A Longa Jornada de uma Noite sem Fim |
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Longa Jornada de uma Noite Sem Fim Também disponível em arquivo PDF e ePub Estaciono o carro na garagem depois de um longo dia de trabalho, meu cansaço é tão grande que quase colido o veículo ao manobrá-lo para sua apertada vaga. Meus reflexos estão ruins, meu corpo pede uma refeição, um banho e uma boa noite de sono. Subo o elevador e sua demora quase me faz dormir em pé, mas o forte solavanco de sua parada me faz despertar, enfim, cheguei ao meu andar. Rapidamente me encaminho para a cozinha e preparo um prato de comida, ligo o microondas e aproveito o tempo de aquecimento da refeição para ir ao banheiro e tomar uma ducha. Não demoro nem cinco minutos e já estou de volta à cozinha. Sento-me à mesa e devoro o prato, ávido para me recolher em meu quarto onde uma agradável noite de descanso me aguarda para que eu esteja inteiro e disposto para a longa jornada de trabalho no dia seguinte. Termino a refeição e dirijo-me ao quarto. Finalmente estou pronto para dormir, porém, antes que meus olhos pudessem se fechar, o telefone toca: quem será a uma hora dessas? Seja quem for está atrapalhando meu precioso descanso. Atendo a ligação e quem está do outro lado da linha é o meu chefe, mal balbuciei a palavra “alô” e ele começa a despejar: — Você
se lembra de todos aqueles temores que havíamos comentado nos últimos
dias? Antes que eu pudesse responder, ouço um forte barulho do outro lado da linha e um grito de horror que, em seguida, é calado. A linha cai. Este pequeno fato é suficiente para me despertar completamente como se tivesse recebido uma injeção de adrenalina na veia e, de um momento para outro, todas as energias do meu corpo estão no seu ápice novamente. Levanto-me, abro meu armário secreto por detrás da cama e retiro algumas armas e um kit de remédios e primeiros-socorros. Visto minha armadura e estou pronto para a batalha. Ao sair do quarto percebo que algo estranho está acontecendo a minha volta, não estou onde deveria estar, o corredor do meu apartamento parece ter desaparecido, e ao invés dele, estou em um lugar diferente, em outro corredor, imenso e escuro. De longe, ouço ecoar gritos de terror e terríveis vozes do além. Um calafrio percorre a minha espinha — mas que horrores estarão me esperando no fim desse beco obscuro? Sem alternativas inicio uma caminhada por este hall da morte certo de que ela estará espreitando em qualquer um de seus cantos. Meus instintos estavam certos... Ao caminhar pelo corredor ele começa a se multiplicar tornando-se um infindável labirinto, diversos tipos de monstros me vêm ao meu encontro, ávidos por beber meu sangue. Zumbis tentam me matar, estranhos seres jogam bolas de fogo tentando me queimar e terríveis demônios se assanham querendo devorar minhas entranhas. Sem alternativas, avanço pelo labirinto entre balas e esquivas, ultrapasso diversas armadilhas e, apesar de alguns ferimentos, consigo sair desse tenebroso e sombrio lugar. Finalmente consegui chegar aos subúrbios da cidade, onde deveria encontrar o meu QG, porém, a única coisa que encontro são cinzas, escombros e cadáveres. As coisas parecem estar mais calmas por aqui, afinal está tudo destruído e todos estão mortos. Eu sento num banco, começo a palitar meus dentes e, cansando, sangrando, assisto a imensas explosões que ocorrem ao longo de todo o centro urbano de onde vim. Subitamente algo começa a apitar, é o meu computador de mão que está recebendo uma mensagem, imediatamente, coloco-a na tela:
