor e sua obra

A complexidade do título “Adução” não permite descrever a obra de uma só maneira, o romance navega pela história do homem através das dimensões do tempo que se multiplicam a cada segundo, tem começo, meio e fim, mas não necessariamente nesta ordem ou apenas um só, de modo que é somente assim que é possível tentar explicá-la para qualquer um que chegue até essas palavras: de várias maneiras.

Poderia começar pelo começo, de quando pela primeira vez o seu autor pensou em escrevê-la: uma ideia que começou após a leitura do livro “O Triângulo das Bermudas” de Charles Berlitz, quando a seguinte questão passou por sua mente: “e se em um desses desaparecimentos no Triângulo das Bermudas alguém de fato houvesse cruzado de dimensão? O que poderia existir do outro lado?”. Em resposta a essa questão veio a ideia da qual parte a obra: poderia existir uma dimensão paralela aqui na Terra mesmo mas muito, muito mais avançada que a nossa, a 834 mil anos no futuro. Mas, também, que não fosse qualquer dimensão, que fôssemos nós mesmos em outro tempo e que a nossa evolução ao futuro nos levaria a sermos alienígenas, esses mesmos alienígenas que navegam no tempo e no espaço em discos-voadores que muitos dizem ver por aí. Eis a estória: contar como seria a nossa evolução ao ponto de nos tornarmos alienígenas. Só faltava dois elementos: os personagens e como inserir o Brasil na trama, dado que estamos escrevendo sobre o futuro naquele que é tido como o país do futuro. Isto posto, basicamente, então, foi assim solucionada a adição desses dois elementos: os personagens que cruzam de dimensão são norte-americanos, pois o Triângulo das Bermudas fica próximo da Flórida e, também, porque foram eles quem incutiram essa ideia, tanto do Triângulo quanto dos OVNIs, em nós brasileiros (embora há de se dizer que o autor não critica a cultura americana, a satiriza juntamente a brasileira); por outro e do outro lado, os alienígenas são brasileiros, ou, ao menos, o desenvolvimento de suas respectivas personalidades compõem o reflexo do coletivo-imaginário do brasileiro.

Nos personagens, recaímos no autor, pois não há mistério algum na maneira como foram construídos: são todos eles o próprio autor ou as pessoas que à sua volta ajudaram a construir e espelhar sua psique – é mais fácil se conhecer o autor pela leitura do livro do que por seu próprio currículo –, são amigos, colegas e entes queridos transformados em homens, extraterrestres e/ou robôs. Desse modo, é a trama dos personagens que contém a “novela” dentro daquele sentido bem brasileiro, e esta não vai além de um drama pessoal e familiar, não existe nenhuma “super aventura através do espaço”, retrata a problemática de uma família cruzando o plano dimensional, e que nos leva a uma segunda pergunta, justo aquela que remete ao título da obra: Será que um homem conseguiria se adaptar em um mundo alienígena? Certamente, pois a história é, sim, de final feliz. Todavia, se não é uma super aventura, o processo de adaptação da família, a adução, se coloca como pano de fundo para a narrativa que, esta sim, através de fatos históricos do Brasil e de nosso mundo moderno/contemporâneo, reescreve ludicamente a evolução de nossa sociedade atual até um patamar capaz de habitar o sistema solar por completo, como um grande conto de fadas – ainda que satirize, até, o próprio conto de fadas e a nossa real capacidade de chegarmos a tal patamar “alienígena”.

E como se dá esse processo de “adução” de uma inteligência humana ao patamar alienígena que a obra descreve? Ora, se os personagens da obra são o próprio autor e o autor é professor, a adução ocorre na sala de aula. De modo que a partir de certo ponto, quem narra a estória desse mundo alienígena e como evoluímos até ele é o professor (um professor alienígena). E o professor vai perpassar diversos campos da ciência para ensinar sobre o sexo dos anjos para quem antes acreditava que anjo não tinha sexo.

O parágrafo segundo deste texto também indica o embasamento desta obra quando ela se propõe navegar pela temática anteriormente exposta através da ficção-científica: a bibliografia que segue em anexo – acredite: ela não está lá para encher linguiça; palavra do autor –, que não só embasa, mas inspira e, direta e indiretamente, aparece por completo no texto da obra, pois procura atender a metodologia científica de estudo, busca retratar referências de uma narrativa lúdica e completamente fictícia, mas que possui e se descreve por meio de uma linguagem científica de cunho epistemológico – pois parte do pressuposto que no futuro saberemos muito mais sobre a nossa ciência atual enquanto descrevem campos ainda inéditos –, e tenta se estruturar como um estudo-científico, dado que aborda elementos das áreas de exatas, humanas e biológicas – diz o autor, brincando, que esta obra seria sua tese de doutorado se as ciências que aborda fossem factíveis.