Dolorosa e penosamente eu me levanto e sigo em direção à batalha. Desta vez a luta é mais difícil, monstros gigantes vêm em meu encalço com um poderoso arsenal: desde mísseis e armas de plasma até metralhadoras gigantescas. Consigo enfrentá-los com minha espingarda e, assim, vou seguindo em direção ao meu objetivo. À medida que avanço, percebo que estou chegando ao centro da invasão, de lá, vejo diversos monstros e seres horripilantes sendo lançados e transportados pelo ar, seguindo em diferentes direções. As vezes, alguns deles caem na minha frente e tentam me atacar, mas, de forma persistente, mato-os e prossigo com meu agouro. Conforme prossigo em frente, a paisagem e as construções a minha volta tomam formas maiores, de uma verdadeira corte infernal. Quanto mais perto do meu destino, maior o calor e minha exaustão física, todavia, a ciência de que a sobrevivência da espécie humana estava em minhas mãos forneceu a energia necessária para não desistir. Chego ao porto e ao local onde a invasão parece ter início, o mar. Antes tão belo, agora é uma imensa poça de ácido fervente envolto por imensas estruturas trazidas pelos alienígenas, e eu percebo que estou bem no centro de sua cidadela. Observo uma cena surreal: um buraco gigantesco que submerge para as profundezas do oceano que ora é verde, ora é vermelho, como se constituído de sangue humano, dele emerge um fétido odor de enxofre, de onde vejo uma imensa escadaria descendo em direção a um gigantesco portal, ao seu lado, dois demônios de três cabeças montam vigília como verdadeiros guardiões do pior inferno que nem Dante poderia conceber — o que será que eles guardam? O que será isso? Será que a invasão está vindo diretamente das profundezas? Sem opções, minha alternativa para combater a infernal invasão alienígena será atravessar o próprio inferno. Inicio minha
sina pelas imensas escadarias que cada vez se aprofundam mais num abismo
sem fim, o calor sobe a cada degrau que desço e, à medida
que caminho, a escadaria fica cada vez mais estreita. O menor desequilíbrio
resultará numa queda mortal ao mar de lava que circunda o precário
caminho. Em volta, diversos demônios me atacam, seres voadores cospem
fogo na minha direção, almas penadas vêm ao meu encontro
tentando sugar a minha vida e me derrubar da escada, mas resisto e continuo
a minha jornada. Finalmente chego ao fim da imensa escadaria, algo bastante
previsível: o encontro com o Diabo em pessoa, o Barão do
Inferno. Porém, esse gigantesco demônio parece ter saído
de algum filme de ficção científica, pois é
uma mescla de diabo com chifres e rabo com um robô cibernético
apresentando partes metálicas e chips que se fundem com suas veias.
Ao invés de um tridente nas mãos, pior, empunha um imenso
canhão formando uma extensão de seu asqueroso braço.
O Demônio, ao perceber a minha presença, soltou uma ecoante
risada, mais se parecendo com um urro que, de tão ensurdecedor,
quase me estoura os tímpanos. Estupefato, mal tenho tempo de desviar
das bombas que ele lança incessantemente em minha direção,
mas se sobrevivi até aqui, não me permitirei morrer nas
mãos dessa terrível besta. Encaro-a e, após uma longa
batalha, vejo seu corpo explodir numa imensa bolha de sangue... A vitória,
enfim! Quando eu pensava que finalmente estava dormindo, que estava desfrutando de meu devido descanso após o dever cumprido, percebo que existe uma pessoa ao meu lado, uma mulher. Antes que eu pudesse imaginar que ela era o meu anjo da guarda, ouvi a sua voz: — Parabéns,
soldado. Sua vitória possibilitou a raça humana sobreviver