Se ressaltarmos o cunho científico da obra, vale frisar também como o autor procurou organizar e estruturar a mesma, e aqui vale recorrer à experiência e à formação do autor, que vem da área editorial e convive de perto com o mundo acadêmico. Partindo desses dois fatores, o objetivo do autor com seu livro busca cumprir duas metas: ser útil para os alunos e comercialmente viável para os publishers. Assim como Érico Veríssimo se colocou na pele do índio Tibicuera para narrar a história do Brasil, Pedroom Lanne tenta contar a história do Homem pela perspectiva do alienígena, mesmo que desprovido da maestria do primeiro, mas objetivando o mesmo, que o livro sirva para estimular o debate em sala de aula em torno de como se compõe a nossa atual sociedade globalizada. Para cumprir esse objetivo é que a estória vai navegar em um grande e divertido exercício de futurologia e imaginação que perpassa vários campos da ciência, conforme se procura destacar aqui. Nessa meta, o autor procurou trabalhar uma linguagem simples, direta e acessível para seus alunos, ao mesmo tempo em que busca ser complexa quando adota o discurso científico para descrever o mundo dos alienígenas – para fisgar e capturar os desacostumados e agradar aqueles que conhecem o mundo literário acima dos 144 caracteres por frase. Levando-se em conta que o personagem central da obra possui 11 anos e o coadjuvante cinco anos, também considerando uso da linguagem com ausência de expressões de baixo calão, daí entendemos porque o autor identifica seu público como jovem e adulto ou, como ele próprio diz, “para todas as idades”.

Quanto ao cunho comercial da obra, para tal o autor procurou se utilizar de dois fatores básicos: o uso e a quebra de clichês. O primeiro grande clichê é o próprio alienígena, pois a obra não tenta reinventar essa figura, e sim trabalhar dentro do que há de mais comum no imaginário popular em torno do assunto, mas, claro, levando em conta as ideias do autor em torno de sua proposta criativa. Por outro lado, para que a estória não se tornasse apenas mais um grande clichê, o autor procurou quebrar alguns tabus em torno desses clichês. Por exemplo, na tentativa de não inserir a figura do antagonista na obra, de deixar de lado a ideia de que alienígenas são bons ou maus – eles são como nós –, ou trabalhar em torno do clichê da ameaça ou da invasão alienígena. Há de se dizer também que o autor optou por personagens humanos de origem norte-americana, linguagem politicamente correta e o uso de alguns clichês sobre os alienígenas também pensando em um possível apelo sobre o público e o mercado editorial dos Estados Unidos e países consumidores de sua respectiva cultura (começando pelo Brasil).

Por fim, o autor poderia tentar descrever sua obra por meio do que ele próprio se espelhou como fã da literatura e, mais especificamente, da ficção-científica, ou seja, pelos grandes escritores que o inspiraram. Nesse sentido, a primeira coisa a se dizer é que se ele falhou ao tentar ser Veríssimo, talvez tenha conseguido razoável sucesso ao personificar Monteiro Lobato, construindo personagens humanos e alienígenas que mais se parecessem com meninos(as) levados(as), bonecas inteligentes, bichos falantes ou espigas de milho robotizadas, mas fato é que o reflexo mais nítido que o autor buscou no espelho foi o do escritor francês Jules Verne. Ele próprio afirma que, em dado momento no início de seu trabalho, fez uma ampla pesquisa sobre a vida e a obra de Verne para tentar imaginar aquilo que tanto Verne quanto outros autores clássicos de ficção não haviam imaginado, a fim de escrever algo tão fantástico quanto inédito e que, já quando completa a obra, percebeu que havia atingido o objetivo a que se propôs, ainda que não pudesse afirmar que sua imaginação não tenha criado com alienígenas algo muito diferente do que J. K. Rowling criou em um mundo de magia e bruxos. Apenas pode-se dizer que ninguém descreveu os alienígenas e o sistema solar, tampouco o nosso mundo e o Brasil nesse contexto, como imaginou Lanne, pois, se ele fracassou ao mirar tão alto no reflexo do espelho – “sim, existem muitos escritores muito melhores que você”, foi a resposta –, encontrou o sucesso ao fazer de sua obra, sobretudo, apenas divertida.

att. Pedroom Lanne

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(Baixe arquivo PDF com a coletânea da obra)


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