— disse ela. Pelo teletransporte, segui a mulher junto com outros soldados para uma construção alienígena, longe, muito longe da Terra. Lá, estranhos seres, que mais pareciam máquinas concebidas para a guerra, revelaram-se monstros poderosíssimos que tinham ácido nas veias e se multiplicavam no ventre dos seres humanos. Felizmente estávamos bem armados e conseguimos derrotá-los, só então fiquei sabendo que a mulher que me levou para mais essa batalha era a única sobrevivente de uma nave espacial tomada por esse mesmo monstro alienígena que matou seus seis companheiros, somente ela sobreviveu para contar a história e liderar nossa missão ao espaço. Combatida mais uma fonte alienígena, finalmente pude voltar à Terra para, enfim, desfrutar meu tão sonhado descanso. Utilizei-me da mesma tecnologia utilizada pelos alienígenas para retornar o mais rápido possível ao meu planeta natal. Em apenas um segundo, já estava de volta à Terra. Mas, quando pensei que poderia relaxar, percebi que algo havia dado errado em meu teletransporte, havia voltado para uma realidade diferente, não estava mais no mundo moderno, percebi que estava perdido no tempo em alguma época medieval, pois o mundo a minha volta era algo rudimentar, sem a tecnologia habitual que estava acostumado. Não sei se esta época com que me deparei era a famosa Idade das Trevas, só sei que o que vi a minha volta era um pesadelo que tomou forma de tenebrosos seres diabólicos travestidos em um visual antigo: arqueiros negros, múmias, estátuas vivas que faziam o chão tremer ao caminhar como se fossem imensos dinossauros e, como se já houvesse me habituado, pequenos demônios voadores, seres diabólicos que devoravam as pessoas e destruíam tudo que encontravam. Consegui me refugiar em um castelo subterrâneo e me vi a salvo — por ora — dessas abomináveis criaturas. Neste local encontrei um homem — um velho senhor vestido com uma estranha túnica que, assim como eu, estava terrivelmente assustado com os fatos que se desenrolavam a nossa volta. Ele me explicou o que estava acontecendo: — Homem,
o que está acontecendo? Que lugar terrível é este?
— indaguei-o, porém o velho parecia meio enlouquecido com
a situação e sua resposta soava como as preces de um padre. Logo percebi que não era à toa que o teletransporte havia me trazido para este estranho mundo, era meu o dever de combater esses quatro operários do mal. Por sorte, o velho, na verdade, era um clérigo que dominava as artes da magia e da guerra, ele me ensinou técnicas para combater esses seres que usavam mágica como arma. Com seus feitiços, obtive os meios necessários para lutar contra essas novas forças do mal. Pronto para a batalha, segui minha sina e atravessei diferentes mundos na caça aos cavaleiros do apocalipse, passei por pirâmides, castelos, labirintos e imensas arenas em que combati os mais diferentes espécimes de monstros e seres maquiavélicos até, enfim, conseguir a derrubada dessas quatro entidades do mal e obter a redenção da humanidade — mais uma vez, eu era o herói. Logo após a vitória, uma estranha luz começou a irradiar do meu corpo. Mais uma vez senti uma gentil leveza, como se estivesse sendo transportado por algum limbo energético. Um brevíssimo intervalo de paz e, quando voltei à realidade, estava de volta ao meu quarto. Subitamente ouvi uma sirene muito forte — Meu Deus o que será agora? Mais um alarme me convocando para alguma guerra sombria? — Girei o olhar em torno para descobrir a fonte de origem da sirene, e logo percebi se originar do rádio-relógio na cabeceira da cama; já passava das seis da manhã, o alarme estava despertando. Hora de desligar o videogame e ir trabalhar, sendo que nem dormi ainda — agora sim meu verdadeiro pesadelo está começando. Sem fim.
AGRADECIMENTOS Luana Lacerda, Denis Lellis, Marina Loschiavo, Prof. Waldir Gomes e Walter Cavalcanti. Crônica original da Revista "Memórias do Sono" (Editora Novo Momento), uma antologia sobre “O Sono”. Realização dos alunos do curso de Editoração Multimídia do UniFIAMFAAM (São Paulo-SP), publicada em 14 de Outubro de 2005. Autor:
Pedroom Lanne |
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